Numero 152
O que será que a IV Frota norte-americana está fazendo, estacionada em Santos, próximo à recente grande descoberta de petróleo da Petrobrás?
Por que será que nenhum grande veiculo de comunicação fala sobre isso?
Cartas para a redação.
Prosseguindo nas análises do fenômeno da barbárie no mundo atual, damos a palavra hoje à escritora Viviane Forrester, que, há algum tempo, publicou o livro O Horror Econômico, aqui resenhado. Apesar de ela não ter-se preocupado em falar da barbárie, fica nítida a relação entre os dois assuntos.
O horror econômico
Por Maria José Speglich
Autor: Vivianne Forrester
Viviane Forrester, romancista e ensaísta, analisa com lucidez e lógica a decomposição dos valores humanísticos e sociais, a partir da análise do desemprego e das práticas econômicas vigentes.
Ela trata da questão da alienação e regressão em que se encontram os sujeitos sociais, face a impossibilidade de reconhecer o nível de deformação em que se encontra a sociedade hoje. Admite o desaparecimento das principais categorias de inserção social do homem moderno, como: o trabalho e o emprego.
Ao problematizar a forma histórica como a categoria trabalho estruturou a sociedade ocidental, enraizando os homens a essa maneira de sobrevivência, destaca o seu imprescindível atrelamento à vitalidade da sociedade e reflete o quanto a declaração do seu fim dessubstancializa o porvir da condição humana.
Segundo a autora, hoje isso acontece pelas ações políticas e ideologias neo-liberais com que são alicerçadas as praticas civilizatórias atuais sujeitas a globalização e ao mercado.Tudo isso, segundo a autora, tem levado os homens a uma vivência emocional primitiva; não só mítica, criando novos totens de idolatria, mas alucinatórias na busca do intangível, tal qual na alegoria comparativa da luta de Dom Quixote para mantê-los presentes no tempo e no espaço.
Aponta, para um novo momento – o do desaparecimento da forma conhecida do existir social, ao menos da maneira como vinha se formatando até então e que fundamentava a realidade psicossocial, daí é bem provável a razão de Heitor Cony fazer um comentário em seu livro.
Questiona a todos nós sobre que mecanismos serão necessários para se manter e utilizar na mente para não se perceber as transformações concretas que nos cercam, as quais não dizem de uma simples crise, mas sim de uma mutação. Gostei muito dessa constatação feita por ela, ou seja, para a nova perspectiva que se avizinha, cujas percepções humanas parecem não se dar conta.
Talvez para não se depararem com a deterioração e o vazio existencial em que se encontra hoje o social, pela falência de nossas instituições, pela falência concreta de um espaço através do qual possamos efetivamente construirmos.
Os discursos multimidiáticos são os grandes coadjuvantes suportivos da realidade. O ocultamento do real suprime assim aos nossos olhos e consciência o sofrimento irreversível.
O livro denuncia as manobras e discursos políticos quando tentam através de falsas promessas, manter acesa a esperança, mas em verdade nos aclara que há uma mudança de sentido e de significado: o desemprego não é um momento de
transitoriedade, mas uma nova face do mundo. E aponta ainda para a precarização das identidades que provocaria a miséria existencial. E assim chega-se ao fim de toda uma relação e estrutura social, através das quais os vínculos eram mantidos – é a exclusão e a marginalização, o único lugar que resta para os sobreviventes não eleitos.
A contradição da suposta lógica estruturante do novo discurso, é exposta pela autora, quando diz que a proeminência da esfera econômica na composição social pressupõe o assentamento e as interações sociais a partir do trabalho e do emprego e hoje para existir na sua forma neo liberal, a economia descola-se do social, de sua base produtiva, mas tenta enfeitiçar aqueles que mantêm ligação com os elos do mercado, seus fiéis agentes consumidores.
Na medida em que esses não se fazem presentes, são por isso culpabilizados ou no mínimo responsabilizados por não estarem preparados para fazer frente ao novo milênio.
Instalada a civilização da culpa e da vergonha, inverte-se a lógica. São agora os excluídos, Os responsáveis pela sua própria inadequação a urna sociedade tão silenciosa e ocultadamente pacifica.
Já não possuem nada! Nem mesmo um olhar crítico, já que tomam por empréstimo o olhar dos que o julgam.
Tais manobras, por isso, atingem os sujeitos não só na sua racionalidade mas os submete a uma emocionalidade primitiva, enraizada na dicotômica ansiedade estruturadora da psique: amor e ódio. Mas, por ser impossível conviver com sentimentos tão distintos, utiliza-se de mecanismos de clivagem. Odeia o fora, o longe e ama o perto, o dentro. E aos poucos constrói-se um mundo onde tais mecanismos podem acoplar-se a uma lógica social que lhes permita auto e hetero compreensão. Tais sentimentos, segundo a Psicanálise, sempre foram os mecanismos estruturadores do mito edípico. Viver momentos de ansiedade remete invariavelmente o homem a localizar-se nesses impasses psíquicos. Desfeita a estrutura fundante, é possível odiar declaradamente um Pai. Dai que as pessoas sucumbem às armadilhas pós-modernas. É possível “fazer a lei sem encontrar oposição e transgredir sem o risco do protesto".
