Boletim Mineiro de História

Boletim atualizado todas as quartas-feiras, objetiva trazer temas para discussão, informar sobre concursos, publicações de livros e revistas. Aceita-se contribuições, desde que versem sobre temas históricos. É um espaço plural, aberto a todas as opiniões desde que não contenham discriminações, racismo ou incitamentos ilegais. Os artigos assinados são de responsabilidade única de seus autores e não refletem o pensamento do autor do Boletim.

31.1.07

Número 076




EDITORIAL

Nosso boletim de hoje dá uma atenção especial à questão ambiental que já motiva interesse da mídia em função do Relatório que será divulgado dia 2 de fevereiro, mostrando o perigo que estamos todos correndo em função do aquecimento global. São três artigos que precisam ser lidos.

Leia no portal Terra

ONU dobra previsão de aumento da temperatura

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU, previsto para ser divulgado no dia 2 de fevereiro, deve anunciar uma previsão de aumento na temperatura do planeta entre 2ºC e 4,5ºC acima das médias desde o período anterior à Revolução Industrial até o fim do século XXI. A probabilidade maior é de que a elevação seja de 3ºC.
» Aquecimento: relatório trará más notícias
» Problema atinge mais os países pobres

e no portal UOL:

O aquecimento global fará com que milhões de pessoas passem fome por volta de 2080 e causará grave falta de água na China, na Austrália e em partes da Europa e Estados Unidos, segundo um novo estudo sobre o clima mundial.
http://noticias.uol.com.br/ultnot/reuters/2007/01/30/ult729u64325.jhtm

e no Observatório da Imprensa:

O desafio da mídia é fazer você entender para crer
Postado por Luiz Weis em 30/1/2007 às 3:25:58 PM





Na sexta-feira, sai o que tem tudo para ser, desde já, um dos documentos históricos deste século.
Trata-se do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), organizado pela ONU.
Produto do trabalho de 2.500 cientistas, o texto de 1.644 páginas em espaço simples a ser divulgado em Paris resume o mais completo estudo já feito sobre o aquecimento global e os seus efeitos previsíveis. Tem a pretensão, ao que tudo indica fundamentada, de ser a palavra final sobre o assunto.
E se não for, será antes por prudência do que por soberba.

Para não serem acusados de catastrofistas, os cientistas - e, mais ainda, os representantes dos governos membros do painel - resolveram que a versão final só afirmará o que os seus autores considerarem, por consenso, incontestável.

"O que aterroriza no documento é o fato de ele ser muito conservador", disse ao semanário londrino Observer um especialista em clima, familiarizado com o texto, que preferiu o anonimato por ser funcionário da ONU.

Conservador como é, o estudo acaba com quaisquer dúvidas que ainda pudessem subsistir sobre os seguintes dados essenciais do problema:

1. O efeito estufa - o aprisionamento do calor solar na atmosfera terrestre - não só é uma realidade, mas se acentua:
* 12 dos últimos 13 anos foram os mais quentes de que se tem registro;
* a temperatura média mundial subiu 0,6 grau no século passado;
* o aumento das temperaturas oceânicas já chegou a 3 mil metros abaixo da superfície; o nível do mar vem subindo à razão de 2 mm por ano;

