Boletim Mineiro de História

Boletim atualizado todas as quartas-feiras, objetiva trazer temas para discussão, informar sobre concursos, publicações de livros e revistas. Aceita-se contribuições, desde que versem sobre temas históricos. É um espaço plural, aberto a todas as opiniões desde que não contenham discriminações, racismo ou incitamentos ilegais. Os artigos assinados são de responsabilidade única de seus autores e não refletem o pensamento do autor do Boletim.

23.2.10

Numero 223


Abrimos o Boletim desta semana com uma carta aberta que a ANPUH enviou aos associados. Trata-se do pedido de apoio aos deputados e senadores para aprovação do projeto de lei que institui a profissão de Historiador. Tema polêmico, com muitos prós e contras. Mas, ao que tudo indica, nossa Associação entende que devemos apoiar o projeto ora em tramitação.
Continuando a discussão sobre temas relativos à educação, temos hoje a publicação da quarta e última parte do artigo do professor paulista Wellington Fontes e também um artigo do jornalista José de Castro, analisando como os professores mineiros são mal remunerados.
Outra colaboração, do professor Antônio de Paiva Moura, aborda a barbárie da pós-modernidade.



Carta Aberta aos Núcleos Regionais, Sócios e aos Colegas Historiadores

Chega um momento decisivo em nossa luta de tanto tempo pela regulamentação da profissão de historiador. O senador Paulo Paim (PT-RS) apresentou no mês de agosto do ano passado o Projeto de Lei do Senado 368/2009 que propõe a regulamentação da nossa profissão (O projeto está disponível no site da ANPUH, www.anpuh.usp.br). O projeto encontra-se para análise e votação em caráter terminativo, ou seja, não precisará ser votado em nenhuma outra instância do Congresso Nacional, na Comissão de Assuntos Sociais, que tem como presidente a senadora Rosalba Ciarlini (DEM -RN) e como vice-presidente o próprio senador Paim. A relatoria do projeto está nas mãos do senador Cristóvam Buarque que no último dia 11 de fevereiro apresentou parecer favorável a matéria, em sessão plenária da Comissão. No entanto a votação da matéria foi adiada por falta de quorum.
Como estamos num ano eleitoral e a maioria dos senadores quer ter uma boa imagem junto a seus eleitores, julgamos oportuno que os Núcleos Regionais da ANPUH, os sócios da entidade e todos os nossos colegas se mobilizem no sentido de que esta proposta não tenha o mesmo destino das anteriores: o arquivamento. Por isso julgamos estratégico que a ANPUH não faça exigências de modificação do texto, que no geral atende aos nossos interesses, colocando obstáculos a aprovação da matéria, procrastinando o desfecho do processo que pode resultar em sua não votação ainda este ano, já que, como sabemos, as atividades legislativas tendem a se concentrar neste primeiro semestre, o que pode resultar em mais uma frustração de nossas expectativas.
Solicitamos que os Núcleos Regionais, os sócios e todos os interessados enviem emails, notadamente à presidente da Comissão, que deseja ser governadora de seu Estado, ao vice-presidente e autor do projeto, que concorrerá à reeleição ao Senado este ano, para que pautem a matéria e a todos os Senadores que integram a Comissão de Assuntos Sociais para que votem o texto. Se não contamos com recursos para levar caravanas a Brasília, podemos nos fazer presentes através do maciço envio de correspondência eletrônica para os Senadores. Os Núcleos devem levar aos Departamentos de História existentes no Estado esta chamada para a mobilização e, inclusive, usar os meios de comunicação em cada Estado para pressionar os parlamentares no sentido da aprovação da matéria.
Os membros titulares da Comissão de Assuntos Sociais são: Augusto Botelho (PT - RR); Marcelo Crivela (PRB - RJ); Fátima Cleide (PT - RO); Roberto Cavalcanti (PRB - PB); Renato Casagrande (PSB - ES); Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC); Geovani Borges (PMDB - AP); Paulo Duque (PMDB - RJ); Mão Santa (PSC - PI); Ademir Santana (DEM - DF); Efraim Moraes (DEM - PB); Raimundo Colombo (DEM - SC); Flávio Arns (PSDB - PR); Eduardo Azeredo (PSDB - MG); Papaléo Paes (PSDB - AP); Mozarildo Cavancanti (PTB - RR); João Durval (PDT - BA); Cristóvam Buarque (PDT - DF).
Os suplentes da Comissão de Assuntos Sociais são: César Borges (PR - BA); Eduardo Suplicy (PT - SP); Inácio Arruda (PC do B - CE); Ideli Salvatti (PT - SC); José Nery (PSOL - PA); Lobão Filho (PMDB - MA); Romero Jucá (PMDB - RR); Valdir Raupp (PMDB - RO); Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN); Wellington Salgado (PMDB - MG); Heráclito Fortes (DEM - PI); Jayme Campos (DEM - MT); Maria do Carmo Alves (DEM - SE); José Agripino (DEM - RN); Sérgio Guerra (PSDB - PE); Marisa Serrano (PSDB - MS); Lúcia Vânia (PSDB - GO); Gim Argello (PTB - DF).
A nossa mobilização é fundamental.
Durval Muniz de Albuquerque Júnior
Presidente da ANPUH