Não é possível enfrentar o sagrado? Será que Édipo reeditado hoje, mataria por prazer Laio e ficaria feliz com Jocasta? Esta parece ser a proposta lançada no ar.
Dos livros que li sobre o momento atual esse é o que melhor expressa a angústia da exclusão pela ótica dos desempregados.
A autora consegue elaborar uma análise critica da realidade hoje vivida em razão das práticas neoliberais e da globalização a partir do enfoque da angústia dos excluídos, a partir da vivência da marginalização, papel que sempre os poetas, líricos e loucos ocuparam.
Trata-se de um relato contundente, um grito de indignação de quem consegue transpirar emoção pelas palavras, e como tal nos alerta para a alienação que o cotidiano nos impõe. Valendo-se de dados é capaz de embasar os seus argumentos, mas com argúcia desmascara e decodifica o não dito nos discursos.
Essa emocionalidade detonada sobre o presente texto nos remete a pensar se a ciência não deveria ser mais literatura e esta se tornar mais cientifica como o fez agora neste livro Viviane Forrester.
Por Maria José Speglich
Autor: Vivianne Forrester
Viviane Forrester, romancista e ensaísta, analisa com lucidez e lógica a decomposição dos valores humanísticos e sociais, a partir da análise do desemprego e das práticas econômicas vigentes.
Ela trata da questão da alienação e regressão em que se encontram os sujeitos sociais, face a impossibilidade de reconhecer o nível de deformação em que se encontra a sociedade hoje. Admite o desaparecimento das principais categorias de inserção social do homem moderno, como: o trabalho e o emprego.
Ao problematizar a forma histórica como a categoria trabalho estruturou a sociedade ocidental, enraizando os homens a essa maneira de sobrevivência, destaca o seu imprescindível atrelamento à vitalidade da sociedade e reflete o quanto a declaração do seu fim dessubstancializa o porvir da condição humana.
Segundo a autora, hoje isso acontece pelas ações políticas e ideologias neo-liberais com que são alicerçadas as praticas civilizatórias atuais sujeitas a globalização e ao mercado.Tudo isso, segundo a autora, tem levado os homens a uma vivência emocional primitiva; não só mítica, criando novos totens de idolatria, mas alucinatórias na busca do intangível, tal qual na alegoria comparativa da luta de Dom Quixote para mantê-los presentes no tempo e no espaço.
Aponta, para um novo momento – o do desaparecimento da forma conhecida do existir social, ao menos da maneira como vinha se formatando até então e que fundamentava a realidade psicossocial, daí é bem provável a razão de Heitor Cony fazer um comentário em seu livro.
Questiona a todos nós sobre que mecanismos serão necessários para se manter e utilizar na mente para não se perceber as transformações concretas que nos cercam, as quais não dizem de uma simples crise, mas sim de uma mutação. Gostei muito dessa constatação feita por ela, ou seja, para a nova perspectiva que se avizinha, cujas percepções humanas parecem não se dar conta.
Talvez para não se depararem com a deterioração e o vazio existencial em que se encontra hoje o social, pela falência de nossas instituições, pela falência concreta de um espaço através do qual possamos efetivamente construirmos.
Os discursos multimidiáticos são os grandes coadjuvantes suportivos da realidade. O ocultamento do real suprime assim aos nossos olhos e consciência o sofrimento irreversível.
O livro denuncia as manobras e discursos políticos quando tentam através de falsas promessas, manter acesa a esperança, mas em verdade nos aclara que há uma mudança de sentido e de significado: o desemprego não é um momento de
transitoriedade, mas uma nova face do mundo. E aponta ainda para a precarização das identidades que provocaria a miséria existencial. E assim chega-se ao fim de toda uma relação e estrutura social, através das quais os vínculos eram mantidos – é a exclusão e a marginalização, o único lugar que resta para os sobreviventes não eleitos.
A contradição da suposta lógica estruturante do novo discurso, é exposta pela autora, quando diz que a proeminência da esfera econômica na composição social pressupõe o assentamento e as interações sociais a partir do trabalho e do emprego e hoje para existir na sua forma neo liberal, a economia descola-se do social, de sua base produtiva, mas tenta enfeitiçar aqueles que mantêm ligação com os elos do mercado, seus fiéis agentes consumidores.
Na medida em que esses não se fazem presentes, são por isso culpabilizados ou no mínimo responsabilizados por não estarem preparados para fazer frente ao novo milênio.
Instalada a civilização da culpa e da vergonha, inverte-se a lógica. São agora os excluídos, Os responsáveis pela sua própria inadequação a urna sociedade tão silenciosa e ocultadamente pacifica.
Já não possuem nada! Nem mesmo um olhar crítico, já que tomam por empréstimo o olhar dos que o julgam.
