EDITORIAL
1. REVOLTANTE!!!
Não consegui pensar em outra palavra para descrever uma situação que pude observar sexta-feira passada perto de meu escritório. Cheguei às 14 horas e na rua transversal havia uma faixa dizendo que a partir das 17:30 não poderia ser feita conversão à esquerda, na Avenida Prudente de Morais. Achei estranho, ainda mais que o trecho impedido já estava devidamente “censurado”: cavaletes e faixas amarelas e pretas impediam o estacionamento. Bem, eu estava sem carro, olhei, não entendi, e subi para o trabalho. Pontualmente as 17:30 comecei a ouvir algumas marchas tocadas por uma banda que logo percebi ser a Banda da Polícia Militar de Minas Gerais. Tocaram por uma meia hora.
Quando desci para voltar para casa, por volta das 18:30, vi o caos instalado no trânsito. Imagine-se: às sextas-feiras o trânsito já é difícil na hora do “rush”, se se estabelecem proibições novas, pode-se imaginar como estava o local. E comecei a perceber coisas estranhas: várias vans, um carro do Resgate, um caminhão dos Bombeiros, três ou quatro viaturas da Polícia Militar e algumas do órgão de trânsito. Repórteres, cinegrafistas, todo mundo por lá.
Fui até um cinegrafista e perguntei o que estava acontecendo. E a explicação foi rápida e seca: é a posse do presidente do Tribunal Regional Eleitoral....Mas, insisti eu, e este caminhão de bombeiros, faz o quê, aqui? – Ah, sorriu o cinegrafista, deve ser para apagar o fogo do “homem”...
É isso, amigos e amigas...a que ponto chega a prepotência de determinadas “autoridades” nossas... fechar dois quarteirões de uma movimentada avenida, na hora do rush, chamar polícia, órgão de trânsito e caminhão de bombeiros... para que uma excelência possa tomar posse de um cargo. É ou não é revoltante?
2. Fidel sai de cena. Já estava mais ou menos anunciado que isso iria acontecer. Vamos ver e ouvir comentários os mais díspares a respeito. Vamos ter declarações como a do ilustre presidente dos Estados Unidos quer (eu repito, ELE quer...) a democracia em Cuba. Será que será uma democracia do tipo que ele está implantando no Iraque? Ou no Afeganistão? Bem... deixemos o maluco falar à vontade. Estou colocando, na seção Nuestra América, um comentário publicado ano passado pelo site da Agencia Carta Maior, por ocasião do lançamento do livro de Ignácio Ramonet, editor do jornal Lê Monde, livro esse resultado de uma enorme entrevista feita com Fidel. Há, ainda, um link para um artigo de professora brasileira falando sobre perspectivas possíveis. Semana que vem trarei mais coisas sobre Fidel e a Revolução Cubana.
FALANDO DE HISTORIA
1. REVOLTANTE!!!
Não consegui pensar em outra palavra para descrever uma situação que pude observar sexta-feira passada perto de meu escritório. Cheguei às 14 horas e na rua transversal havia uma faixa dizendo que a partir das 17:30 não poderia ser feita conversão à esquerda, na Avenida Prudente de Morais. Achei estranho, ainda mais que o trecho impedido já estava devidamente “censurado”: cavaletes e faixas amarelas e pretas impediam o estacionamento. Bem, eu estava sem carro, olhei, não entendi, e subi para o trabalho. Pontualmente as 17:30 comecei a ouvir algumas marchas tocadas por uma banda que logo percebi ser a Banda da Polícia Militar de Minas Gerais. Tocaram por uma meia hora.
Quando desci para voltar para casa, por volta das 18:30, vi o caos instalado no trânsito. Imagine-se: às sextas-feiras o trânsito já é difícil na hora do “rush”, se se estabelecem proibições novas, pode-se imaginar como estava o local. E comecei a perceber coisas estranhas: várias vans, um carro do Resgate, um caminhão dos Bombeiros, três ou quatro viaturas da Polícia Militar e algumas do órgão de trânsito. Repórteres, cinegrafistas, todo mundo por lá.
Fui até um cinegrafista e perguntei o que estava acontecendo. E a explicação foi rápida e seca: é a posse do presidente do Tribunal Regional Eleitoral....Mas, insisti eu, e este caminhão de bombeiros, faz o quê, aqui? – Ah, sorriu o cinegrafista, deve ser para apagar o fogo do “homem”...
É isso, amigos e amigas...a que ponto chega a prepotência de determinadas “autoridades” nossas... fechar dois quarteirões de uma movimentada avenida, na hora do rush, chamar polícia, órgão de trânsito e caminhão de bombeiros... para que uma excelência possa tomar posse de um cargo. É ou não é revoltante?
2. Fidel sai de cena. Já estava mais ou menos anunciado que isso iria acontecer. Vamos ver e ouvir comentários os mais díspares a respeito. Vamos ter declarações como a do ilustre presidente dos Estados Unidos quer (eu repito, ELE quer...) a democracia em Cuba. Será que será uma democracia do tipo que ele está implantando no Iraque? Ou no Afeganistão? Bem... deixemos o maluco falar à vontade. Estou colocando, na seção Nuestra América, um comentário publicado ano passado pelo site da Agencia Carta Maior, por ocasião do lançamento do livro de Ignácio Ramonet, editor do jornal Lê Monde, livro esse resultado de uma enorme entrevista feita com Fidel. Há, ainda, um link para um artigo de professora brasileira falando sobre perspectivas possíveis. Semana que vem trarei mais coisas sobre Fidel e a Revolução Cubana.
FALANDO DE HISTORIA
Bahia, 1798:
a Revolução dos Jacobinos Negros
por Mário Maestri
Alguns acontecimentos do passado são lembrados, festejados e registrados. Outros, ao contrário, tão ou mais significativos, são apenas conhecidos e, não raro, esquecidos. Como na sociedade dos homens, também não há justiça na história. A chamada Conspiração dos Alfaiates, ocorrida em 1798, em Salvador, apesar de constituir o mais radical movimento independentista ocorrido nos territórios do atual Brasil, completará 210 anos, em 12 de gosto, sem certamente receber o devido registro.
O mundo estava convulsionado, em fins do século 18. A maré revolucionária francesa chegara ao ápice, em 1794. Na Europa dos reis, propusera-se que todos os homens eram iguais e iguais direitos à felicidade tinham. E que tal destino seria cumprido, nem que para isso o mundo fosse colocado de pés para cima.
Na mais rica colônia açucareira francesa, proprietários tentaram autonomizar-se e homens livres de cor reivindicaram a cidadania prometida em 1789, facilitando a insurreição dos cativos, em agosto de 1791, que pôs fim à escravidão e fundando o Haiti, segundo território da América a libertar-se do colonialismo, depois dos USA, e o primeiro a abolir a escravidão. Em 1789, a colônia francesa possuía 523 mil habitantes — 27 mil homens livres de cor e 465.500, escravos!
Desde 1789, o arcaico Estado absolutista lusitano mobilizara-se para que as idéias revolucionárias, democráticas e liberais — as temidas francezias — não chegassem à metrópole e às colônias. No Brasil, os raros visitantes estrangeiros eram seguidos e vigiados e as bagagens dos navios aportados, minuciosamente revistadas, à procura de livros e papéis subversivos. Na Colônia lusitana não havia uma só imprensa!
A vigilância era particularmente estreita em Salvador, o principal porto do Brasil colonial. Com sessenta mil habitantes, a ex-capital colonial, com ruas estreitas, irregulares e sujas, ladeiras íngremes, igrejas, mosteiros, casas térreas e sobrados de até quatro andares, era a segunda metrópole do império lusitano, após a populosa Lisboa, com cem mil moradores. Dois terço da população de Salvador era negra e mestiça; um terço, branca e nativa. A cidade não possuía uma só livraria!
Em 1798, apesar das dificuldades da produção colonial, a Bahia vivia relativo auge econômico, exportando, através do animado porto de Salvador, açúcar, algodão, anil, pipas de aguardente, fumo em rolo e muitos outros produtos, chegados do Recôncavo e do interior da capitania. Apesar de sua riqueza comercial, Salvador dependia da produção rural, já que praticamente nada produzia. Autoritárias determinações metropolitanas proibiam a produção manufatureira nas colônias luso-brasileiras.
por Mário Maestri
Alguns acontecimentos do passado são lembrados, festejados e registrados. Outros, ao contrário, tão ou mais significativos, são apenas conhecidos e, não raro, esquecidos. Como na sociedade dos homens, também não há justiça na história. A chamada Conspiração dos Alfaiates, ocorrida em 1798, em Salvador, apesar de constituir o mais radical movimento independentista ocorrido nos territórios do atual Brasil, completará 210 anos, em 12 de gosto, sem certamente receber o devido registro.
O mundo estava convulsionado, em fins do século 18. A maré revolucionária francesa chegara ao ápice, em 1794. Na Europa dos reis, propusera-se que todos os homens eram iguais e iguais direitos à felicidade tinham. E que tal destino seria cumprido, nem que para isso o mundo fosse colocado de pés para cima.
Na mais rica colônia açucareira francesa, proprietários tentaram autonomizar-se e homens livres de cor reivindicaram a cidadania prometida em 1789, facilitando a insurreição dos cativos, em agosto de 1791, que pôs fim à escravidão e fundando o Haiti, segundo território da América a libertar-se do colonialismo, depois dos USA, e o primeiro a abolir a escravidão. Em 1789, a colônia francesa possuía 523 mil habitantes — 27 mil homens livres de cor e 465.500, escravos!
Desde 1789, o arcaico Estado absolutista lusitano mobilizara-se para que as idéias revolucionárias, democráticas e liberais — as temidas francezias — não chegassem à metrópole e às colônias. No Brasil, os raros visitantes estrangeiros eram seguidos e vigiados e as bagagens dos navios aportados, minuciosamente revistadas, à procura de livros e papéis subversivos. Na Colônia lusitana não havia uma só imprensa!
A vigilância era particularmente estreita em Salvador, o principal porto do Brasil colonial. Com sessenta mil habitantes, a ex-capital colonial, com ruas estreitas, irregulares e sujas, ladeiras íngremes, igrejas, mosteiros, casas térreas e sobrados de até quatro andares, era a segunda metrópole do império lusitano, após a populosa Lisboa, com cem mil moradores. Dois terço da população de Salvador era negra e mestiça; um terço, branca e nativa. A cidade não possuía uma só livraria!
Em 1798, apesar das dificuldades da produção colonial, a Bahia vivia relativo auge econômico, exportando, através do animado porto de Salvador, açúcar, algodão, anil, pipas de aguardente, fumo em rolo e muitos outros produtos, chegados do Recôncavo e do interior da capitania. Apesar de sua riqueza comercial, Salvador dependia da produção rural, já que praticamente nada produzia. Autoritárias determinações metropolitanas proibiam a produção manufatureira nas colônias luso-brasileiras.
Os de cima e os de baixo
Do Porto e de Lisboa chegavam múltiplas mercadorias, produzidas nos principais centros europeus, que eram consumidas em Salvador e reexportadas para o interior e para as capitanias vizinhas – vinho, azeite, espingardas, pólvora, tecidos, vestimentas, materiais de construção, implementos domésticos, etc. O principal produto importando pela capitania era o trabalhador escravizado.
