Número 029 nova fase
8 de março: Dia Internacional da Mulher
Hoje é o Dia internacional da mulher. Em vez de ficar falando aquelas coisas melosas, é preferível refletirmos um pouco sobre a situação das mulheres no Brasil, ainda bastante precária. “N” problemas a resolver: discriminação, salários, dupla jornada, violência.... enfim, a lista é grande. Organizei um dossiê, que está no final deste boletim, com algum material da própria internet. Vejam lá!
Lamentavelmente indico uma reportagem da Carta Capital.. Lamentavelmente porque eu não gostei de ler, apesar de saber que as coisas na educação andam assim mesmo. Lamentavelmente porque os governos estaduais, municipais e o federal insistem tanto em que quase 100% das crianças estão na escola mas não explicam aos futuros professores o que é a escola que eles terão de enfrentar. Leiam e tirem suas conclusões.
Quem se dispuser a debater e a relatar casos parecidos, não deixe de enviar para rimofa@terra.com.br
O Boletim está aberto à discussão dessas questões.
Leia: NA TERRA DE MARLBORO
Uma luta diária pela educação e contra ameaças, agressões, discriminação... A realidade de uma escola pública da periferia relatada por uma professora
Por Sandra Santos
No verão, a pergunta mais freqüente é: será que vai dar praia? Ou seja, será que vai dar para descer ao litoral? O tempo permitirá usufruir as benesses da orla marítima? Haverá sol? As ondas estarão apropriadas?
A segunda-feira 13 de fevereiro, reinício das aulas na rede pública estadual paulista, suscita outros questionamentos entre os professores da periferia da capital: “Será que vai dar aula?” Tradução: será que os alunos estarão interessados? Permitirão que o docente abra a boca? Agredirão verbal ou fisicamente o incauto mestre ou o colega do lado? Se o docente tomar providências disciplinares, será acatado?
As aulas começam tensas. Os jovens têm o péssimo hábito de falar ao mesmo tempo que os professores. A euforia inicial do reencontro, após as férias, se transforma num permanente descontrole. Os alunos brigam dentro da sala de aula (inclusive com socos e pontapés) e se o mestre tenta tomar providências, a ameaça está na ponta da língua: “Tenho um ‘três-oitão’, lá em casa” – frase de uma aluna da 7ª série que, infelizmente, não é exceção. Mas o sistema e seus prepostos a obrigam a ficar na sala: professor bom é aquele que “segura” aluno na classe, não interessa a que custo, ensinando ou não...
O clima de laissez-faire faz vistas grossas e contorna situações inaceitáveis e, assim, permite que indivíduos e grupos dêem maus exemplos a outros que também entram na moda do laissez-passer... Todo ano é a mesma coisa e só tem piorado na última década. A “pedagogia do amor” tem ensinado aos professores a amar suas próprias carcaças e a não “criar caso”.
Uma professora, vamos chamá-la de Professora, retornou às atividades após afastamento de um ano para cumprir créditos no curso de doutorado. Logo no primeiro dia, problemas. A substituta, nervosa por ter perdido as aulas, recusou-se a devolver os diários de classe. O impasse só se resolveu quando Professora afirmou, em carta oficial protocolada na Unidade Escolar, que buscaria providências jurídicas. Entre seus pares, Professora foi hostilizada como uma “usurpadora”, uma “criadora de casos” inconseqüente...
O PRÉDIO
A escola parece uma prisão. Dois portões trancados com cadeados separam os mortais da sala de tevê que é isolada do corredor por uma porta de ferro com três trancas. A tevê e o videocassete/DVD estão numa caixa também de ferro – mais dois cadeados a serem abertos.
Entre o corredor de salas e o saguão da diretoria, outra grade de ferro que permanece, também, fechada com cadeado... Em caso de emergência (piriri, remédio ou fuga) espera-se alguém para abrir. São tantas chaves que a “tia” encarregada perde preciosos minutos tentando descobrir qual é a verdadeira. Xerox? Não tem. Retroprojetor? Também não. Aparelho de som? Sucateado.
No início da tarde o lixo está acumulado. As moças da limpeza nem sempre conseguem varrer todas as salas de aula. Isso aumenta a insatisfação de docentes e discentes e contribui para o descumprimento de acordos entre os que querem, ou deveriam querer, aprender e os que gostam, ou deveriam gostar, de ensinar.
DISCRIMINAÇÃO
Um aluno negro (8ª série) xinga uma colega também negra (como 80% dos estudantes) de macaca. Professora, que também é negra, tenta argumentar e também é discriminada. Resposta da coordenação: “Acho que eles (os alunos) nem sabem o que dizem, não têm noção; são muito mal-educados lá fora”. Não seria, então, o caso de alguém assumir o papel de educador e ensinar que essa prática é, além de moralmente inaceitável e historicamente incorreta, crime?
Meninos (7ª série) batem em um garoto com necessidades especiais (atraso intelectual) dentro da sala de aula. Professora entra, vê e adverte. Os alunos afirmam: ele é folgado “Prófi”... Resposta da coordenação: “Isso é normal. O menino que apanhou também xinga os outros”.
Educadores também cometem “deslizes”. De um docente na hora do cafezinho: “O filho adotivo do Marcello Antony é tão bem tratadinho que está ficando até mais branquinho...” (comentário a propósito do desfile da São Paulo Fashion Week, evento em que o ator global apareceu juntamente com seu filho adotivo, que é negro). Detalhe: o professor que disse isso é negro.
REAÇÕES
Quando a situação chega ao limite do suportável, o professor manda o indisciplinado à sala da coordenação. O aluno volta em cinco minutos “se achando o bom do pedaço”. As bedéis, senhorinhas da terceira idade, muitas vezes deixam de conduzi-los ao local solicitado. Elas também têm medo...
Não há como cobrar a lição, nem na sala de aula nem a tarefa de casa. Reações “normais”: “Se passar lição de casa vai ter, hem, professora! Vê lá, hem professora... Olha bem a nota que a senhora vai me dar... Senão...” Resposta provável do docente precavido: “Os Direitos Humanos garantem a possibilidade de ir e vir querido(a)... faça como quiser, não posso lhe obrigar, sou da paz... não se preocupe com a nota lindinho(a), o importante é ter consciência de que aprendeu”.
Alunos são promovidos, entre a 5ª e a 8ª séries, sem apresentar sequer uma linha de avaliações ou trabalhos. Eles sabem que não existe reprovação.
Numa reunião, Professora falou de sua insegurança e do medo de ser agredida fisicamente. Foi ridicularizada. Semanas depois, após uma vitória do Corinthians, um grupo de alunos da 8ª série comemorou tentando sufocar a docente com a bandeira do time... Ela escrevia na lousa quando um rapaz de 15 anos a cobriu com o pano e a puxou para trás tentando derrubá-la. Professora, que é hipertensa, exigiu providências que, então, foram tomadas: o aluno recebeu uma suspensão de dois dias. Não havia como negligenciar.