Tais manobras, por isso, atingem os sujeitos não só na sua racionalidade mas os submete a uma emocionalidade primitiva, enraizada na dicotômica ansiedade estruturadora da psique: amor e ódio. Mas, por ser impossível conviver com sentimentos tão distintos, utiliza-se de mecanismos de clivagem. Odeia o fora, o longe e ama o perto, o dentro. E aos poucos constrói-se um mundo onde tais mecanismos podem acoplar-se a uma lógica social que lhes permita auto e hetero compreensão. Tais sentimentos, segundo a Psicanálise, sempre foram os mecanismos estruturadores do mito edípico. Viver momentos de ansiedade remete invariavelmente o homem a localizar-se nesses impasses psíquicos. Desfeita a estrutura fundante, é possível odiar declaradamente um Pai. Dai que as pessoas sucumbem às armadilhas pós-modernas. É possível “fazer a lei sem encontrar oposição e transgredir sem o risco do protesto".
Não é possível enfrentar o sagrado? Será que Édipo reeditado hoje, mataria por prazer Laio e ficaria feliz com Jocasta? Esta parece ser a proposta lançada no ar.
Dos livros que li sobre o momento atual esse é o que melhor expressa a angústia da exclusão pela ótica dos desempregados.
A autora consegue elaborar uma análise critica da realidade hoje vivida em razão das práticas neoliberais e da globalização a partir do enfoque da angústia dos excluídos, a partir da vivência da marginalização, papel que sempre os poetas, líricos e loucos ocuparam.
Trata-se de um relato contundente, um grito de indignação de quem consegue transpirar emoção pelas palavras, e como tal nos alerta para a alienação que o cotidiano nos impõe. Valendo-se de dados é capaz de embasar os seus argumentos, mas com argúcia desmascara e decodifica o não dito nos discursos.
Essa emocionalidade detonada sobre o presente texto nos remete a pensar se a ciência não deveria ser mais literatura e esta se tornar mais cientifica como o fez agora neste livro Viviane Forrester.
Creio que a leitura deste editorial da Folha de São Paulo, do dia 18 deste mês, merece ser pensada e discutida. Sem dúvida, lembra aquele político do II Reinado que afirmava "nada mais conservador do que um liberal no poder". Afinal, que negociata monstruosa é esta que está acontecendo sob os nossos olhos e a tudo assistimos bestializados?
Todos de acordo
O lobby das telecomunicações promove rápida convergência entre governo e oposição
GOVERNO e oposição vinham dando mostras de grande animosidade e obstinação de espírito no Congresso. No âmbito das CPIs, em particular, os debates entre lulistas e seus adversários chegaram a atingir níveis memoráveis de exaltação.
Seria o caso de perguntar se o calor dos entreveros não foi, muitas vezes, inversamente proporcional aos montantes envolvidos nos assuntos em pauta. Pequenas despesas com cartões de crédito corporativos deram motivo a indignações que, hoje em dia, arrefecem diante de um caso multibilionário.
A saber, a fusão entre duas empresas de telefonia, a Oi e a Brasil Telecom. O negócio, da ordem de R$ 12 bilhões, dos quais mais da metade provém de bancos públicos, agride frontalmente as normas em vigor.
Cumpre à Anatel zelar pela concorrência no mercado da telefonia. Indo obviamente no sentido inverso, a megaoperação encontrou resistências naquele órgão regulador.
Submisso ao lobby dos investidores mobilizados no negócio, o governo Lula tratou de erradicar da Anatel quem fizesse reparos à fusão. Indica um novo nome para o Conselho Diretor: o de Emília Ribeiro, tida como voto certo na aprovação do esquema. Cabe ao Senado, segundo os rituais de praxe, analisar seu nome.
Entra em cena a oposição, mas seu papel só pode ser classificado como constrangedor. Tucanos e parlamentares do DEM revelam-se permeáveis à magnitude dos interesses em jogo, acrescentando toques próprios de ridículo ao processo em curso.
Acompanhem-se, por exemplo, as atitudes do senador Papaléo Paes (PSDB-AP). No dia 14 de julho, referindo-se da tribuna à indicação de Emília Ribeiro, falava em "fazer a verdadeira avaliação do currículo dessa cidadã". Sem técnicos qualificados, advertia, as agências reguladoras se tornarão inúteis.
No dia seguinte, a "cidadã" de 14 de julho foi classificada pelo mesmo senador como "senhora realmente competente".
Competente? Para o também tucano Sérgio Guerra, relator do parecer sobre a indicação, o currículo da candidata "não é convincente". Seria de esperar, então, seu veto ao nome analisado. O senador preferiu abster-se de dar opinião, criando a figura inédita de um parecer que não o é; só parece ser um.
Em meio à pressa geral -os acordos para a fusão irregular já foram assinados-, surge a voz do senador Renan Calheiros, convicto da qualificação da nomeada: "Ela se torna especialista em qualquer área a que se dedica". Não é, de resto, fenômeno incomum em Brasília.
Todo o episódio tem relevo não pelas diferenciações dos envolvidos, mas pela assombrosa semelhança que toma conta de oposicionistas e governistas quando estão em jogo interesses financeiros de peso. Eis o que faz, em última análise, esquecerem-se os jogos de cena, desautorizando toda instituição -das agências regulatórias ao próprio Senado- que tenha como objetivo defender os interesses dos cidadãos.
