Número 54 - Nova fase: 006
Juro que hoje eu não vou falar da crise política. Temos muitos outros assuntos relevantes, e já é hora de dar uma descansada da mesmice...ainda mais que, como todos estão presenciando, a famosa pizza está quase assada... Mas isso não quer dizer que a crise estará ausente de nosso boletim de hoje... ela está ai, tem vários artigos sobre isso... leiam abaixo e comentem.
Mudando totalmente o rumo da prosa, muito interessante são as descobertas feitas no território do antigo Quilombo dos Palmares, noticiadas em reportagem da Folha de São Paulo. Descobrem-se grandes vestígios de cerâmicas indígenas e de origem portuguesa, o que leva os pesquisadores à conclusão de que em Palmares não moravam apenas escravos negros que fugiam dos engenhos. Indígenas e brancos pobres também lá se abrigavam, por motivos os mais diversos possíveis. A reportagem está reproduzida em seguida.
Uma cidade dos maias foi descoberta nas florestas ao norte da Guatemala. Acredita-se que dela tenham saído diversas peças que, na década de 1970, chegaram a museus europeus e dos Estados Unidos. Tais peças foram classificadas como do período entre 600 e 900 d.C. Não é muito fácil fazer escavações, visto que a região é reduto de traficantes.
O Brasil perdeu um de seus guerreiros: Apolônio de Carvalho – mesmo que não se concorde ideologicamente com ele – foi um grande nome da política no século XX. Apesar de pouco conhecido pelas gerações mais novas, desempenhou papel relevante, deu exemplo de honestidade (e como estamos precisando disso...). Mauro Santayana fez um grande elogio a ele na Carta Maior e nós transcrevemos logo abaixo.
Leiam também sobre o verdadeiro atentado perpetrado contra o patrimônio de Belo Horizonte e o desabafo do professor Antônio de Paiva Moura, entre outras matérias interessantes.
Até o momento em que termino esta edição, a eleição para presidente da Câmara aponta os dois candidatos que vão ao segundo turno: Nonô, do PFL e Aldo, do PcdoB. Ainda hoje deveremos ter o resultado do segundo turno, mas, independente de qual seja ele, vejo nos noticiários da internet que o PDT, o PV e o PPS – considerados partidos de esquerda – estarão apoiando o PFL...
Estranhos tempos, esses nossos... muito estranhos...
Bom proveito!
Ricardo
Falam os amigos e as amigas
Enviado pela Daniella Bonfim. Bom para amenizar um pouco a tensão....
Novas do governo
COM ESSA PODRIDÃO APARECENDO TODOS OS DIAS NA TV, SÓ LENDO ESTAS PIADAS PARA AMENIZAR NOSSA INDIGNAÇÃO ...
O AEROLULA já era... Mudou o apelido do avião do Lula. Agora é Arca de Noé: " Só entram os sobreviventes do Delúbio".
Máximas e mínimas ...
"Pensando bem......qualquer dia até os papagaios no Brasil vão falar "corruptaco, corruptaco" (Cláudio Humberto)
"Bons tempos aqueles em que os Três Poderes eram o Exército, a Marinha e a Aeronáutica" (Millor)
"O sonho do PT é o modelo chinês: autoritarismo político e liberalismo econômico" (Fernando Gabeira)
"Há malas que vêm para o bem" (José Ingenoíno)
Um dos primeiros Presidentes do Brasil foi o Prudente de Morais, daí pra frente tivemos um monte de Presidentes imprudentes e imorais (...)
O Lula e o PT estão tentando cruzar cabra com periscópio, para ver se acham um bode expiatório (...)
Não confunda 'militante do PT" com "mil e tanto pro PT" (...)
Antes era o PC Farias. Agora é o PT Faria. Faria as reformas, faria a distribuição de renda, faria um governo honesto (...)
A única diferença entre o político e o ladrão é que o primeiro a gente escolhe e o segundo escolhe a gente (...)Deve haver, escondida nos subterrâneos do Congresso, uma escola de malandragens, golpes, perfídias e corrupção. Não é possível que tantos congressistas já nasçam com tanto conhecimento acumulado (...)
O canto lírico de Roberto Jefferson não tem dó. Só tem réu maior!!! (...)
Ladrão que rouba ladrão vive no Distrito Federal (...)
A nova capital do Brasil mudou de nome, foi de Brasília para "Quadrília".
Brasil
1. Escavações sugerem Palmares "mestiço" Cerâmica indígena e de origem portuguesa é encontrada onde existia o quilombo, indicando traço multicultural (Folha de São Paulo)
REINALDO JOSÉ LOPES - DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de quase uma década desde que as primeiras escavações foram feitas, os arqueólogos estão voltando a meter sua colher num dos lugares mais míticos e pouco compreendidos da história brasileira: o quilombo dos Palmares, no interior alagoano.Por enquanto, a equipe da Ufal (Universidade Federal de Alagoas) continua a achar vestígios de uma forte presença indígena no lugar, ao lado de cerâmica de influência portuguesa. Nada que lembre decididamente a África emergiu das escavações, que estão sendo conduzidas desde março e devem ir pelo menos até 20 de novembro, data em que se recorda a destruição do quilombo.
Ainda é cedo para dizer o que essa estranha ausência num lugar que era (ou pelo menos deveria ser) o reduto de africanos fugitivos significa, mas uma das possibilidades é que os palmarinos, na verdade, tenham se reinventado como grupo étnico, incorporando influências dos demais povos do Nordeste brasileiro do século 17. "Essa é uma hipótese que eu propus para explicar os dados da arqueologia, embora ela ainda não esteja comprovada", ressalva o arqueólogo americano Scott Joseph Allen, da Ufal, que coordena os trabalhos na área.
Allen explica que os primeiros arqueólogos a estudarem a região da serra da Barriga, no começo dos anos 1990, não tiveram chance de investigar Palmares a fundo. "Havia o que nós chamamos de pesquisas exploratórias e preliminares", conta ele. Mesmo nessa fase, os primeiros dados já revelavam influências não-africanas. Para alguns parecia no mínimo estranho que o local-símbolo da luta pelos direitos dos negros brasileiros contrariasse sua própria aura, e a Fundação Cultural Palmares, órgão que zelava pelo sítio, acabou proibindo as atividades arqueológicas ali em 1997.
Como há a intenção de aumentar significativamente a estrutura para receber visitantes na serra da Barriga durante as comemorações que acontecem anualmente lá em 20 de novembro, Allen e seus colegas recomeçaram os estudos pelo sítio conhecido como SB1, que deverá receber o impacto inicial das obras. A equipe descobriu, por exemplo, urnas funerárias indígenas numa área que deveria ser um estacionamento."Muito material parece ter sido danificado pelos carros que subiam anualmente a serra. Conseguimos inclusive associar especificamente a quebra de urnas e panelas com esse impacto", conta Allen. Outro problema sério é que o alto do platô onde as comemorações acontecem foi terraplanado, o que bagunçou significativamente a estratigrafia (a sucessão de camadas de solo) do lugar
Por isso tudo, ainda é difícil traçar associações temporais claras entre os diferentes tipos de artefato. É certo que, em épocas pré-históricas (a data mais antiga é de uns mil anos atrás), o lugar foi ocupado por indígenas provavelmente ligados ao tronco lingüístico macro-jê, comum em todo o Brasil Central e, em tempos antigos, também no interior nordestino. "Também temos registros que podem ser associados à tradição tupinambá, que chegou posteriormente à região", diz Allen.
A presença de faiança grossa (um tipo de cerâmica tipicamente portuguesa, só que produzida com menos refinamento, na própria colônia) em associação com a cerâmica indígena ainda é difícil de interpretar com clareza. "Não podemos negar uma proximidade muito forte entre os índios e os palmarinos. Mas ainda precisamos de muito mais pesquisa para saber que tipo de relação era essa", afirma o pesquisador.
"O sítio é muito complexo, mas parece-me que estamos nos aproximando de um bom entendimento da seqüência de ocupação", diz Allen. Com o auxílio do computador, os pesquisadores pretendem investigar a presença de cercas defensivas e outras estruturas arquitetônicas na área.
Os indígenas poderiam fazer parte da população do quilombo ou, no mínimo, comerciavam com os negros. Esse tipo de contato explicaria a presença da faiança -registros históricos falam de trocas entre os habitantes do quilombo e os colonos, ou de brancos que se mudaram para lá.
2. Promotoria acusa Universal de demolir casarões que seriam tombados
PAULO PEIXOTO da Agência Folha, em Belo Horizonte, 05/09/2005
A Promotoria de Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público de Minas Gerais deverá ingressar com ações criminal e cível contra a Igreja Universal do Reino de Deus. A instituição é acusada de demolir quatro casarões dos anos 40, em Belo Horizonte (MG), no início do último dia 15 - um feriado municipal.
As edificações estavam em processo de tombamento. A Universal pretende implantar no local um estacionamento para um dos seus megatemplos no bairro de Lourdes, um dos metros quadrados mais caros da região sul de Belo Horizonte.
O Patrimônio Histórico da Prefeitura de Belo Horizonte informou, pela gerente Michele Arroyo, que a igreja sabia do processo de tombamento em curso, pois, além de ter sido notificada em 31 de dezembro de 2004 do interesse do município pelo tombamento, representantes da Universal participaram de reuniões do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico.
O tombamento seria decretado pelo conselho no próximo dia 31, mas 16 dias antes a igreja fez as casas ruírem. A atitude causou indignação e protestos de vários órgãos ligados ao patrimônio e arquitetura instalados na capital mineira.
O promotor Fernando Galvão disse que já começou a reunir provas para propor duas ações, sendo uma por crime ambiental, mas com a preocupação de fundamentar bem os argumentos de forma que a igreja e os seus responsáveis não sejam obrigados a apenas pagar as multas previstas nas leis municipais e, uma vez pagas, alcançar o seu objetivo.
A ação da Igreja Universal do Reino de Deus, para o Ministério Público, foi "premeditada". "Ninguém tem dúvida [da premeditação]. Todo mundo já percebeu a ação deliberada para frustrar as intenções do patrimônio público. Aqueles bens já estavam protegidos por um inventário", disse o promotor.
Ele acrescentou que pretende invocar não apenas as leis municipais e estaduais, mas também a lei federal 9.605, que trata dos crimes ambientais com as respectivas penalidades, com prisão, dos responsáveis. Na área cível, a intenção do Ministério Público é fazer com que a Justiça "carregue na mão" na punição pecuniária e também impeça que no local seja construído um estacionamento, dando outra destinação aos lotes, já que Galvão considera "sem sentido" a reconstrução dos casarões.
Câmara
Arroyo e o vereador Arnaldo Godoy (PT), representante da Câmara Municipal no conselho, disseram que não é preciso uma lei para impedir demolições de imóveis durante o processo de tombamento. "O conselho é deliberativo", afirmou o vereador. Ele disse que a própria Igreja Universal, quando adquiriu os imóveis em julho do ano passado, recorreu ao Patrimônio Histórico municipal para saber o grau de interesse do município naquela área.
"Eles receberam a Carta de Grau de Proteção do Patrimônio Histórico. Sabiam, portanto, do interesse do município pelo tombamento. A própria igreja esteve presente no conselho. Foi um desrespeito", disse Michele Arroyo. Ela afirma que, independentemente disso, qualquer demolição na cidade precisa de autorização expressa da prefeitura, o que a Universal não tinha.Além de saber pelo patrimônio, o gerente de Regulação Urbana da Regional Centro-Sul, William Nogueira, disse que a igreja foi notificada no dia 31de dezembro de 2004, por escrito, assim como todos os proprietários de imóveis daquela região, sobre os estudos para o processo de tombamento dos casarões e que, por isso, eles não poderiam ser demolidos.
