Boletim Mineiro de História

Boletim atualizado todas as quartas-feiras, objetiva trazer temas para discussão, informar sobre concursos, publicações de livros e revistas. Aceita-se contribuições, desde que versem sobre temas históricos. É um espaço plural, aberto a todas as opiniões desde que não contenham discriminações, racismo ou incitamentos ilegais. Os artigos assinados são de responsabilidade única de seus autores e não refletem o pensamento do autor do Boletim.

30.5.07

Número 092



EDITORIAL

O Editorial desta semana vale-se de dois artigos, aparentemente sem conexão, mas que, se você, leitor(a) observar bem, verá a relação existente entre eles. O primeiro foi retirado do sitio da Revista Ciência Hoje e o segundo de um sitio noticioso da internet.

A sociologia vai ao shopping center
Exaltação ao consumo e ao lazer alienados exclui a ‘vida real’, a cidadania e a prática da vida pública
Leia em http://cienciahoje.uol.com.br/92486

O mais recente escândalo envolvendo o presidente do Senado, Renan Calheiros, claro, teria de aparecer por aqui hoje.
Villas Boas Corrêa me poupou o desagradável trabalho de escrever a respeito, publicando no site
http://www.nominimo.com.br/, um artigo bastante esclarecedor. Leiam:


O pior Congresso da história deste país
29.05.2007
Não importa que a defesa do senador Renan Calheiros tenha mais furos que rede de pescador. E é pura perda de tempo catar as contradições e lacunas no seu depoimento: o presidente do Senado jamais correu qualquer risco.
Tal como em comédia burlesca ou em novelas de televisão, antes do primeiro capítulo o final está pronto na cabeça do autor. Por que infernizar a vida do presidente do Congresso, um dos líderes do PMDB que ajudou a tanger o partido para as pastagens do governo, de um companheiro sempre pronto a atender os pedidos dos colegas?
Depois, os antecedentes armam a grelha – ou o limpa-trilhos do preciso regionalismo alagoano – para o pouso do senador no fofo colchão da impunidade: o Congresso não tem autoridade para punir ninguém, nem deputado do baixo-clero, depois de consagrada a absolvição de dezenas de denunciados no festival de escândalos do Legislativo recordista, como nunca se viu igual na história deste país.
Por entre os felizardos premiados com os gasparinos da absolvição da ladroagem do caixa dois, das propinas do mensalão, nas trapaças apuradas pelas CPI dos Correios, das ambulâncias e de emplacada a máxima de que o voto que elege e reelege tem o generoso sentido do perdão do povo, o ilustre e empelicado representante de Alagoas desfila com o garbo de carneiro em parada.
A imprensa cumprirá o seu dever de catar contradições na defesa que parece armada com tela de galinheiro. Se os documentos exibidos nos 24 minutos de engasgada emoção não comprovam a origem do dinheiro que o pai pródigo gastou com a filha, fruto de uma relação extraconjugal, o senador arranjará outros. O lobista da Mendes Junior, o prestimoso amigo Cláudio Gontijo, deve dispor de pilhas de recibos para todas as serventias.
O presidente do Senado obedeceu ao figurino e comportou-se como recomendam as normas da Casa. À fila de senadores de todos os partidos que o afogaram nos abraços e sacudiram o pó com as palmadas nas costas e anteciparam o desfecho sabido, seguiu-se o blablablá da bazófia: tudo deve ser apurado para a exemplar punição dos culpados. Se for o caso, o rigoroso Conselho de Ética examinará as acusações e a defesa. E, na forma do louvável costume, o plenário do Senado garante a absolvição e a nova manifestação de solidariedade.
A esfuziante solidariedade pessoal ajusta-se ao modelo ético de novos tempos. Pipocam as justificativas para barrar a ressaca da indignação dos poucos que gritam e dos muitos que calam. Todas ou muitas de inegável oportunidade, como o financiamento público de campanha; a fidelidade partidária ou o fechamento dos ralos na elaboração do Orçamento.
Mas não se toca nem com o dedo mindinho nas causas reais da desmoralização do mais democrático dos poderes, como as semanas de dois a três dias úteis, as quatro passagens mensais para o fim de semana com a família, a orgia das mordomias, vantagens e benefícios, como a da inqualificável verba indenizatória de R$ 15 mil para as despesas dos quatro dias da folga semanal.
O ex-deputado federal e estadual, acadêmico Afonso Arinos de Melo Franco Filho, confessou a sua perplexidade: “Não consigo encaixar o meu pai neste Congresso.”
Puxamos o fio do saudosismo e fomos longe na especulação: não apenas o senador Afonso Arinos, o mais completo parlamentar desde o fim do Estado Novo. Para ficar em alguns exemplos: Milton Campos, Nereu Ramos, Gustavo Capanema, Aliomar Baleeiro, Bilac Pinto, Carlos Lacerda, Alberto Pasqualini, Odilon Braga, Daniel Krieger, Petrônio Portela, Thales Ramalho, Paramos por aí. Silenciados pela vergonha.