Também da Folha de São Paulo extraímos esta análise feita por Immanuel Wallerstein a respeito da guerra na Geórgia/Ossétia do Sul.
Por trás da miniguerra no Cáucaso, o xadrez geopolítico
Por trás da miniguerra no Cáucaso, o xadrez geopolítico
Parece que os Estados Unidos se enganaram redondamente quando imaginaram ter alguma espécie de privilégio de superpotência em sua partida contra a Rússia
IMMANUEL WALLERSTEIN
O mundo testemunhou nesta semana uma miniguerra no Cáucaso, e a retórica tem sido intensa, embora em grande medida irrelevante. A geopolítica é uma série de gigantescas partidas de xadrez disputadas entre dois jogadores, nas quais estes buscam posições de vantagem. Nessas partidas, é crucial conhecer as regras vigentes que regem os lances. Os cavalos não podem andar na diagonal. Entre 1945 e 1989, a partida principal de xadrez era disputada entre os Estados Unidos e a União Soviética. Ela se chamava a Guerra Fria, e as regras básicas do jogo eram conhecidas metaforicamente como "Yalta". A regra mais importante dizia respeito a uma linha que dividia a Europa em duas zonas de influência. Essa linha foi chamada por Winston Churchill de "Cortina de Ferro" e se estendia de Stettin a Trieste. A regra dizia que, não importasse quanta turbulência fosse instigada na Europa pelos peões, não haveria guerra de fato entre os Estados Unidos e a União Soviética. Ao final de cada instância de turbulência, as peças voltariam a suas posições originais. Essa regra foi respeitada cuidadosamente até a queda dos comunismos, em 1989, marcada mais notadamente pela destruição do Muro de Berlim. É inteiramente verdade, como todos observaram na época, que as regras de Yalta foram anuladas em 1989 e que a partida disputada entre os Estados Unidos e (desde 1991) a Rússia mudou de maneira radical. O maior problema desde então é que os Estados Unidos não compreenderam direito as novas regras do jogo. Eles se proclamaram, e foram proclamados por muitos outros, a única superpotência mundial. Em termos de regras de xadrez, isso foi interpretado como significando que os Estados Unidos tinham liberdade para movimentar-se pelo tabuleiro de xadrez como bem entendessem e, especialmente, para transferir antigos peões soviéticos para sua esfera de influência. Sob Clinton, e mais notadamente ainda sob George W. Bush, os Estados Unidos passaram a jogar a partida dessa maneira. Só havia um problema nisso: os Estados Unidos não eram a única superpotência mundial -nem sequer eram uma superpotência.
Mais jogadores
O fim da Guerra Fria significou que os Estados Unidos foram rebaixados. De uma das duas superpotências, passaram a ser um Estado forte em meio a uma distribuição realmente multilateral do poder real em um sistema inter-Estados. Muitos países grandes passaram a poder disputar suas próprias partidas de xadrez sem precisarem informar as duas antigas superpotências de seus lances. E começaram a fazê-lo. Duas decisões geopolíticas de importância maior foram tomadas nos anos Clinton. Primeiro, os Estados Unidos fizeram pressão grande e mais ou menos bem-sucedida para que os antigos satélites soviéticos ingressassem na Otan [a aliança militar ocidental]. Esses países estavam ansiosos por entrar, apesar de os países-chave da Europa Ocidental -Alemanha e França- relutarem um pouco em seguir esse caminho. Eles viam a manobra dos EUA como tendo o objetivo, em parte, de limitar sua recém-adquirida liberdade de ação geopolítica. A segunda decisão-chave dos Estados Unidos foi tornar-se jogador ativo nos realinhamentos de fronteiras dentro da antiga República Federal da Iugoslávia. Isso culminou na decisão de autorizar a secessão de facto de Kosovo da Sérvia e implementá-la com suas tropas. A Rússia, mesmo sob Boris Ieltsin, ficou bastante insatisfeita com essas duas ações dos Estados Unidos. Mas a desorganização política e econômica da Rússia durante os anos Ieltsin era tão grande que o máximo que ela pôde fazer foi queixar-se, em voz bastante fraca, é mister acrescentar. A chegada ao poder de George W. Bush e Vladimir Putin foi mais ou menos simultânea. Bush decidiu levar a tática da superpotência única (ou seja, os Estados Unidos podem movimentar suas peças da maneira como decidem por conta própria) muito mais longe do que fizera Clinton.