Outro lado
O pastor Carlos Henrique Silva, vereador pelo PL em Belo Horizonte que vinha discutindo a questão do tombamento com o Patrimônio Histórico e o conselho, disse à Folha apenas que a informação passada à Igreja Universal pela prefeitura era que "somente o registro documental histórico era suficiente". Ou seja, que o que interessava eram os documentos dos casarões, não eles propriamente dito. "Não era tombado. Olha, como esse assunto vai entrar na esfera da Justiça, o advogado que deve falar", disse o pastor-vereador, indicando dois advogados da igreja, que não foram localizados na sede da Universal. A funcionária de nome Taís disse que eles não estavam e não poderia passar os celulares.
Silva é um dos dois políticos ligados à Universal que, no dia 10 de julho passado, foi flagrado pela Polícia Federal transportando malas e caixas de dinheiro. Afirmaram à PF que o dinheiro era doação de fiéis e foram liberados. Eles foram flagrados no hangar da Líder Táxi Aéreo na Pampulha.
"Shopping da Fé"
O estacionamento pretendido pela igreja é a continuidade do "shopping da fé", um megatemplo para cerca de 5.000 fiéis no bairro nobre de Lourdes. A intenção é construí-lo anexo ao maior templo da Igreja Universal em Minas, com cerca de 6.000 m2 de área. Inaugurado no primeiro semestre do ano passado, o megatemplo tem na fachada quatro colunas neoclássicas, dando o tom da obra. O prédio é dotado de livraria e videoteca, logo na entrada. Dentro, fica o salão com 5.000 assentos, com paredes duplas revestidas por lã de vidro, forro acústico no teto e nos dois telhados. Isso para evitar que o som se propague. Os três andares acima do salão foram estruturados para receber os filhos dos fiéis, onde recebem ensinamentos "bíblicos e comportamentais". O "shopping da fé" de Belo Horizonte conta ainda com um edifício anexo, de nove andares, onde fica a parte administrativa da igreja, quatro apartamentos residenciais para bispos e pastores, um estúdio de rádio e um de TV.
Depois dessa construção, quase todo o quarteirão já foi adquirido pela Universal. Ela possui ainda mais dois casarões. Para ter toda a quadra, restam os imóveis onde funciona o tradicional Bar do Primo e uma clínica de estética. Os donos desses imóveis se recusam a vendê-los.
3. Vilas Boas Correa analisa a Câmara Federal (No Mínimo, Ibest)
A Câmara dos Deputados iniciou a faxina da imundície petista do caixa dois e do mensalão como quem varre o lixo do quintal para a sala, cassando o acusador e adiando a punição dos 17 denunciados para depois de exercido o direito de defesa assegurado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), graças a liminar do seu presidente, ministro Nelson Jobim.
Lá é verdade que a cassação do mandato do deputado Roberto Jefferson, pela folgada diferença de 313 votos a favor e 156 contra, deixa claro que eram favas contadas. Com oito anos na geladeira da inelegibilidade, o ator que ocupou o centro do palco sob o foco das TVs, páginas nos jornais e revistas, encerra a carreira com remotas possibilidades de retorno em tempos de volatilidade da fama, que cria e destrói ídolos num piscar de olhos.
Pelo atalho paralelo, mas levando ao mesmo poço sem fundo, caminha o estadista de João Alfredo (PE), deputado Severino Cavalcanti, presidente da Câmara, guru do baixo clero e invicto campeão das mordomias. Os fios da vida tecem desenhos inesperados: eleito com os 300 votos dos anônimos que ocupam as últimas filas de cadeiras e outros equívocos, em sete meses de desastrada atuação na presidência o deputado Severino se escafede pela porta dos fundos, enquanto o cassado Jefferson curtiu seus agônicos momentos de glória com o discurso de acerto de contas. Baixando a lenha no governo, no deputado José Dirceu e com petelecos no presidente Lula, deixou o plenário sob aplausos da minoria dos votantes e das galerias.
Mas, página virada, adiante. Daqui até o fim do mês, em escassos seis dias úteis da semana da madraçaria parlamentar ou em poucos mais, caso o brio estique o prazo com o mutirão excepcional às segundas e sextas-feiras, o Congresso terá que decidir a sorte da campanha eleitoral do próximo ano, quando serão eleitos o presidente e o vice-presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais.
A reforma política para valer ficou inviável, lançada às traças do arquivo à espera da nova chance, que talvez chegue tarde demais. Alguma coisa precisa ser feita: ao menos a meia-sola que tape os rombos das últimas campanhas, com o show das novelas montadas pelos marqueteiros e a orgia das despesas bancadas pelo caixa dois e adubadas pelo mensalão.
Como de hábito, deixamos para o undécimo instante o mais urgente dos desafios para a tentativa de restauração do prestígio, da respeitabilidade, do decoro do Legislativo: a escovadela para remover o pó que cobre as campanhas com o ridículo de candidatos vendidos como produtos de consumo. Coibir gastos suspeitos, impor regras severas ao privilégio milionário do horário de propaganda eleitoral, levantar barreiras para deter o desembaraço das legendas de aluguel e o troca-troca de partidos é o mínimo que está a exigir um esforço concentrado, à margem das intocáveis CPIs, para a aprovação de meia dúzia de medidas indispensáveis.
Convém não perder de vista o principal. O eleitor deve ficar alerta, desde já, para não baixar a indignação, cair no desencanto da desistência e cobrar dos candidatos a todos os mandatos o compromisso de retomar o debate nacional da reforma política.
Desta vez, a sério. O Congresso não pode esperar o respeito da sociedade enquanto não se dispuser a renunciar às mordomias, vantagens, aos penduricalhos que multiplicam o subsídio como passes de mágica ou truques de trapaceiros, às alturas de um dos melhores empregos do mundo.
Nada mais justifica que o senador e o deputado não morem em Brasília, em seu local de trabalho, em apartamentos funcionais, como faz todo mundo. As quatro passagens semanais para o fim de semana nas suas bases foram o remendo de emergência para contornar a precipitação com que foi inaugurada a nova capital.
Verbas dos gabinetes privativos, nichos de nepotismo e outras tramóias, engordaram à escabrosa obesidade. Não há limite ao despudor da criatividade. Talvez a obra-prima premie a verba indenizatória, promessa de campanha do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) para a presidência da Câmara e aumentada pelo sucessor, Severino Cavalcanti. Precursora do mensalão, disfarce de salário indireto, mimoseia senadores e deputados com o crédito mensal de R$ 15 mil para o ressarcimento das despesas dos fins de semana nas suas bases.
Um trem da alegria com muitos vagões puxados pela locomotiva da Viúva: semana mandriona de dois a três dias úteis, passagens mensais para o fim de semana em campanha eleitoral, verbas de gabinete para a dissipação do empreguismo e as verbas indenizatórias, modelo inspirador do mensalão.Em algum momento, sob a inspiração do bom-senso ou a imposição da crise institucional, o Congresso terá que cortar na carne as enxúndias das mordomias.Se não quiser morrer da doença para ressuscitar depois de longa provação.A última durou quase 21 anos e parece esquecida em 20 anos de democracia.
4. Recebemos um artigo do prof. Antônio de Paiva Moura, sobre a crise. Ei-lo:
A democracia na lona e o ódio no pódio
Antonio de Paiva Moura
O ódio da direita brasileira contra o PT é exagerado, especialmente dos partidários do PFL e do PSDB. Exatamente porque o PT fez legítima oposição a todas as incúrias e privilégios mantidos desde velhos tempos até hoje. Por essa causa os petistas sofreram muitas perseguições, calúnias, injúrias. Basta lembrar o caso Chico Mendes; as tentativas de assassinato do ex-prefeito de Betim, Jesus Lima; prisões e torturas de militantes. Essa intolerância tem apoio fora do País a exemplo da declaração do pastor Rat Robertson que propôs ao governo dos EUA mandar matar Hugo Chaves, presidente da Venezuela. Cá no Brasil o senador Bomhausen diz grosseiramente: “A gente vai se ver livre desta raça por, pelo menos, 30 anos”.
A corrupção está presente na formação do povo brasileiro: levar vantagem custe o que custar. O ganho fácil pela esperteza é bem visto no Brasil. Os habitantes de Unai apóiam o fazendeiro que escraviza trabalhadores e que mandou assassinar os fiscais do Ministério do Trabalho. Antério Mânica, mesmo encarcerado foi eleito prefeito de Unai. Foi posto em liberdade para tomar posse. Ele terá força para continuar sendo escravocrata e mandar acabar com essa raça de fiscais. Os pastores que extorquem os fiéis e transportam malas cheias são aplaudidos como heróis. Os políticos mortos são exaltados e os vivos são execrados. O que Getúlio Vargas e Brizola fizeram (bem ou mal) foi no passado. O que temos a ser feito no presente e no futuro não depende deles. Eles são apenas mitos; figuras de marketing; muletas de políticos incompetentes. No dizer de Erich Fromm é necrofilia, isto é, amor aos mortos e ódios aos vivos.
Se a sociedade está corrompida pela ideologia liberal de vencer a qualquer custo; pela lei do mais forte e a vantagem ao mais endinheirado, como exigir que somente o pseudo representante parlamentar seja honesto. O eleitorado não sabe distinguir um discurso mentiroso e demagógico de uma mensagem verdadeira e sincera, exatamente porque sua maldade, sua má intenção é idêntica à do político safado.
O PT, por sua formação dialógica e disposição de autocrítica poderá, em longo prazo, corrigir seus erros e voltar a ser um partido de combate, de luta contra as injustiças. Nada nos faz crer na possibilidade de reversão dos demais partidos políticos do Brasil.
5. Da Revista Fórum, um artigo que mostra, mais uma vez, o envolvimento do banqueiro Daniel Dantas em escândalos de outros carnavais (leia-se governo FCH). Mas, quem viu o depoimento dele na CPI, deve ter notado a ausência de perguntas inteligentes. O PSDB e o PFL, sócios de DD, não perguntaram nada de relevante. E o PT também não, o que mostra que o envolvimento do banqueiro baiano nas teias do poder é maior do que a gente imagina...
O verdadeiro escândalo
Por: Frédi Vasconcelos
Junho de 1998, ano da reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso. Na agenda política do país, as privatizações e o encolhimento do Estado. E também a oportunidade para que alguns escolhidos, entre eles o banqueiro Daniel Dantas, ganhassem muito dinheiro na venda de empresas estatais, como as de telecomunicações. É bom lembrar o grampo de uma conversa telefônica em que o então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, revela ao interlocutor, Ricardo Sérgio de Oliveira, então diretor de relações internacionais do Banco do Brasil e quem mandava nos fundos de pensão, principalmente a Previ, o interesse de um banco de porte médio pelo que se tornaria a Telemar, uma das privatizadas:
– Está tudo acertado – garante Mendonça de Barros
– Mas o Opportunity está com um problema de fiança. Não dá para o Banco do Brasil dar?
– Acabei de dar.
– Não é para a Embratel, é para a Telemar.
– Dei para a Embratel e 874 milhões para o Telemar. Nós estamos no limite da nossa irresponsabilidade. São três dias de fiança para ele – responde Ricardo Sérgio.
