Boletim Mineiro de História

Boletim atualizado todas as quartas-feiras, objetiva trazer temas para discussão, informar sobre concursos, publicações de livros e revistas. Aceita-se contribuições, desde que versem sobre temas históricos. É um espaço plural, aberto a todas as opiniões desde que não contenham discriminações, racismo ou incitamentos ilegais. Os artigos assinados são de responsabilidade única de seus autores e não refletem o pensamento do autor do Boletim.

8.2.06

Número 025


Convite para o lançamento do livro

Abrimos o boletim desta semana com o convite para o lançamento do livro História de Minas Gerais. Será na próxima quarta feira. Helena e eu aguardamos todos vocês!!!

E confirmamos também o curso de pós-graduação HISTORIA, PATRIMONIO CULTURAL E TURISMO, a começar em março.

Especialização em HISTÓRIA, PATRIMÔNIO CULTURAL E TURISMO

Pós Graduação Lato Sensu nos termos da resolução 01 de 03 de abril de 2001

COORDENAÇÃO GERAL - Mônica Liz Miranda - Mestra em História (UFMG)

ESTRUTURA CURRICULAR

Metodologia Científica - 60 h/a - Mônica Liz Miranda

História de Minas I - 40 h/a - Ricardo de Moura Faria

História de Minas II - 60 h/a - Laura Nogueira Oliveira

História da Arte - 40 h/a - Ronaldo Campos

Constituição e preservação do patrimônio Cultural - 60 h/a - Helena Guimarães Campos

Ética - 20 h/a - Ronaldo Campos

Turismo e Patrimônio Cultural em Minas Gerais - 40 h/a - Helena Guimarães Campos

Seminário de Pesquisa - 40 h/a - Júlia Calvo

INSCRIÇÕES ABERTAS

Faculdade Estácio de Sá de Belo HorizonteUnidade Floresta - Av. Francisco Sales, 23 - Floresta Horário: de 9h às 11h e de 14h às 18hou pelo site http://www.bh.estacio.br/

Informações: 3279-7722

Manchete do jornal Estado de Minas de 5 de fevereiro:
ACORDÃO NAS CPIS
“Os relatórios finais das CPIs dos Correios e dos Bingos, a serem aprovados até março, com o resultado das investigações, viraram moedas de troca em acordos políticos que estão sendo costurados entre governo e oposição. O PT não aceita, em nenhuma hipótese, a citação do presidente Lula como responsável por qualquer irregularidade apurada. O PSDB topa o acerto, desde que tucanos não sejam relacionados à origem do valerioduto. Os acordos passam pela negociação de cargos na direção dos Correios com o PMDB e pela não inclusão do nome do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, como envolvido no caso Gtech.”

Pois é...
Infelizmente parece que vai acontecer o que a gente pensava. Uma senhora pizza, de 8,5 milhões de quilômetros quadrados... Todo mundo está vendo que o envolvimento das ilustres excelências que habitam aqueles belos prédios da Praça dos 3 poderes, em Brasília, o envolvimento deles com a corrupção (tenha ela o nome que se queira dar – Furnas, Valerioduto, Dusseldorf, dinheiro não contabilizado...) é maior do que se podia imaginar. E agora é a hora de cada um tentar salvar seu pescoço, esquecendo que todos são criminosos, para que, na próxima eleição, todos possam voltar para seus belos lugares e continuarem chafurdando no lamaçal que eles construíram. Até quando suportaremos essa farsa?.

O caso das charges do profeta Maomé

Estamos diante de uma situação explosiva, provocada pela publicação de algumas charges consideradas tremendamente ofensivas aos muçulmanos, entre elas uma que mostra o profeta Maomé com um turbante que, na realidade, é uma bomba. A mensagem é clara: os muçulmanos, seguidores de Maomé, são todos incendiários, homens-bomba, etc e tal.
A reação foi imediata e promete se tornar mais grave nos próximos dias.
A questão que se levanta: a publicação das charges nada mais foi que o exercício da liberdade de expressão? Se é essa a questão, estão os muçulmanos, mais uma vez, errados???
Será que o problema é este? Creio que não. A questão que se coloca é outra: é o desrespeito para com os valores culturais do oriente. Quem se arvora em defender a “liberdade de Expressão” está, na verdade, fazendo o jogo da linha dura conservadora ocidental (leia-se Estados Unidos e alguns países europeus) que, apesar de não dizerem abertamente, estão promovendo uma outra perigosa Cruzada contra os muçulmanos.
O jornal O Globo, de 7 de fevereiro, trouxe um artigo escrito para o jornal Independent, de Londres, em que o articulista coloca as coisas como eu acho que elas realmente são. Transcrevo algumas partes


“Esta não é uma questão de liberdade de expressão, mas de poder e demonização. A ofensa não é só a representação de Maomé. Retratos do profeta foram pintados e são comuns em certas correntes muçulmanas. O ultraje é que o profeta é representado como um terrorista apontando claramente que ele prega uma crença violenta e que todos os seus seguidores são violentos. Nenhuma cultura ou povo pode aceitar tal representação.
Uma charge é um artifício satírico. A sátira segura um espelho para mostrar verdades para o poder. Mas os muçulmanos europeus dificilmente poderiam ser descritos como poderosos. Os muçulmanos da Dinamarca, França, Alemanha e Holanda estão entre as comunidades mais marginalizadas e sem voz. Quando os fracos são ridicularizados desta forma, a “liberdade de expressão” se torna um instrumento de opressão.
Já é tempo para os defensores da “liberdade de expressão” perceberem que o tipo de liberdade absoluta que buscam pertence à selva. Numa sociedade civilizada, a liberdade vem acompanhada de responsabilidade.” (Ziauddin Sardar)

Falam amigos e amigas

1. Bom dia !

Parabenizo pelo lançamento do livro HISTORIA DE MINAS GERAIS. Agradeço pelo convite, mas devido compromissos assumidos anteriormente, não poderei comparecer. Sucesso no evento. Atenciosamente, GABINETE DEP. GUSTAVO CORREA

2. Ei professor.
Estou muito satisfeita com o conteúdo do seu livro. Dá para trabalhar a História de Minas nos dois módulos do Turismo, além de ser uma excelente fonte de estudos para mim.
Você e a Helena estão de parabéns. Além do mais, a leitura é gostosa e faz a gente viajar por Minas.
Obrigada pelo livro. Nos ensinos fundamental e médio e na faculdade, tive o privilégio de estudar com os livros de sua autoria. Agora, tenho o prazer de lecionar com eles.
Um beijão.
Luciane Silva

3. A professora Mônica Liz me encaminha uma reportagem feita pelo jornal francês Le Monde, sobre a cidade de São Paulo e seus contrastes.