2. O efeito estufa não é um evento climático natural, parte dos ciclos de esfriamento e aquecimento do ambiente terrestre.
3. O efeito estufa é consequência direta do acúmulo, na atmosfera, de gás carbônico, resultante da queima de volumes colossais - e crescentes - de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, as fontes de energia que movem o mundo contemporâneo. Delas dependem praticamente todas as atividades produtivas e de prestação de serviços e a vida cotidiana de todas as populações que já deixaram o estágio tribal.
4. As emissões industriais de gases estufa afetam o clima da Terra cinco vezes mais do que as mudanças naturais na intensidade do calor solar. E mais de 90% do aquecimento global registrado nos últimos 50 anos se deve à concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Antes da Revolução Industrial, essa concentração era da ordem de 280 ppm (partes por milhão). Hoje é de 380 ppm. A tendência é chegar a 550 ppm até o fim do século.
5. O efeito estufa atinge o ecossistema por inteiro, provocando mudanças de todo tipo na natureza e vida selvagem, com consequências catastróficas para a existência humana.
6. Essas consequências virão antes e serão mais devastadoras - e duradouras - do que se previa.
Segundo trechos do relatório do IPCC que começaram a vazar na imprensa desde dezembro - primeiro no El Pais de Madrid, depois no Toronto Star, no New York Times, no já citado Observer, no Independent de Londres - e até no Fantástico de domingo, da Rede Globo - a humanidade que se prepare para:
1. Aumento da temperatura média do planeta da ordem de 3 graus, ao longo do século, acompanhado de ondas mais frequentes de calor letal.
2. Elevação do nível do mar de mais de meio metro.
3. Desertificação em ampla escala.
4. Derretimento acelerado de geleiras e da neve, salvo a das montanhas mais altas do mundo.
5. Acidificação dos oceanos, com a destruição de atóis e recifes de coral.
6. Tempestades, ciclones e furacões mais frequentes e intensos. [O tsunami que varreu a Ásia em dezembro de 2004 não teve relação com o efeito estufa. O furacão Katrina que arrasou Nova Orleans em novembro de 2005, sim.]
Em consequência, meio bilhão de pessoas, se não mais, serão obrigadas a fugir das suas regiões devastadas, particularmente nos litorais intensamente povoados dos trópicos e das terras baixas (Bangladesh é o exemplo clássico).
O resultado - já previsto no recente Relatório Stern, do governo britânico - será uma recessão econômica mundial, portanto mais fome, pobreza e doenças.
Atenção: essas não são profecias de ecoxiitas de olhos esbugalhados. São conclusões científicas mais embasadas que as dos relatórios anteriores do IPCC. Antes, os cientistas usavam termos como "provavelmente". Agora, dizem "muito provavelmente" e "quase certo".
Estamos irremediavelmente condenados? É possível, mas não é de todo certo - embora até aqui os pessimistas, em matéria de razão provada, venham goleando os otimistas.
No documentário fora de série sobre o assunto, "Uma verdade inconveniente", o ex-vice americano Al Gore, personagem central do filme que mostra o efeito estufa acontecendo, adverte para que não se passe da descrença ao desespero ("from denial to despair", no original).
Já o cientista inglês Peter Cox nos compara a alcoólatras que finalmente começam a reconhecer o seu problema. "Agora", diz, "precisamos parar de beber, o que significa reduzir as emissões de carbono".
Como é que se chega a isso?
O ponto de partida é acreditar nos cientistas quando dizem que nenhum outro problema com que a humanidade se defronta é mais grave que o do aquecimento da Terra. Nem o terrorismo, nem a proliferação nuclear, nem a pobreza e a desigualdade, nem o narcotráfico.
Para acreditar nisso é preciso acreditar nas conclusões dos estudiosos do clima. Para acreditar nelas, é preciso entender as relações de causa e efeito entre o aquecimento, o seu impacto sobre a natureza e dela para a vida humana.
Para que se entenda isso, a mídia tem um papel absolutamente decisivo. Não bastam imagens, tabelas e palavras assustadoras (embora corretas). O desafio da mídia é fazer as pessoas compreender porque um planeta 3 graus mais quente em média é destruição garantida em proporções colossais.
Tempos atrás, ouvi do diretor de um dos mais importantes jornais brasileiros o seguinte: "Sinceramente não sei o motivo para tanto barulho porque a Terra ficou 0,6 mais quente. Que diferença faz isso?"
É o passo-a-passo do efeito estufa que tem de ser mostrado uma vez e outra e outra ainda para que as pessoas se convençam da sua gravidade sem precedentes - e pressionem o Capital e o Poder a fazer a revolução que se impõe em matéria de uso de energia. E para que elas mesmas, na sua vida cotidiana, criem hábitos menos destrutivos para o ambiente – e si próprias.
O combate ao efeito estufa é importante demais para ficar restrito aos ambientalistas.
Ou o ser humano passa a crer na "verdade inconveniente" de que fala Al Gore, ou "o mundo começou e acabará sem o homem", na frase do célebre antropólogo francês Claude Lévi-Strauss que serve de título para o artigo do economista Gilberto Dupas na Folha de hoje.
Ele resume o drama em poucas palavras:
"Urge aos governos e às instituições internacionais tomarem medidas preventivas drásticas imediatas em nome dos óbvios interesses dos nossos descendentes. Mas, como fazê-lo, se o modelo de acumulação que rege o capitalismo global exige contínuo aumento de consumo e sucateamento de produtos, acelerando brutalmente o uso de recursos naturais escassos? O dilema é ao mesmo tempo simples e brutal: ou domamos o modelo ou envenenamos o planeta, sacrificando de vez a vida humana saudável sobre a terra."
***