MEDO E “PREPARO
Depois do episódio, colegas solidários relataram fatos recentes. Uma docente afirmou (em off, porque ninguém quer se comprometer...) que sofreu assédio sexual em sala de aula. Um professor, portador de necessidades físicas especiais, foi alvo de piadas. Todos têm medo e vergonha de admitir. Mas não se sai ao corredor sem ouvir impropérios.
A coordenação da escola, por sua vez, tergiversa: “Isso é próprio da idade. É assim mesmo em todo lugar. Estamos vivendo em outros tempos, Professora... É preciso se atualizar para trabalhar com a nova geração, Professora”. Ou seja, o culpado é o idiota que não se atualizou. Talvez fazer cursos como “mil formas de responder a palavrões” ou “como se defender de ataques traiçoeiros pelas costas”.
Professora sou eu, Sandra Santos. Tomei distância no relato, pois é humilhante admitir diretamente que, após 15 anos de magistério, estou sujeita a essas situações. Não é ficção: tudo aconteceu numa escola estadual da zona leste paulistana. Em respeito aos seus trabalhadores, não dou o endereço.
Episódios semelhantes ocorrem diariamente em escolas periféricas de todo o País, mas muitos ignoram ou fingem, por conveniência, desconhecer esse quadro. O assédio moral contra os docentes do magistério público tornou-se quase uma regra. Os mais atacados são os que aparentam maior fragilidade. Os que entram em sala e dizem “bom dia...” e não saem sem um “obrigado pela atenção...” Fazer isso é sinal de fraqueza e não pega bem na “terra de Marlboro”, onde ganha quem saca primeiro.
Ouvi de uma professora, já aposentada: aluno deve ser tratado com “um no casco e outro na ferradura (sic)”. Mas nem todos nasceram caubóis. Cresce o número dos que procuram a psiquiatria do Hospital do Servidor Público. Jovens, ainda, são “readaptados” e encostados, com seus tristes tiques, em bibliotecas e secretarias. Dores de cabeça, de estômago, hipertensão... falta às aulas. Alguns interpretam como preguiça, mas é o organismo respondendo a toda essa (des)conjuntura.
Essa situação não afeta apenas alguns indivíduos ou uma categoria profissional: toda a sociedade paga por ela. A degradação da escola pública vem aumentando tanto a conta da Previdência Social quanto a desmoralização de uma nação incapaz de valorizar seus educadores e prover educação de qualidade a seus jovens.
Minha amiga e educadora Maria Teresa leu esta matéria e fez um comentário. Vamos a ele, e, pessoal, comente também
Pedagogia da sorte (ou da morte)
Maria Tereza Armonia
Veiculada pela revista Carta Capital uma matéria sobre o reinício das aulas neste ano letivo e as dúvidas que assolam os professores em mais um início da jornada anual e que vale a pena ser comentado.
Não ficamos surpresos com a matéria porque já vivenciamos na pele tudo o que é contado ali. Entretanto, não é possível ficar indiferente às conseqüências que advêm do estado de puro caos instalado nas escolas atualmente. Acreditamos não ser necessário ambientar esta temática porque vem acontecendo em todo o território nacional.
Desta forma, o relato da Professora vem, mais uma vez, lembrar a todos nós da grande aventura que se tornou trabalhar em escolas públicas: “As aulas começam tensas. Os jovens têm o péssimo hábito de falar ao mesmo tempo que os professores. A euforia inicial do reencontro, após as férias, se transforma num permanente descontrole. Os alunos brigam dentro da sala de aula (inclusive com socos e pontapés) e se o mestre tenta tomar providências, a ameaça está na ponta da língua: “Tenho um ‘três-oitão’, lá em casa” – frase de uma aluna da 7ª série que, infelizmente, não é exceção. Mas o sistema e seus prepostos a obrigam a ficar na sala: professor bom é aquele que “segura” aluno na classe, não interessa a que custo, ensinando ou não...”[1].
Só não viveu esta situação o professor que nunca pisou numa sala de aula de escola pública com adolescentes sem educação e sem limites. Na verdade, não precisa ser adolescente, basta ser aluno.
Em outro artigo, fazemos uma reflexão sobre os deveres de cada segmento social no que diz respeito à educação das crianças, “...Até há pouco tempo atrás, existia uma secção nas obrigações: à família era dada a obrigação de formar o sujeito moralmente; juntamente com a Igreja, formá-lo espiritualmente e à escola cabia a obrigação de transmitir o conhecimento universal sistematizado[2]” e concluimos que hoje todas as obrigações na formação das crianças foram delegadas à escola – a escola-babá, escola-enfermeira, escola-assistente-social, escola-depósito-das-crianças-sem-família, escola-casa-da-tia. Por extensão, o professor foi obrigado a assumir novas tarefas não previstas em qualquer que seja o curso de formação de professores.
Hoje, o que satisfaz a estes grotescos alunos são apenas os anti-valores da violência – o que confere poder na nossa sociedade, da absoluta falta de respeito com a autoridade[3] – a melhor defesa é o ataque, e o abuso e descaso com a figura do professor. Isto não aconteceu da noite para o dia, foi um processo que se desenvolveu gradativamente, ao longo da implantação das escolas-cidadãs que preconizam a não-reprovação e que tiraram do professor todos os mecanismos de controle. Faz parecer que estamos voltando ao estado de natureza, onde nenhum corpo legisla ou se impõe. Os alunos fazem uso da prerrogativa da não–reprovação para fazer o que bem entendem e façam o que fizerem ao final do ano são promovidos. Eles sabem que não existe reprovação. Não há punição para os seus atos.
Aliás, num país cuja impunidade transpira dos mais altos escalões, a escola teria mesmo de se adequar a esta situação.
Mas, e isto aqui é muito sério, se um professor foge às determinações das instâncias superiores, ele é punido com advertências e até com outras penas mais severas. No entanto, à parte este paradoxo, a maioria do professorado tem claro os seus limites e obrigações como sujeitos sociais, fundados em preceitos morais e éticos, o que não acontece com a massa do alunado. A inversão de valores é espantosa.
Sandra Santos, em seu artigo, exemplifica a situação de falta de limites: “Numa reunião, Professora falou de sua insegurança e do medo de ser agredida fisicamente. Foi ridicularizada. Semanas depois, após uma vitória do Corinthians, um grupo de alunos da 8ª série comemorou tentando sufocar a docente com a bandeira do time... Ela escrevia na lousa quando um rapaz de 15 anos a cobriu com o pano e a puxou para trás tentando derrubá-la. Professora, que é hipertensa, exigiu providências que, então, foram tomadas: o aluno recebeu uma suspensão de dois dias. Não havia como negligenciar”.
Por fim, a autora faz um esclarecimento impressionante: “Professora sou eu, Sandra Santos. Tomei distância no relato, pois é humilhante admitir diretamente que, após 15 anos de magistério, estou sujeita a essas situações. Não é ficção: tudo aconteceu numa escola estadual da zona leste paulistana. Em respeito aos seus trabalhadores, não dou o endereço”.