São Paulo, a megalópole do luxo kitsch
Ignorando a miséria, a capital econômica do Brasil é o QG dos abastados, com os seus bares, seus hotéis luxuosos, suas boutiques com heliporto...

Véronique Mortaigne Enviada especial a São Paulo

O poeta brasileiro Augusto Campos, nascido em 1931 em São Paulo,caligrafou a palavra luxo, "luxe" em francês, na capa de um folheto. Na parte interna, uma letra muda, deixando aparecer a palavra lixo, "poubelle". Se a coabitação do luxo com o que há de pior tornou-se um lugar-comum em matéria de paisagem brasileira, São Paulo, a sua capital econômica, encarna o mais fielmente possível a terra de contrastes sul-americana.

Loja da Daslu ocupa um enorme e luxuoso prédio com direito a heliporto. Com 35% do produto interno bruto (PIB) brasileiro concentrado no Estado de São Paulo, a megalópole é mesmo uma capital do luxo, com as suas Fashion Weeks (semanas da moda), os seus parques semeados de obras de Oscar Niemeyer, o arquiteto do concreto curvado, e as suas bienais de arte contemporânea.

A megalópole passou de 30.000 habitantes em 1870 para 18 milhões em 2005, tornando-se assim a terceira maior cidade do mundo, a mais importante do hemisfério sul. Fundada em 1554 por um pequeno grupo de jesuítas, ela possui hoje 2.578 arranha-céus.

A "cidade hospitaleira", conforme ela mesma se define, gaba-se de abrigar 900.000 cidadãos de origem japonesa, e cerca de 3 milhões de descendentes de italianos. Na mesa, isso se resume a sushis magníficos, pizzas com muzzarella assim como no país dos búfalos, cantinas aos montes e tabules sírio-libaneses à vontade.

O ousado projeto arquitetônico é a marca do hotel Unique, nos Jardins. Ao longo de cinco séculos, São Paulo fez do seu gigantismo a sua força e o seu caráter bizarro. Um ponto de passagem obrigatório para quem lida com negócios, e uma cidade de intensa atividade cultural, São Paulo tem tudo da aglomeração anti-turística: uma selva de pedra, engarrafamentos, anéis rodoviários; um Centro voltado para o pequeno comércio, que fica esvaziado dos seus camelôs e dos seus empregados ao anoitecer.

São Paulo é uma cidade "à americana", com os seus shoppings, seus bairros residenciais, seus bolsões de miséria. Contudo, ela é fascinante, por ser uma espécie de contraponto energético em relação à malemolência hedonista do Rio de Janeiro, a antiga capital do Brasil.

Cestas a preço de foie gras.

Uma cidade extremada onde o dinheiro jorra aos borbotões, São Paulo é, segundo os geógrafos, "um mar de colinas", totalmente ondulado. Sobre uma dessas protuberâncias, o bairro do Jardim Paulista desce de um lado e de outro da Avenida Paulista, um símbolo do sucesso econômico da cidade, com a sua arquitetura contemporânea espantosa, entrecortada por algumas antigas residências de mestre, vestígios das baronias do café do século 19.

Paraísos para os passeadores, esses antigos "jardins" são uma zona protegida do grande risco --seguranças e fisionomistas de terno preto ou azul escuro ficam conversando em frente às lojas e aos restaurantes com os seus colegas motoristas e guarda-costas.

Situado no coração desta cidade disparatada, este triângulo de ouro protege os afortunados da economia mundial e a clientela estrangeira. Butiques de luxo, restaurantes de cardápio "nouvelle cuisine" e pontos de encontro descolados. Por exemplo, no Clube do Chocolate, na Rua Haddock. Lobo, sem dúvida uma das mais caras do Banco Imobiliário paulista, junto com a Rua Oscar Freire, o equivalente tropical de uma Rua Saint-Honoré em Paris.

Nessas lojas que oferecem uma trilha sonora de música eletrônica em pano de fundo --São Paulo é uma grande provedora do estilo--, podem-se comprar garrafinhas de guaraná (refrigerante muito popular, à base de grãos próprios da região amazônica), só que aqui, a bebida tem a cor rosa de uma balinha em vez de ser marrom claro, e ainda, ela é biologicamente correta.

O consumidor também encontra camisetas para "vítimas da moda", cestas listradas de plástico, assim como existem nas feiras matinais, só que ao preço do foie gras (fígado hipertrofiado de ganso ou de pato, geralmente servido em forma de patê) importado.

Mais clássicas do que esses paraísos para vítimas da moda, a rua é também o endereço das marcas brasileiras de prestígio, tais como a H. Stern, um joalheiro, especialista em jóias semi-preciosas, em colares em forma de cascata de ametistas, de topázios, de águas-marinhas.

Aristocratas, burgueses esclarecidos, juventude dourada, modelos e estrelas da televisão seguem um percurso flechado que passa por alguns pontos nevrálgicos. Fazem parte deste jogo de pista diversos hotéis únicos no seu gênero. Assim, dizem que o Emiliano, bege, aéreo, dotado de um heliporto no seu teto, seria o predileto da top model Gisele Bünchen e das suas rivais no mundo da beleza.

Um outro hotel difícil de ser evitado é o Fasano, um palácio discreto, com os seus muros de tijolos, a sua arquitetura estudada, dotado de elementos de alta tecnologia no seu interior, decorado no estilo anos 30, em função do gosto, muito masculino, do seu patrão, Rogério Fasano, herdeiro de uma família de proprietários de restaurantes de São Paulo --e italiano para sempre.

O Fasano é característico desse Brasil europeu que sabe cozinhar o macarrão "al dente", ou saborear um vinho bourgogne branco ou um tinto da região de Veneza, importados. Ele possui um bar no qual o dono da casa sonha em convidar a cantora Carla Bruni para se apresentar diante de uma platéia seleta.

Do outro lado do Jardim Paulista, Ruy Ohtake construiu o Hotel Unique num espaço protegido por grandes edifícios. O arquiteto imaginou um meio-círculo perfurado de vigias, uma espécie de melancia suspensa, segurada por duas colunas de concreto.

O Unique é efetivamente único: preto e branco com nuances de azul, um hall monumental, curvas, quatro placas de concreto afundadas nos vãos de vidro e um terraço com vista excepcional. Uma vez que o edifício foi construído num nível mais baixo, ele coloca no nível do olhar os alinhamentos de arranha-céus no horizonte. De noite, uma incursão até o bar Skye, à beira da piscina (vermelha), pode proporcionar momentos excepcionais. Vinhos, caipiroscas (versão da caipirinha com vodka no lugar da cachaça, o álcool de cana), música "lounge", bossa "techno" e juventude dourada.