Depois deste início assustador, vamos examinar um documento muito citado mas pouco conhecido da História brasileira: o artigo em que Aristides Lobo fala que “o povo assistiu bestializado” à proclamação da República no Brasil, na seção Falando de História.
Na seção Brasil, Altamiro Borges mostra que a mídia tucana sabota o Mercosul; o jornalista José de Castro volta ao tema da alta mortalidade juvenil no Brasil e Leonardo Sakamoto observa que os grandes “especialistas em economia” da mídia já elegeram o salário mínimo como o grande vilão que emperra o crescimento de nosso país.
Na seção Internacional,
Maior favela da África aposta na juventude e organização popular como saída – Emir Sader, em seu blog, cita Ignácio Ramonet para entender o que é a globalização – Os protestos em New York contra a guerra do Iraque - Processo político na América Latina concentra atenção de africanos.
Notícias, novas revistas e um Dossiê sobre os 3 anos da chacina de Unaí completam os temas deste número. Bom proveito! E comente, critique... afinal, o Boletim é de todos nós!

FALAM AMIGOS E AMIGAS

1. Parabéns. O Boletim esta cada vez melhor.
Marco Túlio Martins

2. Hoje vi um filme, do qual gostei muito, e acredito que seja interessante que nossos colegas, se tiverem interesse, dessem uma olhadinha. O nome dele é "Cama de Gato" de Alexandre Stockler.
Esse filme trata de adolescentes da classe média brasileira; muitas vezes sem limites, apáticos a real condição humana e social em que vivemos. Discursos muito interessantes são proferidos, onde percebemos as discrepâncias de ideologias e realidades. Humor negro sim, mas que mostra, numa realidade nua e crua, as disparidades da classe média brasileira.
Vale a pena conferir.
Agradeço;
Bruno Dutra

FALANDO DE HISTORIA

É famosa, na história brasileira, a frase do jornalista Aristides Lobo, a respeito da proclamação da República; segundo ele, o povo teria assistido bestializado ao que se passara no dia 15 de novembro de 1889.
Você tem a oportunidade de conhecer o artigo completo, no site do Franklin Martins, é só clicar aqui:
www.franklinmartins.com.br. Ao abrir, clique em Estação História, lá em cima, perto da foto do Congresso. Ai procure pelo documento 37.