Sabemos que não é apenas nesta escola da zona leste paulistana que ocorrem fatos como o narrado pela Professora. Este relato abrange senão a totalidade das escolas públicas no Brasil, pelo menos a esmagadora maioria.
(Passo a usar a primeira pessoa do singular a partir deste ponto, porque diz respeito a mim, pessoa e não a mim, profissional).
Estou terminando um doutorado na área da educação. Um trabalho desenvolvido em função das[i] crianças de séries iniciais, com o objetivo de melhorar a qualidade do ensino que exercemos. Mas, a exemplo do que diz a Professora ao final de seu artigo, “Cresce o número dos que procuram a psiquiatria do Hospital do Servidor Público. Jovens, ainda, são “readaptados” e encostados, com seus tristes tiques, em bibliotecas e secretarias. Dores de cabeça, de estômago, hipertensão... falta às aulas. Alguns interpretam como preguiça, mas é o organismo respondendo a toda essa (des)conjuntura.”, tenho pânico em pensar na minha volta às salas de aula. É bem verdade que estou em licença médica por outros motivos, não provocados pela escola, mas nos períodos em que reassumo em desvio de função, na secretaria da escola, não posso sequer ver as crianças transitando pelo pátio da escola. Para ‘melhorar’ a minha situação, uma coordenadora do meu turno de trabalho repete insistentemente: “Você não dá mais conta de voltar à sala de aula, eles (as crianças, os alunos) estão cada vez piores”. E sou lotada numa escola de primeiro ciclo, cujos alunos têm de 6 a 8 anos.
Aqui vai uma reflexão pessoal: por que estudar tanto, buscar alternativas, novas metodologias, criar possibilidades de melhorar o ensino-aprendizagem? Todo o trabalho que tive, o tempo que investi, o conhecimento que adquiri foi voltado à escola pública, era para ser implantado neste segmento escolar, mas venho concluindo que não mais vale a pena. Estou pensando seriamente em abandonar a educação. Mesmo apaixonada por ela, mesmo sabendo que ela é um mecanismo que pode mudar as condições de vida e desigualdade em nosso país, mesmo conhecendo as tristes variáveis que fazem a vida dos sujeitos tratados neste artigo serem vilões das salas de aula, é forte o desejo de me aposentar em outro segmento profissional.
Viramos, nós professores, alvo de chacota e violência dos alunos. Neste momento, por absoluta falta de conhecimento, não tenho o que dizer para propor uma solução relativa a esta situação. Tenho apenas que lamentar que uma profissão tão importante em qualquer contexto de qualquer país, seja tão maltratada aqui no Brasil. A não ser que aconselhasse todos os professores a agir como uma professora aposentada, citada no artigo de Santos: “aluno deve ser tratado com “um no casco e outro na ferradura (sic)”.
[1] SANTOS, Sandra. “Na terra de Marlboro”. São Paulo: Revista Carta Capital, 08 de Março de 2006 - Ano XII - Número 383 http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirMateria&id_materia=4078
[1] ARMONIA, Maria Tereza. “A ‘fobia escolar’ do professor: culpa da instituição ou dos alunos sem formação moral?” Brasília/ 25 de fevereiro de 2006. http://www.jornalecos.net/armonia.htm
[1] Autoridade aqui não é usada no sentido de autoritarismo, mas da situação de hierarquia e ascendência moral a que a convivência social nos obriga.
Lamentavelmente também publico esta fotografia e notícia que saíram no Jornal do Brasil de domingo passado. Nem é preciso comentar. O texto, apesar de pequeno, dá a exata dimensão do problema da preservação do patrimônio histórico-cultural brasileiro. A falta de consciência é absurda, o descaso dos governos beira à insensatez. E os cidadãos, que poderiam e deveriam zelar por este patrimônio são os primeiros a destruí-lo, em nome do progresso e de interesses particulares mesquinhos.
Falam amigos e amigas
1. Repassando, se alguém se interessar:
Estamos precisando, com urgência, de professores de física, química, língua portuguesa, literatura e Língua estrangeira (inglês ou espanhol). Estamos com as atividades planejadas para início até 12 de março.As inscrições também estão abertas para formação da turma para 2006. Podem também se inscrever estudantes que estão concluindo o ensino médio (cursando 3º ano).
Os(as) interessadas devem nos procurar, podem entrar em contato por telefone ou via e-mail. A partir daí agendamos uma reunião para conversar com o(a) interessada.
A pessoa deverá disponibilizar à noite o tempo de 1 hora e meia para a aula, que acontece uma vez por semana, no horário das 19:00 às 22:30, o dia da aula será definido de acordo com a disponibilidade da pessoa. Em 2006 o Pré-Vestibular Alternativo Palmares funcionará na Rua Além Paraíba, 208 no Bairro Lagoinha (Próximo da Rodoviária e ao lado da Igreja Nossa Senhora da Conceição).
CONTATO: AGENTES DE PASTORAL NEGROS (APNs) RUA ALÉM PARAÍBA, 208 - B. LAGOINHA TEL: 3423-2187 E-mail: http://email.terra.com.br
Caso alguém se interesse e consiga, me dê um retorno.
Um Grande Abraço, Hercules P. Santos
2. Pois é, Ricardo... durante estes dias de carnaval, as notícias foram as mais sangrentas. Aquela história que eu sempre repito: aperte a tecla sap do seu televisor e veja pingar sangue na sua sala...
Ópio, o povo sempre terá, meu amigo... e se for necessário bancar, eles bancam, pelo simples fato de que enquanto estas ocasiões acontecem, o povo esquece das mazelas do país e, por outro lado, os políticos de merda têm uma folguinha para dar os presentes e planejar os futuros golpes. Lembre-se que a Copa do Mundo vem aí... este ano há uma diversidade de ópio para o povo... naturalmente, para dar um refresco da tristeza do dia-a-dia.
Muito bom o boletim.
Beijo.
Maria Tereza Armonia
3. Do Japão, Aline nos fala sobre a Coréia:
É possível um mundo sem carnaval?
