Boletim Mineiro de História

Boletim atualizado todas as quartas-feiras, objetiva trazer temas para discussão, informar sobre concursos, publicações de livros e revistas. Aceita-se contribuições, desde que versem sobre temas históricos. É um espaço plural, aberto a todas as opiniões desde que não contenham discriminações, racismo ou incitamentos ilegais. Os artigos assinados são de responsabilidade única de seus autores e não refletem o pensamento do autor do Boletim.

1.11.06

Numero 063



EDITORIAL

Pois é, amigos e amigas. As eleições acabaram e agora é hora de se pensar o que fazer nos próximos 4 anos, esperando que sejam menos dramáticos e traumáticos do que o foram os que se encerram atualmente.
Não estou fazendo um dossiê das eleições neste número, mas trago para este editorial uma carta aberta ao novo presidente, escrita até antes do primeiro turno, mas que continuou atual. Foi escrita por um professor de Belo Horizonte, cuja idade é praticamente a minha, e acredito que posso dizer, com certeza, que faço minhas quase todas as palavras dele.
No mais, um agradecimento especial às minhas amigas blogueiras Cris e Frô, pela “sociedade” no envio e recebimento de artigos para os dossiês dos números anteriores. Assim como agradeço à Ana Claudia e a Andréa, em particular, também pelos muitos emails com artigos pescados em várias fontes. Com elas, meu trabalho foi muito facilitado.
E que me perdoem os partidário do Geraldo Alckmin.... mas o Maringoni foi muito espirituoso nesta charge....

Charge de Maringoni - Agência Carta Maior


Carta aberta ao presidente Lula

-Caro Presidente,

Acho que deveria começar dizendo, caro assessor, pois certamente esta carta será lida (se for) por alguém encarregado de fazer a triagem da imensa correspondência recebida por um presidenteda república. Mas, no meu inesgotável otimismo, vou imaginar que o senhor, em pessoa, estará lendo esse recado, sentado, sozinho, sem secretários ou assessores por perto, num canto qualquer do Palácio da Alvorada.

Pois bem, presidente; quem lhe escreve é um cidadão comum. Comum até demais. Sou professor há 32 anos. Fique tranqüilo, não vou fazer aqui queixas e reivindicações trabalhistas. Apesar dos pesares, entre eles o Fator Previdenciário, herança do FHC que o senhor preservou, estou em paz com minha profissão. Ela tem me dado muito mais alegrias que tristezas, além do desafio de ensinar às novas gerações que é preciso e possível acreditar num país sério, de homens e mulheres sérios. Mas apesar dessa simplicidade anônima há em mim algo especial que interessa, ou deveria interessar ao senhor. Eu explico.

Tenho 53 anos. Sou de uma geração que foi marcada por um corte abrupto em sua cidadania. Eu tinha onze anos quando aconteceu o golpe de 64. Entrei na adolescência sob o signo da ditadura. Cheguei à juventude e cursei a faculdade no período mais duro do regime militar.

Já professor, casado, três filhos, participei com entusiasmo do primeiro movimento cívico/popular da minha geração. E foi um espetáculo inesquecível: o Movimento pelas Diretas Já. No comício em BH, na Praça da Rodoviária, eu estava lá, nas primeiras filas, com meu garoto de quatro anos nos ombros, entre as milhares de pessoas que assistiam e aplaudiam os discursos vindos do palanque.

O senhor também estava lá e, ao lado de Leonel Brizola, eu me lembro bem, foi dos mais aplaudidos. Perdemos as Diretas, mas ganhamos um novo rumo na História. Depois do Colégio Eleitoral, da agonia do Tancredo e do desgoverno Sarney, em 1989, eu iria, enfim, estrear meu título de eleitor votando para presidente da república. Os meus alunos, hoje, votam aos 16 anos. Eu já tinha 36.

Dizem que quem nunca comeu melado, quando come se lambuza e eu me sentia assim, talvez até pela falta de prática. Estava confuso e indeciso. Eram candidatos demais, o senhor lembra? Além do senhor e do Collor, havia o Covas, o Brizola, o Maluf, o Caiado, o Afif, o Ulisses, o Aureliano, o Freire e outros dos quais não me lembro.

O senhor era uma figura que se destacava por ser diferente de todos que ali estavam. Não era um político profissional, vinha do movimento sindical, fundara um partido de trabalhadores e tinha um discurso que ia na contramão daquelas promessas eleitoreiras de sempre.

Apresentado na mídia como o "Caçador de Marajás", o Collor, segundo as pesquisas, já estava no segundo turno. Restava saber quem seria seu adversário e, para surpresa de muitos, as mesmas pesquisas revelavam que políticos tradicionais como os citados acima ficavam para trás e o senhor e o Brizola se destacavam como os possíveis eleitos para a batalha final contra o Collor.

Nós, eleitores, estávamos eletrizados por aquele espetáculo que não conhecíamos. Era o exercício pleno da democracia, ali, ao vivo e a cores. Os debates batiam todos os recordes de audiência. A discussão dos temas, dos candidatos e suas propostas, das denúncias e acusações, tudo empolgava e mobilizava a todos, em todos os ambientes e classes sociais.

O Brizola, ladino, percebeu o risco que o senhor representava para o seu projeto histórico de chegar ao poder e, num debate, o classificou de 'sapo barbudo', lembra? Não adiantou. Nem os ataques destemperados e racistas do Caiado, líder da UDR escalado para demolir sua candidatura, foram suficientes. O senhor ficou em segundo lugar, pouco à frente do Brizola, e conquistou a vaga para o segundo turno.

Presidente, o 1° voto a gente nunca esquece.

Votei no senhor por opção. Vou resumir minhas razões sem entrar em longas e estéreis discussões teóricas, ideológicas, acadêmicas, sociológicas ou coisa que o valha. Na verdade, assim como um meu xará, também seu eleitor, tenho um coração esquerdista. Curto e grosso: a direita, para mim, sempre representou o acúmulo e a esquerda a partilha. Na minha família de muitos irmãos, primos e tios, desde cedo a gente aprendeu a partilhar. A infância sadia, moleque sem medos, jogando pelada na rua com os amigos, convivendo com outros moleques, me ensinou a partilhar para além das fronteiras familiares.