Regras próprias
Para começar, em 2001 Bush retirou o país do Tratado de Mísseis Antibalísticos firmado por EUA e União Soviética em 1972. Em seguida, anunciou que os Estados Unidos não ratificariam dois tratados novos assinados durante o governo Clinton: o Tratado de Proibição Total de Testes, de 1996, e as modificações acordadas no tratado de desarmamento nuclear SALT 2. Então Bush anunciou que os Estados Unidos iriam adiante com seu Sistema Nacional de Defesa Antimísseis. E, em 2003, Bush invadiu o Iraque. Como parte dessa iniciativa, os Estados Unidos buscaram e obtiveram o direito de construir bases militares e o direito de sobrevoar repúblicas centro-asiáticas que antes faziam parte da União Soviética. Além disso, os EUA promoveram a construção de dutos para o escoamento do petróleo e gás natural da Ásia Central e do Cáucaso, passando ao largo da Rússia. E, finalmente, os Estados Unidos fecharam um acordo com a Polônia e a República Tcheca para instalar uma defesa antimísseis, ostensivamente para proteção contra mísseis iranianos. A Rússia, porém, viu essas instalações como sendo voltadas contra ela. Putin decidiu reagir com muito mais eficácia que Ieltsin. Sendo um jogador prudente, porém, ele primeiro se movimentou para fortalecer sua base doméstica, restaurando a força da autoridade central e revigorando as Forças Armadas russas. Nesse momento, as marés da economia mundial mudaram, e, de uma hora para outra, a Rússia tornou-se a rica e poderosa controladora não apenas da produção petrolífera, mas também do gás natural tão necessário aos países da Europa Ocidental.
Adversário fortalecido
Então Putin começou a agir. Ele criou relacionamentos com a China, selados em tratados. Manteve relações estreitas com o Irã. Começou a expulsar os Estados Unidos de suas bases na Ásia Central. E assumiu uma atitude firme contra a ampliação da Otan para duas zonas-chave: a Ucrânia e a Geórgia. A fragmentação da União Soviética levara ao surgimento de movimentos secessionistas étnicos em muitas antigas repúblicas, incluindo a Geórgia. Quando, em 1990, a Geórgia procurou pôr fim ao status autônomo de suas zonas étnicas não-georgianas, estas imediatamente se declararam Estados independentes. Não foram reconhecidas por nenhum país, mas a Rússia garantiu sua autonomia de fato. Os fatores mais imediatos a incentivar o desencadeamento da miniguerra atual foram dois. Em fevereiro, Kosovo formalmente converteu sua autonomia de fato em independência de direito. Sua iniciativa foi apoiada e reconhecida pelos Estados Unidos e muitos países da Europa ocidental. A Rússia avisou, na época, que a lógica dessa iniciativa se aplicaria igualmente a secessões de fato ocorridas nas antigas repúblicas soviéticas. Na Geórgia, a Rússia imediatamente e pela primeira vez reconheceu a independência de direito da Ossétia do Sul, em resposta direta à de Kosovo. E, na reunião da Otan de abril deste ano, os Estados Unidos propuseram que Geórgia e Ucrânia fossem recebidas num chamado Plano de Ação para Ingresso (na Otan). A Alemanha, a França e o Reino Unido se opuseram, dizendo que isso provocaria a Rússia.
Jogada desesperada
O presidente neoliberal e fortemente pró-americano da Geórgia, Mikhail Saakashvili, se desesperou. Ele via a reafirmação da autoridade georgiana na Ossétia do Sul (e também na Abkházia) como perspectiva cada vez mais distante, de maneira permanente. Assim, escolheu um momento de desatenção da Rússia (Putin estava nas Olimpíadas, o presidente Dmitri Medvedev, de férias) para invadir a Ossétia do Sul. As insignificantes forças militares da Ossétia do Sul desabaram completamente, é claro. Saakashvili imaginava que forçaria os Estados Unidos (e também a Alemanha e a França) a sair em seu apoio. Em vez disso, houve uma reação militar russa imediata, superando o pequeno Exército georgiano de forma avassaladora. O que Saakashvili recebeu de George W. Bush foi retórica. Afinal, o que Bush podia fazer? Os Estados Unidos não são uma superpotência. Suas Forças Armadas estão inteiramente tomadas por duas guerras que estão perdendo no Oriente Médio. E, o mais importante de tudo, os Estados Unidos precisam da Rússia muito mais do que a Rússia precisa deles. O chanceler russo, Sergei Lavrov, em artigo no "Financial Times", fez questão de observar que a Rússia é "parceira do Ocidente com relação ao Oriente Médio, Irã e Coréia do Norte". Quanto à Europa ocidental, a Rússia, essencialmente, controla seu suprimento de gás. Não foi por acaso que foi o presidente Nicolas Sarkozy, da França, e não Condoleezza Rice, quem negociou a trégua entre Geórgia e Rússia. A trégua contém duas concessões essenciais da Geórgia. Esta se comprometeu a não mais recorrer à força na Ossétia do Sul. E o acordo não faz referência à integridade territorial georgiana. Assim, a Rússia emergiu muito mais forte que antes. Saakashvili apostou tudo o que tinha e agora esta geopoliticamente falido. E, como nota de rodapé irônica, a Geórgia, uma das últimas aliadas nos EUA na coalizão no Iraque, retirou seus 2.000 soldados desse país. Esses soldados vinham exercendo um papel crucial nas áreas xiitas e agora terão que ser substituídos por soldados dos EUA, que, para isso, terão que ser retirados de outras áreas. Quando se joga xadrez geopolítico, é aconselhável conhecer as regras, para não ser derrubado pela jogada do rival.