Em certos casos, ocorre que a riqueza não se sente à vontade num bairro por demais apertado como o dos Jardins e que ela resolve mudar-se para bairros modernos e promissores. Uma prova desta tendência é a loja Daslu, com os seus 20.000 m2 de luxo absoluto, um "shopping-bunker" que migrou em 2005 do bairro de Vila Nova Conceição para o vasto canteiro de obras de um futuro núcleo de urbanismo futurista à proximidade da Marginal Pinheiros, uma espécie de auto-estrada urbana que acompanha o rio, ultrapoluído, do mesmo nome.

Uma espécie de quadrado com colunas inspiradas na Grécia antiga que custou US$ 50 milhões (cerca de R$ 111 milhões), a Daslu acolhe seus clientes privilegiados com fausto. Manobristas trajando fraque e boné branco e preto, simpáticas e prestativas criadas de quarto de avental bordado, vendedoras "vitrines" que vestem a marca da casa.

Pode-se encontrar de tudo na Daslu: bolsas Vuitton, jeans Dolce & Gabbana, calçados Gucci, pulôveres Chanel, tudo importado. Perfumes, carros (Mini Cooper e Maserati), aparelhos de televisão de tela plana, modelos de iates. Pode-se também chegar de helicóptero pelos tetos e se refrescar no bar de champanhe projetado por David Collins, o arquiteto predileto de Madonna.

Aos membros da "jet set" ou aos seus fregueses endinheirados - uma clientela, na sua maioria, urbana, mas que inclui também um bom número de riquíssimos fazendeiros oriundos do interior do Estado de São Paulo, em geral a bordo de vans 4x4 blindadas com os seus guarda-costas num segundo veículo--, a Daslu propõe "um quadro de vida protegido".

Do outro lado do rio Pinheiros, fica a favela do Coliseu, pobre entre as mais pobres, onde a renda mensal média de um habitante não alcança o preço do ticket de estacionamento: R$ 30, uma tarifa que condiz com o padrão de riqueza da loja.



Internacional

Dois artigos sobre a região do oriente médio. No primeiro, o professor Maestri faz uma análise da vitória do Hamas nas eleições de janeiro, relacionando-a a outros eventos da região e da América Latina, entendendo tudo isso como a prova definitiva de que aqueles que profetizaram “o fim da história” estavam completamente equivocados. Será que uma “nova história” está sendo gestada sob nossos olhos? No segundo, Mariângela Berquó também analisa o significado da vitória do Hamas.

Hamas: Em pleno combate - Por Mário Maestri

O êxito do Hamas nas eleições de 25 de janeiro. A desocupação parcial da faixa de Gaza. Vitórias parciais que se materializam, mais e mais, na Palestina, no Iraque, no Afeganistão, na Venezuela, na Bolívia, diante dos olhos atônitos dos poderosos que haviam anunciado exultantes o fim da construção da história pelos povos. Leia http://www.novae.inf.br/pensadores/hamas.htm

Do Correio Caros Amigos:

Palestina, a vitória da Democracia
por Mariângela Berquó


O resultado das eleições parlamentares palestinas demonstra que o desejo de soberania do país é majoritário na população. Portanto, ao resto do mundo não cabe julgar e nem condenar a escolha feita de maneira clara e livre. Tem-se apenas de respeitá-la e fazer todo o possível para viabilizar, sem preconceitos nem falsos conceitos, a legalização do Hamas, pois esta parece ser a última esperança do povo de um acordo justo e definitivo.

A participação do Hamas, a organização exemplar, o clima de alegria em que o processo de votação ocorreu e a disciplina registrada na apuração dos votos, provam uma grande maturidade de militantes e eleitores, que responderam massiva e calmamente ao apelo das urnas.

Apesar disso e devido às práticas violentas do Hamas, aqui e ali se ouvem vozes alteradas, imagens agressivas veiculadas pela televisão e fisionomias estrangeiras perturbadas, temerosas de uma ‘islamização’ da Palestina. Como se os muçulmanos fossem majoritariamente obtusos e bárbaros. O que não são. No exílio, a Europa e os Estados Unidos estão cheios de intelectuais, cientistas, acadêmicos e criadores talentosos e tolerantes. Na Cisjordânia e em Gaza também.

Espera-se que, quando as armas do Hamas forem postas a serviço de um exército nacional e que os jovens tiverem liberdade e acesso ao estudo e ao trabalho, as palavras destes quadros bem preparados sejam ouvidas fora da Palestina e inspirem a reconciliação do povo de temperamento hospitaleiro, estudioso e aberto. No clima de tensão dos últimos anos era quase impossível que uma alternativa laica prevalecesse.

Um Fatah forte e com poder decisório teria sido o ideal, mas este não era o caso. Seu poder era fictício e a imagem de corrupção havia sabotado a credibilidade do partido e causado fissuras profundas. De tanto pressionar e humilhar os dirigentes do Fatah (quem não se lembra dos meses de reclusão ostensiva de Yasser Arafat em Ramallah?), os inimigos do Hamas acabaram contribuindo para legitimá-lo. Portanto, em vez de reclamar e lamentar o resultado das eleições o melhor é celebrar com os palestinos a vitória que obtiveram.

Quarenta e nove anos após a divisão das terras para a criação do Estado de Israel, pode-se afirmar que a Palestina é hoje um Estado de Fato e Democrático. A escolha do Hamas foi emitida por voto majoritário, e é irreversível e incontestável por qualquer que seja a força. Interna ou externa à Cisjordânia e a Gaza.

É claro que a juventude armada e desvairada é perigosa. Porém, estes mesmos jovens que em Gaza buscaram refúgio e esperança nas armas, após a partida dos colonos judeus, haviam dito ao Fatah que estavam aptos e prontos a integrar-se em uma polícia ou um exército regular, já que este era seu trabalho. Cabe agora ao Hamas a responsabilidade de encontrar-lhes emprego e à comunidade internacional autorizar a soberania política e militar do país.

O Movimento Islâmico de Resistência, cujo acrônimo Hamas significa entusiasmo, já é inevitável há anos, apesar de os ocidentais teimarem em ignorar sua influência. No exterior eles só eram conhecidos por suas ações militares, mas localmente, representavam um papel essencial junto à população carente dos territórios ocupados, sobretudo em Gaza.

Quando foi formado nos anos 70, suas atividades se resumiam a obras caritativas e culturais e sua participação política foi inclusive incentivada por Israel, para enfraquecer o Fatah. Com o passar dos anos e a impotência política, suas retaliações aos ataques israelenses foram se endurecendo, seu braço armado foi se estruturando, e sua influência foi aumentando até tornar-se o que é, após a última Intifada do início deste milênio, provocada pela presença de Ariel Sharon e sua escolta na Esplanada da Mesquita de Jerusalém.