A formação religiosa deu o toque místico a essa convicção. Entendi tudo quando li no evangelho aquela história da multiplicação dos pães e peixes, lembra? Havia um menino na história, que oferecia seu lanche quando todos guardavam o que tinham, e o milagre aconteceu. Até hoje desconfio que Jesus só deu força: quem fez o milagre foi o menino, provocando a partilha do que estava escondido.

Pois foi com meu coração esquerdista escancarado, sem nenhum rancor ou revanchismo, que votei no senhor. Dos candidatos, era o que mais se parecia com a gente com a qual eu convivia. O senhor deve ter sido um moleque como eu, como os que jogavam pelada comigo, num tempo em que molecagem era coisa sadia, sem nenhum traço de desrespeito. Além disso, criara um partido político que tinha idéias, propostas e quadros que se mostravam capazes de realizá-las. Eramoperários, intelectuais, gente das artes, do povo, gente como a gente.

Repito, votei no senhor, por opção.

O senhor lembra no que deu. A direita não ia entregar o poder assim, de bandeja. No vale tudo da campanha, valeu pouco o nosso sonho e o Collor ganhou. Mas, dois anos depois caiu a máscara, e o caçador foi cassado.

Aí veio o Itamar, que preparou o cenário para o seu ministro, o FHC. E "ó nóis aqui travéis" na eleição.

Votei novamente no senhor, por opção, pelos motivos de sempre. E de novo, quatro anos depois, contra o FHC II. E mais uma vez, em 2002, por duas vezes, no primeiro e no segundo turno, contra o Serra.

Eis o que há de especial em mim, presidente; sou de uma geração que votou no senhor seis vezes seguidas. Na verdade, eu, aos 53 anos, só votei no senhor para presidente da república. Acho que tal fidelidade merece um pouquinho da sua atenção, até porque não estou sozinho. Muitos da minha geração tiveram a mesma experiência.

E o senhor, finalmente, em 2002, chegou lá. Enfim, o poder. Melhor dizendo, enfim, o poder fazer cumprir os sonhos, as promessas, os compromissos com toda uma geração que, por não ter medode ser feliz, fez a esperança vencer o medo. Lembra?

E aí... vieram as denúncias, os desmentidos, as confirmações, a surpresa, a vergonha, a decepção. Os companheiros que caiam um a um.

Olhe, presidente, quem lhe fala não é um alienado ou um analfabeto político. Sei do jogo que se trava por trás da cena. Sei dos interesses, dos rabos presos da mídia, dos conchavos que contam a parte da história que interessa aos que tem saudades do poder. Sei dos avanços que o senhor e seu governo promoveram, principalmente para essa massa popular que hoje vota no senhor. Sei que é muito difícil para a classe média, da qual sou parte, entender o alcance do Fome Zero, do Bolsa Família. Nós não sabemos o que é fome. A elite então...! Sei dos ataques e agressões que expressam o enorme preconceito presente em nossa sociedade. Para muita gente medíocre, émesmo insuportável um operário sem diploma, com cara, jeito e voz de povo, na presidência da república.

Sei de tudo isso, mas não dá pra engolir o sapo dessa vez. Ele ficou muito parecido com os lobos e tubarões que sempre infestaram a política brasileira.

Mas, apesar de decepcionado, eu que votei no senhor, por opção, por seis vezes, votei agora, novamente no senhor, no primeiro turno, e vou votar de novo, no segundo turno, só que... por falta de opção...

É triste, mas é verdade. E a razão desse voto é que meu anacrônico coração esquerdista não daria conta de votar no PSDB e seus aliados do PFL. Eles representam para mim os rostos simpáticos, bem falantes, bons moços instruídos e elegantes, com diplomas e títulos, escalados pela Direita para reconquistar o poder. O Cristovam Buarque, apesar de empunhar a mais apaixonante das bandeiras, a Educação, não me mostrou ser capaz de efetivá-la. A senadora Heloisa Helenaprecisava ser menos rancorosa, mais a favor de alguma coisa e não apenas contra tudo o que está aí.

Restou o senhor e o que resta dos sonhos da minha geração.

Mas há um detalhe. No coração de todo esquerdista, e em especial de um esquerdista cristão, brilham sentimentos capazes de mover montanhas: entre eles, a fé e a esperança. Coração esquerdista cristão é jardim de utopias. E a utopia cristã não é sonho impossível, é rumo. É para lá que vou. É para lá que vai a minha geração. É para lá que vai o meu voto.

Vire-se com ele, presidente. Entre os milhões de votos que o senhor vai receber no dia 29, capazes ou não de mantê-lo no cargo, vai estar o meu e o de outros como eu. Fiéis não exatamente ao senhor, mas ao nosso sonho.

Se ganhar, com a ajuda do meu voto, talvez o senhor ainda tenha tempo de resgatar e honrar esse sonho. Talvez, daqui a quatro anos, eu não precise me envergonhar de ter votado no senhor oito vezes!

Eduardo Machado - 06/10/2006

Mais um lançamento do livro Historia de Minas Gerais, dessa vez em minha cidade natal, Dores do Indaiá, graças ao interesse da querida Cecilia Lino. A palestra e a noite de autógrafos foram na Câmara Municipal, dia 21 de outubro.

BRASIL

O papel da mídia nas eleições. Muito se terá a discutir sobre essa questão e eu gostaria muito de receber comentários a respeito. Estou postando 4 artigos, com pontos de vista diferenciados. Começo com o jornalista Luis Nassif. Depois temos o resultado de um debate promovido pela Agência Carta Maior. Em seguida, Jonas Valente fala das relações entre mídia e política. E, finalmente, Ricardo Setti discorda da maioria das críticas, alegando que a cobertura da imprensa ao processo eleitoral apresentou avanços.

1. Grande imprensa cometeu suicídio nestas eleições, diz Nassif

Por André Cintra e Priscila Lobregatte

Ao adotar um pensamento único, elitista e anti-Lula, a mídia entrou numa rota suicida. Esse estilo, ''inédito em termos de grande imprensa'', criou ''um clima muito pesado de patrulhamento, ataques, macarthismo''. O diagnóstico é de Luis Nassif, jornalista há mais de três décadas e ex-membro do conselho editorial da Folha de S.Paulo.