O comércio baiano era controlado por ricos comerciantes, sobretudo portugueses. Entre os mais fortes mercadores, encontravam-se os negociantes de cativos. Da distante capitania do Rio Grande do Sul chegavam a Salvador grandes quantidades de charque, tradicional alimento das populações pobres e escravizadas.
Ao igual que no resto da colônia, a sociedade baiana era muito estratificada. No vértice da sua pirâmide social encontravam-se os grandes plantadores e os poderosos comerciantes; na base, as multidões de cativos, vergados pelos duros trabalhos dos campos e das cidades. Anualmente, grandes quantidades de cativos eram introduzidas na Bahia, chegadas da costa africana. A classe dos trabalhadores escravizados era muito heterogênea, dividindo-se em cativos nascidos no Brasil, de diversas cores de pele e diferentes situações profissionais, e africanos chegados de variados pontos da África.
Entre os escravizadores e escravizados, subsistiam os homens livres pobres, com escassas possibilidades de ascensão social, mesmo quando possuíam “sangue limpo”. Eles empregavam-se como administradores, mascates, marinheiros, caixeiros, ingressavam no baixo clero, ocupavam cargos civis e militares inferiores, disputavam com os cativos ganhadores e de aluguel algumas “profissões mecânicas” e atividades artesanais. As sinecuras e colocações de prestígio eram privilégios dos portugueses natos, bem recomendados.
Em Salvador, os homens livres de cor trabalhavam como artífices, no pequeno comércio, arrolavam-se como soldados e suboficiais nas tropas de primeira linha, onde conheciam tristes condições de trabalho e soldo miserável. Comumente, para sobreviverem, os soldados tinham uma segunda atividade. Era deprimente a sorte desses homens livres pobres de cor. Além das escassas possibilidades de inserção econômica na sociedade colonial que dispunham, eram estigmatizados por possuírem a pele negra, fato desqualificador em uma sociedade escravista, o que impedia o acesso aos cargos e posições civis, religiosas e administrativas intermediárias.
O comércio baiano era controlado por ricos comerciantes, sobretudo portugueses. Entre os mais fortes mercadores, encontravam-se os negociantes de cativos. Da distante capitania do Rio Grande do Sul chegavam a Salvador grandes quantidades de charque, tradicional alimento das populações pobres e escravizadas.
Ao igual que no resto da colônia, a sociedade baiana era muito estratificada. No vértice da sua pirâmide social encontravam-se os grandes plantadores e os poderosos comerciantes; na base, as multidões de cativos, vergados pelos duros trabalhos dos campos e das cidades. Anualmente, grandes quantidades de cativos eram introduzidas na Bahia, chegadas da costa africana. A classe dos trabalhadores escravizados era muito heterogênea, dividindo-se em cativos nascidos no Brasil, de diversas cores de pele e diferentes situações profissionais, e africanos chegados de variados pontos da África.
Entre os escravizadores e escravizados, subsistiam os homens livres pobres, com escassas possibilidades de ascensão social, mesmo quando possuíam “sangue limpo”. Eles empregavam-se como administradores, mascates, marinheiros, caixeiros, ingressavam no baixo clero, ocupavam cargos civis e militares inferiores, disputavam com os cativos ganhadores e de aluguel algumas “profissões mecânicas” e atividades artesanais. As sinecuras e colocações de prestígio eram privilégios dos portugueses natos, bem recomendados.
Em Salvador, os homens livres de cor trabalhavam como artífices, no pequeno comércio, arrolavam-se como soldados e suboficiais nas tropas de primeira linha, onde conheciam tristes condições de trabalho e soldo miserável. Comumente, para sobreviverem, os soldados tinham uma segunda atividade. Era deprimente a sorte desses homens livres pobres de cor. Além das escassas possibilidades de inserção econômica na sociedade colonial que dispunham, eram estigmatizados por possuírem a pele negra, fato desqualificador em uma sociedade escravista, o que impedia o acesso aos cargos e posições civis, religiosas e administrativas intermediárias.
O sonho francês
Em fins do século 18, o Brasil tornara-se a grande fonte de recursos da Coroa e das elites lusitanas. O monopólio comercial imposto ao Brasil e taxas de toda natureza drenavam grande parte das rendas da Colônia e encareciam o custo de vida – dízimos, terças, rendimentos, selos, direitos, subsídios, donativos, donativos voluntários, etc. Uma petição anônima enviada à rainha dona Maria I, em 15 de agosto de 1897, descrevia com sombrias cores a situação a que os tributos reduziam a colônia: “Cada vez mais se vão multiplicando os males sobre males, reduzindo [o povo] a uma penúria geral de todo.” O “povo”, na época, era a população livre com algumas posses. A população pobre de Salvador, a “plebe”, o “vulgo”, etc., passava fome e cativos esmolavam comida pelas ruas.
Sobretudo entre as classes proprietárias coloniais, fortalecia-se a consciência do caráter parasitário do regime colonial lusitano, sentimento reforçado pela independência dos USA e pelo prestígio das idéias liberais e revolucionárias francesas, em uma época em que a França dominava o cenário político europeu. Nas Minas Gerais, havia dez anos, fora desbaratada uma conspiração para independentizar a capitania.
Em 12 de agosto de 1798, chegou ao conhecimento de Fernando José de Portugal, então com 43 anos e governador da capitania da Bahia desde 1788, que haviam sido colados, de madrugada, em pontos de grande movimento de Salvador, doze boletins “sediciosos”, conclamando o povo a realizar a Revolução e instituir a República Baianense. Os manifestos teriam tido grande repercussão. Mesmo se poucos ou tivessem lido, seus conteúdos correram pela cidade, de boca em boca.
Anteriormente, em inícios de 1798, a forca fora queimada, durante a noite, sem que se descobrissem e fossem punidos os responsáveis. Tal ato constituía um crime de lesa majestade, visto o significado simbólico do macabro instrumento. Segundo parece, “ludribriosos pasquins” foram igualmente afixados sobre o “patíbulo público” incendiado. Em julho do mesmo ano, outro ou outros manifestos teriam sido afixados na cidade.
Os escritos permitem uma primeira apreciação da orientação do movimento. Eles pregavam a igualdade, a república, a independência da Bahia, a liberdade de comércio e de produção, elogiavam a França e exigiam o fim da discriminação social e racial. Ameaçavam os clérigos que combatessem as novas idéias e prometiam aumento de soldo para os soldados e oficiais de primeira linha.
Como os manifestos motivassem grande alvoroço, o governador ordenou que se abrisse imediata devassa sobre os fatos. Eles constituíam crime gravíssimo, em uma época em que a Coroa lusitana tremia diante dos ventos revolucionários que ameaçavam o trono e o império colonial. Correria pela cidade a voz que os papéis eram produto de soldados e de oficiais pardos.
Nos depoimentos, tomados a seguir, de testemunhas que ouviram falar dos manifestos, mas não os viram, emerge comumente uma clara reelaboração do conteúdo dos escritos que certamente apresentam reivindicações das classes subalternas não presentes nos textos, como a do tabelamento do preço da carne. Essa reconstrução dos conteúdos das mensagens era absolutamente normal em uma sociedade em crise em que o principal veículo de socialização das informações era a comunicação oral interpessoal.
Sobretudo entre as classes proprietárias coloniais, fortalecia-se a consciência do caráter parasitário do regime colonial lusitano, sentimento reforçado pela independência dos USA e pelo prestígio das idéias liberais e revolucionárias francesas, em uma época em que a França dominava o cenário político europeu. Nas Minas Gerais, havia dez anos, fora desbaratada uma conspiração para independentizar a capitania.
Em 12 de agosto de 1798, chegou ao conhecimento de Fernando José de Portugal, então com 43 anos e governador da capitania da Bahia desde 1788, que haviam sido colados, de madrugada, em pontos de grande movimento de Salvador, doze boletins “sediciosos”, conclamando o povo a realizar a Revolução e instituir a República Baianense. Os manifestos teriam tido grande repercussão. Mesmo se poucos ou tivessem lido, seus conteúdos correram pela cidade, de boca em boca.
Anteriormente, em inícios de 1798, a forca fora queimada, durante a noite, sem que se descobrissem e fossem punidos os responsáveis. Tal ato constituía um crime de lesa majestade, visto o significado simbólico do macabro instrumento. Segundo parece, “ludribriosos pasquins” foram igualmente afixados sobre o “patíbulo público” incendiado. Em julho do mesmo ano, outro ou outros manifestos teriam sido afixados na cidade.
Os escritos permitem uma primeira apreciação da orientação do movimento. Eles pregavam a igualdade, a república, a independência da Bahia, a liberdade de comércio e de produção, elogiavam a França e exigiam o fim da discriminação social e racial. Ameaçavam os clérigos que combatessem as novas idéias e prometiam aumento de soldo para os soldados e oficiais de primeira linha.
Como os manifestos motivassem grande alvoroço, o governador ordenou que se abrisse imediata devassa sobre os fatos. Eles constituíam crime gravíssimo, em uma época em que a Coroa lusitana tremia diante dos ventos revolucionários que ameaçavam o trono e o império colonial. Correria pela cidade a voz que os papéis eram produto de soldados e de oficiais pardos.
Nos depoimentos, tomados a seguir, de testemunhas que ouviram falar dos manifestos, mas não os viram, emerge comumente uma clara reelaboração do conteúdo dos escritos que certamente apresentam reivindicações das classes subalternas não presentes nos textos, como a do tabelamento do preço da carne. Essa reconstrução dos conteúdos das mensagens era absolutamente normal em uma sociedade em crise em que o principal veículo de socialização das informações era a comunicação oral interpessoal.
O começo do fim
Na Bahia de então, o alfabetizado era avis raras, sobretudo entre a população pobre. Imediatamente, passou-se a cotejar a letra do autor dos manifestos com petições e reclamações existentes nos arquivos da Secretaria do Governo. A precária investigação policial grafológica apontou um primeiro suspeito. Em 16 de agosto, foi preso o pardo Domingos da Silva Lisboa, natural de Lisboa, filho de pais desconhecidos, de 43 anos, requerente de causas e escrevente de cartas, conhecido pelas idéias anti-religiosas e liberais, residente na ladeira da Misericórdia. Em sua casa, foram encontradas cópias manuscritas de versos, documentos e textos liberais. Os autos da devassa anotam que o mulato possuía mais de cem livros, para época, uma biblioteca de singular porte.
Como em 22 de agosto fossem conhecidas duas outras cartas, de igual letra, deixadas em uma igreja, e Domingos da Silva Lisboa se encontrasse preso e incomunicável, reiniciaram-se as buscas que resultaram na prisão, no dia 23, de Luís Gonzaga das Virgens, também pardo, de 36 anos, natural de Salvador, soldado do Segundo° Regimento de Primeira Linha. Também na sua moradia foi encontrada literatura liberal. Havia pouco, Luís Gonzaga, neto de português e cativa africana, requerera que não fosse indeferida uma sua promoção, por ser pardo.