Quando em 2001 Ariel Sharon foi eleito Primeiro Ministro de Israel, os progressistas do planeta tremeram, como tremem hoje os conservadores. O momento era de negociação e em vez de eleger um partido de conciliação, os israelenses optaram pelo extremismo do Likud. Temia-se o pior desse homem de guerra sanguinário, partidário da ‘Grande Israel’ e um dos principais responsáveis pelas colônias judias – o maior empecilho à paz pois inviabiliza a soberania do Estado Palestino.

Mas como a terra gira e a história é forçosamente evolutiva, os apelidos de ‘carniceiro’, ‘bulldozer’, foram arrefecendo e após o orquestrado espetáculo da evacuação de Gaza (enquanto outras colônias continuam sendo construídas silenciosamente na Cisjordânia), hoje há quem chame Sharon de homem de paz.

Mudam os tempos, mudam as vontades, já dizia Camões. Prova disto, em 1948, Albert Einstein e outros intelectuais da época, enviaram uma carta ao New York Times condenando o recém criado em Israel Partido da Liberdade, por sua ‘organização, métodos, filosofia política e social assemelhar-se às dos partidos Nazista e Fascista’. Este grupo armado cometeu inúmeros atos de teor terrorista, horrendos massacres, mas acabou se adaptando à conjuntura local, se transformando, e em 1978, o seu ex-líder, Menachem Begin, foi perdoado e o passado enterrado no Prêmio Nobel da Paz.

O mesmo aconteceu com Yasser Arafat, que a geração de hoje viu como um homem sofrido e impotente em face da força bélica e política de seus adversários. A minha geração o conheceu como o líder combativo da OLP, movimento pelo reconhecimento da Palestina considerado terrorista durante anos – até ser reconhecido, seus membros se diluírem no Fatah e Arafat ser eleito chefe de um governo local precário, mas legal, que lutava pela liberdade e a autonomia de seu país.

Quem diria que o Fatah viria a ser o partido moderado laico defendido pelos ocidentais? Pode ser que a segurança que Mahmoud Abbas transmite às potências ocidentais seja justamente a fraqueza que tirou sua credibilidade e o fez perder as eleições.

O contexto agora é outro e as caras mudaram.A mais conhecida é a de Ismail Hanyieh, nascido em um campo de refugiados no norte de Gaza e formado em Literatura na Universidade criada pelo Hamas, ao qual aderiu nos anos 80. Após a primeira Intifada, ele foi, junto com quatrocentos palestinos, expulso de seu país pelo então primeiro ministro de Israel, Yitzhak Rabin, para uma no man’s land (terra de ninguém) na fronteira com o Líbano. Um ato controvertido de Rabin, que jogou os refugiados nos braços da milícia xiita do Hezbollah, que os iniciou nos atentados suicidas.

Ismail Hanyieh retornou a Gaza em 1993, onde assumiu a chefia do Hamas quando o líder fundador e chefe espiritual do movimento, Ahmed Yassine, foi assassinado em 2004. Hanyieh é tido como um homem pragmático, capaz de adaptar-se a qualquer circunstância. Razão pela qual concordou em participar das eleições. A incógnita reside na data em que retirará do programa do Hamas a recusa de aceitação do Estado de Israel, um gesto de reciprocidade primordial. A eminência parda do Hamas é Khaled Meschaal, de volta à Palestina e teoricamente o número um, apesar de seu exílio na Síria ter impedido que assumisse a sucessão política de Yassine. Ele é de Ramallah, formado em Física no Kuwait e militante do Hamas na Cisjordânia desde 1990. Estava exilado na Síria após ter escapado de várias tentativas de assassinato – a última, por envenenamento na Jordânia pelo Mossad (serviço secreto israelense), o que obrigou Israel a desculpar-se publicamente e a libertar Ahmed Yassine. Khaled Meschaal tem sido o negociador internacional do Hamas. Tanto um quanto o outro foram criados na Palestina entrecortada por colônias judias, com a economia jugulada e sua população privada de perspectiva de futuro. Tanto um quanto o outro sabem que o futuro está na paz. Mas, nem um nem outro parece disposto a baixar a cabeça erguida a duras penas sofridas e infligidas. Como em qualquer democracia, é lógico que nem todos na Palestina estejam satisfeitos com a vitória do candidato de oposição. No exterior também se pode estar insatisfeito, como com a reeleição de Georges W. Bush. Contudo, quando não se conhece a região apenas como turista ocidental, com guias israelenses, de ônibus e boné, como os jornalistas estrangeiros durante a evacuação de Gaza, consegue-se entender o porquê deste resultado indesejado e procura-se enxergar os palestinos, globalmente, como os seres humanos e sofridos que são. Como os Estados Unidos em relação ao mundo, os direitos de Israel em relação à Palestina não têm limites. Em nome de uma segurança unilateral, tudo lhe é permitido: invadir impunemente os limites de uma fronteira imposta pela ONU, construir um muro além da Linha Verde (fronteira internacional), oprimir o povo que se encontra além deste, privá-lo de aeroporto, do direito de ir e vir e até de existir. De certa maneira, este conflito entre Israel e Palestina lembra-me o período negro da Ditadura no Brasil. De um lado, a legalidade (in)constitucional com todos os direitos: de seqüestrar, matar e aterrorizar. Do outro, os ‘subversivos’ e seu terrorismo amador doloroso e desajeitado. A nossa história tupiniquim terminou bem. Há quem diga que foi porque não levamos nada a sério. Outros, porque somos um país católico, em que o afeto e o perdão são inerentes à nossa condição humana. Ou então, que nosso horror a conflito faz com que vejamos que discussões sobre culpas e razões são estéreis, intermináveis e só servem para alimentar rancores. Como dizia Ghandhi, ‘Olho por olho leva o mundo todo à cegueira’.

Eis então uma idéia para a diplomacia brasileira: favor aconselhar a uns e outros israelenses e palestinos, em Brasília e na ONU, que ponham fim ao ódio fratricida, à paranóia, à vitimização sem fim e que negociem uma anistia total e irrestrita! Além do respeito dos tratados das Nações Unidas, é claro, pois a justiça é a condição sine qua non para a paz. Teriam sido ganhadas várias décadas e evitadas centenas de mortes se a fronteira entre Israel e a Palestina tivesse vigorado desde o início e se em Israel não se tivesse cultivado a amnésia.

Ainda é tempo de corrigir o erro, de retirar todos os colonos judeus da Palestina, retirar a Tsahal, derrubar o muro que ultrapassa a fronteira, respeitá-la e deixar os palestinos se emanciparem. Em vez de crucificar o Hamas, é melhor que o Ocidente se questione do porquê de um Movimento de vocação caritativa ter se transformado em carniceiro, e estender-lhe a mão antes que os fundamentalistas orientais o façam.