Nassif se tornou uma das vozes mais avessas aos descalabros que tomaram conta do jornalismo. Em sua opinião, a mídia sequer se esforçou para entender um fenômeno como o Bolsa Família - e sai dessa eleição desiludida com a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na entrevista que concedeu ao Vermelho - e que abre a série ''Mídia x Mídia'', o jornalista mineiro atacou o presidenciável tucano Geraldo Alckmin. ''A gestão dele em São Paulo, do ponto de vista administrativo, foi absolutamente medíocre e nunca foi avaliada''. De acordo com Nassif, ''Alckmin não tem discernimento'' e sofre de ''incompetência gerencial''.

As declarações de Nassif foram tomadas nesta quarta-feira (25/10), num escritório da Avenida Paulista, em São Paulo, onde o jornalista coordena a Agência Dinheiro Vivo. Confira os principais trechos dessa entrevista exclusiva.

Por que essa onda anti-Lula e anti-PT ficou cada vez mais forte na grande mídia?

No começo do ano passado, alguns colunistas - não oriundos da imprensa propriamente dita -, intelectuais e pessoas do showbiz, basicamente o (Arnaldo) Jabor e o Jô (Soares), começaram uma crítica mais pesada ao Lula e ao PT. Essa crítica, num determinado momento, resvalou para uma posição de intolerância e teve eco na classe média.

Quando teve eco, aconteceu algo que, para mim, é o mais inacreditável que eu já vi em mais de 30 anos de jornalismo: a Veja entra na parada e começa a usar aquele estilo escabroso. É inédito em termos de grande imprensa - e é um suicídio editorial. Agora, aquele estilo acabou batendo aqui, em São Paulo, em alguns círculos do Rio de Janeiro, induzindo a mídia a apostar na queda do Lula. Quando não conseguiu derrubar Lula, a mídia enlouqueceu. E então todos os jornais caminhavam na mesma direção. Isso não existe. Todo mundo endoidou.

Criou-se um clima muito pesado de patrulhamento, ataques, macarthismo. Os colunistas, de uma maneira quase unânime, entraram nesse clima - até por constrangimento. Aquela posição relativamente diversificada que existia nos jornais, através de seus colunistas, acabou. Os colunistas foram inibidos. Há jornalistas aí, com 40 anos de carreira, que escreveram 365 artigos, um por dia, sobre o mesmo assunto, todo dia pedindo a cabeça do Lula.

Não dá. Criou-se uma guerra santa que é incompatível com o papel da mídia. Isso era para os jornais dos anos 50. Partiu-se para um festival de ficção, de arrogância, de agressividade e falta de civilidade que é veneno puro na veia na imagem dos jornais e das revistas que entraram nessa.

E, mesmo assim, o Lula não caiu...

Porque, no começo dos anos 90, tivemos um fenômeno: começou a surgir a ''banda B'' da opinião pública. As classes D e E começaram a ter voz. É a história dos descamisados - e Collor percebeu muito bem isso. Começa a haver nessas classes um novo campo. À medida que o país vai evoluindo, aquela mediação feita pelos coronéis tende a se diluir. Este foi um primeiro ponto. Quando Lula lança o Bolsa Família - que é um programa muito bem-feito e que tem, sim, contrapartida -, ele pega esse fenômeno, que ganha corpo. O Fernando Henrique, que é sociólogo e tal, por conta de sua postura imperial, não percebeu esse novo cidadão emergente.

Outro ponto é que, na medida em que se criou essa unanimidade na mídia, você descartou públicos: o público engajado, que tem seu pensamento - a favor do Lula e do governo -, e que de repente percebeu que não havia nenhum veículo que fosse justo; e o segundo é um público menor, mas muito influente, que é o público dos formadores de opinião bem informados. Com aquela simplificação com que veio a cobertura, estes setores acabaram se desiludindo com a imprensa. Tudo isso surge num momento em que a internet já tinha massa crítica aí, com os blogs e tudo, para fazer contraponto. E entre os blogs tem de tudo.

Aquela diversidade que os jornais ainda tinham e perderam, o pessoal foi buscar na internet. E uma coisa a gente aprende com os blogs: se houver 20 blogs falando ''A'', basta um blog falando ''B'' de forma consistente, que ele inverte e desmascara. Há a interação entre os blogs e seus leitores. Os blogs emergiram como uma alternativa. E isso culminou com a matéria do Raimundo Pereira na CartaCapital. Em outros momentos, a Carta teria feito a matéria e ninguém falaria nada. Agora a matéria teve um alarido infernal, de tudo quanto é blog discutindo. E o tema não morreu.

A ponto de a Globo ter de se explicar...

É, tentou, tentou, mas não conseguiu responder. (Ali Kamel) é um rapaz inteligente, mas há coisas que, se você não consegue explicar, é melhor não tentar. Se você precisa de mais de uma lauda para explicar, não tente. Ele tentou e ficou chato, porque estava claro que era uma armação do delegado visando a Globo.

E aí se entra em outro aspecto: qual o interesse jornalístico de uma foto? Uma foto de dinheiro é igual a uma foto de dinheiro. Não há informação nisso. Essa foto ainda foi maquiada para dar maior fotogenia. O único interesse era como ela ia repercutir nas eleições, como no caso da Roseana Sarney. A gente sabia que esse dinheiro existia há semanas. O fato de aparecer a foto não tem significado nenhum.

Mas os jornais e TVs queriam dar a imagem para saber o efeito eleitoral da foto. Se o único interesse sobre a foto era esse, é evidente que a parte mais relevante do ponto de vista da notícia era saber como vazou a foto. E não deram isso. Manipularam e protegeram o delegado (Edmilson Bruno Pereira). Isso é um episódio marcante. Um golpe como esse, não temos paralelo em nossa história.

A mídia, cumprindo esse papel, é suicida. Ela não tem como ganhar. Se ela derruba o Lula, ela fica com a pecha de golpista para o resto da vida. Todo problema que surgisse seria imputado à mídia. Ou seja, se ela ganha, ela perde. Se não derruba o Lula - que foi o que aconteceu -, ela mostra que perdeu o poder que ela tinha.