Coisa estranha esta. Nunca pensaria nisto. Não que esta pergunta não tivesse resposta. Mas simplesmente pelo fato do carnaval ser algo singular para mim. Ele sempre resumia tudo. Explicava tudo. Por frações de segundos, e claro, mas aliviava. Era ele o esperado. O planejado. O vivido. O consentido e também o extrapolado. Depois tornava-se naquilo que seria motivo de vários encontros, sorrisos, doces lembranças e também remorsos. Tudo isto estava dentro do que se resumia no Carnaval. Tudo se permitia. mas, um mundo sem Carnaval? Que pesadelo deveria ser! Imaginar? Nem quero! Quero é escolher rápido meu abadá, meu bloco, torcer por minha escola de samba. Beijar ate perder o fôlego. Simplesmente para poder recomeçar de novo. O problema é que existe. O tal mundo existe sim. Estive lá. Senti o cheiro. Experimentei do sabor. O lugar chama-se DMZ (Zona de Desmilitarização) Esta entre as duas Coréias. E para deixa-los um pouco mais felizes, é Coréia com C. E que fiquem os japoneses pra lá. O fato de não haver a silaba CO no alfabeto japonês, durante uma das invasões nipônicas os japoneses alteraram a grafia do país para Korea com K. ( Isso foi o mais caridoso que os japoneses fizeram em solo coreano) Que sorriso bonito foi aquele!! O coreano, ao ver minha escrita, perguntou-me: - No Brasil é assim que se escreve o nome do meu país? Com C? E lá veio esta historia! E lá veio muita historia. Claro que perguntou-me se o nome do Cafu também era com C. ( Ah! Cafu!!) Contou-me um pouco de tudo. Falou-me um pouco sobre as guerras que a Coréia enfrentou. Depois, sobre as guerras que as Coréias enfrentaram. A divisão está lá. A corda que separa o povo do trio é bem maior.. e bem mais extensa. Não estão separados apenas (?) pela classe social. Estão separados pela historia, pela decisão de poucos. Nisso, temos a mesma historia. Os sul-coreanos são considerados os latinos da Ásia. São alegres. Andam abraçados. As crianças param e brincam com você na rua. Os pais beijam e abraçam seus filhos.. Acontece que, ao falarem sobre os norte-coreanos têm o mesmo carinho. São fraternos sem demonstrarem piedade. Sentem saudades de familiares que ha muito não têm noticias. Que fantasia é esta, Meu Deus? Que carnaval e este? Onde esta o ódio que não existe? Ate quando os cartolas deste Carnaval insano permanecerão desfilando e a gente aplaudindo?
Queridos, foi apenas um desabafo!
Obrigada!
Aline
4. Prezado Ricardo:
Não pude me fazer presente no lançamento do livro História de Minas Gerais, de sua autoria e de Helena Guimarães Campos.
Agradeço a gentileza do convite e felicito-os pela iniciativa.
Fraternal abraço.
Deputado ANTÔNIO JÚLIO
5. Pai, mando o endereço de um blog, que fez um manifesto em 2001, e mesmo assim é super atual... recomendo a leitura a todos.....Pablo
http://madhaus.utcs.utoronto.ca/~bedinelli/arquivo/manifesto.html
Este artigo foi escrito por um casal de brasileiros que se mudou para o Canadá. Eles respondem a um que rodou a internet no ano passado, em que alguém comparava o Brasil e a Holanda, para dizer no final que o Brasil era muito melhor. Nunca soube quem era o autor deste texto, apesar de ter recebido umas vinte cópias dele. Aqui, uma resposta interessante.
Internacional
1. José Luís Fiori
Socialismo macroeconômico
Surpreende muito que o aumento da desigualdade da riqueza entre as nações, as classes sociais e os indivíduos, nas últimas décadas do século XX, não tenha trazido de volta os temas da agenda clássica dos socialistas, centrada na questão da igualdade social. Trata-se de uma notável perda de rumo e de identidade. (leia mais)
2. Boaventura de Sousa Santos
As escalas do despotismo
O sem-teto brasileiro Gisberto, de 45 anos, foi recentemente apedrejado e espancado até à morte em Portugal. Em comum entre este caso de violência gratuita e as caricaturas dinamarquesas, existe a mesma incapacidade de reconhecer o outro como igual. (leia mais)
Brasil
Descobri esta semana um blog bastante interessante, do jornalista Josias de Souza, da Folha de São Paulo. Recomendo que leiam as seguintes postagens:
4/03/2006 - O empresário Marcos Valério decidiu acionar judicialmente o PSDB e o PFL. Vai cobrar os R$ 10,5 milhões que repassou, por meio da agência SMP&B, para o caixa dois da coligação que se formou em torno do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), nas eleições para o governo de Minas Gerais em 1998.
4/03/2006 - As ligaçõe$ perigosas de Mares Guia - A revista IstoÉ desta semana publica reportagem em que informa que o ministro Walfrido Mares Guia (Turismo) fez um depósito de R$ 507.134, por meio de sua empresa, na conta do publicitário Marcos Valério. Deu-se em setembro de 2002.
4/03/2006 - Tiro pela culatra – o envolvimento de ACM avô e neto na maracutaia que foi a construção do Complexo Turístico do Sauipe, na Bahia, que deu prejuízos de 850 milhões...
04/03/2006 - Valério ameaça contar novos segredo$ - “O publicitário Marcos Valério, o pagador do mensalão, sentindo-se emparedado pela CPI dos Correios, anda ameaçando fazer revelações capazes de dar nova dimensão à crise – e, além do PT, está deixando o PMDB de cabelo em pé.
03/03/2006 - Fantasma de Furnas volta a assombrar - Uma testemunha encaminhada à Polícia Federal pelo deputado distrital Augusto Carvalho (PPS-DF) revelou ontem, em depoimento aos policiais, a existência de um suposto esquema de pagamento de caixa dois para políticos e diretores das companhias elétricas Furnas e Cemig
02/03/2006 - Atmosfera de terror cerca família Daniel - Familiares de Celso Daniel (PT), prefeito de Santo André assassinado em 2002, deixaram o Brasil nesta semana com o propósito de não retornar no curto ou médio prazo. Eles afirmam ter recebido seguidas ameaças de morte.
O endereço do blog do Josias é: http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/index.html
Livros e revistas
1. Algumas guerras mudaram o curso da História. Este livro, encomendado a historiadores, sociólogos, geógrafos e jornalistas brasileiros, dá conta de quinze momentos-chave em que as armas substituíram a política (ou foram sua extensão, como queria Clausewitz) e decidiram o futuro da humanidade.Textos elucidativos, cuidadosamente pesquisados e escritos com clareza farão com que este se torne um livro de leitura obrigatória, obra de referência na área.
Autores: Demétrio Magnoli (Org.) André Martin,Armando Vidigal ,Cláudio Camargo ,Elaine Senise Barbosa, Fátima Regina Fernandes,Francisco Doratioto,Henrique Carneiro, José Rivair Macedo, Luiz De Alencar Araripe, Marco Mondaini, Pedro Paulo Funari,Pedro Tota, Renata Senna Garraffoni, William Waack.
2. Informe da Editora Contexto:
No dia 19/03, nosso recém-lançado Sexo e poder foi matéria de capa do caderno Mais da Folha de S.Paulo. Além de entrevista com o autor, há uma resenha de duas páginas escrita por Eric Hobsbwam. Clique aqui para ter acesso à matéria na íntegra
3. Nas bancas o número 29 da Revista História Viva. O dossiê é sobre o Tratado assinado entre a Alemanha nazista e a URSS stalinista em 1939. Outros artigos: Carlos Gomes, o vaidoso maestro brasileiro que seduziu a Itália – O código de Hamurábi – As aventuras de Marco Pólo – As mulheres anarquistas na Guerra Civil Espanhola – Como o idioma português nasceu e ganhou o mundo – As fotografias do Rio feitas por Augusto Malta.