A prisão do soldado acelerou a conspiração e fez emergir no centro dos acontecimentos João de Deus do Nascimento, casado, pardo, cabo da Esquadra do Segundo Regimento da Milícia, de 27 anos, e alfaiate bem estabelecido na rua Direita de Salvador. Temendo que Luís Gonzaga denunciasse os companheiros de causa, organizou, apressadamente, uma reunião de adictos e simpatizantes do movimento, a fim de deliberarem, eventualmente, sobre o melhor momento para a revolta.
O encontro da noite de 25 de agosto, sábado, no sítio do campo do Dique, na parte do Desterro, em Salvador, foi um fracasso. Segundo os autos da devassa, chegaram apenas quatorze, dos duzentos participantes esperados. É crível que devido à pressa, a convocação dos envolvidos e simpatizantes dera-se em forma precária.
Os poucos chegados escaparam, por pouco, de serem aprisionados, já que o conciliábulo fora denunciado. Em uma roça vizinha ao campo do Dique estava reunida uma centena de soldados e cativos armados de cassetetes. É também crível que um número indeterminado de jacobinos tenha abandonado apressadamente o campo do Dique ao tomar conhecimento do esquema repressivo, armado com inabilidade pelo tenente-coronel Alexandre Theotonio de Souza, que circulava disfarçado com um capote branco!
A reunião fora denunciada pelo liberto ferrador Joaquim José da Veiga e pelo barbeiro Joaquim José de Santana, capitão do Terceiro Regimento de Milícias de Homens Pretos. Os dois alcagüetes estariam em contato com os agitadores e optaram pela denúncia quando foram convidados para participar da revolta. Se não o fizessem, incorriam em crime de alta traição, caso a conspiração fosse descoberta. Se o fizessem, estavam certos das recompensas que receberiam.
Como em 22 de agosto fossem conhecidas duas outras cartas, de igual letra, deixadas em uma igreja, e Domingos da Silva Lisboa se encontrasse preso e incomunicável, reiniciaram-se as buscas que resultaram na prisão, no dia 23, de Luís Gonzaga das Virgens, também pardo, de 36 anos, natural de Salvador, soldado do Segundo° Regimento de Primeira Linha. Também na sua moradia foi encontrada literatura liberal. Havia pouco, Luís Gonzaga, neto de português e cativa africana, requerera que não fosse indeferida uma sua promoção, por ser pardo.
A prisão do soldado acelerou a conspiração e fez emergir no centro dos acontecimentos João de Deus do Nascimento, casado, pardo, cabo da Esquadra do Segundo Regimento da Milícia, de 27 anos, e alfaiate bem estabelecido na rua Direita de Salvador. Temendo que Luís Gonzaga denunciasse os companheiros de causa, organizou, apressadamente, uma reunião de adictos e simpatizantes do movimento, a fim de deliberarem, eventualmente, sobre o melhor momento para a revolta.
O encontro da noite de 25 de agosto, sábado, no sítio do campo do Dique, na parte do Desterro, em Salvador, foi um fracasso. Segundo os autos da devassa, chegaram apenas quatorze, dos duzentos participantes esperados. É crível que devido à pressa, a convocação dos envolvidos e simpatizantes dera-se em forma precária.
Os poucos chegados escaparam, por pouco, de serem aprisionados, já que o conciliábulo fora denunciado. Em uma roça vizinha ao campo do Dique estava reunida uma centena de soldados e cativos armados de cassetetes. É também crível que um número indeterminado de jacobinos tenha abandonado apressadamente o campo do Dique ao tomar conhecimento do esquema repressivo, armado com inabilidade pelo tenente-coronel Alexandre Theotonio de Souza, que circulava disfarçado com um capote branco!
A reunião fora denunciada pelo liberto ferrador Joaquim José da Veiga e pelo barbeiro Joaquim José de Santana, capitão do Terceiro Regimento de Milícias de Homens Pretos. Os dois alcagüetes estariam em contato com os agitadores e optaram pela denúncia quando foram convidados para participar da revolta. Se não o fizessem, incorriam em crime de alta traição, caso a conspiração fosse descoberta. Se o fizessem, estavam certos das recompensas que receberiam.
Repressão imediata
Joaquim José de Santana, que registrou no seu depoimento, quando da devassa, a esperança de uma promoção, segundo ele muito merecida, era o responsável pela guarda das armas de sua milícia, uma figura centrar, portanto, na conspiração. Por instruções das autoridades coloniais, Joaquim José de Santana e Joaquim José da Veiga participaram da reunião do Campo do Dique, para melhor traírem seus ex-companheiros. Houve, igualmente, um terceira denúncia, tardia.
Nos dias seguintes, a repressão abateu-se entre os conspiradores, que foram presos em suas casas, no Recôncavo ou no interior, onde tentaram refugiar-se. A seguir, sob a ordem do governador, abriu-se nova devassa sobre os fatos, instruiu-se processo no qual foram denunciados trinta e quatro réus, todos do sexo masculino, e castigou-se, duramente, os presuntos cabeças do movimento.
Fora bem superior o número de presos e, sobretudo, de denunciados, durante as investigações, na nova devassa aberta para apurar a reunião sediciosa e o eventual movimento revolucionário. Certamente, número de os homens livres e escravizados envolvidos, direta ou indiretamente, nas articulações sediciosas seria considerável.
O governador esforçou-se, sempre, para que os homens bons que participaram nas discussões, debate e conspiração liberal ficassem à margem das denúncias, sendo inculpados, fora poucas exceções, apenas “pessoas insignificantes”. Os historiadores que estudaram o movimento de 1798 esforçaram-se em precisar quão amplo fora o círculo social da conspiração e os motivos da exclusão dos jacobinos excelentes das devassas.
No último quartel do século 18, importantes setores ilustrados da administração lusitana propunham impedir a independência colonial integrando as classes proprietárias brasileiras em um projeto que emancipasse o Brasil no seio de um império lusitano reconstruído que tivesse Portugal por centro, sobretudo mercantil.
Mantendo-se os homens bons envolvidos na conspiração à margem das investigações cumpria-se um ato de solidariedade social, respeitava-se o pacto inter-proprietários e procurava-se não comprometer a possibilidade futuras negociações com membros das classes excelentes baianas. Segundo parece, os conspiradores utilizavam barba crescida, um búzio de Angola nas correntes dos relógios e argolinha em uma das orelhas.
A revolta teria uma bandeira tricolor – uma tira branca, entre duas azuis, paralelas à haste. Sobre a tira branca encontrava-se uma grande estrela vermelha com outras cinco menores. Embaixo da estrela estaria assinalada o lema nec mergitur – “sem soçobrar”. Porém, não há registro documental sobre essa bandeira.
Nos dias seguintes, a repressão abateu-se entre os conspiradores, que foram presos em suas casas, no Recôncavo ou no interior, onde tentaram refugiar-se. A seguir, sob a ordem do governador, abriu-se nova devassa sobre os fatos, instruiu-se processo no qual foram denunciados trinta e quatro réus, todos do sexo masculino, e castigou-se, duramente, os presuntos cabeças do movimento.
Fora bem superior o número de presos e, sobretudo, de denunciados, durante as investigações, na nova devassa aberta para apurar a reunião sediciosa e o eventual movimento revolucionário. Certamente, número de os homens livres e escravizados envolvidos, direta ou indiretamente, nas articulações sediciosas seria considerável.
O governador esforçou-se, sempre, para que os homens bons que participaram nas discussões, debate e conspiração liberal ficassem à margem das denúncias, sendo inculpados, fora poucas exceções, apenas “pessoas insignificantes”. Os historiadores que estudaram o movimento de 1798 esforçaram-se em precisar quão amplo fora o círculo social da conspiração e os motivos da exclusão dos jacobinos excelentes das devassas.
No último quartel do século 18, importantes setores ilustrados da administração lusitana propunham impedir a independência colonial integrando as classes proprietárias brasileiras em um projeto que emancipasse o Brasil no seio de um império lusitano reconstruído que tivesse Portugal por centro, sobretudo mercantil.
Mantendo-se os homens bons envolvidos na conspiração à margem das investigações cumpria-se um ato de solidariedade social, respeitava-se o pacto inter-proprietários e procurava-se não comprometer a possibilidade futuras negociações com membros das classes excelentes baianas. Segundo parece, os conspiradores utilizavam barba crescida, um búzio de Angola nas correntes dos relógios e argolinha em uma das orelhas.
A revolta teria uma bandeira tricolor – uma tira branca, entre duas azuis, paralelas à haste. Sobre a tira branca encontrava-se uma grande estrela vermelha com outras cinco menores. Embaixo da estrela estaria assinalada o lema nec mergitur – “sem soçobrar”. Porém, não há registro documental sobre essa bandeira.
Em cima do muro
O governador Fernando José de Portugal seria acusado de anterior complacência para com os conspiradores. Efetivamente, havia muito que ele sabia da difusão de francezias na Bahia, devido à denúncia, em agosto/setembro de 1797, do coronel Francisco José de Mattos Ferreira e Lucena, comandante do Segundo Regimento de Linha. O governador minimizara os atos e apenas repreendera, verbalmente, o tenente Hermógenes Francisco de Aguilar Pantoja, o mais visível dos adictos às idéias européias.
A historiografia tradicional apontou a proverbial “bonomia” e falta de iniciativa de Fernando de Portugal como motivos da sua apatia anterior a 12 de agosto, diante da ação dos conspiradores. A consciência do governador da impossibilidade de manter, através da mera repressão, o império colonial português, explica seu comportamento diante das “francezias” baianas, que foi interpretada pelos absolutistas como complacência e pelos conspiradores simpatia.
Os conspiradores pretendiam manter o governador no seu posto, após aderir ao novo governo. A contemporizasse com o liberalismo de Fernando de Portugal deveria-se também ao incerto resultado do confronto europeu entre a França revolucionária e os Estados absolutistas. Os conspiradores acreditavam em um eventual desembarque francês na Bahia. É crível que, sob sugestão dos revolucionários baianos, um oficial francês apresentou, em agosto de 1897, ao Diretório, proposta de ataque à Salvador e apoio aos conspiradores. Fato que certamente confirma o envolvimento de franceses nas deliberações sobre a revolta.
O status racial e jurídico dos conspiradores ilumina-nos sobre a essência da revolta, nos seus momentos finais. Dos inculpados, dez eram brancos e os 24 restantes, homens de cor – pardos, pardos claros, pardos escuros, pardos trigueiros e pardos fuscos. Negro havia apenas um, como assinalou o próprio governador, em correspondência com Portugal. Tratava-se de um cativo procedente da costa da Mina.
No relativo às atividades profissionais, havia sobretudo soldados e oficiais da tropa paga e alfaiates, além de um professor, dois ourives, um bordador, um pedreiro, um negociante, um carapina e um cirurgião prático. Homens que viviam, portanto, do seu trabalho. Dentre os inculpados, 23 eram homens livres ou libertos e 11, escravos! Os últimos eram, em grande maioria, cativos com habilidades artesanais postos ao aluguel – alfaiates, sapateiro, cabeleireiro, etc.
A historiografia tradicional apontou a proverbial “bonomia” e falta de iniciativa de Fernando de Portugal como motivos da sua apatia anterior a 12 de agosto, diante da ação dos conspiradores. A consciência do governador da impossibilidade de manter, através da mera repressão, o império colonial português, explica seu comportamento diante das “francezias” baianas, que foi interpretada pelos absolutistas como complacência e pelos conspiradores simpatia.