Existe nisso um preconceito de classe?

Houve um claro preconceito de classe. No momento da internacionalização da economia brasileira, o Fernando Henrique passa a se cercar de uma corte que é minoritária em São Paulo, mas que tem muita ressonância. É um pessoal que se julga internacionalista, mas é da ''geração Daslu'' - de um esnobismo altamente provinciano visto por um estrangeiro, mas que aqui dentro pegou muitos setores, inclusive da imprensa. Esse deslumbramento cresceu de uma forma muito ampla nesse período, em cima de um conjunto de colunistas muito próximos ao Fernando Henrique.

O grande pecado do Fernando Henrique, lá atrás, foi quando ele começou a desqualificar as críticas e começou a tratar tudo que não era internacional como caipira e provinciano. Ou seja, criaram-se ali as bases para essa visão entre modernos e anacrônicos. O fator Veja foi fundamental para trazer esse componente. A Veja já vinha num crescendo de grosserias e ataques pessoais, mas, no ano passado, explodiu.

E veio até aquela capa absurda de que o PT emburrece o país...

Quando se entra nesse preconceito monumental, a crítica fica desqualificada. Aquele papel da mídia, de ser mediadora, deixa de existir. E o Lula fez uma coisa de gênio político. Quando começaram os escândalos, ele mandou apurar tudo. Na medida em que o pessoal acusado foi tirado do barco, passou a sensação de que era possível reconstruir o governo Lula sem os barras-pesadas que passaram por seu governo.

Então você tem o Bolsa Família mudando a realidade brasileira, com a incorporação das massas excluídas. O Lula não é salvo pela política do Palocci ou do Banco Central, mas pelo Bolsa Família. E não apenas pelos que são beneficiados - mas também por aqueles que estão de fora e percebem que esse programa vai mudar a história do Brasil. Os jornais não se deram conta disso.

Quando ficou claro que o Lula não ia cair, começaram a falar: ''Ah, mas o eleitor do Lula é nordestino, é analfabeto''. E quem fica com eles (os jornais)? Uma classe média muito paulistana, preconceituosa e anacrônica - porque quem é minimamente sofisticado não entra nesse jogo.

Você pega essa prepotência da Veja - esse negócio de ''eu sou imbatível''. Veja aquele rapaz, o diretor, que entrou um dia e disse: ''Hoje derrubamos o presidente!''.

Quem?

O Eurípedes (Alcântara), né? Acho que foi quando saiu aquela matéria do Palocci. Ele (Eurípedes) é que é o grande responsável por toda essa mudança que teve - essa adjetivação, esse clima todo.

A sensação de poder se dá pelo seguinte: você tem canais de TV, jornais, revistas - todos falando a mesma coisa. Só que, quando abre a cortina, tem um monte de gente espiando atrás da cortina. É um olhando pro outro, é um negócio auto-referenciado. Poucas vozes ousaram investir contra esse clima.

Os jornais apostaram na beligerância entre PSDB e PT?Essa guerra acabou. Os jornais, com amadorismo, achavam que esse clima duraria até a queda do Lula. No dia seguinte às eleições, saem de cena Fernando Henrique, (Jorge) Bornhausen, (Tasso) Jereissati e os jornais e revistas que entraram nessa - eles só prosperam em tempos de guerra. As forças para pacificação são mais fortes do que as forças da guerra.

Fernando Henrique é outro que se queimou. Poderia ser um pacificador... Itamar e Sarney deram declarações, como ex-presidentes, com responsabilidade perante o país. E de repente vem o Fernando Henrique e solta a franga de uma maneira que deixa de ser referência.

Por que as irregularidades do governo Alckmin ficaram completamente fora da pauta da grande mídia, ao menos até as eleições?A gestão dele em São Paulo, do ponto de vista administrativo, foi absolutamente medíocre e nunca foi avaliada. Então você pega a Secretaria de Educação. Numa entrevista, perguntei para ele: ''Governador, qual a sua proposta para as universidades federais?''. Ele respondeu: ''Vamos criar indicadores de acompanhamento''. E por que não criou nas universidades estaduais? ''Ah, porque isso poderia conflitar com o conceito de autonomia universitária''.

Olha o Rodoanel: quatro anos para resolver uma questão ambiental. Isso não existe. Mas, como precisava criar um anti-Lula, jogam o Alckmin como bom gestor - coisa que ele não era. Tem outras virtudes, mas não essa. E aí precisa vir o Lembo e dizer que o estado está vendendo estatal para pagar contas. Imagina se isso fosse com o governo Lula? Aí começa a ficar explícita a perseguição da mídia.

Você acha que Alckmin não tem condições de governar o Brasil?

Não. O Alckmin não tem discernimento. O Serra e o Aécio pegam gente eficiente, se cercam de bons quadros. E o que o Alckmin faz aqui? Na esfera federal, essa falta de discernimento do Alckmin seria complicada - e estamos falando do que ele já fez no estado, não num país. Não tenho informações sobre desonestidade da parte dele. Agora, no que diz respeito à incompetência gerencial, sim.


2. Mídia ultrapassou todos os limites nessas eleições

Na avaliação dos jornalistas Raimundo Pereira, Luis Nassif e Bernardo Kucinski, a grande imprensa, apesar de sempre ter sido crítica e preconceituosa em relação a Lula e ao governo PT, se superou a partir das denúncias do mensalão.
Bia Barbosa – Carta Maior

SÃO PAULO – Em momentos eleitorais, a essência de uma atuação democrática da mídia é garantir o debate plural de idéias e atuar como mediadora deste processo. Algo que estaria muito longe da realidade dessas eleições presidenciais, na avaliação dos participantes do debate “Mídia e eleições”, realizado pela Carta Maior na noite desta quinta-feira (26), em São Paulo. Participaram do evento os jornalistas Luis Nassif, da TV Cultura, Raimundo Pereira, colaborador da revista Carta Capital, e Bernardo Kucinski, editor associado da Carta Maior. Eles foram unânimes ao afirmar que, apesar do conservadorismo da imprensa brasileira não ser novidade, a recente cobertura dos grandes veículos ultrapassou todos os limites já vistos no país. Ao analisar o acompanhamento do caso da compra do dossiê contra o PSDB e a divulgação das fotos do dinheiro apreendido pela Polícia Federal às vésperas do primeiro turno, ficou clara a opção da imprensa em favorecer uma das candidaturas.