IMMANUEL WALLERSTEIN, pesquisador sênior na Universidade Yale, é autor de "O Declínio do Poder Americano"
Tradução de CLARA ALLAIN
Tradução de CLARA ALLAIN
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1. Leia em www.tamoscomraiva. com.br
Neste feriado, vivemos um caso inédito de censura em tempos de democracia. A data não foi aleatória: no feriado as pessoas tendem a deixar as coisas passarem de forma inócua. Mas é importante que todos (mas especialmente os mineiros) leiam o último artigo do Tamos com Raiva e tomem conhecimento do fechamento do Novo Jornal pelo Ministério Público Estadual (sim, aquele do Jarbas Soares Junior, "cumpadre" de Aécio Neves). Você já ouviu falar da Promotoria Estadual de Combate aos Crimes Cibernéticos? ! Provavelmente não, porque ela foi criada especialmente para atuar neste feriado. Mas é bom que a conheça, principalmente se você possui algum site ou blog. Ela se baseia em uma lei da ditadura (Lei de Imprensa) e numa lei ainda não sancionada (a mordaça de Eduardo Azeredo, já aprovada em parte pelo Congresso) para calar adversários políticos e defender os interesses do futuro presidente e atual governador de Minas. Reparem no desenho que o MPE usou para censurar o jornal (que foi sumariamente FECHADO) e percebam que estamos numa Matrix sinistra. Leiam tudo, com atenção, e divulguem ao máximo. A NovaE, o Observatório da Imprensa e a revista Fórum já ajudaram a divulgar. Precisamos conhecer a "democracia" em que vivemos. É assustadora.
2.
Já que estamos em tempos de ditadura velada, é bom discutir, também, as punições para torturadores. O debate está muito quente e o Tamos com Raiva dá sua contribuição. Por exemplo, desmistificando as balelas inventadas pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim.
3.
Fernando Massote, respeitado cientista político da UFMG, entrou num embate cibernético por defender que Aécio e Lula exercem, de forma idêntica, um coronelismo também inédito no Brasil. O Tamos com Raiva decidiu sair em defesa do professor.
4.
Por outro lado, o governo Lula merece aplausos pelos dados sociais significativos, divulgados na semana passada. E nós questionamos: se é possível reduzir a miséria, a desigualdade, a indigência e a pobreza, aumentar a classe média, conter a inflação e bater recordes na oferta de empregos – tudo, apesar de uma grave crise econômica mundial – por que isso não foi feito antes?
2. A banalização das armas nucleares
Os desenvolvimentos tecnológicos atuais aumentaram a chance do uso de armas nucleares por nações envolvidas em conflitos regionais. Recentemente, ex-chefes militares ocidentais defenderam o uso dessas armas em teatros de guerras convencionais. A tendência de banalização dessas armas é o tema deste Ensaio da CH 250.
http://cienciahoje.uol.com.br/123453
3. Site do Jornal Brasil de Fato: www.brasildefato.com.br
http://cienciahoje.uol.com.br/123453
3. Site do Jornal Brasil de Fato: www.brasildefato.com.br
Ditadura e Impunidade
As feridas abertas da ditadura Para historiador, impunidade dos que torturaram e assassinaram durante o regime militar criou uma cultura político-policial que legitima na prática a ilegalidade exercitada ainda hoje pelos agentes do Estado
Público-Privado
Educadores criticam convênio da USP com a transnacional Monsanto Parcerias dessa natureza mostram a falta de um projeto social e verdadeiramente público para as instituições do país
Referendo na Bolívia
Referendo na Bolívia
Evo Morales supera votação de 2005 e ganha força Pesquisa de boca-de-urna aponta que presidente da Bolívia conquistou 6% a mais de votos que em sua eleição e vê revogação de dois governadores da oposição; no entanto, meia-lua permanece e também sai fortalecida do pleito.
Guerra e paz José Luís Fiori
A política imperialista dos países vitoriosos tende a provocar uma política imperialista igual e contrária da parte dos derrotados para recuperarem perdas
A rainha Elizabeth, o Cavalão e o Juiz Editorial Brasil de Fato (ed. 285)
Se nossa República vive espetáculos como o ato no Clube Militar, muito se deve ao ministro da Defesa Nelson Jobim, que é cúmplice de tais manifestações
4. Site da Revista Histórica:
http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/
Era a Paulista uma ferrovia “cata-café”?