BRASIL

1. Mídia tucana sabota o Mercosul

Altamiro Borges
A mídia hegemônica brasileira, infiltrada de liberais-conservadores e sempre tão servil aos desejos do Tio Sam, tentou desqualificar de todas as formas a 32ª Reunião de Cúpula do Mercosul realizada na semana passada, no Rio de Janeiro. A poderosa Organização Globo, através de suas filiadas de televisão, de suas rádios e de seus jornais impressos, evitou informar seus incautos sobre os resultados concretos do evento. Em várias matérias opinativas, ela investiu contra o Mercosul, classificando a reunião de “ideologizada, atrasada, politiqueira” e tantos outros adjetivos, e tentou semear intrigas entre os governantes presentes.
Não é para menos que o presidente Hugo Chávez, que não se ilude sobre o papel dos meios privados de comunicação, disparou contra o jornal desta organização, que condenou o Mercosul e fez duras críticas ao processo de nacionalização da economia venezuelana. Durante a solenidade de sua premiação com a Medalha Tiradentes, num ato que lotou a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, ele disparou: “Não tenho dúvidas de que ‘O Globo’ é um inimigo do povo brasileiro e latino-americano. Os oligarcas da Rede Globo acham que me ofendem. Mas perdem seu tempo. A águia não caça moscas”.
Travestidos de articulistas
No mesmo rumo, outros órgãos da imprensa alardearam que a reunião do Mercosul foi um fiasco, que os governos da região estão divididos e que o encontro serviu apenas de palanque para “o discurso atrasado do populismo radical”. A TV Cultura, sob o controle do governo de São Paulo e que hoje é um ninho de tucanos, descumpriu o seu papel de emissora pública de informar os telespectadores. O “comentarista” Alexandre Machado, ex-secretário de comunicação do governador Mário Covas e ex-superintende de comunicação da Petrobras na gestão de FHC, foi o mais corrosivo nas críticas – talvez saudoso da política de “alinhamento automático” com os EUA e de negociação subalterna do tratado neocolonial da Alca!
Já Eliane Catanhêde, “articulista” da direitista Folha de S.Paulo e casada com Gilnei Rampazzo, um dos donos da GW, agência de publicidade que fez as campanhas de Geraldo Alckmin e José Serra, destilou o seu veneno. Mesmo reconhecendo as “preocupações sociais” dos novos governos da região, concluiu que “os resultados da 32ª reunião de Cúpula do Mercosul foram objetivamente pobres”. O problema, teoriza, é que os novos governantes “ajustaram tom e prioridades aos de Chávez, o que equivale dizer: à esquerda. E ambicionam ampliar as fronteiras e os propósitos do Mercosul. Criado com um fim em si mesmo, hoje o bloco é um trampolim para a união de toda a América do Sul, quiçá da própria América Latina”.
Integração segue adiante
No geral, a mídia hegemônica preferiu esculhambar a Cúpula do Mercosul e esqueceu-se de cumprir seu papel constitucional de informar o público sobre os resultados concretos do evento, que teve um grande significado político, econômico e social. Num artigo elucidativo, intitulado “Mercosul dá novo passo à frente”, o sociólogo Ronaldo Carmona, integrante da Comissão de Relações Internacionais do PCdoB, desmascarou esta vergonhosa manipulação. “Enquanto os cães ladram, a caravana da integração segue adiante. No entanto, essa reação colérica e uníssona da grande mídia coloca, diuturnamente, a premente necessidade de uma imprensa plural, democrática, que não reflita apenas um ponto de vista, como hoje”.
Para ele, ao contrário do alardeado pela mídia neoliberal, “a edição de Copacabana da reunião semestral dos chefes de Estado do Mercosul foi positiva: deu novos e concretos passos no sentido de seguir aprofundando as múltiplas dimensões em que consistem as tarefas da integração sul-americana. Novos passos na integração efetiva da Venezuela e agora da Bolívia; amplo acordo Petrobras-PDVSA; primeiros projetos do fundo contra as assimetrias; financiamento do desenvolvimento, dentre outras discussões e decisões, marcaram o fim da presidência semestral brasileira”. Ele cita ainda os avanços na institucionalização do bloco, com a criação do Parlamento do Mercosul e do Instituto Social do Mercosul.
“Mercosul pertence ao povo”
Numa longa entrevista ao Valor Econômico, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, também avaliou como positiva a reunião. No campo estritamente comercial, ele lembrou que o Mercosul começou movimentando US$ 4 bilhões e hoje supera os US$ 30 bilhões. Já no campo político, ele reconheceu que existem dificuldades, mas reafirmou seu otimismo com a integração. “O Mercosul não pertence mais aos governos e aos burocratas, é propriedade dos povos da região. Acho que foi a reunião mais importante de que já participei do Mercosul e da América do Sul. Nunca houve uma reunião operativa, não meramente celebratória, com onze chefes de Estado e de governo presentes, com discussões tão francas, tão abertas, tão reais. É claro que, justamente por ser um ambiente franco e real, você tem a percepção do que está acontecendo, percebe as diferenças. Acho que o Mercosul saiu fortalecido”.
Celso Amorim também rejeitou a leitura feita por uma parte da mídia, de que a declaração conjunta dos governantes presentes à reunião referente à democracia no continente foi uma condenação ao presidente Hugo Chávez. “Não interpreto dessa maneira. Como é que o presidente Chávez iria subscrever uma declaração que tivesse esse objetivo? Ele é parte da declaração. Há, sim, um sentimento forte na região de apego à democracia, inclusive do presidente Chávez, que assinou esse documento. O apego à democracia é de todos, independentemente de se vai ter mais ou menos participação do Estado, mais ou menos setor privado, mais ou menos investimento estrangeiro. A democracia é um elemento indispensável da integração sul-americana. O povo venezuelano, numa ação promovida por Chávez, colocou na constituição uma cláusula que não existe em outros países, o chamado referendo revocatório, a possibilidade de destituir o presidente no meio do mandato. Ele enfrentou esse referendo e foi confirmado no cargo. Como Chávez vai conduzir a política interna é uma questão do povo venezuelano. Eu posso ter minha opinião, mas isso não interessa, interessa a do povo venezuelano. A gente não pode querer ao mesmo tempo ser democrata, isto é querer que o povo tenha liberdade de escolher, e depois dizer que ele deveria ter escolhido não como ele queria, mas como a gente queria. Isso é uma contradição”.
Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro “Venezuela: originalidade e ousadia” (Editora Anita Garibaldi, 3ª edição)
2. leia no www.tamoscomraiva. blogger.com. br
Quais são as causas da mortalidade juvenil, tão alta entre pobres e negros? José de Castro disseca o tema, falando do tráfico de drogas, da impunidade, das relações entre a polícia e o crime, do preconceito que entende que a pobreza motiva o crime, da falta de políticas públicas que pensem em prevenção. Este artigo, cheio de dados e casos, merece ser lido atentamente por todos, especialmente os da classe média apática e segura.
3. AGÊNCIA CARTA MAIOR
DEBATE ABERTO
Salário mínimo: o “vilão” do desenvolvimento
Se alguém fosse se basear pelas análises de “especialistas” que a mídia tem veiculado nos últimos meses – e de forma mais intensa após o anúncio do PAC – diria que um dos culpados pelo país não crescer como deveria é o custo do salário mínimo.
Leonardo Sakamoto
Com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) os “especialistas” voltam à carga, e, tendo a mídia à disposição para veicular suas análises, indicam um novo vilão nos entraves ao desenvolvimento do país:o salário mínimo.
Separei quatro pérolas desses especialistas. Um amigo, jornalista da área de economia, disse que elas são uma prova de que se perdeu a vergonha de dizer, em público, que os pobres que se danem. Eu não concordo. A prova mais clara de que não se joga totalmente às claras é o fato dessas análises serem dadas em uma linguagem que poucos conseguem entender. Falam em código para atingir aqueles que sabem decodificá-lo.Ou seja, quem tem dinheiro.
“O governo deve desvincular a Previdência do aumento do salário mínimo. Os aposentados não podem receber aumentos na mesma progressão que a população economicamente ativa”
Em outras palavras, quem pode vender sua força de trabalho merece comer, pagar aluguel, comprar remédios. O governo tem que se preocupar em garantir a manutenção da mão-de-obra para o capital – o resto que se dane. Para que gastar com quem já não é útil à sociedade com tanta dívida pública para ser paga? Melhor seria instituir de vez que, chegando a tal idade, os idosos pobres deveriam se destinar a instituições parecidas com aquelas do livro “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, para serem literalmente reciclados. Mais rápido e limpo.
“Cada real a mais de salário mínimo representa um aumento de R$ 200 milhões no prejuízo do governo federal”
Primeiro, se fossem efetivamente cobradas as grandes empresas sonegadoras da Previdência, o rombo não seria desse tamanho. Mas isso é de interesse de quem? Dos representantes políticos que receberam doaçõesde campanhas dessas mesmas empresas? OK, o debate é bem mais complicado que isso. Mas a verdade é que, a cada aumento no salário mínimo, ocorre um aquecimento na economia de locais de baixa renda, o que gera empregos e melhora a qualidade de vida de milhões de pessoas. O aumento no mínimo é uma poderosa ferramente de desenvolvimento local – bem ao contrário de grandes empreendimentos que demandam um alto custo (social, ambiental, fiscal...) e não dão um retorno à altura. Então, seria interessante o especialista definir melhor o que é “prejuízo” antes de usar o termo.
“É importante aumentar o mínimo? Sim. Mas a população tem que entender que não é o aumento do mínimo que vai distribuir renda e sim o crescimento da economia”
Os economistas da ditadura militar falavam a mesma coisa, mas de uma forma diferente, algo como “é preciso primeiro fazer o bolo crescer, para depois distribui-lo”. Considerando que nossa concentração de rendaé uma das mais altas do mundo, percebe-se o tipo de resultado que dá essa fórmula. Além do mais, salário mínimo não é programa de distribuição de renda, é uma remuneração mínima – e insuficiente – porum trabalho. Não é caridade e sim uma garantia institucional de um mínimo de pudor por parte dos empregadores e do governo. O melhor de tudo é o tom professoral de “A população tem que entender”, como se o jornalista que disse isso fosse um ser iluminado dirigindo-se para o povo, bruto e rude, para explicar que aquilo que eles sentem nãoé fome. Mas sim sua contribuição com a geração de um superávit primário de 4,25% para que sejam honrados os compromissos internacionais do país.
“Já houve um bom aumento do mínimo nos últimos anos. Agora, o governo deve diminuir o ritmo de aumento para não prejudicar o país”.
De acordo com o Departamento Intesindical de Estatística e Estudos Econômicos (Dieese), o salário mínimo mensal necessário para manter dois adultos e duas crianças deveria ser de R$ 1.564,52 – em valores dedezembro de 2006. Hoje, é de R$ 350,00. O Dieese considera o salário mínimo “de acordo com o preceito constitucional ‘salário mínimo fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidadesvitais básicas e às de sua família, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, reajustado periodicamente, de modo a preservar o poder aquisitivo,vedada sua vinculação para qualquer fim’ (Constituição da República Federativa do Brasil, capítulo II, Dos Direitos Sociais, artigo 7º, inciso IV)”. Infelizmente, no Programa de Aceleração do Crescimento, o governo federal assumiu um ritmo de aumento do mínimo, para os próximos anos, abaixo do esperado por muitos sindicatos. Mesmo assim o “país” prejudicado do especialista – aquele grupo reduzido de pessoas que ganhadinheiro com os juros – não ficou satisfeito com essa medida.
Por fim, vale lembrar que falar em código não é um hábito restrito a uma ideologia. Grandes “especialistas” de esquerda também são craques em falar para si mesmos. Escrevem belíssimos textos sobre os problemasnacionais mas que só os que já conhecem o assunto ou os que têm uma formação específica vão poder ler. Não se interessam em ampliar o debate para o povo por preguiça ou preconceito.
De qualquer maneira, “especialista”, de esquerda ou direita, não ganha salário mínimo.