Os conspiradores pretendiam manter o governador no seu posto, após aderir ao novo governo. A contemporizasse com o liberalismo de Fernando de Portugal deveria-se também ao incerto resultado do confronto europeu entre a França revolucionária e os Estados absolutistas. Os conspiradores acreditavam em um eventual desembarque francês na Bahia. É crível que, sob sugestão dos revolucionários baianos, um oficial francês apresentou, em agosto de 1897, ao Diretório, proposta de ataque à Salvador e apoio aos conspiradores. Fato que certamente confirma o envolvimento de franceses nas deliberações sobre a revolta.
O status racial e jurídico dos conspiradores ilumina-nos sobre a essência da revolta, nos seus momentos finais. Dos inculpados, dez eram brancos e os 24 restantes, homens de cor – pardos, pardos claros, pardos escuros, pardos trigueiros e pardos fuscos. Negro havia apenas um, como assinalou o próprio governador, em correspondência com Portugal. Tratava-se de um cativo procedente da costa da Mina.
No relativo às atividades profissionais, havia sobretudo soldados e oficiais da tropa paga e alfaiates, além de um professor, dois ourives, um bordador, um pedreiro, um negociante, um carapina e um cirurgião prático. Homens que viviam, portanto, do seu trabalho. Dentre os inculpados, 23 eram homens livres ou libertos e 11, escravos! Os últimos eram, em grande maioria, cativos com habilidades artesanais postos ao aluguel – alfaiates, sapateiro, cabeleireiro, etc.
Público exemplo
Apesar da conspiração jamais ter chegado às vias dos fatos, ela foi punida com rigor exemplar. Além de penas de desterro, foram enforcados e esquartejados, em 8 de novembro de 1799, na praça da Piedade, enquanto os sinos das igrejas de Salvador badalavam impiedosamente, os soldados Luís Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas de Amorim, de 24 anos, também marceneiro, que resistiu destemidamente à prisão; e os alfaiates João de Deus do Nascimento e Manuel Faustino dos Santos Lira, liberto. Todos eles eram pardos. Um cativo, Antônio José, teria se suicidado no cárcere.
Os quatro condenados foram esquartejados, tiveram os corpos despedaçados expostos como público exemplo, suas famílias foram infamadas, por três gerações. Um quinto condenado à morte jamais foi encontrado. Os depoimentos indicavam-no como um dos principais cabeças do movimento. Escravos participantes da conspiração foram condenados a quinhentos açoites e vendidos para a distante e temida … capitania do Rio Grande do Sul.
Diversos homens brancos foram apontados como participantes ou simpáticos ao movimento. Porém, nos poucos casos em que foram inculpados, sofreram penas leves. Entre os presos acusados de participarem da conspiração foram arrolados Cipriano José Barata de Almeida, ex-lavrador de terra, cirurgião aprovado, possuidor de 35 livros; Moniz Barreto e os tenentes José Gomes de Oliveira Borges e Hermógenes Francisco de Aguilar Pantoja.
O tenente Pantoja, de 28 anos, proprietário de 26 livros, teria afirmado, quando da cerimônia de seu casamento, que bastaria, para celebrar as núpcias, que os noivos confirmassem o desejo de união. Portanto, além de revolucionário, livre-pensador! Quanto ao tenente José Gomes, ele teria recebido, em sua residência, para almoço, os soldado Lucas Dantas, o sargento Joaquim Antônio da Silva e o alfaiate João de Deus, todos jacobinos. Membros ainda mais excelentes das classes dominantes baianas foram apontados como simpáticos aos jacobinos mas jamais incomodados.
Affonso Ruy, no seu livro já clássico Primeira revolução social brasileira, aponta como dirigentes do movimento liberal baiano o farmacêutico João Ladislau de Figueiredo Melo; o padre Francisco Agostinho Gomes; o intelectual José da Silva Lisboa; o senhor-de-engenho Inácio Siqueira Bulcão; o cirurgião Cipriano de Almeida Barata, e o professor de retórica Francisco Muniz Barreto
Tudo leva a crer que não houve participação orgânica de membros das elites baianas nos fatos de agosto, ou na agitação jacobina que se desenvolvia, no mínimo, desde o início de 1798, através de ações diretas como a queima da forca e a distribuição de manifestos. Nesse sentido, resta à historiografia elucidar as reais articulações entre os liberais das elites e os jacobinos negros de Salvador.
Os quatro condenados foram esquartejados, tiveram os corpos despedaçados expostos como público exemplo, suas famílias foram infamadas, por três gerações. Um quinto condenado à morte jamais foi encontrado. Os depoimentos indicavam-no como um dos principais cabeças do movimento. Escravos participantes da conspiração foram condenados a quinhentos açoites e vendidos para a distante e temida … capitania do Rio Grande do Sul.
Diversos homens brancos foram apontados como participantes ou simpáticos ao movimento. Porém, nos poucos casos em que foram inculpados, sofreram penas leves. Entre os presos acusados de participarem da conspiração foram arrolados Cipriano José Barata de Almeida, ex-lavrador de terra, cirurgião aprovado, possuidor de 35 livros; Moniz Barreto e os tenentes José Gomes de Oliveira Borges e Hermógenes Francisco de Aguilar Pantoja.
O tenente Pantoja, de 28 anos, proprietário de 26 livros, teria afirmado, quando da cerimônia de seu casamento, que bastaria, para celebrar as núpcias, que os noivos confirmassem o desejo de união. Portanto, além de revolucionário, livre-pensador! Quanto ao tenente José Gomes, ele teria recebido, em sua residência, para almoço, os soldado Lucas Dantas, o sargento Joaquim Antônio da Silva e o alfaiate João de Deus, todos jacobinos. Membros ainda mais excelentes das classes dominantes baianas foram apontados como simpáticos aos jacobinos mas jamais incomodados.
Affonso Ruy, no seu livro já clássico Primeira revolução social brasileira, aponta como dirigentes do movimento liberal baiano o farmacêutico João Ladislau de Figueiredo Melo; o padre Francisco Agostinho Gomes; o intelectual José da Silva Lisboa; o senhor-de-engenho Inácio Siqueira Bulcão; o cirurgião Cipriano de Almeida Barata, e o professor de retórica Francisco Muniz Barreto
Tudo leva a crer que não houve participação orgânica de membros das elites baianas nos fatos de agosto, ou na agitação jacobina que se desenvolvia, no mínimo, desde o início de 1798, através de ações diretas como a queima da forca e a distribuição de manifestos. Nesse sentido, resta à historiografia elucidar as reais articulações entre os liberais das elites e os jacobinos negros de Salvador.
Branco e negro
Tudo leva a crer que, por caminhos apenas parcialmente elucidados, as idéias democráticas e revolucionárias francesas, esposadas por membros das elites baianas, foram largamente acolhidas por artífices e soldados de cor, sobretudo de Salvador, que as reelaboraram e as adequaram à realidade social de então, resultando daí o mais avançado programa político jamais proposto no Brasil, até a Abolição.
A documentação conhecida sugere que o tenente Hermógenes Francisco de Aguilar Pantoja serviu como interlocutor entre os membros ilustrados e liberais das elites e os núcleos jacobinos das classes subalternas baianas. Nesse contexto geral, a difusão de manifestos pode até mesmo ter servido como tentativa, consciente ou inconsciente, de pôr fim ao imobilismo dos jacobinos abonados, eventualmente paralisados pelas questões postas pela abolição da ordem escravista. Como já foi dito, as elites coloniais interessavam-se pela liberdade de suas regiões mas opunham-se à liberdade dos cativos.
O descaso historiográfico com a conspiração baiana de 1798 não se deve ao fato de jamais ter passado aos atos. A chamada Inconfidência Mineira ruiu igualmente com um castelo de cartas e tem sido rememorado, sendo atualmente motivo de um feriado nacional. O silêncio construído em torno da chamada Conspiração dos Alfaiates deva-se ao seu radicalismo e ao seu caráter plebeu. O primeiro movimento, relativo sobretudo à capitania das Minas Gerais, assumiu dimensão histórica nacional, enquanto a Revolta dos Alfaiates prossegue sendo rememorada e vista sobretudo como sucesso baiano.
Mesmo que tenham participado da inconfidência homens de status social mais elevado, a hegemonia da conspiração encontrava-se, ao menos nos momentos finais, com os soldados, artífices e cativos pardos de Salvador. Tudo leva a crer que eles não recorreram a ninguém para redigir os manifestou ou convocar a reunião de 25 de agosto.
O fato da conspiração ser sobretudo obra de humildes trabalhadores de cor explicaria por que conseguiu – fato único na história do Brasil – incorporar ao movimento trabalhadores escravizados e propor o fim da escravatura, certamente sob a inspiração da decisão da Convenção francesa de abolir a instituição, nas colônias francesas, em 1794. Essa medida, jamais aplicada, foi anulada em 1802, por Napoleão Bonaparte.
A significativa participação de trabalhadores escravizados no movimento e a proposição da abolição da escravatura asseguravam ao movimento um caráter socialmente revolucionário, já que, na Bahia e no Brasil de então, o escravismo era a forma hegemônica de exploração do trabalho. A eventual vitória do movimento e consecução de seu programa anteciparia, ao menos na Bahia, em quase um século, a vigência de relações de trabalho livre.
A Conspiração dos Alfaiates pode ser aproximada à Conjuração dos Iguais, de Gracus Babeuf, desbaratada apenas dois anos antes, em 1796, na França. A primeira propôs, em uma sociedade escravista, o fim da discriminação racial e da instituição. A segunda assinalou o ingresso das classes trabalhadoras, em forma independente, na arena política e social, quando o capitalismo impunha-se, na França, como forma social de cominação. Uma analogia que ressalta, ainda mais, o grande paradoxo do movimento de 1798.
Uma grande questão posta pela Conspiração dos Alfaiates espera ainda ser elucidada. Isto é, as condições sui generis que permitiram, em 1798, na Bahia, que segmentos sociais subalternos articulassem um programa político, de conteúdo democrático e revolucionário, para toda a sociedade.
A repressão do movimento dos jacobinos baianos pôs como uma pedra lapidar sobre essa luta cidadã. Era como se ali fenecesse a proposta, chegada dos setores explorados, de uma sociedade democrática e igualitária. Apenas os abolicionistas mais extremados, um século mais tarde, esboçaram programa democrático igualmente tão amplo.
A agonia da Conspiração dos Alfaiates não significou o fim da agitação social. Ao contrário, a partir de 1807, a tensão entre os trabalhadores escravizados de Salvador aumentaria, com inusitado vigor, explodindo, periodicamente, para desembocar na grande revolta servil de 1835. Porém, apesar da violência da Revolta Malê de 1835, seu programa era claramente regressivo, em relação ao ideário anterior, já que os conspiradores proporiam, simplesmente, a morte dos brancos e dos pardos, o que restringia, inevitavelmente, a abrangência política do movimento.