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Entre o Público e o Privado: o tombamento do patrimônio cultural em Marília – SP
Autor: Rodrigo Modesto Nascimento
“Artes Mecânicas” em Vila Rica setecentista: os pardos forros e livres
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Os índios em Mato Grosso no governo de Antônio Rolim de Moura (1751-1765)
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No espelho das águas do Paraíba
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O romance, a mulher e o histerismo no século XIX brasileiro
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5. Site da Revista Fórum
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O governo peruano declarou estado de emergência em localidades dos departamentos de Amazonas, Loreto e Cuzco, devido a enfrentamentos nos últimos dias entre a polícia e grupos indígenas. leia
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O governo do Irã merece severa condenação por muitas coisas, mas a "ameaça iraniana" é uma construção desesperada dos que se arrogam o direito de governar o mundoleia
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Uma quantidade enorme de recursos que poderia ser gasta na busca de transformações sociais pode ser desperdiçada focando-se apenas os sintomas e não as causas da desigualdade leia
6. Site da Agência Carta Maior: www.cartamaior.com.br
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Não há qualquer diferença entre as prioridades do "construtor de pontes" e o ideário neoliberal da cúpula tucana. As reformas estruturais mais importantes - agrária, habitação, educação e a do saneamento básico- não têm lugar na sua agenda. Como não teve nas de FHC, Serra e Alckmin. –
GUERRA NO CÁUCASO
GUERRA NO CÁUCASO
Há tempos não se via os EUA espernearem com tanta impotência. O vice-presidente Dick Cheney falou em não deixar a agressão russa sem resposta e os russos ignoraram. O republicano John McCain, cujo principal conselheiro foi lobista do governo georgiano, batucou seus tambores de guerra sem que os russos dessem o menor sinal de preocupação. A análise é de Idelber Avelar. > LEIA MAIS
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1. Revista Leituras da História, nº 11. Traz matéria sobre os Jogos na Antiguidade. Entrevista com Célia Sakurai, que fala sobre o Japão. Artigos sobre d. João V, o rei-sol de Portugal; Concepções sobre o progresso do saber histórico; Lênin, o totalitário; a Revolução Espanhola de 1808.
Chamo a atenção para o artigo Coração ferroviário do Brasil, de autoria da professora Helena Guimarães Campos, ex-aluna e hoje mestra em Ciências Sociais e minha co-autora no livro História de Minas Gerais.
NOTICIAS
Transformar pela educação é possível
(14/08/2008 18:26)
Por Glauco Faria
Às vezes existem palavras e expressões que ouvimos tantas vezes aplicadas a determinadas situações que, por conta disso, acabam se tornando vazias. Justamente por serem palavras de ordem, nem sempre conseguimos concretizar, traduzir seu espírito para o mundo real. Muitos falam, por exemplo da importância da educação como motor para transformar a realidade. Mas a situação dos professores no Brasil mostra que isso pode ser apenas um chavão, uma prioridade que só existe na retórica. No entanto, diversas iniciativas, vindas tanto do poder público quanto da sociedade civil demonstram também que ainda é possível fazer disso algo palpável. Nós, da Fórum, sempre acreditamos e batalhamos pela prioridade à educação em nossa pauta, e agora pretendemos dar um passo além. Em parceria com a Fundação Banco do Brasil, Fórum está lançando o Concurso Ensinar e Aprender Tecnologias Sociais. A proposta é justamente resgatar o protagonismo do educador - seja ele da rede pública ou de espaços não-formais de educação - e divulgar as tecnologias sociais que conseguiram mudar a realidade de diversos locais no Brasil. Para quem não tem familiariedade com o tema, entende-se por tecnologia social técnicas e métodos simples, de fácil reaplicação e baixo custo, que resolvem problemas de diversas áreas. Exemplos são o soro caseiro, as cisternas ou as mandalas do sertão nordestino. Mas há muitas outras técnicas sendo desenvolvidas e outras já consolidadas no país. Por isso, pedimos que você, leitor, divulgue o concurso para os professores de ensino fundamental próximos. No ato de inscrição, a pessoa já ganha uma assinatura da Fórum até fevereiro de 2009 e um exemplar do livro Geração de Trabalho e Renda, uma forma de dar subsídios ao educador para que ele proponha formas de trabalhar o tema tecnologia social com seus alunos. Para saber das novidades do concurso, acesse www.revistaforum.com.br/ts. Participe e nos ajude nessa empreitada. Vale a pena.
O primeiro número, já nas bancas, retrata o Nazismo.
Há um “Dossiê Hitler” – Confissões de assassinos – Declarações de sobreviventes – Relatos incrédulos de testemunhas oculares – O Vaticano e o III reich – A cronologia do extermínio – Imagens de um genocídio – O julgamento de Nuremberg.