4. Samurai, o lendário mundo dos guerreiros, de Stephen Turnbull, ed. M. Books, 228 p.,R$59,00 – a história dos samurais, de sua origem até sua abolição no século XIX.
5. A escravidão na Roma Antiga: política, economia e cultura, de Fábio Duarte Joly, Alameda Editorial, 112 p., R$ 19,00.
Sites
Confira as atualizações do www.historianet.com.br
1. Brasil RepúblicaA Borracha no Acre
Por causa da crescente demanda internacional por borracha, em 1877, os seringalistas com a ajuda financeira das Casas Aviadoras de Manaus e Belém, fizeram um grande recrutamento de nordestinos para a extração da borracha nos Vales do Juruá e Purus.
2. AntigaA razão como produto da História
O texto aborda questões como a mitologia, o pensamento, o teatro e a política, entre outros temas relevantes da história grega antiga.
3. IlustraçõesEgito
A arte de Gepp e Maia pode ser utilizada na classe, para uma aula mais lúdica. Conheça o trabalho desses grandes artistas.
4. AntigaAntigüidade Oriental
Esse tema comumente é tratado dentro do chamado Modo de Produção Asiático.
Noticias
1. De 10 a 12 de abril de 2006 ocorrerá em Goiânia, Goiás, nas dependências da Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia, da Universidade Federal de Goiás, Campus II, o V ENCONTRO NACIONAL DO GT DE HISTÓRIA ANTIGA DA ANPUH.
O tema do evento será “Entre o Sagrado e o Profano: Sociedade e Religião na Antigüidade”, aproveitando o fato da data do evento coincidir com os dias anteriores da chamada Semana Santa para a Cristandade.O Grupo de Trabalho (GT) de História Antiga da ANPUH (Associação Nacional de História) foi criado em 1996 e desde então tem congregado especialistas, pesquisadores, alunos e interessados em geral no desenvolvimento de estudos acerca do mundo antigo, Oriental e Ocidental. Integram o referido GT vários e renomados profissionais brasileiros e estrangeiros, afiliados à ANPUH Nacional. De dois em dois anos, os integrantes do GT se reúnem na instituição na qual trabalha a pessoa responsável por coordenar nacionalmente o GT. Em 2005, na reunião da ANPUH Nacional ocorrida nas dependências da UEL, em Londrina, Paraná, a Profa. Dra. Ana Teresa Marques Gonçalves, da UFG, foi eleita Coordenadora Nacional do GT de História Antiga da ANPUH. Deste modo, o referido evento ocorrerá nas dependências da UFG de 10 a 12 de abril de 2006. O evento congregará especialistas e interessados de diversas áreas vinculadas à pesquisa sobre a Antigüidade, como História, Filosofia, Letras e Arqueologia. Espera-se a adesão de pelo menos 150 pessoas, entre membros do GT e ouvintes, proporcionando um amplo debate entre os interessados. MAIS INFORMAÇÕES http://www.historiaantiga.cjb.net/
2. De 14 a 18 de março será realizado em Olinda o III Simpósio de Técnicas Avançadas em Conservação de Bens Culturais. Mais informações pelo email aerpa@terra.com.br ou no site http://www.patrimoniocultural.org/
3. III Simpósio Nacional de História Cultural Mundos da Imagem: Do Texto ao Visual
Em Florianópolis entre 18 a 22 de Setembro de 2006.haverá um simpósio sobre IMAGENS DA RETÓRICA, RETÓRICAS DA IMAGEM.Informações no site: http://www.cce.udesc.br/historiacultural2006/minisimposios.html
4. Para quem mora em BH
Série de Concertos TIM - Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e Daniel GuedesBrahms, Stravinsky e Strauss no programa do primeiro concerto da OSMG em 2006.14 de março, sábado, às 20h30. Grande Teatro.Sorteio de três pares de ingresssos (até 13/03).
Teatro da Desconstrução - Bye Bye PhantomCia Gekidan Kaitaisha, de Tokyo, traz o conflito do mundo moderno aos palcos do Palácio das Artes.11 e 12 de março. Sábado, às 21h, e domingo às 19h. Grande Teatro.Sorteio de um par de ingresssos (até 13/03).
Dossiê: Dia Internacional da mulher
1. Por que o dia 8 de março foi escolhido para ser o Dia internacional da mulher:
A escolha do dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher não deriva de um acontecimento isolado, mas sim de um contexto histórico e muito mais amplo. A idéia mais difundida é de que a data seria uma homenagem a operárias norte-americanas que, durante uma greve, foram trancadas na fábrica onde trabalhavam e morreram queimadas em um incêndio provocado pelos patrões. Outra hipótese refere-se a uma manifestação das operárias do setor têxtil nova-iorquino ocorrida nesse dia do ano de 1857.
Entretanto, a origem do Dia Internacional da Mulher insere-se em um contexto histórico e ideológico muito concreto, cujo objetivo, em seu começo, não foi rememorar nenhuma catástrofe que vitimou um grande número de mulheres. O texto da resolução adotada pela II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, realizada em Copenhague em 1910, vem confirmar que nem se fazia alusão a nenhum acontecimento protagonizado por operárias que devesse ser comemorado com a celebração do Dia Internacional da Mulher, nem sequer se propunha uma data concreta em que esta devesse acontecer.
Sua origem tem de ser compreendida em meio a ascensão das lutas operárias de finais do século XIX e início do século XX, cujas discussões teóricas, no campo socialista, convocavam à participação política e em cujo contexto tomava corpo a luta pela libertação da mulher. A partir de começos do século XX, essa batalha das socialistas se cruzou com a de um punhado de mulheres independentes, em sua maioria pertencentes à classe média ou alta, que estavam em campanha pelo direito ao voto.
Nos primeiros anos, o Dia Internacional da Mulher era festejado em datas diferentes, segundo os países. A data escolhida pelas socialistas alemãs para essa primeira comemoração foi 19 de março de 1911, data carregada de significado para o proletariado alemão. Nesse dia, em 1848, Guilherme I da Prússia reconheceu a força do povo armado e fez promessas, que depois não cumpriria e, entre elas, a concessão do direito ao voto para as mulheres.
Também houve comemorações na Dinamarca, Suécia e outras nações européias. Nos Estados Unidos a tradição de realizar o Dia da Mulher no último domingo de fevereiro se manteve até 1913. Em 1914, passou a ser comemorado também em 19 de março. Em 1914, a data foi comemorada pela primeira vez em 8 de Março, na Alemanha, Suécia, passando posteriormente aos demais países. (Extraído do portal Terra)
2. Situação das mulheres no Brasil ainda é precária
Com 18 anos de atraso, o governo lançou o primeiro balanço sobre a situação da mulher no Brasil. O documento é uma prestação de contas à Organização das Nações Unidas sobre os compromissos assumidos pelo país ao ratificar, em 1984, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW). Entre eles, a publicação de relatórios quadrienais como o apresentado ontem no Palácio do Planalto.