Cristina Moreno me encaminha o artigo escrito por seu pai e publicado no site do professor Massote.

SALÁRIO DOS PROFESSORES: MINAS É O 18º NO RANKING DOS ESTADOS,
José de Souza Castro (*)

Este blog publicou no dia 8 de dezembro passado artigo intitulado “Professores mineiros pedem socorro”, no qual me baseei numa mensagem de professor não identificado que leciona Matemática para alunos do 3º ano do 2º grau da rede estadual de ensino e que disse receber piso salarial de 545 reais. Registrei que no fim de 2007 a secretária estadual de Educação, Vanessa Guimarães, afirmou ter encaminhado à equipe econômica do governador Aécio Neves proposta para elevar o piso salarial dos professores a 800 reais, a partir de janeiro de 2008. Qual, portanto, a minha surpresa, ao receber agora levantamento nacional sobre salários das redes estaduais de ensino, feito em setembro último, revelando que o salário pago pelo governo mineiro é de R$ 336,26 para professores de nível médio, de R$ 410,24 para professores com licenciatura curta e de R$ 500,49 para os com licenciatura plena.

O mais incrível é que a remuneração de todos eles é a mesma: R$ 850,00. (No site do Sebrae paulista, aprendo: “A remuneração pode ser definida como a somatória dos benefícios financeiros, dentre eles o salário, pago ao empregado por um empregador, em função de uma prestação de serviços. Tal remuneração será acordada através de um contrato assinado entre empregado e empregador. O salário é uma espécie de remuneração. Podemos utilizar como analogia a figura de uma cesta de frutas, na qual a remuneração representa a cesta e, o salário, uma das frutas”.) Pois, para fazer jus a essa expressiva remuneração, os professores precisam trabalhar 24 horas semanais. Suspeito que nessa conta não estão incluídas as horas que gastam em casa preparando aulas e corrigindo exercícios dos alunos.
O espantoso, nessa revelação, é que em 5 de agosto de 2004, em solenidade no Palácio da Liberdade, o governador Aécio Neves sancionou o tão esperado Plano de Carreira dos Profissionais da Educação Básica, prometendo que seriam beneficiados 234 mil servidores ativos e inativos da área da educação. Pode-se ler aqui trechos do discurso do governador:
“Peço que guardem este número: 234 mil servidores. Se o setor da Educação fosse uma empresa, seria hoje uma das maiores corporações mundiais, em número de funcionários. E todos eles serão beneficiados por este novo Plano de Carreira. Mais simples, mais direto, mais transparente e mais justo, o Plano oferece aos servidores maior número de opções e possibilidades de acesso, amplia a liberdade de escolha e elimina um cipoal de regras e regulamentos antes impostos aos profissionais do ensino.”
Depois de afirmar que a remuneração passaria a ser feita de acordo com a qualificação acadêmica do profissional – e não mais pelo seu nível de atuação – e de lamentar que “os professores das primeiras séries do ensino fundamental – responsáveis pela alfabetização – sempre tiveram remuneração inferior à dos professores de 5ª à 8ª série ou do ensino médio, mesmo que apresentassem vários títulos de pós-graduação”, admitiu Aécio Neves:
“Há clara defasagem salarial, com a qual ainda somos obrigados a conviver, mas estejam certos de que o Estado tem a visão clara de que esse problema também precisará e será superado com o trabalho sério que estamos fazendo na gestão das finanças públicas. E tenho a absoluta convicção de que, dentro de muito pouco tempo, nós estaremos também resgatando, do ponto de vista salarial, os profissionais da educação em Minas Gerais.”