Tal irresponsabilidade referia-se a dar condições ao banco Opportunity, de Dantas, ligado ao grupo político de Antônio Carlos Magalhães e depois ao próprio FHC, a concorrer em mais um “leilão”. No caso da Telemar, o resultado não foi o esperado: perdeu porque o grupo já havia adquirido a Brasil Telecom (BrT) e a Telemig.Mas se, nesse caso, a irresponsabilidade chegou perto do limite, ele foi ultrapassado no consórcio que arrematou as outras duas empresas, BrT e Telemig. Montou-se uma teia intricada de associações, totalmente fora dos padrões de mercado, em que, com a minoria das ações, menos de 10% do total dos diversos fundos e empresas, Dantas ficou com a gestão e o controle.
Seria interessante alguém explicar por que os detentores de mais de 90% dos papéis de controle da empresa que representava a participação nas privatizadas não tinham nenhum direito. Ao contrário, eram obrigados por contrato a seguir as decisões de Dantas.No caso dos fundos de pensão, a Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, e mais dez fundos têm investido recursos superiores a R$ 2,6 bilhões. Pelos quais nunca receberam dividendos e que poderiam virar pó caso não fossem tomadas medidas para retomar o controle das empresas.
A intenção do banqueiro, que até o começo do ano representava o Citibank, sócio dos fundos nas companhias, “era deixar os fundos sem o controle e oportunidade de saída do negócio, com ações sem nenhum valor de mercado”, afirma Francisco Alexandre, diretor de administração eleito pelos funcionários da Previ. “Na discussão que se trava sobre os acordos e possibilidades de negócio não são apresentados os riscos envolvidos. Como não tínhamos o poder de decisão na cadeia societária, poderiam acontecer vendas sem que a nossa parte fosse respeitada e com isso a Previ arcaria com prejuízos bilionários”, pontua. “É negócio feito no passado, com problemas, e que temos procurado encontrar uma solução que melhor preserve nosso patrimônio. Esse me parece um grande escândalo do governo FHC, pois é algo feito para os fundos entrarem com o dinheiro para nunca mais reaver. Ou seja, um negócio que pode chegar a R$ 3 bilhões em benefício de setores privados. Por que isso foi feito?”, questiona.
A resposta não é fácil, mas várias denúncias surgiram a respeito da atuação de Ricardo Sérgio e Dantas no financiamento de campanhas dos tucanos. E é bom lembrar que suas digitais aparecem também no escândalo recente do governo do PT, com Ricardo Sérgio sendo dono do prédio em que funciona uma das agências de Marcos Valério, e Dantas o principal depositante nas contas das agências, com cerca de R$ 40 milhões mandados à DNA pela Telemig, Amazônia Celular e BrT, controladas pelo banqueiro baiano.
As aparições de Dantas em escândalos não são novidades. Ele foi indiciado pela Polícia Federal pela contratação da empresa internacional de investigações Kroll para espionar a Telecom Italia – outro sócio, com cerca de um terço da BrT – e telefones e e-mails do Palácio do Planalto, em 2003, entre eles o do ex-ministro Luiz Gushiken, acusado de influenciar os fundos de pensão na gestão petista. Há quem garanta que Dantas tentou uma ponte com o governo atual para derrubar o presidente da Previ, Sergio Rosa, e pôr em seu lugar o então presidente do conselho e diretor de marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato. Pizzolato saiu dos dois cargos há pouco tempo, depois que se descobriu o recebimento de mais de R$ 300 mil das contas de Marcos Valério. Pizzolato diz que apenas mandou um boy buscar uma encomenda no banco a pedido de um amigo, mas até hoje não disse para quem foi o favor.
6.
MAURO SANTAYANA (Agencia Carta Maior)
26/9/2005
Apolônio, a aventura da esperança
Apolônio pertenceu àquela estirpe de homens que conferiram honra ao século XX. Homens como Orwell, Hemingway, André Malraux e Arthur Koestler Dedicou toda sua vida ao sonho da igualdade e da fraternidade entre os homens.
André Malraux deu ao seu belo romance sobre a Guerra Civil da Espanha o título de "L’Espoir". Anos antes, na oposição a Bernardes, "O Estado de São Paulo", ao elogiar o jovem capitão Luís Carlos Prestes, chamou-lhe "O Cavaleiro da Esperança". Naqueles anos, em que o mundo hesitava entre o passado e o futuro, a esperança arregimentava alguns homens, jovens, sonhadores, solidários com o sofrimento dos oprimidos. O conflito entre a direita e a esquerda eclodia no mundo inteiro, mas iria manifestar-se de maneira sangrenta e cruel na Espanha.
A agonia da República e a vitória dos fascistas não foi decidida na frente de Teruel e na conquista da Catalunha pelos franquistas. A Espanha sucumbiu em nome das razões de Estado, que levaram ao provisório entendimento entre Hitler e Stalin, consagrados no acordo firmado por Molotov e Ribbentrop em maio de 1939. Segundo alguns, Stalin decidira ganhar tempo para preparar a defesa contra a previsível invasão nazista. A França e a Inglaterra, na ilusão de que contentariam o Führer, e evitariam a guerra que ele já preparava, deixaram de ajudar a Espanha, da mesma forma que – na mesma ocasião, ou seja, em setembro de 1938 – essas duas nações, mais a Itália, entregavam a Tcheco-Eslováquia a Berlim, na reunião de Munique. Foi uma decisão que iria custar caro ao mundo, porque os alemães e italianos, sob o silêncio da Europa, intensificaram sua intervenção armada ao lado de Franco, naqueles meses cruciais, testando as armas que seriam usadas logo depois.
É dessa guerra civil que Apolônio de Carvalho, em companhia de vinte outros brasileiros, participará, integrando as brigadas internacionais, constituídas por militantes da esquerda do mundo inteiro. Tenente do Exército, expulso aos 23 anos das fileiras, ele será o mais importante dos combatentes de nosso País, no Exército Republicano. A saga do lutador prosseguirá no terrível sofrimento dos campos de refugiados da República espanhola, no sul da França. Essas sobras humanas viveram primeiro ao ar livre, em pleno inverno, para depois serem abrigadas em barracas convertidas em campos de concentração logo no início da Segunda Guerra. A França, pressionada pelos alemães, tratou os refugiados como se fossem a escumalha da Europa. Arthur Koestler, que esteve detido em um deles – o de Vernet – dá às suas memórias de quando lá esteve o título de “La lie de la Terre”, (A borra da Terra). Koestler resume o que era o campo de Vernet:
“’... é preciso notar que, do ponto de vista da alimentação, das instalações e da higiene, Vernet se encontrava abaixo, mesmo, de um campo de concentração nazista. Uns trinta homens da Seção C, que haviam sido antes internados em diferentes campos alemães, entre eles os mais terríveis, Dachau, Oranienburg e Wolfsbuttel eram especialistas na matéria. Eu posso afirmar que a alimentação na prisão de Franco (em que estivera Koestler, três anos antes) era, de longe, mais substancial e mais nutritiva, e que, na cela de Sevilha, não tínhamos trabalho forçado a fazer, ainda que estivéssemos em plena guerra civil” (La lie de la Terre, pg. 137, Calmann-Lévy, Paris, 1971).
É de um desses campos que Apolônio conseguirá fugir, a fim de incorporar-se à Resistência, e chegar ao fim da guerra no comando de milhares de homens no Sul da França. Tenente no Exército Republicano e comissário político na frente do Ebro, coronel do Exército Francês, Apolônio pertenceu àquela estirpe de homens que conferiram honra ao Século 20. Homens como Orwell, Hemingway (que, na realidade, não chegou a combater), André Malraux (organizador, comandante e herói de uma esquadra internacional da aviação republicana), e o próprio Koestler. Homens como os tchecos Rudolf Slanský, Frantisek Kriegel, Artur London, e milhares de outros, anônimos combatentes que foram morrer em Madri pela sobrevivência da liberdade.
Apolônio dedicou toda a sua vida ao sonho da igualdade e da fraternidade entre os homens. Mas sonhar não o impedia de ver as coisas com clareza. Ele sabia que não tinham que lutar apenas contra os inimigos declarados, mas, também, contra as distorções do chamado “socialismo real”. Entendeu que homens como ele, como Roberto Morena, outro bravo militante brasileiro contra o fascismo, e tantos outros, só podem contar com a alegria da luta, com a honra do combate, porque – como ocorreu então – não podem estar certos da vitória, nem do reconhecimento de seus contemporâneos.
A saga brasileira de Apolônio é conhecida. Voltando ao Brasil em companhia de sua mulher, que também participara da Resistência, sofrerá aqui a repressão do governo Dutra e, de novo, do segundo governo de Vargas; participará da luta armada contra o governo militar de 1964, e voltará, pela segunda vez, ao exílio. Ao chegar aos noventa e três anos, teve que morrer decepcionado com os rumos do PT, que ajudara a fundar. Ele podia fazer suas as palavras de Darci Ribeiro: ambos perderam todas as batalhas, mas morreram com a honra de não estar ao lado dos vencedores.
Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.
Internacional
1. Europa tirana
Por Marco Aurélio Weissheimer
Deputada verde denuncia o fim direitos e liberdades fundamentais - leia em http://www.novae.inf.br/pensadores/europa_tirana.htm
2. Pouca gente sabe, a grande imprensa não comenta... mas na imprensa alternativa ficamos sabendo das novidades. Uma delas está sendo discutida na revista Fórum deste mês:
TeleSur - A América Latina sob outro olhar
Por: Daniel Merli e Wilson Sobrinho
Abril de 2003. Em um palanque armado no centro da capital venezuelana, o presidente Hugo Chávez encerrava seu discurso em comemoração do Dia do Povo Heróico. Recém criado, o feriado do 13 de abril comemora a mobilização popular que levou o presidente de volta ao poder, após um golpe conjunto das elites, mídia e cúpula militar. Na saída, após um discurso de cerca de três horas, o presidente puxa pelo braço o cineasta e jornalista Tariq Ali, paquistanês de nascimento, mas criado na Inglaterra. Pede um encontro com o cineasta, para que lhe explique sua idéia, defendida durante um seminário, de criar uma “Al Jazeera latino-americana”.Tariq Ali defendia em sua palestra uma comunicação independente dos grandes veículos situados na Europa ou Estados Unidos, “mas com qualidade inatacável”. Para ele, autonomia e qualidade eram as principais características da Al Jazeera, rede de tevê do Qatar que ficou famosa durante a Guerra do Golfo, trazendo informações não veiculadas por órgãos como a CNN.Quase dois anos e meio depois daquela noite entrava no ar, via satélite para todo continente americano e parte da Europa, a Nueva Televisión del Sur ou simplesmente TeleSUR. Transmitido desde o último 24 de julho – mesma data de nascimento de Simon Bolívar–, o sinal pode ser captado por qualquer antena parabólica e pretende corrigir distorções históricas na auto-imagem dos latino-americanos."Nós, na América Latina e no Caribe, fomos acostumados a nos ver através de olhos estrangeiros", compara Aram Aharonian, jornalista uruguaio radicado na Venezuela, diretor-geral da emissora. "Europeus e norte-americanos nos vêem em preto e branco, e este é um continente colorido", disse em entrevista à Reuters em abril."O primeiro projeto de mídia contra-hegemônico" de televisão na América do Sul, na definição de Aharonian, a nova emissora tem na integração continental sua principal meta. "A TeleSUR nasce de uma necessidade evidente da América Latina: contar com um meio que permita a todos habitantes desta vasta região divulgar sua própria imagem, debater suas próprias idéias e transmitir seus próprios conteúdos, livre e igualmente", diz o texto de apresentação da emissora multi-estatal na internet.