INTERNACIONAL
Vivendo sob condições subumanas, 800 mil moradores da megafavela de Kibera, em Nairobi, estreitam laços globalmente para enfrentar o descaso do governo queniano e a situação de completo abandono em que se encontram. > LEIA MAIS Direitos Humanos 29/01/2007

2. No blog do Emir Sader, um texto de Ignácio Ramonet, editor do Lê Monde, didaticamente nos explica o que é a globalização.

O que é a globalização
Sob o título “O mercado contra o Estado", Ignacio Ramonet – editor do Le Monde Diplomatique e autor de “Biografia a duas vozes”, entrevista de cem horas com Fidel Castro (Boitempo Editorial) – dá uma sintética e competente definição da globalização neoliberal.Usemos este texto como tema de discussão, para entender melhor os problemas do nosso tempo, do mundo e do Brasil. É um bom texto para ser reproduzido e utilizado em seminários de debate.
"O que é a globalização? O enfrentamento central do nosso tempo. Aquele do mercado contra o Estado, do setor privado contra os serviços públicos, do indivíduo contra a coletividade, dos egoísmos contra as solidariedades.
Por todos os meios, o mercado procura ampliar sua área de intervenção em detrimento do Estado. É por isso que as privatizações se multiplicam em todos os lados. Elas são, de fato, simplesmente transferências para os setor privado de fragmentos (empresas, serviços) do patrimônio público. O que era gratuito (ou mais ou menos barato) e à disposição de todos os cidadãos sem distinção se torna pago ou mais caro. Esta grande regressão social tem sobretudo relação com as camadas mais pobres da população. Porque os serviços públicos são o patrimônio dos que não têm patrimônio.
A globalização é também, pelo mecanismo das trocas comerciais, a interdependência cada vez mais estreita das economias de numerosos países. O fluxo das exportações e das importações aumenta regularmente. Mas a globalização das trocas se refere sobretudo ao setor financeiro, porque a liberdade de circulação dos fluxos de dinheiro é total. E isto faz com que este setor domine, com grande vantagem a esfera da economia.
As pessoas que detêm fortunas se encontram, para multiplicar seu capital, diante da seguinte alternativa: seja investir seu dinheiro na Bolsa (não importa em que Bolsa do mundo, pois os capitais circulam sem entraves), seja investi-lo em um projeto industrial (criação de uma empresa de fabricação de produtos de consumo). Neste caso, a rentabilidade média é de entre 6 e 8% na Europa. Em compensação, no caso de um investimento na Bolsa, a rentabilidade pode chegar a níveis muito mais altos (na França, em 2006, os mercados bursateis conheceram uma alta de 17,5%, na Alemanha de 22% e na Espanha de 33,6%!)
Diante de diferenças tão grandes, os proprietários de capitais só aceitam investir na indústria (onde são criados empregos) com a condição de que isso lhes renda cerca de 15% ao ano. Mas vimos como a rentabilidade média para esse tipo de investimento na Europa é de entre 6 e 8%. O que fazer? Pois bem, investir na China ou na Tailândia, por exemplo, países nos quais, em razão dos custos muito baixos da mão de obra, o retorno sobre o investimento pode chegar e até superar os 15%. É por isso que tantos investimentos são feitos atualmente, principalmente na China.
E como a finalidade do exercício consiste em fabricar com baixos custos nos países pobres para vender a preços muito altos nos Estados ricos, isso leva a uma avalanche de produtos importador dos países-fábricas e vendidos, por exemplo, na Europa. Aqui eles competem deslealmente com os mesmos produtos fabricados no Velho Continente com custos de mão de obra mais altos porque os direitos sociais dos trabalhadores são aqui – felizmente – mais importantes. Em conseqüência as empresas européias vão à falência e numerosos outras são obrigadas a fechar as portas e a licenciar seus trabalhadores.
Para sobreviver, alguns capitalistas optam por “deslocalizar”, isto é, transferir seu centro de produção para um país com mão de obra barata. O que se traduz, também nesse caso, nos países ricos, em fechamento de empresas e em desemprego.
A globalização atua assim como uma mecânica de triagem permanente sob o efeito de uma concorrência generalizada. Há concorrência entre o capital e o trabalho. E, como os capitais circulam livremente, enquanto os homens são muito menos móveis, quem ganha é o capital.