Pois bem. Passaram-se mais de cinco anos, e o que verificou, em setembro de 2009, o Sindicato Apeoc, dos servidores da rede pública de educação do Ceará, ao fazer uma análise comparativa salarial dos professores das redes estaduais em todo o país?
Minas Gerais está em 18º lugar, no ranking dos estados sobre as remunerações para professores com licenciatura plena e jornada de 40 horas semanais, em início de carreira. A pesquisa completa pode ser vista aqui. O Distrito Federal é o que paga mais (R$ 3.227,87), seguido do Maranhão (R$ 2.810,36) e de Roraima (R$ 2.806,04), enquanto em Minas a remuneração não chega a 1.417 reais. Pior do que isso, só oito estados, embora nos orgulhemos de ter o terceiro maior PIB (Produto Interno Bruto) do país. A hora-aula para os professores mineiros vale apenas R$ 7,08, contra R$ 16,13 no Distrito Federal.
Só para comparar, veja este anúncio veiculado há seis dias no Banco Nacional de Empregos , oferecendo vaga para pedreiro em obra de construção de apartamentos em Belo Horizonte: Salário: R$ 1.100,00. Observações: Carteira assinada, salário + produtividade + benefícios: cesta básica + vale transporte + seguro de vida.
O que explica essa situação que envergonha os professores mineiros? É uma questão de prioridades. Aécio Neves preferiu gastar em obras, como a construção da Cidade Administrativa, e em infraestrutura, relegando para uma das últimas prioridades o investimento em professores.
O site do governo destaca, por exemplo, que 3.550 escolas estaduais foram atendidas com melhorias de mobiliário e equipamentos escolares, desde 2003. Entre esses equipamentos, não poderiam faltar os computadores, mas apenas 2.393 professores e técnicos escolares foram capacitados em informática.
Ninguém nega o esforço da maioria dos professores para superar essas dificuldades, mas o resultado pode ser visto no teste aplicado em 2008 pelo Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica (Proeb). Em Matemática, apenas 3,8% dos alunos do 3º ano do ensino fundamental apresentaram o resultado recomendado. No 9º ano, foram 18,8% e no 5º ano, 44,7%. Em Português, os resultados recomendados foram, respectivamente, de 30,4%, 28,0% e 31,5%. Os dados podem ser conferidos no site do governo.
O fato é que os professores, ao contrário dos pedreiros, perderam a capacidade de se organizar para exigir remuneração justa. Nem sempre foi assim. Quando Magalhães Pinto governava Minas, uma professora que participava de uma manifestação na Praça da Liberdade deu-lhe com uma sombrinha na careca. Isso ocorreu antes do golpe de 1964. Após o golpe, no governo Francelino Pereira, os professores fizeram duas greves de grande repercussão na imprensa, e delas nasceu o seu sindicato (Sind-UTE) que hoje parece ter sido cooptado pelo governo e não tem reagido a essa situação de vexame.
Ao discursar há mais de cinco anos, no lançamento do Plano de Carreira, Aécio Neves deixou transparecer um pouco de sua mentalidade, ao dizer: “Se o setor da Educação fosse uma empresa, seria hoje uma das maiores corporações mundiais”. Não há de se negar, o neto de Tancredo Neves tem um espírito empresarial. E dos mais tacanhos. Para esse tipo de empresário, empresa boa é aquela que lucra muito à custa, principalmente, dos baixos salários. E da qualidade, por consequência.
(*) Jornalista




O “Processo Imbecilizador” da educação em SP (4) (do Correio da Cidadania)