“Às vezes a imprensa cria fantasias. Qual é o significado de uma foto de dinheiro? Todo mundo já sabia que o dinheiro existia. Foto de dinheiro é igual a foto de dinheiro; não há nenhuma informação nova. Mas a imprensa divulgou as imagens e ficou esperando inverter o resultado. Achava que a tal foto tinha um efeito mágico, quando o único interesse em sua divulgação era político eleitoral. Então, jornalisticamente, o interesse era descobrir quem tinha vazado a foto. Essa era a informação, que não foi dada no início”, avalia Luis Nassif.

Na opinião de Bernardo Kucinski, desde a crise do mensalão houve uma mudança qualitativa de padrão na mídia. Apesar de sempre ter sido crítica e de revelar traços de discriminação e preconceito em relação a Lula e ao governo PT, no ano passado a grande imprensa teria aprofundado este processo. “Os veículos se fecharam num processo de linchamento coletivo do PT e do governo, desde a chefia até os repórteres, sem nenhum constrangimento. Isso aconteceu com todos os veículos, com raras exceções. Confesso que fiquei assustado com este comportamento. É um fenômeno cultural importante, cuja profundidade só o futuro vai dizer”, acredita.

São vários os fatores que podem ter desencadeado neste resultado. Há uma série de fatores internos ao jornalismo – como a alta rotatividade e precariedade das condições de trabalho e o grande número de estagiários nas redações – que torna o jornalista mais vulnerável. Outro problema seria a adesão da grande imprensa, em nível internacional, à visão de mundo apregoada pelo capitalismo, com o agravante da característica brasileira de uma imprensa com origem oligárquica. Por fim, os erros do próprio governo e do Partido dos Trabalhadores. Diante da relevância da questão da corrupção, o que aconteceu no governo Lula se transformou na gota d´água e o resultado foi um infinito número de reportagens incriminatórias – muitas inverídicas –, em que o abandono de princípios como a presunção da inocência foi latente.

Os primórdios deste comportamento da mídia, na avaliação dos jornalistas presentes, estão na campanha pelo impeachment de Fernando Collor de Mello na década de 90. Naquela época, teria nascido uma competição entre os jornais por notícias cada vez mais espetaculares. “Quando não havia mais fatos, inventava-se. Era a síndrome do orgasmo permanente. A imprensa precisava de denúncias. O que aparecesse valia. O público se viciou em matérias escatológicas e a imprensa tinha que responder a isso”, lembra Nassif.

No meio da década de 90, o processo de abertura da economia acabou gerando uma elite internacionalista, que Nassif chama de “geração Daslu”, que teria contaminado o preconceito da classe média e da imprensa em relação à parcela mais pobre da população brasileira. “Fernando Henrique teve um papel anti-pedagógico nesse período, quando começou a associar modernização a esse sentimento superior: “temos um país provinciano e somos a elite internacionalizada”. Foi terrível. A palavra e o exemplo de um presidente é mais forte do que a caneta dele”, acredita Nassif.

Quando os jornais perceberam que o leitor gostava desse “internacionalismo”, essa linha editorial virou “padrão”. Seguindo o exemplo da revista Veja, que arriscou pesado na derrubada do governo, a imprensa voltou ao clima da campanha pelo impeachment da década de 90, desta vez contra Lula, intensificado brutalmente nas últimas semanas do primeiro turno. Na avaliação dos debatedores, essa “guerra de vida ou morte” comprada pelos meios de comunicação levou a uma cegueira dos veículos, que acabaram se auto-referenciando e perdendo sensibilidade em relação ao leitor. Neste episódio, a mídia não teria conseguido perceber que havia algo mais amplo ao seu entorno, e que fazia com que, apesar de seus esforços, o candidato Alckmin não subisse nas pesquisas.

Conseqüências para o segundo turno

A orquestração midiática na última semana de setembro certamente contribuiu para que Lula não fosse eleito já no primeiro turno. No entanto, o inchaço de votos obtido pela candidatura de Geraldo Alckmin logo se desfez no início da campanha do segundo turno. A mídia também teria contribuído para isso. Ao promover uma overdose de ataques a Lula, os jornais acabaram contribuindo para uma vitimização do presidente, e levando para o seu lado aqueles que ainda não tinham opção definida no pleito. Ao mesmo tempo, para os jornalistas, Alckmin não conseguiu sustentar sua imagem de bom governador e bom gestor.

“Alckmin é um louva-deus, parece certinho. Mas, do ponto de vista político, é “sanguinário”: busca o poder, encheu as prisões de gente pobre, alimentou rebelião do PCC por direitos humanos. Tentou mudar e ir para cima do Lula e virou de fato a pessoa que representa o tipo de política que faz. Aí enrolou as pernas e caiu”, avalia Raimundo Pereira. “Só um milagre salva o louva-deus da derrota agora”, acredita.

Para o jornalista, independente do resultado eleitoral, é preciso trabalhar pela unidade da imprensa alternativa e pelo fortalecimento da imprensa popular. “A imprensa brasileira se monopolizou ainda mais e o PT errou porque não viu que a imprensa era essencial para a mudança da consciência popular. Enquanto o movimento popular não se reerguer com plenitude e fazer ouvir sua voz, não vai ter jeito. O país é dividido em classes sociais. À medida, por exemplo, em que a Veja piora, a meu ver, em qualidade, cresce no gosto de uma camada da sociedade. Por isso precisamos de uma imprensa popular forte”, afirma Pereira.

Durante o debate, também ficou clara a importância do papel da internet na democratização da informação. A conclusão é a de que, com o segundo turno, ao contrário do que queria a direita, gerou-se um clima mais positivo para a reorganização da sociedade em torno de um projeto de uma nova mídia. “Há uma causa socialista em jogo e há uma causa capitalista em jogo. Mas o mais importante pra nossa imprensa é defender os princípios da democracia, da diversidade do contraditório. Pela primeira vez, o povo deu uma aula de como manter a civilidade para a mídia, para aquela que deveria ser a guardiã dessa civilidade”, conclui Nassif.