3. Um trecho de artigo de Newton Carlos, publicado na revista Fórum deste mês:
Por: Newton Carlos
De passeio a pesadelo
Em dois dias foram mortos no Iraque, em ações militares, 21 soldados americanos. A Guarda Nacional da Geórgia (EUA) teve a sua primeira baixa desde a Segunda Guerra Mundial. Acontecimento com forte simbolismo. Já se aproximam dos mil e 900 os tombados desde a invasão em março de 2003. Teria chegado a hora de dar no pé? O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, foi ao Iraque pressionar os políticos locais. O recado: aprovem uma Constituição e tenham forças de segurança em condições de substituir os ocupantes.
A opinião pública nos Estados Unidos começa a não suportar o sacrifício em vidas humanas e os gastos bilionários com uma guerra que perdeu o rumo, se algum dia teve algum. O governo Bush já não tem condições de ignorá-lo, depois de esbanjar arrogância. Documento inglês, em mãos de democratas da oposição a Bush, ávidos por explorá-lo, revela que a Casa Branca já havia optado pela guerra oito meses antes de começa-la. Foram meras pantomimas as intervenções no Conselho de Segurança da ONU em busca da autorização formal para iniciar a chuva de bombas em cima de um país com sistemas precários de defesa, como observou, amargurado, o ex-presidente Jimmy Carter. Disse que isso “no mínimo contraria hábitos de nações civilizadas”.
Bush iria à guerra com ou sem ONU. Já não se trata de especulação. Ingleses inconformados com a subserviência de Blair conseguiram romper cadeados de baús da diplomacia e levantar registros de decisões que reduzem a jogo de cena os encontros que o primeiro-ministro teve com Bush com a cantiga de que ainda era possível evitar o pior. A constatação disso, não mais apenas suspeitas, coloca no rol de pessoas não confiáveis os líderes de duas potências nucleares, uma delas dona da mais formidável máquina bélica do mundo. Mas o que se supunha que seria um passeio, tornou-se pesadelo.
4. Uma nova crise de energia? É o que parece, na análise do professor de História Contemporânea da UFRJ Francisco Carlos Teixeira:
http://agenciacartamaior.uol.com.br//agencia.asp?coluna=reportagens&id=3528
Livros e revistas
1. História Viva nas bancas com dois números especiais. A série Grandes Temas traz “Mistério e esplendor no Peru pré-colombiano”, com dezenas de artigos interessantes. A novidade agora é a série “Temas brasileiros”, cujo primeiro número traz um grande dossiê sobre “Um país chamado café – poder e riqueza do grão que ergueu o Brasil moderno”.
2. Fiquem de olho. Ainda não foi traduzido, mas já mereceu uma extensa resenha do jornal “Estado de São Paulo” de 25.09 (caderno Cultura). Trata-se do romance histórico Coup de lune, de Georges Simenon: É uma obra notável, na qual os personagens apresentam um brutal libelo contra o imperialismo francês entre as duas guerras na sua nudez mais flagrante no Gabão, sua capital Libreville e no interior do país.
3. Reedição: Trotsky, o Profeta desarmado, de Isaac Deutscher. É o segundo volume da monumental biografia de Trotsky escrita por Deutscher. Compreende o período entre 1921 e 1929. Ed. Civilização Brasileira, 570 p. R$ 65,90.
4. Uma crítica aos atuais rumos do feminismo- Rumo equivocado, de Elizabeth Badinter. Segundo ela, assistimos hoje a uma regressão inesperada da figura da mulher ao modelo tradicional da maternidade e da hipócrita pureza erótica. Ed. Civilização Brasileira, 174 p. R$ 24,90.
5. Revista Histórica on-line n.º 05
Visite o site: www.historica.arquivoestado.sp.gov.br
Neste número, a Revista Histórica traz três artigos de temas diversificados.O primeiro, “O (Quase) Envolvimento Militar do Brasil na Guerra do Vietnã”, de Orivaldo Leme Biagi, trata do quase envolvimento militar do Brasil no começo da Guerra do Vietnã (1964-1973). O autor mostra as origens do conflito vietnamita; as razões estratégicas do regime militar brasileiro –que impediram a entrada de tropas brasileiras no Vietnã – e as pressões do presidente norte-americano Lyndon Johnson para que isto ocorresse.Já o artigo de Denise Santana, “Representações sociais da liberdade e do controle de si”, faz uma análise sobre a mudança dos padrões de comportamento a partir do surgimento dos famosos ídolos da juventude de Hollywood nos chamados “anos dourados.O texto de Antonio Luigi Negro, “Quem agüenta esses baianos?”, faz uma reconstrução das greves do início da década de cinqüenta no ABC paulista, onde foi construída, neste período, a nossa indústria automobilística.Nossa galeria de imagens deste mês faz referência à chegada da TV no Brasil, inaugurada em setembro de 1950. Foi o maior empreendimento da indústria cultural brasileira.
6. Foi lançado dia 26 de setembro o livro Nas trilhas do Jangada, de Mario Lara e Márcia Paiva Carvalho. Márcia foi colega minha no curso de História e hoje é coordenadora do Colégio Magnum. O livro está sendo muito bem recomendado... vale a pena conferir!!!
Sites interessantes
Revista eletrônica do IPHAN
http://www.revista.iphan.gov.br/index.php
Cine/TV
Dia 1º de outubro, no canal 37, e a partir do dia 9, na HBO começa a série ROMA, que vem anunciada com estardalhaço, como sendo a mais cara série já feita para a televisão. A conferir...
Dia 2, no Telecine Emotion, às 22 horas, OSAMA, que mostra, através da vida de uma garota, a realidade do Afeganistão de hoje.
Dia 13, também no Telecine Emotion, LIAM, que tem como pano de fundo a grande depressão que se seguiu à Crise de 1929.
Noticias
1. O Jornal do Brasil, de domingo passado (25-09), trouxe um especial sobre o final da II Guerra Mundial, destacando a participação brasileira no conflito. É um trabalho interessante, bem ilustrado, que vale a pena guardar.
2. Já está no ar o link para a inscrição na 2ª Semana de História da Universidade de Uberaba. Basta acessar www.semanadehistoria.cjb.net
e clicar no link das inscrições. Você pode realizar a inscrição para toda a semana com 50% de desconto ou para cada conferência em separado.
3. INSTITUTO CARL GUSTAV JUNG - MG
PROGRAMAÇÃO DE OUTUBRO 2005 SEMINÁRIOS
03/10/05: MEMÓRIA VERSUS ESQUECIMENTO: A DIMENSÃO TRÁGICA DA LUTA PELA ANISTIA.Heloísa Greco. Professora de História na UNI-BH. Doutorado em História pela UFMG. Coordenadora do projeto Tortura Nunca Mais MG.
17/10/05: O INTERACIONISMO EM PIAGET.Maria Helena Camargos Moreira. Professora da Disciplina de Psicologia do Aprendizado no Curso de Psicologia da PUC/Minas. Mestre em Ciências Sociais pela PUC/Minas.
24/10/05: DIÁLOGOS ENTRE PIAGET E VYGOTSKY.Maria Helena Camargos Moreira. Professora da Disciplina de Psicologia do Aprendizado no Curso de Psicologia da PUC/Minas. Mestre em Ciências Sociais pela PUC/Minas.Horário: todas as segundas-feiras, às 20:00 h pontualmente.
Local: Associação Médica de Minas Gerais. Av. João Pinheiro, 161 – Centro – Belo Horizonte(na Av. João Pinheiro entre as Ruas Timbiras e Guajajaras, próximo à Faculdade de Direito da UFMG).Preço: R$10,00. Meia-entrada para estudantes universitários e residentes mediante apresentação de comprovante (carteira de estudante ou comprovante de matrícula).Contato: http://geocities.yahoo.com.br/icgjmg/
Na semana em que perdemos um grande batalhador, também foram embora dois comediantes que deixaram gerações mais alegres: o brasileiro Ronald Golias e o norte-americano Don Adams, o famoso “agente 86”. A propósito dos dois, Tutty Vasquez fez uma crônica muito interessante, bem humorada mas ao mesmo tempo trágica, publicada em No Mínimo, do Ibest:
Golias, Smart, Bush: humor e morte
A semana foi trágica para o humor. Saíram de cena duas referências cômicas que ainda emprestavam alguma graça às piadinhas sobre o desempenho de George Bush no poder. Morreram o ator Don Adams, criador de Maxwell Smart, o agente 86, personagem da TV americana mais identificado com as trapalhadas do presidente americano, e o comediante Ronald Golias, cuja caricatura facial compunha incrível semelhança com a expressão apatetada de Bush em dia de atentado terrorista em Nova York ou de furacão em Nova Orleans.
Acho que enterramos esta semana uma espécie de humor de época. Os adolescentes de agora talvez não saibam, mas houve um tempo em que tipos idiotas – um gênero abilolado muito em voga entre os políticos de hoje em dia – só faziam grande sucesso em programas e seriados humorísticos da TV. De alguns anos para cá, no entanto, personagens como o agente Smart ou Carlo Bronco Dinossauro, célebre papel de Golias no humorístico “Família Trapo” nos anos 60, passaram a ocupar altos cargos na cúpula que dirige o mundo “meio sem querer querendo”, como diria aquele outro comediante precursor de Bush no México.
Alguém já deve ter escrito tese sobre o fascínio de todo ser humano por comediantes com cara de burro e/ou demente. Alfred E. Neuman, garoto-propaganda da revista MAD, e Rowan Atkinson, intérprete do aloprado Mr. Bean, não conseguiriam emprego de entregador de pizza com o jeitão de seus personagens. O sucesso desses tipos – aí incluídos os três Patetas, os irmãos Marx, Peter Sellers, Jerry Lewis e Renato Aragão – deve ser creditado ao menos em parte ao conforto de saber que sempre existe alguém mais desastrado, inoportuno, desagradável, mal-arrumado, desajeitado e inconveniente do que a gente. Ninguém é tão debie & lóide quanto Jim Carrey ou tão forrest gump quanto Tom Hanks.
O homem idiota sempre teve lá sua graça antes de George Bush transpor da ficção para a realidade a idéia ridícula de que o destino da humanidade está nas mãos de um completo panaca. Como costumava dizer Groucho Marx, “quando alguém parece idiota e fala como idiota, não se deixe enganar: é de fato um idiota”. Há que se fazer, no entanto, uma distinção entre o aparvalhado intencional e o estúpido inato. Alguém já disse, não me lembro quem, que “o maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante de um idiota que banca o homem inteligente”.
O fato é que, desde janeiro de 2001, quando o palhaço do Clinton deixou a Casa Branca, todo comediante de raiz clown ficou meio parecido com Bush. A internet está congestionada de piadas involuntárias protagonizadas pelo presidente americano, discursos do gênero "nossos inimigos são inovadores e pesquisam muito. Nós também. Eles nunca param de pensar em novas maneiras de prejudicar nosso país e nosso povo. Nós também não". Difícil concorrer com ele, né não?!
O humor ingênuo que consagrou Ronald Golias e Don Adams, aquela asneira despretensiosa que tanto divertia minha geração, tudo isso foi inteiramente superado pela estupidez dos políticos nesses tempos de humor negro. Bronco Dinossauro e Maxwell Smart não são mais personagens desse mundo. Ronald Golias e Don Adams também não!