Wellington Fontes Menezes
4. A emancipação humana contra a barbárie
"A liberdade não é mais que a afirmação de si mesmo". (George W. Friedrich Hegel)
A lógica do capital é a sistemática usurpação da condição humana. No amálgama do capitalismo, a vida nada mais é do que um usufruto da exploração do trabalho alheio por parte das imperativas forças de produção. A educação pública inserida na lógica do mercado condiciona no aparelhamento da escola o patético papel de campos de concentração educacional, onde professores e demais funcionários desenvolvem papéis de feitores desta engrenagem de moer indivíduos.
A premissa é simples: rico paga, pobre pasta. Traduzindo a sintética sordidez capitalista à brasileira no âmbito educacional: quem tem melhor recurso econômico paga escola privada para seus filhos (fixado no inconsciente social onde as "privadas" gozam de melhor qualidade – e necessariamente não se trata de um fato realístico); quem não tem recurso aventura seu filho na escola pública!
A lógica liberal trata a educação pública como um entulho social perdulário, servindo apenas para adestrar alguns trabalhadores "mais capacitados" e descartando o refugo humano desnecessário para as esteiras de produção. Todavia, nenhuma sociedade que aufere para si o rótulo de "humanidade" deve aprisionar seus filhos em cubículos de concreto e espaços estéreis de desenvolvimento numa inútil jornada de tempo. Nesta orquestração do "processo imbecilizador" resta pateticamente aos professores a tarefa de manterem minimamente a ordem e servirem como sentinelas para guardar a inspeção do "período escolar".
É possível fazer uma pertinente analogia. A diferença entre professores da escola pública e agentes carcerários do sistema penal é que os primeiros ainda procuram se sustentar na ilusão da "quintessência docente" e, como um messias pedagógico, alheio à devastação à sua volta, buscará salvar algumas almas mediante seu toque de Midas. Já quanto aos segundos, suas supostas ilusões cessariam desde os primeiros momentos em que adentram as agruras do recinto do sistema penitenciário.
Sendo repetitivo ao ponto de não temer cansar o leitor: a educação pública e de qualidade não é e nunca foi uma prioridade de governo no Brasil. O resultado são anos de inchaço, ineficiência, sucateamento e condições precárias nas escolas públicas. Simplesmente, grande parte das escolas sobrevive do ponto de vista de sua logística pela mendicância de alguns gestores e professores mais apaixonados pelo seu ofício; ou simplesmente a unidade escolar é abandonada à sua própria sorte (e geralmente adotada pelos traficantes de droga locais). O caso do estado de São Paulo é exemplar, uma vez que se trata do principal pólo econômico do Brasil e América Latina.
Apenas com o intuito de exemplificar a assimetria de recursos e prioridade governamentais, há algumas semanas atrás, através do BNDES, foi liberado um aporte de recursos de R$ 1,2 bilhão para investimento apenas para uma única empresa transnacional de capital majoritariamente alemão, a Mercedes-Benz, a ser aplicado na fábrica situada na cidade paulista de São Bernardo. Claro, sempre o mote "politicamente correto" é a geração de empregos. Então vamos lá: no caso específico dos recursos para a Mercedes-Benz, a projeção será de gerar menos de dois mil empregos diretos (numericamente, um pouco mais de indivíduos que uma única unidade escolar)!