Hoje, 40% das trabalhadoras ocupam posições precárias. E uma mulher é espancada a cada 15 segundos. No governo, as mulheres também não estão em pé de igualdade. Embora ocupem 43,8% dos cargos públicos federais, o índice cai para 13% nos cargos comissionados mais importantes.
O relatório brasileiro para a CEDAW foi preparado por 11 organizações não-governamentais e especialistas de diversas entidades. Entre os avanços registrados, os salários femininos, que passaram de 50% da remuneração masculina, em 1993, para 60%, em 1999. Por outro lado, apenas 10% das mães que trabalham têm acesso a creches. Segundo Solange, nem mesmo as funcionárias do Ministério da Justiça têm esse direito assegurado.
Embora o país tenha mais de 5,5 mil municípios, só existem 339 delegacias especializadas no atendimento à mulher e 70 abrigos para vítimas de violência. Na Saúde, houve avanços como a redução expressiva da mortalidade materna e o aumento do número de hospitais que realizam o aborto legal. (Gilberto Dimenstein)
Homens e mulheres
FAMÍLIAS
26% das famílias do país são chefiadas por mulheres.
EMPREGOS
62,7% dos 241 milhões de empregos do país são ocupados por homens. (Dados de 1997).
SALÁRIOS
A média salarial dos homens é de 5,9 salários mínimos, enquanto a das mulheres é de 4,6. (Dados de 1997).
NÍVEL SUPERIOR
A média salarial dos homens com nível superior é de 17,3 salários mínimos, enquanto a das mulheres é 10,1. (Dados de 1997).
Negras e brancas
POPULAÇÃO
45% da população brasileira é composta de negros e mulatos. Apesar disso, eles são 64% dos pobres e 69% dos indigentes. (Fonte: IPEA)
MORTES
40,7% das brasileiras negras ou mulatas morrem antes de completar 50 anos. (Fonte: Fundação Seade, sobre óbitos em SP, em 1995)
CRIANÇAS
37 em cada mil crianças filhas de mães brancas morrem. O número sobre para 62 no caso de crianças de mães negras ou mulatas. (Dados de 1993)
3. O Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem) lançou, dia 3 de março, na Casa das Rosas, em São Paulo, a publicação O progresso das mulheres no Brasil e a página eletrônica www.mulheresnobrasil.org.br.
O projeto, coordenado por Jacqueline Pitanguy e Leila Linhares, diretoras da organização não-governamental Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação (Cepia), reúne mais de 200 trabalhos e pesquisas científicas sobre a situação da mulher nos últimos 10 anos.
4. Carla Rodrigues
Afinal, o que querem as mulheres? Oito estudiosas respondem o que ainda pode ser reivindicado no Dia Internacional da Mulher. Violência, divisão das tarefas domésticas, direito ao aborto e igualdade na contracepção estão na pauta feminista. http://nominimo.ibest.com.br/notitia/servlet/newstorm.notitia.%20presentation.NavigationServlet?publicationCode=1&page%20Code=26&textCode=21191&date=currentDate
5. OS PRIMÓRDIOS DA INSERÇÃO SOCIOCULTURAL DA MULHER BRASILEIRA
Cleide Maria Bocardo Cerdeira∗ Doutora em História (USP), Coordenadora de Extensão e professora do Curso de Letras, Tradutor/Intérprete.
Resumo: O presente trabalho esboça um panorama da condição feminina na sociedade brasileira. Enfoca o início de sua inclusão sociocultural do período colonial ao industrial.
Palavras-chave: História do Brasil, Sociologia, História das Mulheres, Gênero.
A economia colonial gerou a formação de uma sociedade, na qual a mulher ocupava uma posição peculiar, afetando grandemente sua imagem durante anos. Mantendo-se em segundo plano em relação ao homem, tanto econômica como socialmente, a mulher permaneceu à margem da sociedade e da historiografia brasileira.
Segundo Saint-Hilaire, a condição da mulher brasileira era tão inferior que sua posição na escala social podia ser comparada à de um cão.
“(...) Cercado de escravos, o brasileiro habitua-se a não ver senão escravos entre os seres sôbre (sic) os quais tem superioridade, seja pela fôrça (sic), seja pela inteligência. A mulher é, muitas vêzes (sic), a primeira escrava da casa , o cão é o último.” (1)
As relações entre os homens e as mulheres e a conseqüente posição da mulher na família e na sociedade constituem parte de um sistema de dominação mais amplo. Por essa razão, a análise da posição social da mulher na ordem escravocrata senhorial “(...) exige que se caracterize a forma pela qual se organizava e distribuía o poder na sociedade escravocrata brasileira, época em que se formaram certos complexos sociais justificados hoje em nome da tradição.” (2)
O período colonial brasileiro apresenta uma configuração exótica, na qual podem ser identificados traços das estruturas feudais européias, da estrutura patrimonialista que se desenvolvia na época, e a exploração da mão-de-obra escrava. (3)
No regime patriarcal, o homem tendia a transformar a mulher num ser diferente dele, criando jargões do tipo “sexo forte” e “sexo frágil”. No Brasil colonial, a diferenciação parecia estar em todas as esferas, desde o modo de se trajarem até nos tipos que se estabeleciam. A sociedade
patriarcal agrária extremava essa diferenciação, criando um padrão duplo de moralidade, no qual o homem era livre e a mulher, um instrumento de satisfação sexual. Esse padrão duplo de moralidade permitia também ao homem desfrutar do convívio social, dava-lhe oportunidades de iniciativa, enquanto a mulher cuidava da casa, dedicava-se aos filhos e dava ordens às escravas. (4)
A etiqueta, no sistema patriarcal brasileiro, a idolatria à fragilidade da mulher, tudo parecia denotar o gosto dos homens pela diferenciação e, em última instância, reforçar os conceitos de sexo forte, nobre e dominador.(5)
Valores como possuir pés pequenos e cintura fina eram artificiais, uma vez que se tornavam incômodos os modos de se vestir, envolvendo a própria liberdade física da mulher. É daí que vem a erotização da mulher, pois a sociedade não tinha outro modo de enxergá-la, a não ser como objeto sexual. Elas próprias buscavam essa diferenciação, seja no exagero de seus enfeites, seja no exagero de sua feminilidade.(6) A literatura médica registra muitos casos de tuberculose feminina desencadeados pelas exigências da moda da época, que obrigava as mulheres a se vestirem de tal modo que seus pulmões não se expandiam corretamente, prejudicando, assim, a própria respiração ou devido também à alimentação irregular. (7)
A indisciplina sexual estava presente na colônia. Muitos homens solteiros preferiam ter relações com escravas a se dedicarem a um lar.