Ô cride, fala pra mãe que o mundo ficou mais sem graça ainda nesta semana.
Mudando totalmente o rumo da prosa, muito interessante são as descobertas feitas no território do antigo Quilombo dos Palmares, noticiadas em reportagem da Folha de São Paulo. Descobrem-se grandes vestígios de cerâmicas indígenas e de origem portuguesa, o que leva os pesquisadores à conclusão de que em Palmares não moravam apenas escravos negros que fugiam dos engenhos. Indígenas e brancos pobres também lá se abrigavam, por motivos os mais diversos possíveis. A reportagem está reproduzida em seguida.
Uma cidade dos maias foi descoberta nas florestas ao norte da Guatemala. Acredita-se que dela tenham saído diversas peças que, na década de 1970, chegaram a museus europeus e dos Estados Unidos. Tais peças foram classificadas como do período entre 600 e 900 d.C. Não é muito fácil fazer escavações, visto que a região é reduto de traficantes.
O Brasil perdeu um de seus guerreiros: Apolônio de Carvalho – mesmo que não se concorde ideologicamente com ele – foi um grande nome da política no século XX. Apesar de pouco conhecido pelas gerações mais novas, desempenhou papel relevante, deu exemplo de honestidade (e como estamos precisando disso...). Mauro Santayana fez um grande elogio a ele na Carta Maior e nós transcrevemos logo abaixo.
Leiam também sobre o verdadeiro atentado perpetrado contra o patrimônio de Belo Horizonte e o desabafo do professor Antônio de Paiva Moura, entre outras matérias interessantes.
Até o momento em que termino esta edição, a eleição para presidente da Câmara aponta os dois candidatos que vão ao segundo turno: Nonô, do PFL e Aldo, do PcdoB. Ainda hoje deveremos ter o resultado do segundo turno, mas, independente de qual seja ele, vejo nos noticiários da internet que o PDT, o PV e o PPS – considerados partidos de esquerda – estarão apoiando o PFL...
Estranhos tempos, esses nossos... muito estranhos...
Bom proveito!
Ricardo
Falam os amigos e as amigas
Enviado pela Daniella Bonfim. Bom para amenizar um pouco a tensão....
Novas do governo
COM ESSA PODRIDÃO APARECENDO TODOS OS DIAS NA TV, SÓ LENDO ESTAS PIADAS PARA AMENIZAR NOSSA INDIGNAÇÃO ...
O AEROLULA já era... Mudou o apelido do avião do Lula. Agora é Arca de Noé: " Só entram os sobreviventes do Delúbio".
Máximas e mínimas ...
"Pensando bem......qualquer dia até os papagaios no Brasil vão falar "corruptaco, corruptaco" (Cláudio Humberto)
"Bons tempos aqueles em que os Três Poderes eram o Exército, a Marinha e a Aeronáutica" (Millor)
"O sonho do PT é o modelo chinês: autoritarismo político e liberalismo econômico" (Fernando Gabeira)
"Há malas que vêm para o bem" (José Ingenoíno)
Um dos primeiros Presidentes do Brasil foi o Prudente de Morais, daí pra frente tivemos um monte de Presidentes imprudentes e imorais (...)
O Lula e o PT estão tentando cruzar cabra com periscópio, para ver se acham um bode expiatório (...)
Não confunda 'militante do PT" com "mil e tanto pro PT" (...)
Antes era o PC Farias. Agora é o PT Faria. Faria as reformas, faria a distribuição de renda, faria um governo honesto (...)
A única diferença entre o político e o ladrão é que o primeiro a gente escolhe e o segundo escolhe a gente (...)Deve haver, escondida nos subterrâneos do Congresso, uma escola de malandragens, golpes, perfídias e corrupção. Não é possível que tantos congressistas já nasçam com tanto conhecimento acumulado (...)
O canto lírico de Roberto Jefferson não tem dó. Só tem réu maior!!! (...)
Ladrão que rouba ladrão vive no Distrito Federal (...)
A nova capital do Brasil mudou de nome, foi de Brasília para "Quadrília".
Brasil
1. Escavações sugerem Palmares "mestiço" Cerâmica indígena e de origem portuguesa é encontrada onde existia o quilombo, indicando traço multicultural (Folha de São Paulo)
REINALDO JOSÉ LOPES - DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de quase uma década desde que as primeiras escavações foram feitas, os arqueólogos estão voltando a meter sua colher num dos lugares mais míticos e pouco compreendidos da história brasileira: o quilombo dos Palmares, no interior alagoano.Por enquanto, a equipe da Ufal (Universidade Federal de Alagoas) continua a achar vestígios de uma forte presença indígena no lugar, ao lado de cerâmica de influência portuguesa. Nada que lembre decididamente a África emergiu das escavações, que estão sendo conduzidas desde março e devem ir pelo menos até 20 de novembro, data em que se recorda a destruição do quilombo.
Ainda é cedo para dizer o que essa estranha ausência num lugar que era (ou pelo menos deveria ser) o reduto de africanos fugitivos significa, mas uma das possibilidades é que os palmarinos, na verdade, tenham se reinventado como grupo étnico, incorporando influências dos demais povos do Nordeste brasileiro do século 17. "Essa é uma hipótese que eu propus para explicar os dados da arqueologia, embora ela ainda não esteja comprovada", ressalva o arqueólogo americano Scott Joseph Allen, da Ufal, que coordena os trabalhos na área.
Allen explica que os primeiros arqueólogos a estudarem a região da serra da Barriga, no começo dos anos 1990, não tiveram chance de investigar Palmares a fundo. "Havia o que nós chamamos de pesquisas exploratórias e preliminares", conta ele. Mesmo nessa fase, os primeiros dados já revelavam influências não-africanas. Para alguns parecia no mínimo estranho que o local-símbolo da luta pelos direitos dos negros brasileiros contrariasse sua própria aura, e a Fundação Cultural Palmares, órgão que zelava pelo sítio, acabou proibindo as atividades arqueológicas ali em 1997.
Como há a intenção de aumentar significativamente a estrutura para receber visitantes na serra da Barriga durante as comemorações que acontecem anualmente lá em 20 de novembro, Allen e seus colegas recomeçaram os estudos pelo sítio conhecido como SB1, que deverá receber o impacto inicial das obras. A equipe descobriu, por exemplo, urnas funerárias indígenas numa área que deveria ser um estacionamento."Muito material parece ter sido danificado pelos carros que subiam anualmente a serra. Conseguimos inclusive associar especificamente a quebra de urnas e panelas com esse impacto", conta Allen. Outro problema sério é que o alto do platô onde as comemorações acontecem foi terraplanado, o que bagunçou significativamente a estratigrafia (a sucessão de camadas de solo) do lugar
Por isso tudo, ainda é difícil traçar associações temporais claras entre os diferentes tipos de artefato. É certo que, em épocas pré-históricas (a data mais antiga é de uns mil anos atrás), o lugar foi ocupado por indígenas provavelmente ligados ao tronco lingüístico macro-jê, comum em todo o Brasil Central e, em tempos antigos, também no interior nordestino. "Também temos registros que podem ser associados à tradição tupinambá, que chegou posteriormente à região", diz Allen.
A presença de faiança grossa (um tipo de cerâmica tipicamente portuguesa, só que produzida com menos refinamento, na própria colônia) em associação com a cerâmica indígena ainda é difícil de interpretar com clareza. "Não podemos negar uma proximidade muito forte entre os índios e os palmarinos. Mas ainda precisamos de muito mais pesquisa para saber que tipo de relação era essa", afirma o pesquisador.
"O sítio é muito complexo, mas parece-me que estamos nos aproximando de um bom entendimento da seqüência de ocupação", diz Allen. Com o auxílio do computador, os pesquisadores pretendem investigar a presença de cercas defensivas e outras estruturas arquitetônicas na área.
Os indígenas poderiam fazer parte da população do quilombo ou, no mínimo, comerciavam com os negros. Esse tipo de contato explicaria a presença da faiança -registros históricos falam de trocas entre os habitantes do quilombo e os colonos, ou de brancos que se mudaram para lá.
2. Promotoria acusa Universal de demolir casarões que seriam tombados
PAULO PEIXOTO da Agência Folha, em Belo Horizonte, 05/09/2005
A Promotoria de Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público de Minas Gerais deverá ingressar com ações criminal e cível contra a Igreja Universal do Reino de Deus. A instituição é acusada de demolir quatro casarões dos anos 40, em Belo Horizonte (MG), no início do último dia 15 - um feriado municipal.
As edificações estavam em processo de tombamento. A Universal pretende implantar no local um estacionamento para um dos seus megatemplos no bairro de Lourdes, um dos metros quadrados mais caros da região sul de Belo Horizonte.
O Patrimônio Histórico da Prefeitura de Belo Horizonte informou, pela gerente Michele Arroyo, que a igreja sabia do processo de tombamento em curso, pois, além de ter sido notificada em 31 de dezembro de 2004 do interesse do município pelo tombamento, representantes da Universal participaram de reuniões do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico.
O tombamento seria decretado pelo conselho no próximo dia 31, mas 16 dias antes a igreja fez as casas ruírem. A atitude causou indignação e protestos de vários órgãos ligados ao patrimônio e arquitetura instalados na capital mineira.
O promotor Fernando Galvão disse que já começou a reunir provas para propor duas ações, sendo uma por crime ambiental, mas com a preocupação de fundamentar bem os argumentos de forma que a igreja e os seus responsáveis não sejam obrigados a apenas pagar as multas previstas nas leis municipais e, uma vez pagas, alcançar o seu objetivo.
A ação da Igreja Universal do Reino de Deus, para o Ministério Público, foi "premeditada". "Ninguém tem dúvida [da premeditação]. Todo mundo já percebeu a ação deliberada para frustrar as intenções do patrimônio público. Aqueles bens já estavam protegidos por um inventário", disse o promotor.
Ele acrescentou que pretende invocar não apenas as leis municipais e estaduais, mas também a lei federal 9.605, que trata dos crimes ambientais com as respectivas penalidades, com prisão, dos responsáveis. Na área cível, a intenção do Ministério Público é fazer com que a Justiça "carregue na mão" na punição pecuniária e também impeça que no local seja construído um estacionamento, dando outra destinação aos lotes, já que Galvão considera "sem sentido" a reconstrução dos casarões.
Câmara
Arroyo e o vereador Arnaldo Godoy (PT), representante da Câmara Municipal no conselho, disseram que não é preciso uma lei para impedir demolições de imóveis durante o processo de tombamento. "O conselho é deliberativo", afirmou o vereador. Ele disse que a própria Igreja Universal, quando adquiriu os imóveis em julho do ano passado, recorreu ao Patrimônio Histórico municipal para saber o grau de interesse do município naquela área.
"Eles receberam a Carta de Grau de Proteção do Patrimônio Histórico. Sabiam, portanto, do interesse do município pelo tombamento. A própria igreja esteve presente no conselho. Foi um desrespeito", disse Michele Arroyo. Ela afirma que, independentemente disso, qualquer demolição na cidade precisa de autorização expressa da prefeitura, o que a Universal não tinha.Além de saber pelo patrimônio, o gerente de Regulação Urbana da Regional Centro-Sul, William Nogueira, disse que a igreja foi notificada no dia 31de dezembro de 2004, por escrito, assim como todos os proprietários de imóveis daquela região, sobre os estudos para o processo de tombamento dos casarões e que, por isso, eles não poderiam ser demolidos.