Mariângela Berquó é especialista em geopolítica, em Paris.

Brasil

As noticias brasileiras ainda se relacionam com a crise (a primeira, sobre o Duda Mendonça, e a terceira, sobre o Bornhausen). O segundo artigo traz um dado, no mínimo, curioso, nestes tempos em que se procura reviver e reavivar o mito de JK.


1. Augusto Nunes

Conta tudo, Duda

Augusto Nunes (do site NoMinimo)

O marqueteiro Duda Mendonça preparou com minúcia e requinte o depoimento de Duda Mendonça na CPI dos Correios. No começo de agosto de 2005, ele foi içado do grande pântano pelo puçá escalado para o resgate de donos de contas bancárias suspeitíssimas. Já sentindo na nuca o bafo dos investigadores, planejou o contragolpe.

Voluntariamente, irromperia no Congresso uma única e espetaculosa exibição. A performance previa passes de calcanhar, lançamentos de trivela, pedaladas de Robinho, chutes de letra, gols de bicicleta, o diabo. Feito isso, era correr para o abraço e, depois, para o mar da Bahia. Só ignorou a histórica lição de Garrincha: não combinou com os adversários o que desejaria fazer.

No dia 11 de agosto de 2005, o marqueteiro do rei irrompeu sem aviso prévio na sala da CPI, escoltado pela sócia Zilmar Fernandes, companheira de tabelinhas. Durante quase oito horas, seguiu aplicadamente a estratégia que montara, enriquecida por retoques visuais e dramáticos golpes de cena.

Os cabelos ralos informavam que pentes não passava por ali havia tempos. A camisa de mangas curtas sugeria simplicidade, desapego, gente como a gente. Chorou com capricho, feito ator de novela mexicana. Terminada a exibição, petistas choravam também. Oposicionistas se comoviam com o patriotismo do cidadão Luiz Eduardo Cavalcanti de Mendonça. A flor de sinceridade foi herói por algumas horas.

No depoimento, contou que recebera do vigarista Marcos Valério um ultimato: ou abria uma conta no exterior ou não receberia um só tostão do PT. O tamanho do débito – cerca de 13 milhões de dólares – dispensou-o de dúvidas aflitivas. "Era a única maneira de conseguir a quantia estabelecida em contrato", desculpou-se, olhos marejados. A platéia, emocionada, assentiu com balanços de queixo.

A conta homiziada em Miami, sob a guarda do BankBoston, tem o nome de Dusseldorf. (Boa escolha. Lembra aquele vampiro). Duda jurou que jamais cometera esse tipo de pecado. Só transgredira em Dusseldorf. Não tinha dinheiro em outros países, não movimentava contas em bancos lenientes. Mas havia muitos pecadores agindo à sombra do partido da ética, ressalvou.

Pormenores perturbadores sublinharam a descrição da lavanderia de dinheiro instalada no exterior por vestais decaídas do PT. Duda acabou reconhecendo que a Dusseldorf era uma conta-ônibus, utilizada para a consumação de bandalheiras. Alguns horrores depois, ele deixou a CPI com cara de coroinha. Achou que estava abandonando o palco. O depoimento seria o prólogo de um drama ainda longe do fim.

Já no meio da discurseira, integrantes da CPI perceberam que Duda estava contando só uma parte da história – e retocada. Nas semanas seguintes, comprovou-se que Duda tem uma penca de contas no exterior. É um veterano no ramo do enriquecimento em dólares. Reportagens recentes da revista Veja comunicam que Duda, sempre ouvido com atenção por caçadores de votos, merece ser ouvido com atenção redobrada por caçadores de pilantras. O publicitário milagreiro e o candidato a tudo Paulo Maluf conviveram anos a fio. Aparentemente, trocaram proveitosos segredos profissionais. Graças aos craque em ilusionismo eleitoral, Maluf aprendeu a não empinar o queixo, demitiu os aros truculentos dos óculos. Graças às lições do homem que fez São Paulo (fora o resto), Duda aprendeu a consumar tenebrosas transações a muitos quilômetros das fronteiras do Brasil.

Inquieto com o bombardeio crescente, Duda anda mandando recados ameaçadores a antigos parceiros. Se tentarem puni-lo, vai revelar o muito que sabe. É uma notícia excitante para um país às voltas com tantas perguntas sem resposta. Conta tudo, Duda

2. Será mesmo o corpo de JK?

Timóteo Lopes (do site NoMinimo - adaptação)


A dúvida acende seu primeiro sinal quando os esquifes de Juscelino Kubitschek e de Geraldo Ribeiro são retirados apressadamente de duas kombis em frente à sede da revista “Manchete”, na Rua do Russel, na zona sul do Rio de Janeiro. É madrugada de 23 de agosto de 1976, uma segunda-feira. São poucas as pessoas que àquela hora - quase quatro horas da manhã - ainda estão ali. Parecem tensas, nervosas, estupefatas com a trágica morte do ex-presidente e do motorista que o acompanhara durante os últimos 36 anos. Mas, para se desvencilhar da presença ostensiva de policiais, quase todos à paisana, elas são rápidas e decididas: em não menos de três minutos, carregam os caixões para dentro do saguão da “Manchete” e os dispõem lado a lado, em frente a uma escultura de pedras, árvores e raízes de Franz Krajcberg.

Com a justificativa de que os cadáveres ficaram completamente desfigurados, em conseqüência da gravidade do acidente na Via Dutra na tarde anterior, os esquifes de Juscelino e Geraldo estão - e irão permanecer até o sepultamento - absolutamente fechados. São exatamente iguais, até na simplicidade. A madeira de pinho envernizada de ambos é lisa, as alças, douradas. Não há um único detalhe que os diferencie. Logo, é natural que o porteiro Gileno Almeida faça uma indagação óbvia, mas adequada: “Em qual dos caixões está o corpo do presidente?” Diante dos mesmos esquifes que começam a ser cobertos com cravos vermelhos, brancos e roxos, o repórter Tarlis Batista é resoluto. Afinal, só ele, entre os presentes, pode ter alguma certeza, pois, aboletado em uma das kombis, havia comandado o transporte dos corpos desde o Instituto Médico-Legal. Tarlis levanta o braço o direito e, com o dedo indicador: aponta, convicto: “O presidente Juscelino está no caixão à esquerda.”