Mais uma vez, a Educação não é uma prioridade de investimento e tampouco de governo. Exceto por algumas linhas de crédito para encher bolso de empresários, cujo mote é a rapinagem imediatista do campo do Ensino Superior, não há uma única linha de crédito para a promoção da Educação Básica. O "S" do BNDES é "social" apenas na retórica da cabeça de seus gestores. A lição das "vozes racionalistas" do mercado que ecoam no governo é simples: para a economia, tudo é investimento (com o capitalismo calcado no erário da nação, claro!); para o social, o mero pragmatismo. Resultado: o desenvolvimento disforme, concentrador de renda e fôlego curto - exceto para os que acreditam que viver a labutar crédito em financeiras se endividando rigidamente é renda do trabalhador.
O burocrata que passa a trabalhar dentro da administração pública é geralmente formado em faculdades moldadas com currículos mimetizados em universidades estadunidenses, arrotam "business to business" e não entendem o desenvolvimento econômico como um processo intrinsecamente social. Já a classe política é um emaranhado de interesses e tentáculos corporativistas cuja ação se baseia na letargia administrativa, na lascívia sedutora da corrupção e nas tentações para as mazelas contra o patrimônio público, que são quase uma prioridade. Infelizmente, grande parte do que restou da chamada "esquerda" também sofre de uma amnésia sistêmica no que tange as propostas para Educação.
Em geral, em muitos discursos de uma esquerda "rósea" não é possível ver alguma luz no túnel de suas propostas ou programas para o campo da Educação, além de algumas triviais e inócuas retóricas ou irônicas ações mimetizadas de programas neoliberais (exemplo disto são os sete anos da gestão petista no Ministério da Educação, cujos avanços foram exaustivamente muito tímidos)!
Diante do deserto fratricida e sem vigor ao combate da sanha assassina dos programas neoliberais, a Educação Básica vem sendo paulatinamente corroída por políticas neoliberais cujo objetivo é o lixo do processo social, formando gerações de seres humanos desvalidos, desesperançados e fadados a se aprisionar no acúmulo de fardo humano, entre guetos, favelas e palafitas.
Refletindo e fazendo uma leitura livre do filósofo alemão Jürgens Habermas, até mesmo dentro de uma democracia estabilizada são necessários fortes debates e até uso da força para garantir direitos básicos aos cidadãos a fim de continuar pulsando o ideal de cidadania dentro do modelo capitalista (ou seja, uma "caricatura de cidadania"). No caso da semi-democracia brasileira, a situação é de extrema preocupação. Nesta esteira, é fundamental a ruptura com o processo de endogeneização da benevolência messiânica da tarefa docente para reconstruir um caminho de restauração da dignidade da profissão.
Culpar as mazelas do Poder Público é uma tarefa razoavelmente fácil, porém, sob o ponto de vista da ética, não é possível servir como instrumento do processo de articulação da barbárie por parte de irresponsáveis políticas neoliberais.
O que dignifica o ser humano não é o acúmulo narcíseo de bens materiais, mas a capacidade de suplantar obstáculos e melhorar a sua condição de mundo. Como assinala István Mézáros (2005): "[...] é necessário romper com a lógica do capital se quisermos contemplar a criação de uma alternativa educacional significativamente diferente". Uma escola que não tem como proposta edificante a emancipação humana estará inevitavelmente a ser apenas mais um esboço de um tétrico campo de concentração.
Neste ínterim, o resgate da profissão docente vai muito além da mera luta por miúdos centavos no holerite. O processo de construção do sujeito histórico está na raiz da intervenção que o homem faz dentro de sua arquitetura de mundo. Aproxima-se o dia em que o acúmulo de derrotas cria estafa e somente uma vitória valorosa poderá saciar a vontade de continuar vivo dentro do processo. O chamado para a batalha é o clamor para a própria sobrevivência.