Outro lado
O pastor Carlos Henrique Silva, vereador pelo PL em Belo Horizonte que vinha discutindo a questão do tombamento com o Patrimônio Histórico e o conselho, disse à Folha apenas que a informação passada à Igreja Universal pela prefeitura era que "somente o registro documental histórico era suficiente". Ou seja, que o que interessava eram os documentos dos casarões, não eles propriamente dito. "Não era tombado. Olha, como esse assunto vai entrar na esfera da Justiça, o advogado que deve falar", disse o pastor-vereador, indicando dois advogados da igreja, que não foram localizados na sede da Universal. A funcionária de nome Taís disse que eles não estavam e não poderia passar os celulares.
Silva é um dos dois políticos ligados à Universal que, no dia 10 de julho passado, foi flagrado pela Polícia Federal transportando malas e caixas de dinheiro. Afirmaram à PF que o dinheiro era doação de fiéis e foram liberados. Eles foram flagrados no hangar da Líder Táxi Aéreo na Pampulha.
"Shopping da Fé"
O estacionamento pretendido pela igreja é a continuidade do "shopping da fé", um megatemplo para cerca de 5.000 fiéis no bairro nobre de Lourdes. A intenção é construí-lo anexo ao maior templo da Igreja Universal em Minas, com cerca de 6.000 m2 de área. Inaugurado no primeiro semestre do ano passado, o megatemplo tem na fachada quatro colunas neoclássicas, dando o tom da obra. O prédio é dotado de livraria e videoteca, logo na entrada. Dentro, fica o salão com 5.000 assentos, com paredes duplas revestidas por lã de vidro, forro acústico no teto e nos dois telhados. Isso para evitar que o som se propague. Os três andares acima do salão foram estruturados para receber os filhos dos fiéis, onde recebem ensinamentos "bíblicos e comportamentais". O "shopping da fé" de Belo Horizonte conta ainda com um edifício anexo, de nove andares, onde fica a parte administrativa da igreja, quatro apartamentos residenciais para bispos e pastores, um estúdio de rádio e um de TV.
Depois dessa construção, quase todo o quarteirão já foi adquirido pela Universal. Ela possui ainda mais dois casarões. Para ter toda a quadra, restam os imóveis onde funciona o tradicional Bar do Primo e uma clínica de estética. Os donos desses imóveis se recusam a vendê-los.
3. Vilas Boas Correa analisa a Câmara Federal (No Mínimo, Ibest)
A Câmara dos Deputados iniciou a faxina da imundície petista do caixa dois e do mensalão como quem varre o lixo do quintal para a sala, cassando o acusador e adiando a punição dos 17 denunciados para depois de exercido o direito de defesa assegurado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), graças a liminar do seu presidente, ministro Nelson Jobim.
Lá é verdade que a cassação do mandato do deputado Roberto Jefferson, pela folgada diferença de 313 votos a favor e 156 contra, deixa claro que eram favas contadas. Com oito anos na geladeira da inelegibilidade, o ator que ocupou o centro do palco sob o foco das TVs, páginas nos jornais e revistas, encerra a carreira com remotas possibilidades de retorno em tempos de volatilidade da fama, que cria e destrói ídolos num piscar de olhos.
Pelo atalho paralelo, mas levando ao mesmo poço sem fundo, caminha o estadista de João Alfredo (PE), deputado Severino Cavalcanti, presidente da Câmara, guru do baixo clero e invicto campeão das mordomias. Os fios da vida tecem desenhos inesperados: eleito com os 300 votos dos anônimos que ocupam as últimas filas de cadeiras e outros equívocos, em sete meses de desastrada atuação na presidência o deputado Severino se escafede pela porta dos fundos, enquanto o cassado Jefferson curtiu seus agônicos momentos de glória com o discurso de acerto de contas. Baixando a lenha no governo, no deputado José Dirceu e com petelecos no presidente Lula, deixou o plenário sob aplausos da minoria dos votantes e das galerias.
Mas, página virada, adiante. Daqui até o fim do mês, em escassos seis dias úteis da semana da madraçaria parlamentar ou em poucos mais, caso o brio estique o prazo com o mutirão excepcional às segundas e sextas-feiras, o Congresso terá que decidir a sorte da campanha eleitoral do próximo ano, quando serão eleitos o presidente e o vice-presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais.
A reforma política para valer ficou inviável, lançada às traças do arquivo à espera da nova chance, que talvez chegue tarde demais. Alguma coisa precisa ser feita: ao menos a meia-sola que tape os rombos das últimas campanhas, com o show das novelas montadas pelos marqueteiros e a orgia das despesas bancadas pelo caixa dois e adubadas pelo mensalão.
Como de hábito, deixamos para o undécimo instante o mais urgente dos desafios para a tentativa de restauração do prestígio, da respeitabilidade, do decoro do Legislativo: a escovadela para remover o pó que cobre as campanhas com o ridículo de candidatos vendidos como produtos de consumo. Coibir gastos suspeitos, impor regras severas ao privilégio milionário do horário de propaganda eleitoral, levantar barreiras para deter o desembaraço das legendas de aluguel e o troca-troca de partidos é o mínimo que está a exigir um esforço concentrado, à margem das intocáveis CPIs, para a aprovação de meia dúzia de medidas indispensáveis.
Convém não perder de vista o principal. O eleitor deve ficar alerta, desde já, para não baixar a indignação, cair no desencanto da desistência e cobrar dos candidatos a todos os mandatos o compromisso de retomar o debate nacional da reforma política.
Desta vez, a sério. O Congresso não pode esperar o respeito da sociedade enquanto não se dispuser a renunciar às mordomias, vantagens, aos penduricalhos que multiplicam o subsídio como passes de mágica ou truques de trapaceiros, às alturas de um dos melhores empregos do mundo.
Nada mais justifica que o senador e o deputado não morem em Brasília, em seu local de trabalho, em apartamentos funcionais, como faz todo mundo. As quatro passagens semanais para o fim de semana nas suas bases foram o remendo de emergência para contornar a precipitação com que foi inaugurada a nova capital.
Verbas dos gabinetes privativos, nichos de nepotismo e outras tramóias, engordaram à escabrosa obesidade. Não há limite ao despudor da criatividade. Talvez a obra-prima premie a verba indenizatória, promessa de campanha do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) para a presidência da Câmara e aumentada pelo sucessor, Severino Cavalcanti. Precursora do mensalão, disfarce de salário indireto, mimoseia senadores e deputados com o crédito mensal de R$ 15 mil para o ressarcimento das despesas dos fins de semana nas suas bases.
Um trem da alegria com muitos vagões puxados pela locomotiva da Viúva: semana mandriona de dois a três dias úteis, passagens mensais para o fim de semana em campanha eleitoral, verbas de gabinete para a dissipação do empreguismo e as verbas indenizatórias, modelo inspirador do mensalão.Em algum momento, sob a inspiração do bom-senso ou a imposição da crise institucional, o Congresso terá que cortar na carne as enxúndias das mordomias.Se não quiser morrer da doença para ressuscitar depois de longa provação.A última durou quase 21 anos e parece esquecida em 20 anos de democracia.
4. Recebemos um artigo do prof. Antônio de Paiva Moura, sobre a crise. Ei-lo:
A democracia na lona e o ódio no pódio
Antonio de Paiva Moura
O ódio da direita brasileira contra o PT é exagerado, especialmente dos partidários do PFL e do PSDB. Exatamente porque o PT fez legítima oposição a todas as incúrias e privilégios mantidos desde velhos tempos até hoje. Por essa causa os petistas sofreram muitas perseguições, calúnias, injúrias. Basta lembrar o caso Chico Mendes; as tentativas de assassinato do ex-prefeito de Betim, Jesus Lima; prisões e torturas de militantes. Essa intolerância tem apoio fora do País a exemplo da declaração do pastor Rat Robertson que propôs ao governo dos EUA mandar matar Hugo Chaves, presidente da Venezuela. Cá no Brasil o senador Bomhausen diz grosseiramente: “A gente vai se ver livre desta raça por, pelo menos, 30 anos”.
A corrupção está presente na formação do povo brasileiro: levar vantagem custe o que custar. O ganho fácil pela esperteza é bem visto no Brasil. Os habitantes de Unai apóiam o fazendeiro que escraviza trabalhadores e que mandou assassinar os fiscais do Ministério do Trabalho. Antério Mânica, mesmo encarcerado foi eleito prefeito de Unai. Foi posto em liberdade para tomar posse. Ele terá força para continuar sendo escravocrata e mandar acabar com essa raça de fiscais. Os pastores que extorquem os fiéis e transportam malas cheias são aplaudidos como heróis. Os políticos mortos são exaltados e os vivos são execrados. O que Getúlio Vargas e Brizola fizeram (bem ou mal) foi no passado. O que temos a ser feito no presente e no futuro não depende deles. Eles são apenas mitos; figuras de marketing; muletas de políticos incompetentes. No dizer de Erich Fromm é necrofilia, isto é, amor aos mortos e ódios aos vivos.
Se a sociedade está corrompida pela ideologia liberal de vencer a qualquer custo; pela lei do mais forte e a vantagem ao mais endinheirado, como exigir que somente o pseudo representante parlamentar seja honesto. O eleitorado não sabe distinguir um discurso mentiroso e demagógico de uma mensagem verdadeira e sincera, exatamente porque sua maldade, sua má intenção é idêntica à do político safado.
O PT, por sua formação dialógica e disposição de autocrítica poderá, em longo prazo, corrigir seus erros e voltar a ser um partido de combate, de luta contra as injustiças. Nada nos faz crer na possibilidade de reversão dos demais partidos políticos do Brasil.
5. Da Revista Fórum, um artigo que mostra, mais uma vez, o envolvimento do banqueiro Daniel Dantas em escândalos de outros carnavais (leia-se governo FCH). Mas, quem viu o depoimento dele na CPI, deve ter notado a ausência de perguntas inteligentes. O PSDB e o PFL, sócios de DD, não perguntaram nada de relevante. E o PT também não, o que mostra que o envolvimento do banqueiro baiano nas teias do poder é maior do que a gente imagina...
O verdadeiro escândalo
Por: Frédi Vasconcelos
Junho de 1998, ano da reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso. Na agenda política do país, as privatizações e o encolhimento do Estado. E também a oportunidade para que alguns escolhidos, entre eles o banqueiro Daniel Dantas, ganhassem muito dinheiro na venda de empresas estatais, como as de telecomunicações. É bom lembrar o grampo de uma conversa telefônica em que o então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, revela ao interlocutor, Ricardo Sérgio de Oliveira, então diretor de relações internacionais do Banco do Brasil e quem mandava nos fundos de pensão, principalmente a Previ, o interesse de um banco de porte médio pelo que se tornaria a Telemar, uma das privatizadas:
– Está tudo acertado – garante Mendonça de Barros
– Mas o Opportunity está com um problema de fiança. Não dá para o Banco do Brasil dar?
– Acabei de dar.
– Não é para a Embratel, é para a Telemar.
– Dei para a Embratel e 874 milhões para o Telemar. Nós estamos no limite da nossa irresponsabilidade. São três dias de fiança para ele – responde Ricardo Sérgio.