Todos os que chegam fazem quase a mesma pergunta: “Em qual dos caixões está o corpo do presidente?” Tudo é muito igual e ninguém parece lembrar ou tem coragem de estender uma bandeira nacional sobre o ataúde de Juscelino Kubitschek. Até às 11h45, o corpo do político mineiro é velado no edifício da “Manchete” e 1.892 assinaturas são registradas nos dois livros de presença. Em seguida, sob um escaldante sol do meio-dia, um cortejo de cerca de três mil pessoas ganha as ruas do bairro da Glória, entra no aterro do Flamengo e carrega nas mãos o que deve ser o esquife do ex-presidente até o Aeroporto Santos Dumont, de onde seguirá para o sepultamento no Campo da Esperança em Brasília.

O velório de Geraldo Ribeiro, no entanto, prossegue até perto das 16h, quando pouco mais de 100 pessoas levam o caixão para o Cemitério São João Batista. Ele é enterrado no túmulo 410-B da quadra 12. Na sede da “Manchete”, a dúvida se instala de vez: em que detalhe ou em que diferença Tarlis Batista havia se baseado para indicar, com tanta certeza, que o ataúde de Juscelino Kubitschek fora colocado à esquerda?

Esta é apenas uma das muitas histórias que começam a emergir com a ressurreição midiática de Juscelino Kubitschek no rastro da minissérie da TV Globo e será contada por funcionários dos áureos tempos da Editora Bloch em livro que deve ser lançado em meados do ano. Além de narrar o apogeu e a decadência de um império jornalístico, a publicação - que aponta indícios e possibilidades - pode instigar ainda mais o imaginário popular sobre uma morte que ainda permanece nebulosa, enigmática, polêmica. “Não foi uma nem duas vezes que ouvi falar de um possível engano, uma troca despropositada”, afirma o escritor e jornalista Murilo Mello Filho. “Logo, o corpo de Juscelino Kubitschek poderia ter sido sepultado no Rio e o de Geraldo Ribeiro no Campo da Esperança, em Brasília.”

4. Herr Bornhausen e a raça - Por Fernando Soares Campos

O senador e a esquerda confiável, ao estilo da ditadura.Leia http://www.novae.inf.br/pensadores/herr_bornhausen.htm

5. Guilherme Fiuza (do site NoMinimo)
A ladainha do miserê

Se a opinião pública soubesse como são feitas as salsichas e os índices de medição da pobreza, pararia de consumi-los tão avidamente.

O azar das estatísticas grandiloqüentes das Nações Unidas, da Fundação Getúlio Vargas, do IBGE e de outras catedrais da numerologia sociológica foi topar com um pesquisador chato e detalhista, que tem mania de correr mundo e só acreditar no que vê. Neste momento pré-eleitoral, em que o país tenta superar a miopia na forma de ver sua realidade e achar soluções para ela, é bom dar uma olhada num livro academicamente anárquico que acaba de sair.“Pegando no tranco: o Brasil do jeito que você nunca pensou”, publicado pela Senac Rio, foi escrito por Ricardo Neves.

Chamá-lo de pesquisador é uma enorme simplificação. Neves foi por muitos anos consultor do Banco Mundial, da ONU, de governos, empresas e ONGs. Não um consultor do tipo fazedor de relatórios encomendados. Sempre foi, ele mesmo, uma espécie de ONG do pensamento, da estratégia e da ação. Nessas grandes instituições, quem quer um paper bonito, vazio e impressionante, daqueles que dão boas manchetes e se dissolvem em seguida, sabe que não pode chamar Ricardo Neves.

No início dos anos 80, ele apareceu no Rio de Janeiro com uma entidade chamada Instituto de Tecnologia para o Cidadão. Era uma usina de diagnósticos e projetos para a melhoria do meio ambiente urbano, numa época que ecologia era cuidar de passarinho. Quase não foi levado a sério quando apresentou um plano de criação de uma rede de vias para bicicletas na megalópole carioca. As dezenas de quilômetros de ciclovias que compõem a estrutura urbana do Rio hoje nasceram na prancheta de Ricardo Neves.

Andarilho, tagarela, teimoso e obcecado por soluções práticas para tudo, Neves tornou-se uma espécie de xiita do otimismo. É especialmente alérgico à distância entre dados acadêmicos e realidade. Foi nessa rota que acabou trombando com as estatísticas oficiais sobre a pobreza no Brasil e no mundo. Não trombou pelo prazer de trombar. Mas pela simples convicção de que diagnósticos tortos produzem soluções equivocadas, e diagnósticos apocalípticos produzem paralisia. E o negócio dele é ação.

O Mapa da Fome, da Fundação Getúlio Vargas, é um dos alvos dos petardos de “Pegando no tranco”. Neves desmonta o índice de 60 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza sem condições suficientes de nutrição – produzido pela FGV e adotado como referência por instituições tão variadas como Banco Mundial, Nações Unidas, “The New York Times” e “The Economist”. É a conta do crioulo doido, feita a partir de declarações espontâneas sobre renda mensal, num país com mais da metade de trabalhadores na informalidade e sem vencimentos regulares. Um cruzamento com pesquisas de mercado, feitas a partir da aferição do consumo das famílias – informação bastante mais segura – revela uma gigantesca “melhoria de vida” do brasileiro. Fora o disparate metodológico das conclusões sobre subnutrição retiradas mecanicamente das tais declarações sobre renda.

O mapa mundial das desigualdades também não fica de pé ante as análises de Ricardo Neves. Com sua experiência de andanças pelos corredores de governos e instituições multilaterais, ele mostra que a reunião de dados para produção do Índice de Desenvolvimento Humano pode até dar samba-enredo, mas tem pouco a ver com estatística. Na alegre mistura de dados, bananas e laranjas, produz-se algumas criaturas monstruosas com cara de bebê Johnson. Entre elas está o célebre ranking que colocou o Brasil abaixo de Serra Leoa em desigualdade. Ao lado de outros estupros metodológicos, a comparação dos dados cruzava o Brasil de 1998 com Serra Leoa de 1989. Um pequeno lapso de quase uma década.

A cruzada de Neves contra o miserabilismo não tem nada a ver com dourar pílula ou síndrome de Poliana. “Pegando no tranco” tem mais de 100 páginas só de soluções e propostas estratégicas, que passam ao largo de possíveis classificações à direita ou à esquerda. O que o autor não tolera são os diagnósticos paralisantes, que acredita terem se tornado uma cultura, talvez devido ao apelo emocional, quase estético, do alarmismo. O que é bom para Hollywood não é necessariamente bom para as políticas sociais, indica. Entre os mitos analisados no livro está o da população de rua no Brasil. Em meados dos anos 80, a partir de um coquetel colhido em variadas fontes, formais e informais, a Unicef estimava haver 7 milhões de meninos de rua no Brasil. Logo o Consortium for Street Children, uma rede de ONGs para captação de recursos assistenciais no Reino Unido passou a trabalhar com o índice de 8 milhões. A rede de pastorais associadas à International Christian Organizations calculou em 12 milhões e, a partir de novas projeções, ONGs e imprensa internacional passaram a trabalhar com o número de 15 milhões de meninos de rua, quando a população nacional era de 150 milhões de habitantes – isto é, 10% dos brasileiros.