Da mesma forma que os grandes bancos ditaram, no século XIX, sua atitude para numerosos países, ou como as empresas multinacionais o fizeram entre os anos 1960 e 1980, os fundos privados dos mercados financeiros têm agora em seu poder o destino de muitos países. E, em certa medida, o destino econômico do mundo.
Os mercados financeiros estão em condições de ditar suas leis aos Estados. Nessa nova paisagem político-econömica, o global se impõe sobre o nacional, a empresa privada sobre o Estado. Não há praticamente mais distribuição de renda e o único ator do desenvolvimento – nos dizem – é a empresa privada, o único reconhecido como competente em escala internacional. E assim o único motor em torno do qual – nos dizem – é preciso reorganizar tudo.
Em uma economia globalizada, nem o capital, nem o trabalho, nem as matérias primas constituem, em si, o fator econômico determinante. O importante, é a relação ótima entre esses três fatores. Para estabelecer essa relação, uma empresa não leva em conta nem as fronteiras, nem as regulamentações, mas apenas a exploração mais rentável que ela possa fazer da informação, da organização do trabalho e da revolução da gestão. Isso produz sistematicamente uma fratura das solidariedades dentro de um mesmo país. Ocorre assim um divórcio entre o interesse das empresas e os interesses da coletividade nacional, entre a lógica do mercado e a lógica da democracia.
As empresas globais fingem que não têm nada com isso: elas sub-contratam e vendem no mundo inteiro; e reivindicam um caráter supra-nacional que lhes permita atuar com uma grande liberdade porque não existe, para dizê-lo de alguma maneira, instituições internacionais com caráter político, econômico ou jurídico em condições de regulamentar eficazmente seu comportamento.
A globalização constitui assim uma imensa ruptura econômica, política e cultural. Ela submete os cidadãos a uma regra única: “adaptar-se”. Abdicar de qualquer vontade, para obedecer mais às injunções anônimas dos mercados. Ela constitui o ponto de chegada final do economicismo: construir um homem “mundial”, esvaziado de cultura, de sentido e de consciência do outro. E impor a ideologia neoliberal em todo o planeta".
(Publicado em “Les dossiers de la mondialisation”, Manière de voir de Le Monde Diplomatique – janeiro-fevereiro de 1007-(Tradução de Emir Sader)

3. Enviado pela Ana Cláudia Vargas:
Milhares protestam em Nova Iorque contra a guerra no Iraque
Jane Fonda: "I'm so sad that we still have to do this"
28/01/2007 - 10:09 CET
Milhares de manifestantes protestaram ontem junto ao Capitólio em Washington pelo fim da guerra no Iraque. O protesto teve como objetivo convencer o Congresso a votar contra o financiamento do plano do presidente Bush de enviar um reforço de 21500 homens para o Iraque.
Diversas estrelas de Hollywood como Jane Fonda, Sean Penn ou Tim Robbins participaram na manifestação na capital, que contou ainda com ativistas como o reverendo Jesse Jackson.
"Não queremos mais mortes, não queremos mais fundos para a guerra, as tropas têm de regressar a casa. É preciso manter viva a esperança."
Depois de terem tentado alterar a posição do presidente Bush sobre a guerra no Iraque, os manifestantes viram-se agora para o Congresso, de forma a bloquear o financiamento do conflito.Nesse sentido, o lóbi antiguerra vai desenvolver diversas iniciativas nos próximos dias.
Entretanto, também em Los Angeles, os protestos se fizeram sentir.Veteranos do conflito no Iraque reagiram contra uma guerra que consideram não ter razão de existir.
"É preciso dizer aos Representantes que temos de acabar com isto, porque não está a funcionar.Acabou-se, perdemos e temos de trazer as tropas para casa antes que haja mais mortes num banho de sangue sem sentido e impossível de vencer. Todos juntos temos de fazer com que isso aconteça."
As autoridades escusaram-se a revelar o número de participantes nas manifestações, mas, de acordo com a organização, 500 mil pessoas terão protestado contra a guerra no Iraque.
In: http://www.euronews.net/create_html.php?page=detail_info&article=403384&lng=6
4. Processo político na América latina concentra atenção de africanos
Mudanças no mapa político da América Latina despertam interesse de organizações e ativistas africanos. Força dos movimentos sociais latinoamericanos é inspiração para fortalecer lutas populares na África. > LEIA MAIS Movimentos Sociais 25/01/2007