Tal irresponsabilidade referia-se a dar condições ao banco Opportunity, de Dantas, ligado ao grupo político de Antônio Carlos Magalhães e depois ao próprio FHC, a concorrer em mais um “leilão”. No caso da Telemar, o resultado não foi o esperado: perdeu porque o grupo já havia adquirido a Brasil Telecom (BrT) e a Telemig.Mas se, nesse caso, a irresponsabilidade chegou perto do limite, ele foi ultrapassado no consórcio que arrematou as outras duas empresas, BrT e Telemig. Montou-se uma teia intricada de associações, totalmente fora dos padrões de mercado, em que, com a minoria das ações, menos de 10% do total dos diversos fundos e empresas, Dantas ficou com a gestão e o controle.
Seria interessante alguém explicar por que os detentores de mais de 90% dos papéis de controle da empresa que representava a participação nas privatizadas não tinham nenhum direito. Ao contrário, eram obrigados por contrato a seguir as decisões de Dantas.No caso dos fundos de pensão, a Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, e mais dez fundos têm investido recursos superiores a R$ 2,6 bilhões. Pelos quais nunca receberam dividendos e que poderiam virar pó caso não fossem tomadas medidas para retomar o controle das empresas.
A intenção do banqueiro, que até o começo do ano representava o Citibank, sócio dos fundos nas companhias, “era deixar os fundos sem o controle e oportunidade de saída do negócio, com ações sem nenhum valor de mercado”, afirma Francisco Alexandre, diretor de administração eleito pelos funcionários da Previ. “Na discussão que se trava sobre os acordos e possibilidades de negócio não são apresentados os riscos envolvidos. Como não tínhamos o poder de decisão na cadeia societária, poderiam acontecer vendas sem que a nossa parte fosse respeitada e com isso a Previ arcaria com prejuízos bilionários”, pontua. “É negócio feito no passado, com problemas, e que temos procurado encontrar uma solução que melhor preserve nosso patrimônio. Esse me parece um grande escândalo do governo FHC, pois é algo feito para os fundos entrarem com o dinheiro para nunca mais reaver. Ou seja, um negócio que pode chegar a R$ 3 bilhões em benefício de setores privados. Por que isso foi feito?”, questiona.
A resposta não é fácil, mas várias denúncias surgiram a respeito da atuação de Ricardo Sérgio e Dantas no financiamento de campanhas dos tucanos. E é bom lembrar que suas digitais aparecem também no escândalo recente do governo do PT, com Ricardo Sérgio sendo dono do prédio em que funciona uma das agências de Marcos Valério, e Dantas o principal depositante nas contas das agências, com cerca de R$ 40 milhões mandados à DNA pela Telemig, Amazônia Celular e BrT, controladas pelo banqueiro baiano.
As aparições de Dantas em escândalos não são novidades. Ele foi indiciado pela Polícia Federal pela contratação da empresa internacional de investigações Kroll para espionar a Telecom Italia – outro sócio, com cerca de um terço da BrT – e telefones e e-mails do Palácio do Planalto, em 2003, entre eles o do ex-ministro Luiz Gushiken, acusado de influenciar os fundos de pensão na gestão petista. Há quem garanta que Dantas tentou uma ponte com o governo atual para derrubar o presidente da Previ, Sergio Rosa, e pôr em seu lugar o então presidente do conselho e diretor de marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato. Pizzolato saiu dos dois cargos há pouco tempo, depois que se descobriu o recebimento de mais de R$ 300 mil das contas de Marcos Valério. Pizzolato diz que apenas mandou um boy buscar uma encomenda no banco a pedido de um amigo, mas até hoje não disse para quem foi o favor.
6.
MAURO SANTAYANA (Agencia Carta Maior)
26/9/2005
Apolônio, a aventura da esperança
Apolônio pertenceu àquela estirpe de homens que conferiram honra ao século XX. Homens como Orwell, Hemingway, André Malraux e Arthur Koestler Dedicou toda sua vida ao sonho da igualdade e da fraternidade entre os homens.
André Malraux deu ao seu belo romance sobre a Guerra Civil da Espanha o título de "L’Espoir". Anos antes, na oposição a Bernardes, "O Estado de São Paulo", ao elogiar o jovem capitão Luís Carlos Prestes, chamou-lhe "O Cavaleiro da Esperança". Naqueles anos, em que o mundo hesitava entre o passado e o futuro, a esperança arregimentava alguns homens, jovens, sonhadores, solidários com o sofrimento dos oprimidos. O conflito entre a direita e a esquerda eclodia no mundo inteiro, mas iria manifestar-se de maneira sangrenta e cruel na Espanha.
A agonia da República e a vitória dos fascistas não foi decidida na frente de Teruel e na conquista da Catalunha pelos franquistas. A Espanha sucumbiu em nome das razões de Estado, que levaram ao provisório entendimento entre Hitler e Stalin, consagrados no acordo firmado por Molotov e Ribbentrop em maio de 1939. Segundo alguns, Stalin decidira ganhar tempo para preparar a defesa contra a previsível invasão nazista. A França e a Inglaterra, na ilusão de que contentariam o Führer, e evitariam a guerra que ele já preparava, deixaram de ajudar a Espanha, da mesma forma que – na mesma ocasião, ou seja, em setembro de 1938 – essas duas nações, mais a Itália, entregavam a Tcheco-Eslováquia a Berlim, na reunião de Munique. Foi uma decisão que iria custar caro ao mundo, porque os alemães e italianos, sob o silêncio da Europa, intensificaram sua intervenção armada ao lado de Franco, naqueles meses cruciais, testando as armas que seriam usadas logo depois.
É dessa guerra civil que Apolônio de Carvalho, em companhia de vinte outros brasileiros, participará, integrando as brigadas internacionais, constituídas por militantes da esquerda do mundo inteiro. Tenente do Exército, expulso aos 23 anos das fileiras, ele será o mais importante dos combatentes de nosso País, no Exército Republicano. A saga do lutador prosseguirá no terrível sofrimento dos campos de refugiados da República espanhola, no sul da França. Essas sobras humanas viveram primeiro ao ar livre, em pleno inverno, para depois serem abrigadas em barracas convertidas em campos de concentração logo no início da Segunda Guerra. A França, pressionada pelos alemães, tratou os refugiados como se fossem a escumalha da Europa. Arthur Koestler, que esteve detido em um deles – o de Vernet – dá às suas memórias de quando lá esteve o título de “La lie de la Terre”, (A borra da Terra). Koestler resume o que era o campo de Vernet:
“’... é preciso notar que, do ponto de vista da alimentação, das instalações e da higiene, Vernet se encontrava abaixo, mesmo, de um campo de concentração nazista. Uns trinta homens da Seção C, que haviam sido antes internados em diferentes campos alemães, entre eles os mais terríveis, Dachau, Oranienburg e Wolfsbuttel eram especialistas na matéria. Eu posso afirmar que a alimentação na prisão de Franco (em que estivera Koestler, três anos antes) era, de longe, mais substancial e mais nutritiva, e que, na cela de Sevilha, não tínhamos trabalho forçado a fazer, ainda que estivéssemos em plena guerra civil” (La lie de la Terre, pg. 137, Calmann-Lévy, Paris, 1971).
É de um desses campos que Apolônio conseguirá fugir, a fim de incorporar-se à Resistência, e chegar ao fim da guerra no comando de milhares de homens no Sul da França. Tenente no Exército Republicano e comissário político na frente do Ebro, coronel do Exército Francês, Apolônio pertenceu àquela estirpe de homens que conferiram honra ao Século 20. Homens como Orwell, Hemingway (que, na realidade, não chegou a combater), André Malraux (organizador, comandante e herói de uma esquadra internacional da aviação republicana), e o próprio Koestler. Homens como os tchecos Rudolf Slanský, Frantisek Kriegel, Artur London, e milhares de outros, anônimos combatentes que foram morrer em Madri pela sobrevivência da liberdade.
Apolônio dedicou toda a sua vida ao sonho da igualdade e da fraternidade entre os homens. Mas sonhar não o impedia de ver as coisas com clareza. Ele sabia que não tinham que lutar apenas contra os inimigos declarados, mas, também, contra as distorções do chamado “socialismo real”. Entendeu que homens como ele, como Roberto Morena, outro bravo militante brasileiro contra o fascismo, e tantos outros, só podem contar com a alegria da luta, com a honra do combate, porque – como ocorreu então – não podem estar certos da vitória, nem do reconhecimento de seus contemporâneos.
A saga brasileira de Apolônio é conhecida. Voltando ao Brasil em companhia de sua mulher, que também participara da Resistência, sofrerá aqui a repressão do governo Dutra e, de novo, do segundo governo de Vargas; participará da luta armada contra o governo militar de 1964, e voltará, pela segunda vez, ao exílio. Ao chegar aos noventa e três anos, teve que morrer decepcionado com os rumos do PT, que ajudara a fundar. Ele podia fazer suas as palavras de Darci Ribeiro: ambos perderam todas as batalhas, mas morreram com a honra de não estar ao lado dos vencedores.
Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.
Internacional
1. Europa tirana
Por Marco Aurélio Weissheimer
Deputada verde denuncia o fim direitos e liberdades fundamentais - leia em http://www.novae.inf.br/pensadores/europa_tirana.htm
2. Pouca gente sabe, a grande imprensa não comenta... mas na imprensa alternativa ficamos sabendo das novidades. Uma delas está sendo discutida na revista Fórum deste mês:
TeleSur - A América Latina sob outro olhar
Por: Daniel Merli e Wilson Sobrinho
Abril de 2003. Em um palanque armado no centro da capital venezuelana, o presidente Hugo Chávez encerrava seu discurso em comemoração do Dia do Povo Heróico. Recém criado, o feriado do 13 de abril comemora a mobilização popular que levou o presidente de volta ao poder, após um golpe conjunto das elites, mídia e cúpula militar. Na saída, após um discurso de cerca de três horas, o presidente puxa pelo braço o cineasta e jornalista Tariq Ali, paquistanês de nascimento, mas criado na Inglaterra. Pede um encontro com o cineasta, para que lhe explique sua idéia, defendida durante um seminário, de criar uma “Al Jazeera latino-americana”.Tariq Ali defendia em sua palestra uma comunicação independente dos grandes veículos situados na Europa ou Estados Unidos, “mas com qualidade inatacável”. Para ele, autonomia e qualidade eram as principais características da Al Jazeera, rede de tevê do Qatar que ficou famosa durante a Guerra do Golfo, trazendo informações não veiculadas por órgãos como a CNN.Quase dois anos e meio depois daquela noite entrava no ar, via satélite para todo continente americano e parte da Europa, a Nueva Televisión del Sur ou simplesmente TeleSUR. Transmitido desde o último 24 de julho – mesma data de nascimento de Simon Bolívar–, o sinal pode ser captado por qualquer antena parabólica e pretende corrigir distorções históricas na auto-imagem dos latino-americanos."Nós, na América Latina e no Caribe, fomos acostumados a nos ver através de olhos estrangeiros", compara Aram Aharonian, jornalista uruguaio radicado na Venezuela, diretor-geral da emissora. "Europeus e norte-americanos nos vêem em preto e branco, e este é um continente colorido", disse em entrevista à Reuters em abril."O primeiro projeto de mídia contra-hegemônico" de televisão na América do Sul, na definição de Aharonian, a nova emissora tem na integração continental sua principal meta. "A TeleSUR nasce de uma necessidade evidente da América Latina: contar com um meio que permita a todos habitantes desta vasta região divulgar sua própria imagem, debater suas próprias idéias e transmitir seus próprios conteúdos, livre e igualmente", diz o texto de apresentação da emissora multi-estatal na internet.