No início dos anos 90, diante da profusão de entidades voltadas ao tema e da baixa eficiência no combate ao problema, alguns estudiosos, como Herbert de Souza, Betinho, do Ibase, resolveram colocar uma lupa sobre essa estatística. Surgiu uma força-tarefa de recenseadores para mapear as ruas e localidades onde os meninos se concentravam nas grandes cidades, e montaram-se operações de medição instantânea, com intervalo de poucas horas, para cobrir e fazer o levantamento de todas as áreas inventariadas. O pente-fino estatístico chegou ao número de cerca de 20 mil crianças de rua nas cidades brasileiras. Os outros 14.980.000 estavam apenas no imaginário dos homens de boa vontade.Para o eleitor que anda enjoado de conversa de marketeiro, pode estar aí uma boa semente para o verdadeiro debate em 2006. Empurrando um pouquinho, talvez ele pegue no tranco.

5. Enviado pela Lucimary Fontes:

TRABALHO ESCRAVO

Inocêncio Oliveira, primeiro-secretário da Câmara, é condenado em segunda instância

Deputado pelo PL-PE teve sua condenação confirmada nesta terça (7) pelo TRT da 16ª Região (Maranhão). Ele era dono de uma fazenda onde 53 pessoas mantidas como escravos foram libertadas em 2002. Indenização pode chegar a R$ 300 mil.
Leonardo Sakamoto* – Especial para a Carta Maior

SÃO PAULO – O Tribunal Regional do Trabalho da 16ª Região (Maranhão) confirmou a condenação do deputado federal e primeiro-secretário da Câmara dos Deputado Inocêncio Oliveira (PL-PE) por reduzir trabalhadores à condição análoga à de escravo. Na tarde desta terça-feira (7), por 4 a 3, os desembargadores decidiram manter a decisão de obrigar o deputado a pagar uma indenização que pode chegar a R$ 300 mil.Inocêncio era proprietário da fazenda Caraíbas, no Maranhão, quando, em março de 2002, foram libertadas 53 pessoas que eram mantidas como escravos. Os trabalhadores vinham de União, no Piauí, município com altos índices de aliciamento por “gatos” (contratadores de mão-de-obra a serviço do fazendeiro). Durante a fiscalização na fazenda, uma ordem que teria surgido do governo federal na época fez com que os policiais federais que acompanhavam o grupo móvel de fiscalização se retirassem, deixando os auditores sem segurança. Houve pressões do poder executivo para que o caso fosse encoberto. Contudo, mesmo assim, o grupo móvel de fiscalização foi até o fim e a libertação dos trabalhadores ganhou repercussão nacional. O caso foi encampado pelo Ministério Público do Trabalho e pela Procuradoria Geral da República. Meses depois, Inocêncio vendeu a propriedade, que fica no município de Gonçalves Dias, no Maranhão, mas isso não o livrou de constar na primeira “lista suja” do trabalho escravo. Entre novembro de 2003 e novembro de 2005, ele ficou impedido de receber créditos de bancos e agências públicas de financiamento.Mas para o advogado do deputado, José Agripino, Inocêncio Oliveira saiu vitorioso do julgamento. “Os desembargadores reconheceram que não havia trabalho escravo, mas sim trabalho degradante, figura não prevista na legislação trabalhista.” Ele afirmou que irá recorrer da condenação pela indenização.


Filmes

1.Obra-prima do documentário político"A batalha do Chile" é uma obra-prima do documentário. A história do governo de Salvador Allende é relatada do início ao fim com o golpe do general Pinochet. Há drama, um cinegrafista morto em cena, o cineasta quase fuzilado e uma história bem contada.

http://nominimo.ibest.com.br/notitia/servlet/newstorm.notitia.

2. Mostra Passou Batido

A partir do dia 1º de fevereiro, quarta-feira, o Cine Humberto Mauro retoma suas atividades, e abre sua programação em 2006 com a Mostra Passou Batido. Nos circuitos de exibição de cinema, a rotatividade dos filmes em cartaz é cada vez maior, fazendo com que vários deles sejam exibidos por muito pouco tempo. Atento a esta realidade, o Cine Humberto Mauro decidiu selecionar oito filmes que “passaram batido” em 2005 e que, sem dúvida alguma, mereceriam ser vistos (ou revistos) pelo público de BH. A seleção foi feita levando-se em conta o tempo que os filmes permaneceram em cartaz (entre uma e três semanas), assim como sua qualidade e relevância cinematográficas.

Cabra-Cega (Toni Venturi, Brasil, 2004, 107’) Com Leonardo Medeiros, Débora Duboc, Michel Bercovitch.Thiago e Rosa são dois jovens militantes da luta armada que sonham com uma revolução social no Brasil. Após ser ferido por um tiro, em uma emboscada feita pela polícia, Thiago precisa se esconder na casa de Pedro, um arquiteto simpatizante da causa. Thiago é o comandante de um "grupo de ação" de uma organização de esquerda, que está no momento debilitada e estuda um retorno à luta política. Com o passar do tempo, Pedro passa a ficar preocupado com a segurança deles, adotando um comportamento estranho e colocando em dúvida se Thiago não seria um traidor.

Desde que Otar Partiu (Depuis qu'Otar est parti - Julie Bertucelli, França/ Bélgica, 2003, 102’) Com Dinara Drukarova, Nino Khomasuridze, Esther Gorintin.Ada vive num pequeno apartamento em Tiblisi, capital da Geórgia pós-soviética, com a mãe Marina e a avó Eka. A rotina tranqüila das três mulheres é alterada pela falta de notícias de Otar, o tio médico de Ada que foi para Paris, onde só conseguiu trabalho como pedreiro. Um dia, Ada e Marina descobrem um segredo que Eka jamais deverá saber.

Menina Santa (La Niña Santa – Lucrecia Martel, Argentina/Espanha/Itália, 2004, 106’) Com María Alche, Mercedes Morán, Alejandro Urdapilleta, Julieta Zylberberg.Amalia sente-se nos últimos momentos de sua adolescência. Ela vive em um grande hotel, cujos proprietários são sua mãe divorciada, Helena, e seu tio. Amalia e a melhor amiga, Josefina, estão crescendo e se interessando cada vez mais pelos assuntos relacionados ao sexo, encontrando dificuldades na educação católica e na comunicação entre mãe e filha sobre o assunto. Uma convenção médica na cidade traz o Dr. Jano e sua mulher para o hotel, presença que passa a exercer influência nesse aprendizado das jovens.