Entre as maiores dificuldades para a articulação de um movimento social, durante a escravidão, encontravam-se as diferenças culturais, lingüísticas e sociais que separavam homens livres pobres, libertos, cativos crioulos e cativos africanos. Em 1798, os próprios jacobinos baianos estabeleceram, sobretudo, sua aliança com os cativos artífices. Esses cativos constituíam uma quase elite, se comparada à grande massa africana que trabalhava, sobretudo nos campos. Os jacobinos denunciados eram, sobretudo, pardos, havendo entre eles, como vimos, apenas um negro. Porém, há indícios que os conspiradores tinham ou pretendiam ter apoios entre os cativos de engenhos.
Talvez a grande debilidade da Conspiração dos Alfaiates tenha sido a falta de tempo ou de condições de concluírem movimento que esses homens livres pobres realizaram em direção das massas escravizadas, iniciativa jamais tentado, novamente, na história do Brasil. As razões da inexistência de movimentos políticos semelhantes posteriores constitui a segunda grande questão que se desprende da conspiração de 1798.
O Estado colonial impôs aos conspiradores castigo à altura da transgressão. Havia que reprimir, duramente, aqueles homens que, não suportando “em paz a diferença de condições e desigualdade de fortunas, de que se compõem a admirável obra da sociedade civil”, quiseram impor os “princípios anti-sociais de igualdade absoluta”, “sem distinção de cores e de estudos” – como lembra os autos do processo. Destaque-se que, 210 anos após a conspiração, seu programa, absolutamente atual, espera ainda ser materializado no Brasil.
Na Inconfidência Mineira, movimento de proprietários, escravistas, clérigos e intelectuais, apenas um conspirador, o mais humilde, foi executado. Na Bahia, conspiração de artífices, soldados e cativos, quatro de seus líderes padeceram em uma forca, levantada alguns palmos acima do habitual, para assinalar a gravidade do crime. Certamente os mesmos motivos explicam o silêncio relativo em que se mantém, ainda hoje, esses acontecimentos.
Bibliografia sumária:
“A Inconfidência da Bahia em 1798: Devassas e seqüestros”. ANAIS DA BIBLIOTECA NACIONAL, Rio de Janeiro, volumes 43-45, pp. 83-255; 3-421.
“Autos de devassa do levantamento e sedição intentados na Bahia em 1798”, ANAIS DO ARQUIVO PÚBLICO DA BAHIA, Salvador, Imprensa Oficial, vol. 35 e 36, janeiro/junho; julho/dezembro de 1959, pp.1-280; 281-634.
ARAÚJO, Ubiratan Castro de. et al. II Centenário da sedição de 1798 na Bahia. Salvador: Academia de Letras da Bahia, 1999.
Arquivo Público do Estado da Bahia. Autos da devassa da Conspiração dos Alfaiates. Ed. de Maria Helena O. Flexor. Salvador, Secretaria da Cultura e Turismo/ Arquivo Público do Estado, 1998. 2v
GISLER, Antoine. L’esclavage aux Antilles françaises. Paris: Karthala, 1981.
JAMES, C.L.R. I giacobini neri : la prima rivolta contro l’uomo bianco. Milano: Feltrinelli, 1968. [1a. ed. 1938]
JANCSÓ, István. Na Bahia, contra o Império: história do ensaio de sedição de 1798. São Paulo: HUCITEC; Salvador, UdUFba, 1996.
LYRA, Maria de Lourdes Viana. A utopia do poderoso império: Portugal e Brasil: bastidores da política, 1798 - 1822. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1994.
MATTOS, Florivaldo. A comunicação social na revolução dos Alfaiates. 2a. ed. Salvador: Assembléia Legislativa do Estado da Bahia; Academia de Letras da Bahia, 1998.
REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do Levante dos Malês (1835). 2 ed. Corr. E aumentada. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
REVISTA DA BAHIA. Bicentenário: Revolução dos Alfaiates. V.32, n. 27, novembro de 1998.
RUY, Affonso. Primeira revolução social brasileira: 1798. 2a. ed. São Paulo: CEN; Brasília, INL, 1978. [1a. ed. 1942]
SHOELCHER, Victor. Toussaint Louverture. Paris: Karthala, 1982. [1a. ed. 1889.]
TAVARES, Luís Henrique Dias. História da sedição intentada na Bahia em 1798: a conspiração dos alfaiates. São Paulo: Pioneira; Brasília, INL, 1975.
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É livre a reprodução para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída
A documentação conhecida sugere que o tenente Hermógenes Francisco de Aguilar Pantoja serviu como interlocutor entre os membros ilustrados e liberais das elites e os núcleos jacobinos das classes subalternas baianas. Nesse contexto geral, a difusão de manifestos pode até mesmo ter servido como tentativa, consciente ou inconsciente, de pôr fim ao imobilismo dos jacobinos abonados, eventualmente paralisados pelas questões postas pela abolição da ordem escravista. Como já foi dito, as elites coloniais interessavam-se pela liberdade de suas regiões mas opunham-se à liberdade dos cativos.
O descaso historiográfico com a conspiração baiana de 1798 não se deve ao fato de jamais ter passado aos atos. A chamada Inconfidência Mineira ruiu igualmente com um castelo de cartas e tem sido rememorado, sendo atualmente motivo de um feriado nacional. O silêncio construído em torno da chamada Conspiração dos Alfaiates deva-se ao seu radicalismo e ao seu caráter plebeu. O primeiro movimento, relativo sobretudo à capitania das Minas Gerais, assumiu dimensão histórica nacional, enquanto a Revolta dos Alfaiates prossegue sendo rememorada e vista sobretudo como sucesso baiano.
Mesmo que tenham participado da inconfidência homens de status social mais elevado, a hegemonia da conspiração encontrava-se, ao menos nos momentos finais, com os soldados, artífices e cativos pardos de Salvador. Tudo leva a crer que eles não recorreram a ninguém para redigir os manifestou ou convocar a reunião de 25 de agosto.
O fato da conspiração ser sobretudo obra de humildes trabalhadores de cor explicaria por que conseguiu – fato único na história do Brasil – incorporar ao movimento trabalhadores escravizados e propor o fim da escravatura, certamente sob a inspiração da decisão da Convenção francesa de abolir a instituição, nas colônias francesas, em 1794. Essa medida, jamais aplicada, foi anulada em 1802, por Napoleão Bonaparte.
A significativa participação de trabalhadores escravizados no movimento e a proposição da abolição da escravatura asseguravam ao movimento um caráter socialmente revolucionário, já que, na Bahia e no Brasil de então, o escravismo era a forma hegemônica de exploração do trabalho. A eventual vitória do movimento e consecução de seu programa anteciparia, ao menos na Bahia, em quase um século, a vigência de relações de trabalho livre.
A Conspiração dos Alfaiates pode ser aproximada à Conjuração dos Iguais, de Gracus Babeuf, desbaratada apenas dois anos antes, em 1796, na França. A primeira propôs, em uma sociedade escravista, o fim da discriminação racial e da instituição. A segunda assinalou o ingresso das classes trabalhadoras, em forma independente, na arena política e social, quando o capitalismo impunha-se, na França, como forma social de cominação. Uma analogia que ressalta, ainda mais, o grande paradoxo do movimento de 1798.
Uma grande questão posta pela Conspiração dos Alfaiates espera ainda ser elucidada. Isto é, as condições sui generis que permitiram, em 1798, na Bahia, que segmentos sociais subalternos articulassem um programa político, de conteúdo democrático e revolucionário, para toda a sociedade.
A repressão do movimento dos jacobinos baianos pôs como uma pedra lapidar sobre essa luta cidadã. Era como se ali fenecesse a proposta, chegada dos setores explorados, de uma sociedade democrática e igualitária. Apenas os abolicionistas mais extremados, um século mais tarde, esboçaram programa democrático igualmente tão amplo.
A agonia da Conspiração dos Alfaiates não significou o fim da agitação social. Ao contrário, a partir de 1807, a tensão entre os trabalhadores escravizados de Salvador aumentaria, com inusitado vigor, explodindo, periodicamente, para desembocar na grande revolta servil de 1835. Porém, apesar da violência da Revolta Malê de 1835, seu programa era claramente regressivo, em relação ao ideário anterior, já que os conspiradores proporiam, simplesmente, a morte dos brancos e dos pardos, o que restringia, inevitavelmente, a abrangência política do movimento.
Entre as maiores dificuldades para a articulação de um movimento social, durante a escravidão, encontravam-se as diferenças culturais, lingüísticas e sociais que separavam homens livres pobres, libertos, cativos crioulos e cativos africanos. Em 1798, os próprios jacobinos baianos estabeleceram, sobretudo, sua aliança com os cativos artífices. Esses cativos constituíam uma quase elite, se comparada à grande massa africana que trabalhava, sobretudo nos campos. Os jacobinos denunciados eram, sobretudo, pardos, havendo entre eles, como vimos, apenas um negro. Porém, há indícios que os conspiradores tinham ou pretendiam ter apoios entre os cativos de engenhos.
Talvez a grande debilidade da Conspiração dos Alfaiates tenha sido a falta de tempo ou de condições de concluírem movimento que esses homens livres pobres realizaram em direção das massas escravizadas, iniciativa jamais tentado, novamente, na história do Brasil. As razões da inexistência de movimentos políticos semelhantes posteriores constitui a segunda grande questão que se desprende da conspiração de 1798.
O Estado colonial impôs aos conspiradores castigo à altura da transgressão. Havia que reprimir, duramente, aqueles homens que, não suportando “em paz a diferença de condições e desigualdade de fortunas, de que se compõem a admirável obra da sociedade civil”, quiseram impor os “princípios anti-sociais de igualdade absoluta”, “sem distinção de cores e de estudos” – como lembra os autos do processo. Destaque-se que, 210 anos após a conspiração, seu programa, absolutamente atual, espera ainda ser materializado no Brasil.
Na Inconfidência Mineira, movimento de proprietários, escravistas, clérigos e intelectuais, apenas um conspirador, o mais humilde, foi executado. Na Bahia, conspiração de artífices, soldados e cativos, quatro de seus líderes padeceram em uma forca, levantada alguns palmos acima do habitual, para assinalar a gravidade do crime. Certamente os mesmos motivos explicam o silêncio relativo em que se mantém, ainda hoje, esses acontecimentos.
Bibliografia sumária:
“A Inconfidência da Bahia em 1798: Devassas e seqüestros”. ANAIS DA BIBLIOTECA NACIONAL, Rio de Janeiro, volumes 43-45, pp. 83-255; 3-421.
“Autos de devassa do levantamento e sedição intentados na Bahia em 1798”, ANAIS DO ARQUIVO PÚBLICO DA BAHIA, Salvador, Imprensa Oficial, vol. 35 e 36, janeiro/junho; julho/dezembro de 1959, pp.1-280; 281-634.
ARAÚJO, Ubiratan Castro de. et al. II Centenário da sedição de 1798 na Bahia. Salvador: Academia de Letras da Bahia, 1999.
Arquivo Público do Estado da Bahia. Autos da devassa da Conspiração dos Alfaiates. Ed. de Maria Helena O. Flexor. Salvador, Secretaria da Cultura e Turismo/ Arquivo Público do Estado, 1998. 2v
GISLER, Antoine. L’esclavage aux Antilles françaises. Paris: Karthala, 1981.