Referências bibliográficas (reunião das quatro partes):
BOTTON, Allain de. Desejo de status. São Paulo: Rocco, 2005.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Textos sobre educação e ensino. São Paulo: Centauro, 2004.
MÉSZAROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2005.
PLEKHANOV, Giorgui V. O papel do indivíduo na história. São Paulo: Expressão Popular, 2006.
Mais:
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Wellington Fontes Menezes é professor da rede publica





A barbárie da pós-modernidade

Antonio de Paiva Moura

Bernard Stiegler (2010) mostra com objetividade as conseqüências do consumo cultural massificado. Os clichês projetados em programas de televisão e outros meios de comunicação iludem o povo, os comunicadores, pensadores e dirigentes públicos. É como as fábulas que visam sensibilizar, virar as cabeças dos leitores. Stiegler nos faz lembrar o menino vivo e esperto do conto de Hans Andersen, A roupa nova do rei que percebeu a falsidade do que anunciavam os trapaceiros. Ao perceber que o rei estava nu, o garoto mostrou a hipocrisia do povo que o aplaudia. O rei que encarnava e simbolizava a ambição de notoriedade através do consumo, passa a amargar a condição de insatisfação e de decepção. Desta forma, Stiegler mostra que são falsas e enganosas as afirmações de que estamos numa época pós-industrial. Ao contrário do que dizem, o momento presente não se caracteriza pelo individualismo de vez que os indivíduos estão anulados e reduzidos a seres controlados.
Dizem Horkheimer e Adorno (1985) que a cultura sempre contribuiu para domar os instintos revolucionários, e não somente os bárbaros. Através da cultura industrializada o indivíduo se entrega ao poder coletivo. A sociedade é composta de desesperados que dão conta de suas nulidades, para os quais não há possibilidade de ser bem sucedido na vida, mas têm que mostrar que se identificam integralmente com o poder de quem não cessam de receber pancadas. Como o galã bonitão que ao cortejar a herdeira, cai dentro da piscina vestido de smoking. Esses desesperados nulos são modelos para as pessoas que devem se transformar naquilo que o sistema, triturando-as, forçam-nas a ser. Todos podem ser felizes desde que se entreguem de corpo e alma. A individualidade que é a formação da personalidade livre e autêntica reduz-se a uma pseudo-individualidade, um fantoche global, manipulado pela cultura de massas.
O american way of life, estilo americano de viver é um comportamento compulsivo e mimético do consumidor, no qual tudo deve se transformar em bem de consumo: educação, cultura, e saúde, da mesma forma que roupa e goma der mascar. Diz Stiegler que em 1955, uma agência de publicidade afirmou que o que faz a grandiosidade dos EUA é a criação de necessidades e desejos, criando a aversão contra tudo que é velho e obsoleto. O indivíduo é bombardeado e persuadido a comprar para não se constituir em uma exceção. Não poder comprar ou resistir a comprar é tornar-se excedente. A partir daí a exceção é aquilo que deve ser combatido. Enquadra na observação de Nietzsche de que a democracia industrial é o que poderia gerar uma sociedade rebanho.
A figura de retórica, “rebanho” é muito forte, mas compreensível, de vez que não podendo ter opinião própria e não podendo pensar por si mesmo o sentimento de conformidade supera o sentimento de identidade, sem o qual não pode haver individualidade, mas somente comportamento gregário semelhante ao dos rebanhos, manadas de carneiros. (Fromm, 1955)
O sociólogo alemão, Ulrich Beck (2003), em forma de diálogo, procurou analisar os efeitos das perdas com a desmontagem dos sistemas de seguridade e das tradições de proteção familiar, que contribuiu para a individualização na forma de garantir a sobrevivência. Na verdade, um processo de atomização, de pessoas que foram desenraizadas; de gente que foi apartada de suas tradições; de gente que perdeu o chão que habitava; gente que perdeu o emprego que garantia a existência da família. A palavra átomo, raiz de “atomizado” e de “atomização”, significa a redução do indivíduo a coisa excessivamente pequena, insignificante. A gente atomizada fica à mercê da propaganda política e da demagogia. A metáfora mais adequada às pessoas atomizadas é a vida do caracol. Isolado dentro de sua concha espiralada, o caracol hermafrodita gravita em torno de si mesmo.
A atomização e a exacerbação do egoísmo resulta na busca do gozo sem interrupção e a qualquer preço. O desempenho individual; o “cada um para si”, na sociedade que cada vez menos oferece aos cidadãos as oportunidades, redunda em degradação e retrocessos lastimáveis. Há um século, Rosa Luxemburgo dizia que o capitalismo ia levar o mundo para a barbárie. Segundo Lacan a busca do gozo permanente seria uma forma de atenuar a angústia da uniformização e da atomização. A busca do gozo coloca o indivíduo contra o outro que se coloca como obstáculo ao gozo contínuo. O outro pode morrer só porque põe em xeque minha maneira de gozar, que tanto idealizo. (Lacan, apud Koltai, 2006) A barbárie atual passou a se opor ao humanismo, ou seja, é um ato considerado desumano porque não respeita os fundamentais valores conquistados no campo da ética, do direito, da ciência, da democracia e da própria organização social. Lèvi-Straus notou que a modernidade liberal só sabe denunciar a barbárie do vizinho e não reconhece a sua própria. Falamos da barbárie dos africanos e dos asiáticos, mas, todo o dia temos notícias de crianças recém-nascidas atiradas no lixo; pais e padrastos estuprando filhas e enteadas; filhos matando pais; marido matando mulher; gangues contra gangues; jovens de classe média matando mendigos e agredindo empregadas domésticas. Nos últimos dez anos a Comissão Pastoral da Terra registrou 63.757 trabalhadores em situação de escravidão no Brasil. Desse total, o Ministério do Trabalho conseguiu libertar somente 38.000 pessoas. A conjectura de Rosa Luxemburgo é uma dura realidade: estamos presenciando e vivenciando a barbárie no andamento do século XXI.