3. Um trecho de artigo de Newton Carlos, publicado na revista Fórum deste mês:
Por: Newton Carlos
De passeio a pesadelo
Em dois dias foram mortos no Iraque, em ações militares, 21 soldados americanos. A Guarda Nacional da Geórgia (EUA) teve a sua primeira baixa desde a Segunda Guerra Mundial. Acontecimento com forte simbolismo. Já se aproximam dos mil e 900 os tombados desde a invasão em março de 2003. Teria chegado a hora de dar no pé? O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, foi ao Iraque pressionar os políticos locais. O recado: aprovem uma Constituição e tenham forças de segurança em condições de substituir os ocupantes.
A opinião pública nos Estados Unidos começa a não suportar o sacrifício em vidas humanas e os gastos bilionários com uma guerra que perdeu o rumo, se algum dia teve algum. O governo Bush já não tem condições de ignorá-lo, depois de esbanjar arrogância. Documento inglês, em mãos de democratas da oposição a Bush, ávidos por explorá-lo, revela que a Casa Branca já havia optado pela guerra oito meses antes de começa-la. Foram meras pantomimas as intervenções no Conselho de Segurança da ONU em busca da autorização formal para iniciar a chuva de bombas em cima de um país com sistemas precários de defesa, como observou, amargurado, o ex-presidente Jimmy Carter. Disse que isso “no mínimo contraria hábitos de nações civilizadas”.
Bush iria à guerra com ou sem ONU. Já não se trata de especulação. Ingleses inconformados com a subserviência de Blair conseguiram romper cadeados de baús da diplomacia e levantar registros de decisões que reduzem a jogo de cena os encontros que o primeiro-ministro teve com Bush com a cantiga de que ainda era possível evitar o pior. A constatação disso, não mais apenas suspeitas, coloca no rol de pessoas não confiáveis os líderes de duas potências nucleares, uma delas dona da mais formidável máquina bélica do mundo. Mas o que se supunha que seria um passeio, tornou-se pesadelo.
4. Uma nova crise de energia? É o que parece, na análise do professor de História Contemporânea da UFRJ Francisco Carlos Teixeira:
http://agenciacartamaior.uol.com.br//agencia.asp?coluna=reportagens&id=3528
Livros e revistas
1. História Viva nas bancas com dois números especiais. A série Grandes Temas traz “Mistério e esplendor no Peru pré-colombiano”, com dezenas de artigos interessantes. A novidade agora é a série “Temas brasileiros”, cujo primeiro número traz um grande dossiê sobre “Um país chamado café – poder e riqueza do grão que ergueu o Brasil moderno”.
2. Fiquem de olho. Ainda não foi traduzido, mas já mereceu uma extensa resenha do jornal “Estado de São Paulo” de 25.09 (caderno Cultura). Trata-se do romance histórico Coup de lune, de Georges Simenon: É uma obra notável, na qual os personagens apresentam um brutal libelo contra o imperialismo francês entre as duas guerras na sua nudez mais flagrante no Gabão, sua capital Libreville e no interior do país.
3. Reedição: Trotsky, o Profeta desarmado, de Isaac Deutscher. É o segundo volume da monumental biografia de Trotsky escrita por Deutscher. Compreende o período entre 1921 e 1929. Ed. Civilização Brasileira, 570 p. R$ 65,90.
4. Uma crítica aos atuais rumos do feminismo- Rumo equivocado, de Elizabeth Badinter. Segundo ela, assistimos hoje a uma regressão inesperada da figura da mulher ao modelo tradicional da maternidade e da hipócrita pureza erótica. Ed. Civilização Brasileira, 174 p. R$ 24,90.
5. Revista Histórica on-line n.º 05
Visite o site: www.historica.arquivoestado.sp.gov.br
Neste número, a Revista Histórica traz três artigos de temas diversificados.O primeiro, “O (Quase) Envolvimento Militar do Brasil na Guerra do Vietnã”, de Orivaldo Leme Biagi, trata do quase envolvimento militar do Brasil no começo da Guerra do Vietnã (1964-1973). O autor mostra as origens do conflito vietnamita; as razões estratégicas do regime militar brasileiro –que impediram a entrada de tropas brasileiras no Vietnã – e as pressões do presidente norte-americano Lyndon Johnson para que isto ocorresse.Já o artigo de Denise Santana, “Representações sociais da liberdade e do controle de si”, faz uma análise sobre a mudança dos padrões de comportamento a partir do surgimento dos famosos ídolos da juventude de Hollywood nos chamados “anos dourados.O texto de Antonio Luigi Negro, “Quem agüenta esses baianos?”, faz uma reconstrução das greves do início da década de cinqüenta no ABC paulista, onde foi construída, neste período, a nossa indústria automobilística.Nossa galeria de imagens deste mês faz referência à chegada da TV no Brasil, inaugurada em setembro de 1950. Foi o maior empreendimento da indústria cultural brasileira.
6. Foi lançado dia 26 de setembro o livro Nas trilhas do Jangada, de Mario Lara e Márcia Paiva Carvalho. Márcia foi colega minha no curso de História e hoje é coordenadora do Colégio Magnum. O livro está sendo muito bem recomendado... vale a pena conferir!!!
Sites interessantes
Revista eletrônica do IPHAN
http://www.revista.iphan.gov.br/index.php
Cine/TV
Dia 1º de outubro, no canal 37, e a partir do dia 9, na HBO começa a série ROMA, que vem anunciada com estardalhaço, como sendo a mais cara série já feita para a televisão. A conferir...
Dia 2, no Telecine Emotion, às 22 horas, OSAMA, que mostra, através da vida de uma garota, a realidade do Afeganistão de hoje.
Dia 13, também no Telecine Emotion, LIAM, que tem como pano de fundo a grande depressão que se seguiu à Crise de 1929.
Noticias
1. O Jornal do Brasil, de domingo passado (25-09), trouxe um especial sobre o final da II Guerra Mundial, destacando a participação brasileira no conflito. É um trabalho interessante, bem ilustrado, que vale a pena guardar.
2. Já está no ar o link para a inscrição na 2ª Semana de História da Universidade de Uberaba. Basta acessar www.semanadehistoria.cjb.net
e clicar no link das inscrições. Você pode realizar a inscrição para toda a semana com 50% de desconto ou para cada conferência em separado.
3. INSTITUTO CARL GUSTAV JUNG - MG
PROGRAMAÇÃO DE OUTUBRO 2005 SEMINÁRIOS
03/10/05: MEMÓRIA VERSUS ESQUECIMENTO: A DIMENSÃO TRÁGICA DA LUTA PELA ANISTIA.Heloísa Greco. Professora de História na UNI-BH. Doutorado em História pela UFMG. Coordenadora do projeto Tortura Nunca Mais MG.
17/10/05: O INTERACIONISMO EM PIAGET.Maria Helena Camargos Moreira. Professora da Disciplina de Psicologia do Aprendizado no Curso de Psicologia da PUC/Minas. Mestre em Ciências Sociais pela PUC/Minas.
24/10/05: DIÁLOGOS ENTRE PIAGET E VYGOTSKY.Maria Helena Camargos Moreira. Professora da Disciplina de Psicologia do Aprendizado no Curso de Psicologia da PUC/Minas. Mestre em Ciências Sociais pela PUC/Minas.Horário: todas as segundas-feiras, às 20:00 h pontualmente.
Local: Associação Médica de Minas Gerais. Av. João Pinheiro, 161 – Centro – Belo Horizonte(na Av. João Pinheiro entre as Ruas Timbiras e Guajajaras, próximo à Faculdade de Direito da UFMG).Preço: R$10,00. Meia-entrada para estudantes universitários e residentes mediante apresentação de comprovante (carteira de estudante ou comprovante de matrícula).Contato: http://geocities.yahoo.com.br/icgjmg/
Na semana em que perdemos um grande batalhador, também foram embora dois comediantes que deixaram gerações mais alegres: o brasileiro Ronald Golias e o norte-americano Don Adams, o famoso “agente 86”. A propósito dos dois, Tutty Vasquez fez uma crônica muito interessante, bem humorada mas ao mesmo tempo trágica, publicada em No Mínimo, do Ibest:
Golias, Smart, Bush: humor e morte
A semana foi trágica para o humor. Saíram de cena duas referências cômicas que ainda emprestavam alguma graça às piadinhas sobre o desempenho de George Bush no poder. Morreram o ator Don Adams, criador de Maxwell Smart, o agente 86, personagem da TV americana mais identificado com as trapalhadas do presidente americano, e o comediante Ronald Golias, cuja caricatura facial compunha incrível semelhança com a expressão apatetada de Bush em dia de atentado terrorista em Nova York ou de furacão em Nova Orleans.
Acho que enterramos esta semana uma espécie de humor de época. Os adolescentes de agora talvez não saibam, mas houve um tempo em que tipos idiotas – um gênero abilolado muito em voga entre os políticos de hoje em dia – só faziam grande sucesso em programas e seriados humorísticos da TV. De alguns anos para cá, no entanto, personagens como o agente Smart ou Carlo Bronco Dinossauro, célebre papel de Golias no humorístico “Família Trapo” nos anos 60, passaram a ocupar altos cargos na cúpula que dirige o mundo “meio sem querer querendo”, como diria aquele outro comediante precursor de Bush no México.
Alguém já deve ter escrito tese sobre o fascínio de todo ser humano por comediantes com cara de burro e/ou demente. Alfred E. Neuman, garoto-propaganda da revista MAD, e Rowan Atkinson, intérprete do aloprado Mr. Bean, não conseguiriam emprego de entregador de pizza com o jeitão de seus personagens. O sucesso desses tipos – aí incluídos os três Patetas, os irmãos Marx, Peter Sellers, Jerry Lewis e Renato Aragão – deve ser creditado ao menos em parte ao conforto de saber que sempre existe alguém mais desastrado, inoportuno, desagradável, mal-arrumado, desajeitado e inconveniente do que a gente. Ninguém é tão debie & lóide quanto Jim Carrey ou tão forrest gump quanto Tom Hanks.
O homem idiota sempre teve lá sua graça antes de George Bush transpor da ficção para a realidade a idéia ridícula de que o destino da humanidade está nas mãos de um completo panaca. Como costumava dizer Groucho Marx, “quando alguém parece idiota e fala como idiota, não se deixe enganar: é de fato um idiota”. Há que se fazer, no entanto, uma distinção entre o aparvalhado intencional e o estúpido inato. Alguém já disse, não me lembro quem, que “o maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante de um idiota que banca o homem inteligente”.
O fato é que, desde janeiro de 2001, quando o palhaço do Clinton deixou a Casa Branca, todo comediante de raiz clown ficou meio parecido com Bush. A internet está congestionada de piadas involuntárias protagonizadas pelo presidente americano, discursos do gênero "nossos inimigos são inovadores e pesquisam muito. Nós também. Eles nunca param de pensar em novas maneiras de prejudicar nosso país e nosso povo. Nós também não". Difícil concorrer com ele, né não?!
O humor ingênuo que consagrou Ronald Golias e Don Adams, aquela asneira despretensiosa que tanto divertia minha geração, tudo isso foi inteiramente superado pela estupidez dos políticos nesses tempos de humor negro. Bronco Dinossauro e Maxwell Smart não são mais personagens desse mundo. Ronald Golias e Don Adams também não!
Ô cride, fala pra mãe que o mundo ficou mais sem graça ainda nesta semana.
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