3. Jonas Valente (da Agência Carta Maior)

Mídia e política: entranhas expostas e luzes no fim do túnel (clique no resumo para ler o artigo completo)

A ação da Rede Globo e de outros grandes meios não é um desvio editorial, como tentam crer alguns defensores do ‘bom jornalismo’. Suas decisões editoriais são, sim, reflexo do claro lado ocupado por seus dirigentes ao longo da história da política brasileira. - 27/10/2006

4. Houve progressos na cobertura das eleições
Por Ricardo A. Setti em 30/10/2006 (Do Observatório da Imprensa)

Reeleito o presidente Lula e terminada a maratona eleitoral de 2006, o signatário destas linhas vai respeitosamente divergir de vários colegas, de diferentes veículos, para considerar que o saldo da cobertura das eleições pela imprensa foi positivo.

Não é possível, naturalmente, ignorar a intensa polêmica que cercou a divulgação do escândalo do suposto dossiê que um grupo de petistas, com ramificações até mesmo na campanha pró-reeleição de Lula, tentou adquirir com dinheiro suspeitíssimo para enlamear os tucanos. Nem dá para discordar dos colegas – como o ombudsman da Folha de S.Paulo, Marcelo Beraba, e Luiz Weis, colunista deste Observatório – que criticaram pesadamente o fato de órgãos da grande mídia terem mentido a seu público sobre as famosas fotografias da pilha de dinheiro destinado à aquisição do dossiê, feitas e vazadas à imprensa pelo delegado da Polícia Federal Edmilson Pereira Bruno. O delegado combinou com jornalistas que diria a seus superiores que o CD com as fotos fora roubado de sua mesa, de forma a afastar de si as suspeitas de vazamento, e a versão mentirosa chegou a leitores e ouvintes.

A polêmica principal sobre a divulgação das fotos envolveu a Rede Globo – sempre o principal alvo de críticos durante as eleições, devido a seu passado muito pouco recomendável no jornalismo político. Teria dado maior ênfase ao aparecimento das fotos do que ao gravíssimo desastre com o avião da Gol em Mato Grosso, ocorrido no mesmo dia, influenciando, portanto, o resultado do primeiro turno com um noticiário carregado de suspeitas contra o PT. Levou bordoadas de muita gente, a começar das desfechadas pelo jornalista Paulo Henrique Amorim em seu blog. As da CartaCapital contra a Globo, como sabem os leitores, acabaram sobrando, inclusive, sem o menor fundamento, para este Observatório.

A Globo vem se redimindo do passado

O saldo geral da grande imprensa diante da eleição, no entanto, está longe de ser ruim. Sem a menor pretensão de esgotar o tema, que é amplo, comecemos pela própria Globo. Baixado o teor de predisposição ideológica, ainda forte entre nós, jornalistas, é justo e sensato afirmar que a Globo sofreu críticas exageradas. A emissora, na verdade, se comportou corretamente. Como vem acontecendo há várias eleições, realizou trabalho competente e isento, tanto na eleição presidencial como nas demais. Certas concessões, como o precioso tempo dedicado diariamente no primeiro turno a candidatos nanicos à Presidência, donos de legendas de aluguel, em troca de mantê-los fora dos debates, acabaram sendo um jeito criativo de driblar loucuras da nossa legislação eleitoral e permitiram que o debate do primeiro turno não virasse piada.

É claro que senões sempre ocorrem. Os que enxergaram uma Globo agindo contra Lula provavelmente não quiseram ver alguns escorregões no exato sentido oposto – por exemplo, o destaque conferido, como se se tratasse de atos rotineiros de governo, a certas solenidades oficiais obviamente eleitoreiras promovidas pelo presidente, como o encontro com catadores de papel. Também é coisa feia, provinciana e não-profissional a postura arrogante de fingir que não existiram os debates Lula vs. Alckmin nas concorrentes Bandeirantes, SBT e Record. Sem contar que, acima de tudo, isso desinforma e prejudica seu próprio público. Mas chegou a hora de reconhecer que a poderosa rede vem se redimindo do passado, deixando o passivo de festejar a ditadura, ignorar a campanha das diretas-já e outras mazelas cada vez mais distante.

Nosso teor ideológico baixou

O restante da mídia, excetuadas militâncias conhecidas em prol de uma e outra candidaturas presidenciais, especialmente entre as revistas semanais, realizou progressos em relação a eleições anteriores. A começar do parti pris ideológico. Parece fazer um século que ocorreu a disputa de Lula contra Fernando Collor, em 1989, em que o fenômeno adquiriu contornos assombrosos.

Augusto Nunes, que como brilhante diretor de redação do Estado de S.Paulo iniciara no ano anterior profundas reformas no jornal, viria posteriormente a diagnosticar muito bem as pressões enormes a que naquele ano estiveram submetidos os jornalistas com responsabilidade de comando nas redações: viam-se imprensados entre os patrões, de um lado – apavorados diante da perspectiva de vitória de um Lula de plataforma delirante, que prometia do calote da dívida externa para cima – e, de outro, por um reportariado que, com escassas exceções, portava a estrela vermelha do PT em lapelas, bolsos de camisa, corações e mentes. Quem viveu aquela época se recorda de episódios absurdos, impensáveis na profissão, como o coro de "Lula-lá" entoado por repórteres frustrados pela recusa de Collor em conceder entrevista após participar do antigo Programa Ferreira Neto.

Um depoimento pessoal

Nesse cenário, o Jornal do Brasil de então terá sido uma exceção. Seu proprietário, o falecido M. F. do Nascimento Brito, o "dr. Brito", embora detestasse as propostas de Lula, jamais passou dos limites com o diretor de redação do JB responsável por um período especialmente glorioso da vida do jornal, Marcos Sá Corrêa. E permita o leitor um rápido testemunho pessoal. Eu próprio, que dirigia a sucursal de São Paulo e, como tal, participava regularmente de reuniões com o comando no Rio e com o dr. Brito, nunca recebi dele ou o ouvi mencionar sequer um fiapo de sugestão sobre favorecer qualquer candidato na cobertura – e a sucursal, na época com um timaço que orgulharia qualquer chefe, estava encarregada da apuração básica de nada menos do que cinco concorrentes à Presidência no primeiro turno baseados em São Paulo: Lula (PT), Mário Covas (PSDB), Ulysses Guimarães (PMDB), Guilherme Afif Domingos (PL) e Paulo Maluf (do velho PDS, antecessor do atual PP).