Referências
BECK, Ulrich. Liberdade ou capitalismo. Tradução de Luiz Antonio Oliveira Araújo. São Paulo: UNESP, 2003.

FROMM, Erich. Psicanálise da sociedade contemporânea. Tradução de Giasone Rebui. São Paulo: Ciclo do Livro, 1955.

KOLTAI, Katerina. Lacan: a escuta do político. Viver, mente & cérebro. (Especial Lacan). São Paulo, 2006.

HORKHEIMER, Max; ADORNO, Theodor W. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução de Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

STIEGLER, Bernard. O desejo asfixiado. Le Monde Diplomatique Brasil. São Paulo, n. 30, janeiro de 2010.

Antonio de Paiva Moura é professor da Escola Guignard UEMG
(Obs. O primeiro parágrafo do artigo foi publicado na forma de carta no "Le Monde Diplomatique Brasil, edição n. 31).





Blowback: o legado da CIA no Irã, Afeganistão e Paquistão
O mínimo que se pode dizer é que no Irã, Afeganistão e Paquistão os EUA colhem hoje o que a CIA plantou com a colaboração de gente como o deputado Charlie Wilson. Osama Bin Laden foi treinado pela CIA para atacar os russos; gostou e atacou depois o World Trade Center em Nova York. E as bombas atômicas do Paquistão (real) e do Irã (hipotética) devem-se, ao menos em parte, à igual cortesia da CIA. A situação atual destes três países reflete o passado irresponsável da espionagem dos EUA. O artigo é de Argemiro Ferreira.
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16397&boletim_id=648&componente_id=10829




Por que o Irã?
Por Emir Sader
Risco de possuir condições de fabricar armamentos nucleares? Israel assume abertamente que possui esses armamentos e ameaça bombardear justamente o Irã. Risco de se tornar uma ditadura? E o que são países como a Arábia Saudita ou o Egito, senão ditaduras?
http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=417



MISCELÂNEA

Os Discos Voadores: História e Imaginário - Governo Britânico libera mais de seis mil páginas sobre objetos voadores não-identificados e reascende a curiosidade por um dos temas mais curiosos da história cultural e política contemporânea. Nessa matéria, veja ainda o que aconteceu em 1986, no Brasil.

Os Mapas contam a história – conheça o site de uma empresa francesa que oferece mapas animados e narrados. Professores, estudantes ou simples apaixonados pelo passado: com eles, a história é contada de uma maneira ainda mais interessante. Da Grécia Antiga aos dias atuais!

CAFÉ EXPRESSO NOTÍCIAS

Inundação em São Paulo não é novidade, diz historiador.

Morales determina abertura de arquivos da ditadura.

Ditadura argentina: 4.300 agentes integraram inteligência do Exército


VÍDEOS

Entrevista com Francisco " Pancho " Varello, o último jogador de futebol vivo a jogar a Copa de 1930.

O que é Museologia?As Fontes HistoriográficasMetodologia de pesquisa em História

CINE HISTÓRIA

"O Americano Tranqüilo", filmado em 2003, conta a história do envolvimento dos Estados Unidos no Vietnã ainda nos anos 1950.

FÓRUM

Seria o museu apenas um lugar de memória?

Houve uma mudança na forma de hegemonia a partir da ascensão dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial?

Darwinismo ou Criacionismo?Qual a sua opinião sobre o Ensino médio nas Instituições Públicas?


BLOG EM DESTAQUE

Nosso destaque vai para o texto publicado pelo colega português José Leandro: Portugal: o olhar particular de Raul Brandão.

Confira:
http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/portugal-o-olhar-particular-de?xg_source=msg_mes_network


GALERIA CAFÉ
Henri Lautrec inovou no campo da arte ao flertar e revolucionar o mundo comercial com seus cartazes e traços pós-impressionistas.

FOTO HISTÓRICA
Você consegue imaginar o Elevador Lacerda, em Salvador, no século XVII? Pois deixe de imaginar! Veja essa foto que mostra o Ascensor, de 1624, futuro Elevador Lacerda:http://cafehistoria.ning.com/photo/1980410:Photo:76905?context=latest&xg_source=msg_mes_network
GRUPO DE ESTUDO – CAFÉ INDICA
“Temas Contemporâneos” – um espaço para se discutir o mundo contemporâneo: do mais novo escândalo em Brasília aos conflitos no Oriente Médio. Faça parte! Acesse e participe:http://cafehistoria.ning.com/group/reduodajornadadetrabalho?xg_source=msg_mes_network


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3º ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
SERGE GRUZINSKI, ANTONIO MANUEL HESPANHA, RONALDO VAINFAS E OUTROS.
UFPE, RECIFE DE 4 A 7 DE SETEMBRO DE 2010.