Aos casados, cabia perfeitamente o adultério. Somente moças que possuíam dote conseguiam contrair matrimônio. Para as das classes mais baixas, o casamento com dote estava fora de cogitação e, em conseqüência, elas entregavam-se à prostituição, devido à ausência de trabalho feminino. A situação da mulher no Brasil colonial era de extrema opressão social, econômica ou familiar. (8)
As mulheres brancas submetiam-se sem contestação ao poder do patriarca. Eram ignorantes e imaturas e casavam-se antes dos quinze anos. Ao contrair matrimônio, passavam do domínio paterno para o domínio do marido. Raramente saíam à rua e, quando o faziam, iam à igreja acompanhadas. (9) Nessa sociedade, a mulher estava destinada ao casamento e a única possibilidade disponível para fugir do domínio do pai ou do marido era a reclusão em um convento. (10)
“(...) Embora algumas se tenham transformado em respeitáveis matronas, com considerável poder de mando sôbre (sic) a escravaria doméstica, sua esfera de autoridade conservava-se nìtidamente (sic) distinta do setor em que imperava o patriarca.” (11)
Contudo, deve-se ressaltar que havia, na sociedade escravocrata brasileira, uma aceitação total por parte das mulheres, fossem elas ociosas ou trabalhadoras, de sua posição submissa perante a figura masculina, tanto dentro da família como na sociedade em geral.
No período colonial, a educação não era valorizada. Os colonizadores portugueses e seus descendentes, que se dedicavam principalmente à agricultura, não julgavam a instrução necessária para executar suas tarefas diárias. Aqueles poucos desejosos de seguir uma carreira religiosa ficavam nas mãos dos jesuítas, que vieram para o Brasil com o intuito de catequizar os índios. Aprendiam com os jesuítas a dar continuidade ao trabalho desses religiosos. (12)
As mulheres das classes sociais altas tinham pouco acesso à já escassa cultura existente na colônia. A inadequação do sistema escolar brasileiro era apenas o reflexo da vida cultural da colônia. (13)
O limitado contato social e a cultura restrita tornavam a mulher mais conservadora que o homem e, conseqüentemente, o elemento de estabilidade da sociedade. As inovações sociais, políticas e culturais eram trazidas pelos filhos do sexo masculino da casa-grande, educados na Europa. (14) Todavia, faltou-lhes a influência e a orientação da mãe que compreendesse o mundo. (15)
A maçonaria e outras sociedades secretas, surgidas no final do século XVIII, não permitiam a participação feminina no seu interior. Em conseqüência, os movimentos políticos que tinham origem nessas sociedades eram de homens da elite branca.
“(...) O afastamento da mulher em relação àquelas sociedades significava, pois, uma barreira à conscientização dos problemas econômicos e políticos nacionais por parte da população feminina pertencente à elite dominante.” (16)
Dentro desse contexto, o marido encontrava-se completamente carente de uma mulher que fosse sua companheira. Qual foi o homem de destaque, cuja esposa se tornou conhecida pela sua colaboração? Há algum registro da ação feminina nesse período? Gilberto Freyre afirma que:
“(...) Da mulher-esposa, quando vivo ou ativo o marido, não se queria ouvir a voz na sala, entre conversas de homem, a não ser pedindo vestido novo, cantando modinha, rezando pelos homens; quase nunca aconselhando ou sugerindo o que quer que fosse de menos doméstico, de menos gracioso, de menos gentil; quase nunca metendo-se em assuntos de homem.” (17)
O escritor ressalta ainda que “(...) Nunca numa sociedade aparentemente européia, os homens foram tão sós no seu esforço, como os nossos no tempo do Império; nem tão unilaterais na sua obra política, literária, científica. Unilaterais pela (...) falta de mulher (...) colaboradora do marido, do filho, do irmão, do amante (...)” (18)
A chegada da família real e de toda a Corte portuguesa, no Rio de Janeiro no final de 1807, trouxe influências que acabaram por mudar a situação reinante na colônia, embora muitos costumes em relação às mulheres tivessem sido mantidos.
Com o processo de urbanização, a vida da mulher pertencente à elite dominante começa a se modificar. Ela não mais permanece reclusa à casa-grande, freqüentando festas, teatros e indo à igreja, o que possibilita um aumento em seus contatos sociais. Sua instrução geral, porém,
permanece desvalorizada, uma vez que a sociedade espera que ela seja educada e não instruída. À sua educação doméstica acrescenta-se o cuidado com a conversação, para torná-la mais agradável nos eventos sociais. (19)
Expressões femininas como Narcisa Amália e, posteriormente, Júlia Lopes de Almeida começam a ser notadas na literatura no final do século XIX. Aos poucos, a mulher sai da domesticidade e integra-se finalmente na sociedade, a princípio como escritora ou professora. Em fins do século XIX, o Brasil já possui mulheres que sabem ler e escrever, limitando-se, no entanto, à esfera medíocre do romance francês. Uma grande mudança ocorre com o surgimento de Nísia Floresta, uma feminista que escandalizou muitas das jovens senhoras brasileiras acostumadas ao simples afrancesamento de sua cultura. O Padre Lopes Gama muitas vezes levantou a voz contra as feministas, acusando-as de serem terríveis pecadoras. Para ele, a mulher deveria somente se preocupar com a administração de sua casa. O Padre Lopes da Gama não se conformava em ver a mulher servil, embora medíocre, sendo lentamente substituída por outro tipo de mulher, uma mais “mundana”, que freqüentava teatros e salões de festas. (20)
No entanto, apesar da opinião predominante de que as mulheres brasileiras do século XIX viviam sob um regime patriarcal e limitadas a uma vida doméstica, Bernardes (21) põe em questão tais afirmações, buscando novos dados. Ao contrário do que se pode imaginar, após a análise de todos os depoimentos, romances e artigos selecionados em sua obra, sua prefaciadora Maria Isaura Pereira de Queiroz confirma que “ (...) Não parecia haver, assim, nem na maneira de pensar dos homens, nem na das mulheres, e nem no modo de agir destas, um único modelo preferencial que padronizasse as imagens e que tornasse sempre semelhantes comportamentos e atividades. Pelo contrário, entre os extremos detectados, opiniões e comportamentos revelavam uma gama de pontos intermediários, de nuances, separando a submissão total da total autonomia. Inferiorização e marginalização da mulher, dentro e fora do lar, não pareciam marcar irremediavelmente sua posição, nas famílias urbanas abastadas, no Rio de Janeiro da segunda metade do século XIX. (...) O que reinava era a variedade.” (Queiroz apud Bernardes, 1989: XV)
Além disso, Queiroz constata que uma das mais relevantes reivindicações dessas mulheres foi o acesso à instrução, além do fato de elas estarem cientes de seu estado de subordinação. (22)
Mesmo assim, notava-se uma certa sacralização da mulher que, embora dançasse nos bailes de máscara, pouco falava, pouco fazia para libertar-se da opressão masculina, e permanecia virgem até o casamento.
Sua saída às ruas foi feita por meio do teatro, da janela, do estudo de dança, de música e do francês. Foi esse o resultado da urbanização: a mulher burguesa, não menos servil que a senhora de engenho, porém mais culta. (23)
Podemos visualizar melhor a inserção da mulher na sociedade e seu enriquecimento cultural, analisando os fatos sócio-econômicos, que se desenrolaram desde o período colonial até a fase de industrialização do país.