Questão de Imagem (Comme une image - Agnès Jaoui, França/Itália, 2004, 105’) Com Marilou Berry, Jean-Pierre Bacri, Agnès Jaoui.Lolita Cassard tem 20 anos. O fato de estar acima do peso faz com que tenha baixa auto-estima, apesar de ser uma talentosa cantora lírica. Além disso, Lolita não consegue chamar atenção do frio pai, o escritor Étienne. Egocêntrico, Étienne morre de medo do envelhecimento, pânico que tenta aliviar namorando mulheres mais jovens. Uma rede de relações complicadas arma-se quando Sylvia, professora de Lolita, descobre que ela é filha de Étienne, seu escritor favorito.


Noticias

1. O IDCP - Instituto de Desenvolvimento e Capacitação Profissional promove cursos à distância na área de educação. Alguns temas:- ALFABETIZAÇÃO: UMA LEITURA DE MUNDO- MÉTODOS E PROCESSOS DE ALFABETIZAÇÃO- AVALIAÇÃO: O DESAFIO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA- JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃOOs cursos são compostos de 4 módulos cada um e, ao final, o aluno recebe um certificado de participação (36 h/a) emitido pelo IDCP - Instituto de Desenvolvimento e Capacitação Profissional / PRONAQUE - Programa Nacional de Qualificação de Educadores, para acrescentar no currículo.Cada módulo custa apenas R$10,00 e é enviado via internet (também temos a opção de envio pelo correio). Para maiores informações acesse: www.idcp.xpg.com.br ou entre em contato através do email: idcprof@hotmail.com

2. MEC distribui cartilha sobre Ensino Fundamental de 9 anos

Todas as escolas de Ensino Fundamental deverão receber do governo um exemplar do documento Ensino fundamental de nove anos: orientações pedagógicas para a inclusão de crianças de seis anos. As escolas que já adotam o sistema receberão também um kit contendo jogos pedagógicos, filmes sobre alfabetização e mais livros do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). MEC

3. XI Seminario Internacional Problemas Actuales de África y el Medio Oriente: "África y Medio Oriente ante los desafíos de las políticas neoliberales"

Centro de Estudios sobre África y Medio OrienteLa Habana - Cuba12 a 14 de julho de 2006INFORMAÇÕES...

4. XII Encontro Estadual de Professores de História - História e Multidisciplinaridade: Fronteiras e DeslocamentosANPUH-PBUniv. Federal de Campina GrandeCajazeiras - PB23 a 28 de julho de 2006LEIA MAIS...


Livros e revistas

1. Revista Historia Viva nº 28 – Dossiê: Munique 1972 – Artigos: Miguel Ângelo, o gênio que marcou a Renascença – Antropofagia romana – Copistas medievais – Índios norte-americanos na I Guerra – As francesas colaboracionistas – Corrupção no Brasil está ligada à chegada da família real – Manet no carnaval carioca.

2. Revista Nossa História nº 28 – Dossiê: Genealogia – Artigos principais: A questão Christie – Campos Salles, o homem da mídia – Enredos afagando o regime militar ajudaram a Beija-flor a chegar à elite do carnaval – Lupicinio Rodrigues – Passado e presente na sala de aula

3. O imaginário Trabalhista, de Jorge Ferreira. 350 p., Ed. Civilização Brasileira, R$ 45,90. Analisa o panorama político brasileiro de 1945 a 1964, o getulismo e a formação do PTB.

4. A Revolução burguesa no Brasil, de Florestan Fernandes. Clássico da historiografia brasileira é relançado pela Ed. Globo. 504 p., R$ 55,00

5. AI-5, a opressão no Brasil, de Hélio Contreras. Ed. Record, 256 p., R$21,90. jornalista reúne depoimentos de militares sobre a ditadura.

6. História em cousas miúdas, de Sidney Chaloub (org). Unicamp, 592 p., R$40,00 – Coletânea de 17 ensaios inéditos sobre a História social da crônica no Brasil.

7. Será que temos futuro, já que somos um país em que falta lei, educação, cultura, leitores, igualdade e, parece, até um pouco de caráter?A pergunta cabe: nosso país tem jeito? Podemos, de fato, acreditar num Brasil diferente e melhor do que temos?O Brasil tem futuro? é um livro de ensaios “republicanos”, escritos com clareza e determinação. Mostra que práticas cidadãs não rimam com esperteza, com levar vantagem, com ser anti-republicano. Um país se constrói a partir de um pacto social em que todos são protagonistas, não espectadores. É hora de sermos protagonistas. E este livro dá algumas idéias de como fazê-lo.O livro é publicado pela Editora Contexto. 128 p., R$25,00.Autor: Jaime Pinsky é historiador, doutor e livre-docente pela Universidade de São Paulo – USP e professor titular da Unicamp. Escreveu ou coordenou mais de vinte livros, entre os quais História da cidadania, Práticas da cidadania, 12 faces do preconceito, Escravidão no Brasil, Cidadania e educação, As primeiras civilizações e Faces do fanatismo todos da Editora Contexto. Colunista do Correio Braziliense, tem escrito também em vários outros jornais e revistas.

8. REVISTA PONTES ::..
http://www.revistapontes.cjb.net/
CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
NESTA EDIÇÃO, nº 7 :

- POST 2
- PENSANDO NA VIDA- EXPERIÊNCIA SUBJETIVA E AMBIENTE CONSTRUÍDO: UM ESTUDO ACERCA DA PARTICIPAÇÃO DOS USUÁRIOS EM UM ESPAÇO COLETIVO
- PRÁTICAS ESPORTIVAS ATENIENSES NO PERÍODO CLÁSSICO

Acesse e envie o seu artigo!Nas edições seguintes, um deles pode ser o seu.


Sítios interessantes

1. Pergaminho – revista eletrônica de História da Universidade Federal da Paraíba
http://cchla.ufpb.br/pergaminho/

2. Seria o Brasil o berço dos dinossauros?

Os depósitos triássicos de nosso país contêm fósseis de algumas das formas mais primitivas desses répteis pré-históricos
veja em: http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/4207

3. É com um imenso orgulho que comunicamos o lançamento da Revista Honoris Causa.
Um projeto de Maria Tereza Armonia e Vânia Moreira Diniz, a revista
busca informar educadores e o público em geral sobre assuntos ligados à Educação.
Esperamos a sua visita para prestigiar este novo veículo que surge na Internet e o nosso trabalho, que foi feito com muito carinho para você.
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Queremos saber sua opinião, que é muito importante para nós.
Gostaríamos ainda de contar com o seu repasse aos amigos.
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Um abraço carinhoso.
Maria Tereza Armonia
e Vânia Moreira Diniz







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