JAMES, C.L.R. I giacobini neri : la prima rivolta contro l’uomo bianco. Milano: Feltrinelli, 1968. [1a. ed. 1938]
JANCSÓ, István. Na Bahia, contra o Império: história do ensaio de sedição de 1798. São Paulo: HUCITEC; Salvador, UdUFba, 1996.
LYRA, Maria de Lourdes Viana. A utopia do poderoso império: Portugal e Brasil: bastidores da política, 1798 - 1822. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1994.
MATTOS, Florivaldo. A comunicação social na revolução dos Alfaiates. 2a. ed. Salvador: Assembléia Legislativa do Estado da Bahia; Academia de Letras da Bahia, 1998.
REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do Levante dos Malês (1835). 2 ed. Corr. E aumentada. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
REVISTA DA BAHIA. Bicentenário: Revolução dos Alfaiates. V.32, n. 27, novembro de 1998.
RUY, Affonso. Primeira revolução social brasileira: 1798. 2a. ed. São Paulo: CEN; Brasília, INL, 1978. [1a. ed. 1942]
SHOELCHER, Victor. Toussaint Louverture. Paris: Karthala, 1982. [1a. ed. 1889.]
TAVARES, Luís Henrique Dias. História da sedição intentada na Bahia em 1798: a conspiração dos alfaiates. São Paulo: Pioneira; Brasília, INL, 1975.
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É livre a reprodução para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída
Estudo do economista Márcio Pochmann analisa estratégia das transnacionais para reduzir custos e aumentar os lucros; países periféricos vivem a contradição da geração de empregos terceirizados, mas com baixos salários em relação aos países de origem das empresas
>> Brasil: baixa remuneração e longas jornadas
http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/um-panorama-do-trabalho-terceirizado
http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/um-panorama-do-trabalho-terceirizado
Depois de entregar a presidência cubana ao irmão Raúl Castro, as relações internacionais com a ilha de Fidel e os norte-americanos podem mudar, sobretudo se os democratas vencerem as eleições de novembro nos EUA, diz a professora de Relações Internacionais da Uerj, Mônica Lessa. "Os ajustes serão percebidos daqui a algum tempo. Talvez após a morte do Fidel", afirma. Leia mais
Fidel Castro: biografia a duas vozes, de Ignacio Ramonet.
Fidel Castro: biografia a duas vozes, de Ignacio Ramonet.
A mais longa entrevista dada por Fidel Castro a um jornalista gerou uma biografia que apresenta a vida, as idéias, a versão pessoal e as reflexões sobre a contemporaneidade de um dos mais polêmicos líderes políticos dos últimos 50 anos.
Da Redação - Carta Maior
Da Redação - Carta Maior
“O volume de informações contidas nesta obra faz com que Fidel Castro: biografia a duas vozes deixe de ser apenas um livro que se lê numa sentada para se converter em uma referência permanente para quem quiser entender melhor a história desse homem, Fidel Castro, e de sua Revolução Cubana. Este é, sem dúvida, um livro indispensável.”(Fernando Morais)
Às vesperas do aniversário de 80 anos do líder cubano Fidel Castro, enquanto o mundo especula sobre a notícia de seu longo afastamento que, pela primeira vez em 47 anos, deixa seu irmão Raul na presidência do país, é lançada no Brasil a edição de uma de suas mais completas biografias, assinada pelo jornalista Ignacio Ramonet.
Poucas pessoas podem, em vida, saber-se parte da história. Mais rara ainda é a chance de um personagem histórico refletir sobre sua trajetória política de mais de meio século e projetar suas idéias para o futuro, às vésperas de completar 8 décadas de vida. Fidel Castro: biografia a duas vozes, do jornalista franco-espanhol Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique, é o resultado de cem horas de entrevista com Fidel Castro, a mais longa já concedida por ele a um jornalista. Um livro fundamental para conhecer a vida, as idéias e a versão pessoal de um dos mais polêmicos líderes políticos dos últimos 50 anos.
Um dos derradeiros sobreviventes da geração de revolucionários do pós-guerra, Fidel Castro resistiu em Cuba à oposição ferrenha de dez presidentes norte-americanos (Eisenhower, Kennedy, Johnson, Nixon, Ford, Carter, Reagan, Bush pai, Clinton e Bush filho).
Fidel conta sua trajetória desde sua educação jesuíta de filho de latifundiário até sua transformação em guerrilheiro. A tentativa de tomada do quartel Moncada, quando é preso e exilado de Cuba, o encontro com Che Guevara no México e a longa relação entre os dois, os anos de combate na guerrilha e o início da revolução.
Fidel também se defende das polêmicas sobre perseguição a dissidentes e homossexuais em Cuba, a imigração de cubanos para os Estados Unidos, a existência da pena de morte na ilha, a questão da sua sucessão e o futuro da revolução.
Bastidores de momentos importantes da história são contados do ponto de vista do dirigente cubano, como a crise de outubro de 1962 entre a União Soviética e os Estados Unidos, a chamada “crise dos mísseis” em torno de foguetes soviéticos na ilha, o ponto em que o mundo chegou mais próximo de uma guerra nuclear. A participação de Cuba na luta pela independência dos países africanos e a sobrevivência à derrocada do bloco soviético também são analisadas.
No livro, Fidel também comenta a situação política contemporânea. Globalização, José Maria Aznar, Tony Blair, George W. Bush e a guerra do Iraque, terrorismo, meio ambiente, a proposta da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), e os movimentos e governos de esquerda e centro-esquerda da América Latina, como Hugo Chávez na Venezuela, os zapatistas em Chiapas, Evo Morales na Bolívia, Néstor Kirchner na Argentina e Lula no Brasil.
Com apresentação de Fernando Morais, tradução e texto de orelha de Emir Sader, fotos inéditas que cobrem os principais momentos da vida do dirigente, uma cronologia e um excelente índice remissivo, Fidel Castro: biografia a duas vozes torna-se obra obrigatória para conhecer o pensamento do principal protagonista da Revolução Cubana.
Ignacio Ramonet nasceu na Galícia, em 1943. É diretor, em Paris, do Le Monde Diplomatique. Especialista em geopolítica e estratégia internacional, é professor de Teoria da Comunicação na Universidade Denis Diderot de Paris. Ramonet é doutor em Semiologia e História da Cultura pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, onde foi aluno de Roland Barthes. É um dos fundadores da Attac e membro do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial.
Fidel Castro: biografia a duas vozes
Título original: Fidel Castro: biografia a dos voces
Ignacio Ramonet - Tradução: Emir Sader - Prefácio: Fernando Morais
Páginas: 624 Editora: Boitempo
INTERNACIONAL
1. KENNETH MAXWELL
Riscos ignorados
FOI MAIS UMA boa terça-feira para Barack Obama, e uma semana muito ruim para Hillary Clinton. O senador Obama venceu com facilidade as primárias nos Estados de Virgínia e Maryland, bem como no Distrito de Colúmbia, e agora passou à frente na disputa pela indicação democrata. Contrariando as chances históricas, um norte-americano negro se tornou um dos principais candidatos à Presidência dos Estados Unidos. O senador Obama baseou toda a sua campanha em uma suposição básica e consistente. Em suas palavras, "acredito que os Estados Unidos estejam prontos". Ou seja, prontos para eleger um presidente negro. Mas será que estão de fato? Existe uma preocupação quanto a Obama que não vem sendo discutida. Ou pelo menos não vinha sendo discutida até que Doris Lessing, 88, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura do ano passado, a expressasse em voz alta: "Ele provavelmente não duraria muito, um homem negro na posição de presidente. Eles o assassinariam", ela declarou em entrevista a um jornal sueco. Muitos afro-americanos compartilham dessa preocupação.
O que está em questão quanto a isso é menos a história racial dos Estados Unidos do que a história de violência política e a onipresença das armas de fogo no país. Desde 1865, houve nove assassinatos ou tentativas de assassinato contra presidentes norte-americanos. Quatro delas obtiveram sucesso: contra os presidentes Lincoln, Garfield, McKinley e Kennedy. As cinco tentativas mal-sucedidas tiveram por alvo os presidentes Theodore Roosevelt, Franklin Roosevelt, Truman, Ford e Reagan.
Entre os líderes negros atacados, Martin Luther King e Malcolm X foram assassinados, e Vernon Jordan sobreviveu. Tentativas de assassinato durante campanhas presidenciais causaram a morte de Robert Kennedy e ferimentos graves a George Wallace, que sobreviveu, paraplégico.
O verdadeiro perigo de todos esses casos, porém, nunca foi uma conspiração; não estava na ameaça representada pelo "eles" indefinido, contra os quais Lessing alerta, e sim em um assassino isolado e obsessivo, que é quase impossível identificar com antecedência ou deter no momento em que decide atacar. A triste verdade é que conspirações são mais fáceis de detectar do que a ação de um atirador solitário decidido a conquistar um lugar na história. Os Estados Unidos produziram e continuam a produzir muitos indivíduos perturbados desse tipo. Por isso Doris Lessing tinha razão ao dizer o que disse.
Ninguém que conhece os Estados Unidos deveria subestimar o risco.
A violência no Timor Leste atingiu seu presidente, Ramos Horta, Nobel da Paz de 1996, e o o mítico líder da resistência armada contra Jacarta, José Alexandre "Xanana" Gusmão, atual primeiro-ministro. Forças da ONU são criticadas por sua atuação no atentado. > LEIA MAIS
3. Kossovo: 15 tópicos para entender a tragédia que se inicia
A independência do Kossovo quebra todos os paradigmas da política internacional até hoje. É uma bomba que vai explodir em vários outros países em pouco tempo, reacendendo a tensão nacionalista ou étnica em várias nações do mundo.
A independência do Kossovo quebra todos os paradigmas da política internacional até hoje. É uma bomba que vai explodir em vários outros países em pouco tempo, reacendendo a tensão nacionalista ou étnica em várias nações do mundo.
Falando em bom português, trata-se da maior bobagem da diplomacia internacional em muitas décadas e nela há uma impressão digital muito forte do microcéfalo George W. Bush. Numa viagem recente aos Bálcãs ele incentivou o movimento autonomista do Kossovo tendo como aparente motivação a fé no discurso pró-americano de seus militantes. Um engano como crer em uma nota de dois dólares impressa em Prístina (a capital do Kossovo).
O que acontece: pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria, em 1991, as potências e os organismos internacionais (como ONU e União Européia, etc) deixam um país existente, com fronteiras reconhecidas internacionalmente (no caso, a Sérvia) se fragmentar, deixam um pedaço de país inexistente até então romper os laços com o resto da nação e se tornar independente.
Isso pode despertar imediatamente uma série de "monstros"nacionalistas, étnicos. Não há mais razão para os curdos da Turquia não quererem ser independentes (e em seguida se juntarem aos do Iraque); não há razão para os núbios não quererem se separar do Sudão; não há razão para os sérvios da Bósnia ficarem sob o governo dessa ex-república (para em seguida se juntar à Sérvia mesmo). E os japoneses das ilhas Kirilas, porque têm que ser parte da Rússia? São centenas de casos desse tipo em todo o mundo.
Para entender esse imbróglio do Kossovo, convém olhar o mapa. Sugiro ir ao Google Maps, digitar "Kosovo" na janela de busca e levar a lupa no canto superior esquerdo até a posição de 200km/100 mi (essa proporção você vai conferindo no canto inferior esquerdo). Desse jeito você terá a Europa do Leste na sua tela, com os Bálcãs em destaque.