A antiga escola moderna.
Entrevista com Celso Antunes
(Josiane Benedet)
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&cod=45300&lang=PT




As origens do fascismo
O fascismo sob um olhar latino-americano

As origens do fascismo, fenômeno político que exerceu enorme influência em alguns países ao longo do século XX, analisadas por diversos estudiosos. Antonio Gramsci, Leon Trotsky, Otto Bauer, Paul Sweezy e Ernest Mandel foram apenas alguns daqueles que tentaram compreender suas características e sutilezas. Entre os teóricos é fundamental o olhar latino-americano de Mariátegui, um dos primeiros a observar e acompanhar de perto os eventos na Itália que constituíram o fascismo.
Depois que José Carlos Mariátegui se viu intimado a sair do Peru para a Europa, período importante para o seu amadurecimento intelectual. A partir do momento em que vive a realidade européia, Mariátegui consolida suas posições socialistas, amadurece sua percepção política e aprofunda seu conhecimento teórico. Através da mescla de diversas interpretações sobre Marx e Engels e a inspiração de grandes nomes como Gramsci, Mariátegui cria seu próprio estilo teórico centrado na filosofia, cultura, arte e política.
Por considerar o fascismo algo novo em sua época e, portanto, pouco conhecido da audiência estrangeira, ele procurou explicar seu significado. Suas análises descrevem o início do movimento e são importantes contribuições para uma real compreensão do fascismo e de suas profundas conseqüências políticas.
Em “As origens do fascismo”, os textos organizados por Luiz Bernardo Pericás mostram que Mariátegui conseguiu perceber as características das “origens” do fascismo e teve condições de interpretar de maneira sofisticada o fenômeno e como ele procurou proporcionar uma interpretação precisa e acurada desse movimento singular.

Sobre o autor: Luiz Bernardo Pericás é doutor em História pela USP, pós-doutor em Ciência Política pela FLACSO (México) e História pela Universidade do Texas. Autor de Che Guevara e a luta revolucionária na Bolívia e Um andarilho das Américas.
Livro: As origens do fascismo
Autor: José Carlos Mariátegui
Tradução e organização: Luiz Bernardo Pericás
Edição: Alameda (tel. 11 3012-2400)
Preço: R$ 45,00 (325 páginas)



A "penetração" militar global dos Estados Unidos

Fazendo uma sombra global Bases do império por JOAN ROELOFS, no Counterpunch
Apesar das fraquezas econômicas dos Estados Unidos, embora não desligados delas, nossos militares projetam uma sombra pesada sobre todo o planeta, muito além das pequenas e grandes guerras que estão agora conduzindo. O caráter funcional e geográfico dos militares dos Estados Unidos é cósmico. As alianças formais são um elemento importante, mas mesmo instituições inchadas e crescentemente não-atlânticas e não-pacíficas como a OTAN são apenas a ponta do iceberg. Países geralmente considerados "neutros" são parceiros da OTAN: Irlanda, Áustria, Suiça, Finlândia, Malta e Suécia. "Em junho de 2009, os jogos de guerra Loyal Arrow foram conduzidos por dez países no norte da Suécia, como exercício preliminar para a ... Leia aqui o restante da matéria!
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/a-penetracao-militar-global-dos-estados-unidos/





foi publicado novo texto no BLOG da REA:

Crítica da violência: crítica do poder
A tarefa de uma crítica da violência pode ser definida como a apresentação de suas relações com o direito e a justiça. Pois qualquer que seja o efeito de uma determinada causa, ela só se transforma em violência, no sentido forte da palavra, quando interfere em relações éticas. Esfera de tais relações é designada pelos conceitos de direito e justiça.
por WALTER BENJAMIN


link: http://espacoacademico.wordpress.com/2010/02/20/critica-da-violencia-critica-do-poder/



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