Não havia pressões indevidas da direção, e os jornalistas do JB, especialmente em São Paulo, trabalharam de maneira exemplar. Se lida hoje, por exemplo, a matéria com o furo de Luiz Maklouf Carvalho, que desvendou para a opinião pública, em abril de 1989, a existência de Lurian, filha até então desconhecida de Lula, continua irretocável: apuração perfeita, todos os envolvidos entrevistados – inclusive o hoje presidente da República –, a jovem fotografada na casa em que vivia com a avó. O uso sórdido do caso, meses depois, pela campanha de Collor é outra história. Também, entre várias, a reportagem de bastidores sobre as razões de Lula ter ido tão mal no derradeiro debate com Collor – provável causa de sua derrota –, apurada com incansável persistência e rigor por Marcos Emílio Gomes, é de consulta obrigatória para quem quiser escrever a história daquele período.

Devidamente computada a exceção JB, polarização ideológica como a ocorrida naquele 1989 praticamente deixou de ser um fator na cobertura, pela grande mídia nacional, da eleição que acaba de terminar. Isso não é pouco.

Outros sinais de melhoria

E pode-se registrar outros sinais de progresso. Houve um esforço, palpável e constante, para se fugir à mera narrativa "corrida de cavalos" da eleição. Por meio de debates na TV, entrevistas individuais ou participação e sabatinas realizadas por veículos, a imprensa de novo fez o possível para extrair dos candidatos algo além da lorotagem marquetológica.

Os coordenadores dos dois programas de governo, o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) e o presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, mereceram uma atenção jamais ocorrida nas eleições anteriores. Números, cifras e percentagens sobre economia e supostas realizações dos dois candidatos foram submetidas a intenso escrutínio, e diferentes veículos flagraram distorções de dados, incongruências e limitações orçamentárias que tornam vãs, quando não mentirosas, promessas de ambos os concorrentes do segundo turno.

Editores, pauteiros e repórteres esforçaram-se para focar o que britânicos e americanos chamam de issues – as questões de fundo com as quais, uma vez no Planalto, um candidato precisará lidar, longe da coreografia ilusória de palanques e programas do horário eleitoral. Uma bela gama de articulistas de várias especialidades, principalmente mas não apenas nos jornais, contribuiu para enriquecer o público consumidor de noticiário.

Ainda é preciso caminhar muito

Conseguimos, então, uma cobertura excelente? Claro que não. É preciso caminhar muito ainda, no futuro. Começando por repensar os debates entre candidatos na TV. Ainda que variassem de algum modo os formatos, a área de jornalismo das emissoras não conseguiu um jeito de torná-los realmente reveladores. Além do que continua constrangedor e impróprio submeter políticos que poderão ocupar o mais importante cargo público do país a regras que, muitas vezes, reduzem-nos a patéticos escolares bagunceiros levando, cabisbaixos, "pito" de jornalistas mediadores. (Ao final do debate da Globo, todos se lembram, Lula e Alckmin, titulares de mais de 100 milhões de votos dos brasileiros, tiveram que engolir, como meninos bem comportados, o elogio de William Bonner por seu "comportamento exemplar").

Outros pontos do trabalho jornalístico merecem reflexão e reparos. Com algumas exceções, não conseguimos, até hoje, dar a devida importância (na verdade, a menor importância) às eleições para o Legislativo, cruciais numa democracia. A cobertura das eleições nos Estados que não os cinco ou seis principais é irregular e quase sempre raquítica. O levantamento de uma questão-chave da campanha no segundo turno presidencial – o caso do dossiê contra os tucanos –, como tantas outras que envolvem a polícia, foi modestíssima na apuração própria, para mencionar somente um exemplo adicional.

O principal desafio

O mais difícil, porém, sempre será enfrentar o desafio que há tempos preocupa luminares da área de ciência política, principalmente nos Estados Unidos, e que afeta diretamente a mídia: as campanhas eleitorais, a começar pelas presidenciais, tornaram-se cada vez mais sofisticadas, rigorosas e caríssimas disputas que acabam decidindo, no final, quem tem mais capacidade de vencer uma eleição, e não quem reúne mais condições para governar.

Para a imprensa, enfrentar o problema implicaria baixar o grau de interesse por assuntos apimentados e chamativos como manobras de bastidores, brigas e ciumeiras, negociações políticas, alianças partidárias e as pesquisas de intenção de voto – que invariavelmente se tornam o centro de tudo o que a mídia faz na temporada eleitoral –, em favor de tópicos como destrinchar as razões do rombo da Previdência, esquadrinhar corretamente a questão das privatizações ou explicar porque a agricultura está em crise.

São temas pesados, árduos, difíceis de digerir. Mas, fechadas as urnas, encerradas as apurações e empossados os eleitos, tópicos como esses é que irão realmente interferir na vida dos cidadãos. A imprensa vai servir tanto mais à sociedade quanto melhor conseguir decifrá-los e, sobretudo, fazê-los chegar, palatáveis, ao leitor/telespectador/ouvinte/internauta.

Vista do público presente à Câmara de Vereadores de Dores do Indaiá para o lançamento de nosso livro Historia de Minas Gerais. (as duas fotos foram clicadas por Cecília Lino)



NUESTRA AMERICA

1. A polarização inevitável na América Latina Raúl Zibechi
(Clique no título para ler a matéria. Caso não consiga, leia em:

http://www.brasildefato.com.br


2. Guerra em Oaxaca

Com blindados e tiros, as forças federais tomam cidadeApesar de o governo mexicano garantir que não haveria violência, ocupação de Oaxaca resultou em três mortos e dezenas de feridos. Cerca de 50 pessoas foram presas. > LEIA MAIS Internacional 30/10/2006