Vamos a algumas informações listadas de forma não linear:
1) Kossovo se pronuncia "Kôssovo" e se escreve em inglês "Kosovo".Como a imprensa brasileira vive de despachos das agências internacionais, o nome da província vem sendo grafado com um S só, o que não se justifica por nenhum manual de padrão para aportuguesamento.
2) O Kossovo é uma província da Sérvia, que por sua vez é uma ex-república iugoslava. Seu caso não é, portanto, como o de Eslovênia, Croácia ou Bósnia, que eram repúblicas dentro da Federação Iugoslava fundada em 1945 e se tornaram independentes em entre 1991 e 1992;
3) Kossovo, Sérvia, Albânia, Hungria, Romênia, Bulgária, Montenegro, Macedônia, Grécia e o pedacinho europeu da Turquia forma a península dos Bálcãs, no sudeste da Europa. A população dos Bálcãs é formada por centenas de povos diferentes, todas misturados em um mosaico de etnias e nações muito complicado, com muitos reivindicando direito a nações independentes. Essa confusão fez com que no começo do século 20 a expressão "balkan", em francês, quisesse dizer confusão, briga de cortiço, "um barraco"; pela mesma razão, "Macedônia" é o antigo nome da salada de frutas em várias línguas européias.
4) No território da atual província do Kossovo nasceu, centenas de anos atrás, o reino dos Sérvios. Era um reino medieval que durante a decadência do império Romano do Oriente (ou Bizantino) chegou a se constituir como uma referência regional. Os sérvios são eslavos (vieram da Ásia no começo da era cristã, como os russos, os croatas, os tchecos, os eslovacos, os eslovênios e os macedônios atuais). O reino dos sérvios tinha a religião cristã ortodoxa, bizantina, e vivia seu apogeu medieval no século 14, quando a região foi invadida pelos turcos-otomanos, povo vindo da Ásia que adotou a religião muçulmana.Os turcos conquistaram os Bálcãs ao longo do século 14 e a sua grande capital, Constantinopla, em 1453. O reino dos sérvios foi derrotado em uma grande batalha em 1389 (pouco mais de 600 anos atrás) e a maioria dos sérvios fugiu da região nos anos seguintes, migrando para reinos ao norte, dominados pelas potências cristãs, concentrando-se em território de população croata (mesma origem eslava, mesma língua, mesmo tudo, mas religião cristã católica romana), em áreas chamadas Krajina, Eslavônia e em torno da cidade de Belgrado, nas margens do Danúbio, que ficou sendo sua capital. Com isso, os sérvios passaram a ser dominantes ao norte do Kossovo, mas mantêm com sua terra de origem uma relação como a que os judeus têm com Jerusalém: ali estão os marcos históricos de seu povo e de sua religião;
5) com a migração de sérvios para o norte, o principal área de população sérvia passou a ser em torno de Belgrado e na região litorânea entre a Albânia e a Bósnia, numa região chamada em sérvio Monte Negro. Na segunda metade do século 19, quando a Europa assistia a decadência veloz do Império Otomano, essas duas áreas geraram os primeiros países ao mesmo tempo independentes dos turcos e da grande potência européia a rivalizar com eles, o Império Austro-Húngaro.Nasciam assim, mais ou menos ao mesmo tempo, a Sérvia, Montenegro e o nacionalismo eslavo, fruto da convicção de que era possível conseguir formar nações independentes das grandes potências.
6) A partir da Idade Média, aquela mesma diáspora sérvia deixou no Kossovo uma grande população albanesa. Ao longo da segunda metade do século 20, já sob domínio da Sérvia, parte da Iugoslávia, a população sérvia foi se retirando paulatinamente. Ao mesmo tempo, tanto por ter uma fertilidade maior quanto por migrações de albaneses que deixavam a Albânia (com seu regime super-estalinista e paupérrimo), a população albanesa foi aumentando a sua participação. Nos anos 1960, eram 20% de sérvios contra 80% de albaneses; nos anos 1990 eram 10% a 90%; hoje são 5% de sérvios, majoritariamente velhos e concentrados junto à divisa com a Sérvia.
7) Junto com os bascos, do norte da Espanha e sul da França, os albaneses são o povo mais antigo da Europa, descendente dos antigos Ilírios. Eles estavam ali demarcando a fronteira norte do território grego, ao tempo de Homero, Atenas e Esparta; assistiram de suas montanhas a chegada dos eslavos vindos do Norte nos primeiros séculos da Era Cristã; testemunharam a chegada dos turcos ao longo da Idade Média e durante o domínio destes sua população se converteu majoritariamente ao Islamismo. Quando se fala dos bósnios muçulmanos, trata-se de uma distinção religiosa (uma população eslava de sérvios e croatas, que se converteu ao islamismo); já os albaneses são um grupo étnico predominantemente muçulmano.
8) Em 1912, a Albânia foi uma das últimas nações balcânicas a se tornar independente da Turquia. Suas fronteiras deixaram para fora populações albanesas em Montenegro, na Sérvia (em Kossovo e numa área chamada de Presevo) e numa área disputada por sérvios, búlgaros e gregos, que viria a se chamar Macedônia (a disputa é tão grande que até o nome é disputado pela Grécia). Desde então, a questão albanesa é um fator de instabilidade microrregional em todos esses países.
9) Ao longo dos anos 1980 e início dos 90, os albaneses do Kossovo moveram uma grande campanha pela independência e todos os analistas diziam que por ali começaria a fragmentação da Iugoslávia. Entre 1989 e 1991, logo depois de tensas comemorações dos 600 anos da Batalha do Kossovo (em que os sérvios lembram sua derrota), o governo sérvio diminuiu a autonomia institucional da província. Isso aumentou a tensão e a agitação dos movimentos autonomistas. Mas quando começaram as guerras civis na Eslovênia, na Croácia (em 1991) e na Bósnia (em 1992), os kossovares ficaram contidos, assistiram as sucessivas derrotas dos sérvios.
10) A partir dos acordos de Daytona, que puseram fim à guerra da Bósnia, os sérvios se voltaram para o Kossovo como o próximo risco. Os albaneses de Kossovo surfavam sobre a fraqueza internacional e militar dos sérvios. Em 1999, diante dos sinais claros que perdiam o controle sobre o território, o governo da Sérvia decidiu intervir de forma mais agressiva em sua província. Não aumentou o controle e chamou contra si a comunidade internacional. O resultado foi que a pequena Sérvia foi atacada pela maior coligação militar do mundo, a OTAN. Foi uma surra que só não foi rapidíssima porque a OTAN (liderada pelos EUA) não quis pôr seus soldados no chão em confronto direto com os sérvios, preferindo bombardear durante três meses os pontos de resistência do Estado sérvio (então governado pelo ex-comunista Slobodan Milosevic, de triste memória). Desde então, o Kossovo é administrado pela ONU, embora formalmente parte da Sérvia.
11) Os albaneses de Kossovo querem a independência da Sérvia para em seguida se unir à Albânia. Como, será decidido após à declaração de independência, ao longo dos próximos meses ou anos. Mas não deve demorar muito, como não demorou a unificação alemã, quando caiu o regime comunista na Alemanha Oriental, em 1989.
12) Logo depois da chamada Guerra do Kossovo, entre 1999 e 2000, movimentos separatistas dos albaneses da Macedônia iniciaram uma agitação armada, tentando se beneficiar de um "efeito dominó". Mas em seu caso, a Europa apoiou a repressão imediata pelo governo (predominantemente eslavo) instalado na capital, Skopie. Essa história vai se repetir a partir de agora, devolvendo à Macedônia a tensão que fez com que o jornalista John Reed (autor do clássico sobre a Revolução Soviética de 1917, "Os Dez Dias que Abalaram o Mundo") escrevesse em 1916 que "a questão da Macedônia tem sido a causa de toda guerra importante na Europa pelos últimos 50 anos, e até ela ser resolvida não haverá paz nem nos Bálcãs nem fora deles. A Macedônia é a mais apavorante mistura de raças jamais imaginada. Albaneses, sérvios, romenos, gregos e búlgaros vivem ali, lado a lado, sem se misturar e têm vivido assim desde os dias de São Paulo".
13) A história não se repete, dizia Hegel; uma vez ela ocorre como tragédia e outra como farsa, acrescentou Marx. No caso dos acontecimentos mais recentes nos Bálcãs, estamos assistindo a um neo-marxismo: as farsas estão se repetindo como prenúncio de tragédias. Certamente a primeira farsa foi a própria guerra do Kossovo, em 1999 (um simulacro de Guerra da Bósnia, preparado para que os Estados Unidos fizessem o que se arrependiam de não ter feito antes, a intervenção para satisfazer à sua população chocada pela violência de europeus contra europeus mostrada na mídia); a segunda farsa é a independência do Kossovo (simulacro da independência de Eslovênia e Croácia); a terceira farsa será a união com a Albânia (simulacro de unificação alemã) e a constituição de uma grande potência regional muçulmana dentro da Europa cristã. A tragédia então será a tentativa de impor um processo semelhante com os albaneses da Macedônia.
14) O século 20 começou marcado pela violência étnica nos Bálcãs (estopim da Primeira Guerra Mundial; acabou sob a violência étnica nos Bálcãs (com as guerras civis sucessivas). O século 21 tem no seu começo essa sombra. A inabilidade da política externa dos EUA e da União Européia vai deixar o risco se tornar realidade.
15) Provavelmente a única chance dessa profecia não se realizar é uma reversão na tendência atual, que só é possível com uma intervenção clara da União Européia que, em vez de deixar o nacionalismo se impor na forma de diversas nações inviáveis imponha um poderoso desenvolvimento regional com grandes linhas de crédito (mais ou menos como vem sendo realizado na Alemanha Oriental), para integrar pelo bolso o que o nacionalismo pode desintegrar pela demência.
* Leão Serva é jornalista, autor de "A batalhe de Sarajevo" (1994) e "Jornalismo e Desinformação" (Senac/2001).
* Leão Serva é jornalista, autor de "A batalhe de Sarajevo" (1994) e "Jornalismo e Desinformação" (Senac/2001).
· Entenda a independência e suas conseqüências
· As datas mais importantes do Kosovo até sua independência
· Depois de Kosovo, Abkházia e Ossétia do Sul pedem sua independência
4. Alguns artigos muito importantes da edição de fevereiro do Le Monde Diplomatique
a) VIAGENS INSÓLITAS
No crepúsculo da Era Bush, centenas de neo-conservadores norte-americanos embarcam num cruzeiro marítimo, durante o qual comemoram o "sucesso notável" dos EUA no Iraque, a "inexistência" do aquecimento global e o "risco iminente" de dominação muçulmana sobre a Europa. Nosso repórter estava com eles (Por Johann Har)
b) FUNDAMENTALISMOS
Os combates entre o exército e a Fatah Al Islam, que terminaram com dezenas de mortes, revelam que a rede de Bin Laden chegou à antiga "Suíça do Oriente Médio". Seria algo impossível sem a invasão do Iraque pelos EUA e a guerra perdida de Israel, em 2006 (Por Fidaa Itani)
c) ORIENTE MÉDIO
c) ORIENTE MÉDIO
Num país onde o Estado laico é um blefe, e serve acima de tudo como argumento das elites em favor de seus próprios interesses, surge a proposta de nova Constituição. Mas que forças sociais poderão lutar em favor dela e garantir que seja de fato democrática? (Por Niels Kadritzke
5. Timor-Leste
Uma semana antes do atentado contra sua vida, o presidente do Timor Leste, José Ramos-Horta, esteve no Brasil e concedeu entrevista ao Brasil de Fato.