NOTICIAS

1. O Programa de Pós-Graduação em História (Mestrado) da Universidade Federal de Ouro Preto torna pública a abertura das inscrições para o processo seletivo de 2007. Área de concentração: Estado, Região e Sociedade; linhas de pesquisa: 1) Sociedade, Poder e Região, 2) Estado, Identidade e Região.As inscrições serão realizadas entre 22 de janeiro e 09 de fevereiro de 2007 na secretaria do departamento de História, Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Ouro Preto, campus Mariana, entre 10h e 16h.
Maiores informações no site da UFOP:www.ufop.br

2. Curso de Pós-Graduação Lato Sensu
FORMAÇÃO DOCENTE EM HISTÓRIA E CULTURA AFRICANAS E AFRO-AMERICANAS - Edição 2007
Carga horária: 430h.Local: Unidade de Ciências Sócio-Econômicas e Humanas de Anápolis - UnUCSEH.
Público: Professores dos cursos de História da UEG e graduados em ciências humanas em geral.Habilitação: Para atuar no ensino superior, médio e fundamental; desenvolver pesquisa e prestar assessoria a instituições públicas e organizações da sociedade civil que promovem a história e a cultural da população negra. Período de Inscrições: de 05 a 17 de Fevereiro de 2007. As inscrições podem ser realizadas APENAS na secretaria da UNUSCEH, em Anápolis-GO.Informações: http://www.unucseh.ueg.br/cieaa/

3. Exposição de obras de Rodin em São João Del Rei:
Data:11 de janeiro a 04 de fevereiro de 2007Local: Centro de Cultura da Universidade Federal de São João del-ReiHorário: 8h às 12h - 13h30min às 20h

LIVROS E REVISTAS




Nas bancas o nº 15 de Grandes Guerras. Além de um dossiê sobre a queda de Saigon, na Guerra do Vietnã, traz artigos sobre Submarinos: guerra do futuro – San Martin e a guerra de independência da América do Sul – Otan x Pacto de Varsóvia – A luta entre Ricardo I e Saladino (Cruzadas) – os exércitos negros na Segunda Guerra Mundial – a Batalha de Kadesh, entre egípcios e hititas – os ninjas.

DOSSIÊ – 3 ANOS DA CHACINA DE UNAI.

Na edição desta semana do Repórter Brasil, um dossiê sobre a Chacina de Unai, que continua sem ser resolvida pela justiça... por que será?

Este é o boletim semanal da Repórter Brasil com o resumo das principais notícias, reportagens e artigos produzidos pelo site. Acesse o endereço www.reporterbrasil.org.br para ler o conteúdo completo.
Especial Unaí - 3 anos:
Dos nove envolvidos, nenhum foi julgado - entre eles, Antério e Norberto Mânica, expoentes do agronegócio brasileiro. Enquanto isso, a sombra das mortes ainda afeta o dia-a-dia dos fiscais do trabalho, que atuam em uma das frentes de expansão da fronteira agrícola no país
Excesso de recursos apresentados pela defesa é o maior responsável pela lentidão no andamento do processo
Agências do Ministério do Trabalho e Emprego já sofreram tentativa de incêndio e ameaça de invasão; clima de hostilidade aos auditores é intenso no local
No Noroeste de MG, as lavouras de soja, milho e feijão cresceram a partir da década de 80, pressionando o meio ambiente e expulsando posseiros que viviam do extrativismo. Expansão continua rumo a BA, MA e TO

"A demora é injustificável", diz ex-ministroSecretário Especial dos Direitos Humanos (SEDH) na época da Chacina de Unaí (MG), Nilmário Miranda condena o atraso no julgamento dos culpados e define os assassinatos como ataques contra o próprio Estado

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