3. A luta pela paz em retrospectiva
Livro resgata esforços para resolução de conflitos e convivência pacífica ao longo da história
Guerras entre nações, corridas armamentistas, degradação da natureza e outras situações de tensão marcaram a história da humanidade, em todas as regiões do nosso planeta. Na contramão desses conflitos, sempre houve personagens que dedicaram sua vida a evitar essas situações e se empenharam para construir um mundo melhor. A trajetória desses homens é o tema do livro História da paz, recém-lançado pela editora Contexto. Organizado pelo sociólogo e geógrafo Demétrio Magnoli, da Universidade de São Paulo (USP), o livro reúne textos produzidos por autores como as historiadoras Maria Helena Valente Senise e Elaine Senise Barbosa, os diplomatas Celso Lafer e Marcos Azambuja, o deputado Fernando Gabeira ou o jornalista William Waack, entre outros. História da paz estabelece um diálogo com outro livro anteriormente organizado por Magnoli, História das guerras. O livro aborda os esforços para alcançar a paz em diferentes períodos históricos, desde o Tratado de Tordesilhas (1494) até situações mais recentes, como o Protocolo de Quioto (1997). O livro mostra como a paz é construída não apenas nos intervalos entre guerras, mas também durante elas, ao contrário do que supõe o imaginário coletivo, que opõe de forma excludente os conceitos de guerra e paz. Mas o livro organizado por Magnoli não se deixa levar por um discurso que banaliza o real sentido desse conceito. A obra mostra como a paz possível não equivale a uma utópica igualdade entre as nações, mas à estabilidade entre elas. Ao longo de suas páginas, é possível perceber que a paz é resultado de árduas negociações diplomáticas e se faz com acordos entre vencedores e derrotados que nem sempre satisfazem a todos e podem abrir caminho para outras situações de conflito. Tratados de dominação Esse foi o caso do Tratado de Versalhes (1919), que foi assinado entre os protagonistas da Primeira Guerra Mundial e marcou oficialmente o fim do conflito. Esse tratado impôs uma série de condições humilhantes à derrotada Alemanha – como a perda de suas colônias e o pagamento de duras indenizações pelos prejuízos causados na guerra – que, mais tarde, contribuíram para a ascensão do nazismo no país. Assim também foram os chamados “tratados imperialistas”, que impuseram a dominação européia sobre África e Ásia. Mas o livro também relata situações em que a segurança do mundo esteve à frente dos interesses das nações, como a assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (1968) e o Protocolo de Quioto. O tom acadêmico de alguns artigos pode frustrar o leitor com menos conhecimentos teóricos sobre história e ciência política, mas não compromete a leitura. História da paz é um livro fascinante, principalmente para aqueles que desejam entender como se configurou o mundo em que vivemos. Os autores mostram como foi e é realizado o trabalho de pessoas que fizeram a diferença para construir a civilização atual e mostram que, apesar de muito difícil, o caminho da paz é possível.
História da paz: os tratados que desenharam o planeta Demétrio Magnoli (org.) São Paulo, 2008, Contexto 448 paginas – R$ 49,00 Tel.: (11) 3832-5838
Igor Waltz Especial para a CH On-line
4. Fórum 65: Desconstruindo Daniel Dantas
Guerras entre nações, corridas armamentistas, degradação da natureza e outras situações de tensão marcaram a história da humanidade, em todas as regiões do nosso planeta. Na contramão desses conflitos, sempre houve personagens que dedicaram sua vida a evitar essas situações e se empenharam para construir um mundo melhor. A trajetória desses homens é o tema do livro História da paz, recém-lançado pela editora Contexto. Organizado pelo sociólogo e geógrafo Demétrio Magnoli, da Universidade de São Paulo (USP), o livro reúne textos produzidos por autores como as historiadoras Maria Helena Valente Senise e Elaine Senise Barbosa, os diplomatas Celso Lafer e Marcos Azambuja, o deputado Fernando Gabeira ou o jornalista William Waack, entre outros. História da paz estabelece um diálogo com outro livro anteriormente organizado por Magnoli, História das guerras. O livro aborda os esforços para alcançar a paz em diferentes períodos históricos, desde o Tratado de Tordesilhas (1494) até situações mais recentes, como o Protocolo de Quioto (1997). O livro mostra como a paz é construída não apenas nos intervalos entre guerras, mas também durante elas, ao contrário do que supõe o imaginário coletivo, que opõe de forma excludente os conceitos de guerra e paz. Mas o livro organizado por Magnoli não se deixa levar por um discurso que banaliza o real sentido desse conceito. A obra mostra como a paz possível não equivale a uma utópica igualdade entre as nações, mas à estabilidade entre elas. Ao longo de suas páginas, é possível perceber que a paz é resultado de árduas negociações diplomáticas e se faz com acordos entre vencedores e derrotados que nem sempre satisfazem a todos e podem abrir caminho para outras situações de conflito. Tratados de dominação Esse foi o caso do Tratado de Versalhes (1919), que foi assinado entre os protagonistas da Primeira Guerra Mundial e marcou oficialmente o fim do conflito. Esse tratado impôs uma série de condições humilhantes à derrotada Alemanha – como a perda de suas colônias e o pagamento de duras indenizações pelos prejuízos causados na guerra – que, mais tarde, contribuíram para a ascensão do nazismo no país. Assim também foram os chamados “tratados imperialistas”, que impuseram a dominação européia sobre África e Ásia. Mas o livro também relata situações em que a segurança do mundo esteve à frente dos interesses das nações, como a assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (1968) e o Protocolo de Quioto. O tom acadêmico de alguns artigos pode frustrar o leitor com menos conhecimentos teóricos sobre história e ciência política, mas não compromete a leitura. História da paz é um livro fascinante, principalmente para aqueles que desejam entender como se configurou o mundo em que vivemos. Os autores mostram como foi e é realizado o trabalho de pessoas que fizeram a diferença para construir a civilização atual e mostram que, apesar de muito difícil, o caminho da paz é possível.
História da paz: os tratados que desenharam o planeta Demétrio Magnoli (org.) São Paulo, 2008, Contexto 448 paginas – R$ 49,00 Tel.: (11) 3832-5838
Igor Waltz Especial para a CH On-line
4. Fórum 65: Desconstruindo Daniel Dantas
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Transformar pela educação é possível
(14/08/2008 18:26)
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