Flávio Aguiar - Carta Maior
Acabo de assistir (13/02/08) uma das apresentações do filme “Mutum”, baseado na novela “Campos gerais”, de Guimarães Rosa, com direção de Sandra Kogut, roteiro de Ana Luiza Costa, apresentando o menino Thiago da Silva Mariz como protagonista e o ator João Miguel no difícil papel do pai do menino.
Essa novela de Guimarães é narrada, ainda que em terceira pessoa, do ponto de vista do menino que cresce e vai discernindo, confusamente, imprecisamente, e de modo incompleto, pois assim tratam-se as crianças, a complexidade do mundo para onde ele vai, que é o dos adultos.
“Mutum” vem de mudez; designa um lugar, e também uma condição. É a condição da infância, calada pela rudeza bruta do pai nos confins dos sertões brasileiros. É a condição do próprio pai, tomado de ciúmes diante da mulher e do irmão, de quem suspeita ter um caso com a mulher. É a condição de todos, que calam os dramas na tentativa de evita-los, quando na realidade eles terminam por explodir em conflitos irremediáveis e trágicos. É também a condição de Felipe (no filme), irmão de Tiago (no filme), cuja grande mágoa é a de que o papagaio da família aprendeu o nome deste, e não o seu. Premonição: Felipe morre depois que um corte no seu pé infecciona e ele tem uma septicemia. Naquele sertão, tudo chega tarde.
Tiago, o personagem, tem fama de calado, de esquivo, de evitar a conversa. Na verdade, ao fim se descobre, Tiago precisa de óculos. Ele vai para a cidade, na companhia do “doutor”: ganhará óculos, irá para a escola, aprenderá a ler, quem sabe conhecerá o mar. Metáfora do Brasil, no pós-Segunda Guerra? É possível, nas mãos de Rosa, que, apesar dos seus arcaísmos de estilo, acreditava em neologismos e modernidades.
O filme de Sandra Kogut teve merecida consagração neste Festival de Berlim, a 58a. edição da Berlinale, como ele se chama. Também, é verdade, como vêm tendo até o momento os demais filmes latino-americanos, inclusive os brasileiros. Já escrevi sobre o mexicano “Lãs fronteras infinitas”, de Juan Manuel Sepúlveda, e do argentino “Café de los Maestros”, de Miguel Kohan, e ainda escreverei pelo menos pela recepção, também muito positiva, de “Tropa de Elite”, de José Pdilha, e de suas polêmicas e das contradições que levantou.
A apresentação de “Mutum” a que assisti foi no Palast Zoo, um dos principais e dos tantos cinemas de Berlim. Essa apresentação, como o relato que tive de outras, mostrou-me uma dimensão do que seja investimento em cinema. Quando se fala nisso, se pensa em financiamentos, verbas, retornos e patrocínios. Mas há mais, bem mais.
A sala estava cheia. Cheia sim... de escolares, de meninos e meninos de nove anos até 14, ou algo assim. E foi um sucesso. O filme tinha legendas em inglês. Mas ao mesmo tempo em que os personagens vão falando, uma locutora traduzia ao vivo as falas. É claro que numa sessão destas há alguma agitação e corre-corre. Mas a atenção geral foi excelente, comprovada pelas perguntas, algumas muito precisas. Além das condições de vida do menino Thiago dentro e fora do filme, o tema mais explorado nas perguntas foi o das mortes que ocorrem no filme, que, como a narrativa de Rosa, tem algo de melancólico, ampliado pela fotografia magnífica.
Já há muitos anos a Berlinale tem duas seções inteiras dedicadas aos jovens e à sua formação. Há inclusive um júri de jovens, selecionado ao longo do tempo, através de inscrições primeiro, depois discussões de como avaliar um filme.
Berlim tem uma tradição cinematográfica e cinéfila de longa data. Não poucos diretores e artistas, como Fritz Lang e Marlene Dietrich, fugiram da Alemanha nazista. É verdade que outros se deixaram cooptar por ele ou a ele aderiram de coração, como foi o caso de Leni Riefensthal. Depois da Segunda Guerra o cinema serviu de ponte numa Berlim trucidada e dividida, além de ocupada.
Através da Berlinale e de outras iniciativas, Berlim é uma cidade que tem preservado seus cinemas e o gosto de ir ao cinema, apoiado num transporte público que, se é relativamente caro (para o restante da Europa ocidental, barato), é eficiente. E através desse verdadeiro “patrocínio” do alcance da juventude a um convívio qualificado com o cinema, investe no futuro de modo inteligente.
Isso é investimento. O resto é cifrão e vontade política.
1. Nas bancas a Revista Fórum, com um dossiê sobre Augusto Boal e artigos sobre o Quênia, as Farc, a Mangueira, o Fórum Social Mundial, entre outros.
SITES E BLOGUES
1. Pensar a educação, pensar o Brasil
Os programas giram em torno do tema educação e têm duração aproximada de 120 minutos. São compostos de dois momentos: uma entrevista e duas sessões, "Educação e Mídia" (uma reflexão sobre como a mídia tem pautado a educação) e "Educação e Cultura" (uma proposição de vínculo entre alguma manifestação cultural ou algum projeto cultural e o tema da educação) que se alternam a cada semana.
Ele vai ao ar sempre às segundas, e é um programa feito ao vivo para permitir a participação dos ouvintes, que pode ocorrer de 3 maneiras:
.pelo telefone 3409.5531
1. Pensar a educação, pensar o Brasil
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.pelo telefone 3409.5531
.pelo e-mail pensar@ufmg.br
.pelo MSN pensaredu@hotmail.com
Programas anteriores podem ser ouvidos no site do projeto : www.fae.ufmg.br/pensareducacao
O Projeto tem acontecido desde o início de 2007 com a coordenação dos professores Luciano Mendes de Faria Filho da Faculdade de Educação e Tarcísio Mauro Vago da Faculdade de Educação Física, ambos da UFMG. Ele tem como principal objetivo criar um espaço democrático de debate sobre o ensino público no Brasil. Por isso, o programa de rádio é uma peça chave no projeto.
2. Professor Ricardo,
Eu sempro esqueço de te informar o blog que tenho com uns amigos da FFLCH da USP, sou a única mineira que posta, o restante é paulistano. Tem muita coisa que num deve ser lida, é mais uma diversão, mas de vez em quando aparecem alguns textos interessantes.
O Blog(girondajacobina.blogspot.com) funciona como uma república democrática, por isso todo mundo posta o que quer, há muitas provocações, mas entendendo o funcionamento, ele se torna interessante.
Ana Paula Melo
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Eu sempro esqueço de te informar o blog que tenho com uns amigos da FFLCH da USP, sou a única mineira que posta, o restante é paulistano. Tem muita coisa que num deve ser lida, é mais uma diversão, mas de vez em quando aparecem alguns textos interessantes.
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Ana Paula Melo
NOTICIAS
1. Margarete Cardoso encaminha:
XIX Encontro Regional de São Paulo
Poder, Exclusão e Violência
01 a 05 de setembro
Departamento de História FFLCH/USP
Cronograma
01 de fevereiro a 10 de março de 2008
Inscrições de propostas de Temas para os Seminários.
Inscrições de propostas de Mini-cursos.
14 de março
Reunião da Comissão Científica preliminar (Diretoria e Conselho) para avaliação das propostas de Seminários Temáticos e de Cursos.
17 de março
Divulgação dos Seminários Temáticos aprovados.
Divulgação dos cursos aprovados.
18 de março a 5 de maio
Inscrição de trabalhos para apresentação nos Seminários Temáticos
18 de março a 30 de junho
Inscrições prévias nos Minicursos.
5 a 23 de maio
Avaliação e seleção dos trabalhos inscritos nos Seminários Temáticos, feitas pelos coordenadores (com eventuais sugestões de remanejamentos ou junções).
23 a 28 de maio
Envio pelos coordenadores da programação de trabalhos nos Seminários Temáticos, por e-mail, para a secretaria da ANPUH-São Paulo, juntamente com sugestões de eventuais remanejamentos.
30 de maio
Reunião da Comissão Científica (Diretoria e coordenadores de Seminários Temáticos), para realizar eventuais remanejamentos e definir programação.
28 de maio a 3 de junho.
Encaminhamento das cartas de aceite dos trabalhos inscritos.
2 de junho a 1º de agosto
Inscrição de pôsteres
30 de junho
Data limite para entrega dos textos integrais, que não tiverem sido encaminhados no ato da inscrição, impressos e em disquete (até 12 laudas, word, times new roman 12, espaço simples, A4), para constar dos Anais eletrônicos do evento.
2 de junho até o início do Encontro.
Inscrição de participantes sem apresentação de trabalho.
Observações
· As inscrições nos cursos ficarão abertas até 01 de setembro.
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18 de março a 5 de maio
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2. A professora Julia Calvo envia:
O Instituto Histórico Israelita Mineiro convida para a exposição
"Os desenhos das crianças de Terezin"
Estes quadros retratam a dor, as mortes, o gueto, o cotidiano, os sonhos e a saudade do lar daqueles que estiveram no campo de concentração organizado pela Alemanha Nazista, na Tchecoslováquia.
Local: Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa
Endereço: Praça da Liberdade, 21 - Funcionários
Data: 20/fevereiro a 7/março de 2008
Abertura: 20 de fevereiro, 17 horas
Horário de visitação: de segunda a sexta, das 8h às 20h e sábado, das 8h às 13h
Entrada franca!!!
Informações: (31) 3226-7848
O Instituto Histórico Israelita Mineiro convida para a exposição
"Os desenhos das crianças de Terezin"
Estes quadros retratam a dor, as mortes, o gueto, o cotidiano, os sonhos e a saudade do lar daqueles que estiveram no campo de concentração organizado pela Alemanha Nazista, na Tchecoslováquia.
Local: Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa
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Data: 20/fevereiro a 7/março de 2008
Abertura: 20 de fevereiro, 17 horas
Horário de visitação: de segunda a sexta, das 8h às 20h e sábado, das 8h às 13h
Entrada franca!!!
Informações: (31) 3226-7848
3. Envio de artigos para a revista eletrônica do CEDAP
Patrimônio e Memória, Vol. 04
Data: Até 30 de abril de 2008
Dossiês: 1. Memória de Mulheres
2. Bens Imateriais em debate
Patrimônio e Memória, Vol. 04
Data: Até 30 de abril de 2008
Dossiês: 1. Memória de Mulheres
2. Bens Imateriais em debate
3. Organização de Acervos
Normas: http://www.cedap.assis.unesp.br/patrimonio_e_memoria/patrimonio_e_memoria_v3.n2/normas.html
Normas: http://www.cedap.assis.unesp.br/patrimonio_e_memoria/patrimonio_e_memoria_v3.n2/normas.html
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