NOTICIAS

1. CAMPUS DE AQUIDAUANA - UFMS SEMANA DE HISTÓRIA CPAQ/ UFMS

Os Campos da História: Ensino, Pesquisa e Perspectivas Interdisciplinares

06 A 10 DE NOVEMBRO DE 2006

Aberta à participação de pesquisadores, professores e alunos de história e outras áreas do conhecimento, a Semana de História CPAQ/UFMS objetiva possibilitar a reflexão sobre os campos de atuação da pesquisa e do ensino da história a partir do debate interdisciplinar, além de dialogar sobre o papel do profissional de história e de seu ofício frente um mundo em constante transformação. A participação no evento pode se dar segundo duas modalidades:1) através da proposição de trabalhos como mini-cursos, oficinas, comunicações, painéis 2) através de participação geral e em mini-cursos Informações: Laboratório de História Telefones: (67) 3241-0334 ou (67) 3241-0321Site: www.ceua.ufms.br E-mail:semanadehistoria@ceua.ufms.br

2. Seminário de Ação Educativa Cultura e Educação: parceria que faz história

Minascentro

Entrada pela Rua Guajajaras, 1022Salão Ouro - 3º PisoCentro - Belo Horizonte - MG

Programação

Dia 09/11 - Quinta-Feira17h00m-19h00m - Recepção e credenciamento

19h30m - Mesa de Abertura

20h00m - Conferência: "A necessidade da arte" Adélia Prado (Poetisa)

Dia 10/11 - Sexta-Feira 08h30m - Conferência: "Aprender a cultura"Ana Maria Gomes Rabelo (UFMG)

10h00m - Intervalo

10h30m - Sessão temática: Análise do Inesperado I "Patrimônio imaterial: o saber fazer na história" Betânia Gonçalves Figueiredo (UFMG)

"A admiração da técnica" - Bernardo Jefferson de Oliveira (UFMG)Moderador: Maria Helena Cunha - (DUO - MG)

12h30m - Almoço

14h00m - Conferência: "Aprendizagem em museus"Mikel Asensio (Universidade Autônoma de Madri)

16h00m - Intervalo

16h30m - Mesa de relatos: Museu Histórico Abílio Barreto - Thaïs Pimentel (MHAB - MG)Museu de Arte Moderna de São Paulo - Laima Leyton (MAM - SP)A experiência da Quarta Colônia - José Itaqui (CONDESUS - RS)Coordenadora: Silvania Souza do Nascimento (SUM/SEC-MG)

Dia 11/11 - Sábado 08h30m - Conferência: "A dialética Senhora e Serva no romance Primo Basílio, de Eça de Queiroz" - Bárbara Freitag Rouanet (UNB)

10h00m - Intervalo10h30m - Sessão temática: Análise do Inesperado II "O Museu de Artes e Ofícios diante do inesperado" Educativo MAO

"Memória e oralidade: o saber dos pequenos ofícios" Maria Eliza Linhares Borges (UFMG)Moderador: Antônio Tomasi (CEFET-MG)

12h00m - Conferência: "Razão e emoção na formação do imaginário" Alcione Araújo (escritor)Inscrições gratuitas até o dia 03 de novembro de 2006 pelo e-mail: seminario@bangaloproducoes.com.br

Dados obrigatórios: Nome, Endereço,Escolaridade,Instituição, Cargo, Fone e E-mail.

Aguarde a confirmação de sua inscrição por e-mail.

3. O Aleijadinho e o Brasil, uma simbiose perfeita

A exposição "Aleijadinho e seu Tempo – Fé, engenho e arte", em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, revela uma feição que quase sempre escapa ao espectador comum: Aleijadinho foi um escultor de aleijões. - 31/10/2006


SITES INTERESSANTES

ESPECIAL :: 100 ANOS DO 14-BIS

O vôo que entrou para a história 23/10/2006 (clique no resumo para abrir a matéria)

Há exatos cem anos, em 23 de outubro de 1906, um aparelho mais pesado que o ar realizava um vôo completo sem auxílio externo: o 14-Bis , construído por Santos Dumont. Em 12 de novembro, o avião fez um novo vôo, de 220 metros. Para comemorar a data, apresentamos uma seleção de textos da CH On-line e da revista Ciência Hoje sobre o nascimento da aviação.

BOLETIM ANPUH 23/2006

1. DEFESA DE MESTRADO

Será defendida em 21/11, na Unidade I da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), a dissertação de mestrado intitulada "Mato Grosso do Sul: labirintos da memória" de Ricado Souza da Silva. O prof. Dr. Carlos Martins Júnior foi o orientador. Maiores informações: www.ufgd.edu.br.

2. LANÇAMENTOS DE LIVROS

(a) Acontece no dia 01/11, às 16h, na sala A2B2 da Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre, o lançamento da “Coleção História Geral do RS”, iniciativa conjunta do PPGH da Universidade de Passo Fundo e da UERGS. Participam Nelson Boeira, Heloisa Jochims Reichel, Ieda Gutfreind, Helga I. L. Piccolo, Maria Medianeira Padoin. Tau Golin será o mediador.

(b) Será lançado dia no 1º de Novembro, 19:30 no Pavilhão de Autógrafos da Feira do Livro de Porto Alegre, o livro "De Manoel Congo a Manoel de Paula: um africano ladino em terras meridionais" (Porto Alegre: EST Edições, 2006), de Vinicius Oliveira.

(c) Será lançado dia 09 de novembro, quinta-feira, a partir das 19 horas, na Livraria DaConde (Rua Conde de Bernardote, 26 - Loja - 125 - Leblon – RJ) o livro “ Nós e eles – Relações culturais entre brasileiros e imigrantes” (Editora FGV, 2006), de Lúcia Lippi de Oliveira.
(d) A Editora Alameda está com um novo lançamento: o livro História Econômica, organizado por Esmeralda Blanco Bolsonaro de Moura e Vera Lúcia Amaral Ferlini. O livro é resultado do II Congresso de Pós-Graduação, realizado em novembro de 2004, no Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. O release completo do livro encontra-se em: http://www.alamedaeditorial.com.br/historia-economica

(e) Foi publicada a dissertação de mestrado de Laura Noemi Chaluh, defendida na Faculdade de Educação da Unicamp, em 2002, intitulada "Educação e Diversidade: um projeto pedagógico na escola" (Editora Átomo). Mais informações no site da editora: http://www.atomoealinea.com.br/lancamentos.asp
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