No período colonial, a igualdade jurídica entre os homens dificulta a realização da principal meta do sistema capitalista: a acumulação de capital. Por essa razão, a utilização da força de trabalho escrava constituisse no meio adequado para atingir esse objetivo. (24)
Contudo, a Revolução Industrial inglesa do século XVIII gera a necessidade de mão-de-obra livre assalariada para garantir a existência de um mercado consumidor e, assim, possibilitar a sobrevivência do capitalismo industrial. Como a tendência desse sistema de produção é
conquistar cada vez mais mercados consumidores, a economia brasileira, baseada na mão-de-obra escrava não consumidora, mostra-se um entrave para a expansão do sistema.
Para superar tal obstáculo, a Inglaterra exige a abolição da escravidão brasileira. Em 1850, extingue-se o tráfico de negros no Brasil.
Em conseqüência, o capital gasto anteriormente na compra de escravos passa a ser empregado em outros setores da economia, estimulando as atividades comerciais, financeiras e industriais.
A abolição da escravatura, obra masculina, provoca uma mudança no sistema de estratificação da sociedade em castas; porém nenhuma mudança ocorre na divisão da sociedade baseada no sexo.
Conseqüentemente, esse fato tem significados diferentes para as mulheres brancas da camada senhorial e para as negras escravas. A mulher negra ganha a liberdade formal que não possuía, ascendendo na esfera social juntamente com o ex-escravo, permanecendo, porém, numa
posição inferior a este. Enquanto o ex-escravo passa a ser considerado cidadão e, conseqüentemente, adquire o direito de votar, tanto a mulher negra como a branca ficam à margem desse processo. Portanto, a mulher branca sofre uma descensão social com relação ao homem negro. (25)
O principal problema da economia nacional no final do século XIX é a busca por um produto agrário, cuja exportação supere o déficit da balança comercial. Nessa época, o café surge como um produto adequado ao solo brasileiro e de grande aceitação internacional. (26)
O desenvolvimento da economia cafeeira coincide com o fim do tráfico de negros, gerando um problema de mão-de-obra, solucionado com o emprego da força de trabalho assalariada do imigrante que, a partir de 1870, começa a aportar no Brasil, vindos principalmente da Europa e
da Ásia.
Como conseqüência da crescente utilização da mão-de-obra assalariada, a dinamização do mercado interno viabiliza o desenvolvimento do capitalismo industrial.
Os países envolvidos no conflito mundial de 1914-18, interrompem suas exportações, provocando uma menor concorrência para os produtos nacionais. Também o setor das indústrias subsidiárias desenvolve-se intensamente, favorecendo o desenvolvimento da indústria nacional. (27)
A nova conjuntura econômica e social revela a necessidade de dar à mulher algum nível de instrução, não se abandonando, porém, a educação doméstica. Não há nessa época, contudo, o desejo de instruir igualmente homens e mulheres, nem tampouco promover uma equiparação dos papéis sociais dos elementos dos dois sexos. (28)
A urbanização, que se acelerou na segunda metade do XIX, e a industrialização grandemente impulsionada nos anos 30 do século XX afetaram a organização da família brasileira. Esses dois processos alteraram as dimensões da vida da mulher, uma vez que ela teve seus papéis no mundo econômico modificados. As mulheres saíram progressivamente da reclusão no lar para trabalhar em fábricas, lojas e escritórios. Essa mudança de comportamento alterou a sua postura no mundo exterior. (29)
“(...) Minando o sistema de segregação sexual e o de reclusão da mulher no lar, decrescem as diferenças de participação cultural dos elementos femininos e masculinos. Dêste (sic) maior ajustamento da estrutura da família às novas condições de vida urbano-industrial adviriam profundas alterações na educação feminina.” (30)
BIBLIOGRAFIA
BERNARDES, Maria Thereza Caiuby Crescenti. Mulheres de ontem?: Rio de Janeiro – século XIX. São Paulo: T. A. Queiroz, 1989. (Coleção Coroa Vermelha – Estudos Brasileiros, 9).
FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano. 5. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio-INL, 1977.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 22. ed. São Paulo: Companhia Ed. Nacional, 1987.
LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1996. (Série Temas, 58)
PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo. 24. ed. São Paulo: Brasiliense, 1996.
ROMERO, Denise Medeiros Furtado. Profissão: professor. Estudos Acadêmicos Unibero, São Paulo, n. 7, p. 36-42, mar. 1998.
SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. A mulher na sociedade de classes: mito e realidade. São Paulo: Quatro Artes-INL, 1969.
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem à província de São Paulo e resumo das viagens ao Brasil, província cisplatina e missões do Paraguai. Tradução de Rubens Borba de Moraes. São Paulo: Martins, 1940. (Biblioteca Histórica Brasileira, 2)
Notas:
1 Auguste de SAINT-HILAIRE, Viagem à provincia de São Paulo e resumo das viagens ao Brasil, província cisplatina e missões do Paraguai, p. 137-8.
2 Heleieth Iara Bongiovani SAFFIOTI, op. cit., p. 169.
3 Ibidem, p. 171-2.
4 Gilberto FREYRE, Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano. p.93.
5 Ibidem, p. 94.
6 Ibidem, p. 98-99.
7 Ibidem, p. 117.
8 Caio PRADO JÚNIOR, Formação do Brasil Contemporâneo, p. 353-4.
9 Heleieth Iara Bongiovani SAFFIOTI, op. cit., p. 177-8.
10 Ibidem, p. 179.
11 Ibidem, p. 178.
12 Denise Medeiros Furtado ROMERO, Profissão: professor. Estudos Acadêmicos Unibero, (7): 37.
13 Marisa LAJOLO, Regina ZILBERMAN, A formação da leitura no Brasil. p. 135.
14 Heleieth Iara Bongiovani SAFFIOTI, op. cit., p. 184.
15 Gilberto FREYRE, op. cit., p. 114.
16 Heleieth Iara Bongiovani SAFFIOTI, op. cit., p. 184.
17 Gilberto FREYRE, op. cit., p. 108.
18 Ibidem, p. 114.
19 Heleieth Iara Bongiovani SAFFIOTI, op. cit., p. 185-6.
20 Gilberto FREYRE, op. cit., p. 109-110.
21 Maria Thereza Caiuby Crescenti BERNARDES, Mulheres de ontem?: Rio de Janeiro – século XIX. Há uma pesquisa, no apêndice do livro, que consiste de uma lista de 99 mulheres escritoras e tradutoras residentes no Brasil, em especial no Rio de Janeiro, durante o século XIX.
22 Ibidem, p. XIV.
23 Gilberto FREYRE, op. cit., p. 111.
24 Heleieth Iara Bongiovani SAFFIOTI, op. cit., p. 151.
25 Ibidem, p. 186-7.
26 Celso FURTADO, op. cit., p. 113.
27 Caio PRADO JÚNIOR, História econômica do Brasil. p. 261.
28 Heleieth Iara Bongiovani SAFFIOTI, op. cit., p. 190.
29 Ibidem, p. 189-190.
30 Ibidem, p.
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