Depois dessa leitura, digamos, indigesta, temos, na seção Falando de História um artigo sobre o imperador D. Pedro II e uma indicação para fotografias do período da Grande Depressão nos Estados Unidos, que vale a pena ver e guardar!
Em Brasil, o grande tema é a ocupação da Reitoria da USP pelos estudantes. Olgária Matos e Dalmo Dallari fornecem importantes elementos para a reflexão a respeito. Além disso, Alguns rescaldos do debate sobre aquecimento global
, a necessidade de uma ampla reforma nos poderes, especialmente o Judiciário, e a denúncia de trabalho escravo e aliciamento de menores em Minas Gerais, nas áreas açucareiras.
Na seção Internacional, José Luis Fiori examina os papéis que podem ser desempenhados por Brasil e África do Sul no mundo atual.
Temos ainda várias notícias, Revistas, o Informe da Anpuh, e indicação de filme.

FALAM AMIGOS E AMIGAS

1. Olha só de onde vem este email!!! Da Austrália!!! Este boletim está ficando cada vez mais cosmopolita...já tem leitores no Japão, na Holanda, nos States...e agora na terra dos cangurus... Eita!!!!
Oi Professor Ricardo,
Sou a Claudia, ex aluna do uni-bh. Agora estou morando na Austrália. é muito bom receber seus boletins, especialmente porque uma coisa é ler as noticias no Brasil, outra e pensar a respeito delas...seria interessante você ter comentários lá no blog, pra gente poder discutir os assuntos que coloca lá. bem, eu pelo menos sempre amei uma polêmica e uma discussão hahahah.
Continue com o trabalho de informar e cooperar para as mentes pensantes de seus alunos e ex alunos.um abraço
Claudia L. S. Taylor

Oi Claudia! A polêmica fica por conta de você e os demais leitores em enviarem, por email, os comentários, para serem publicados na edição seguinte...

2. Professora Monica Liz encaminha este email:
Pessoal, a Secretaria Municipal de Educação de BH está recolhendo indicações de livros para a composição do Kit Escolar a ser distribuído para todos os alunos no próximo ano. Gostaria de pedir a vocês que indicassem, por e-mail, o livro a seguir.
Fruto de uma séria pesquisa desenvolvida pelos autores, o livro informa, para o público infanto-juvenil, sobre a vida e descobertas de Peter Lund em Minas Gerais, temática abordada de forma interdisciplinar e bastante divertida. Pra dizer a verdade, o livro é uma graça! - e bastante interessante.
abaixo as informações essenciais:

"OS OSSOS DO OFÍCIO: AS IMPORTANTES DESCOBERTAS CIENTÍFICAS DE PETER LUND NO BRASIL"
Autores: Sandra Lúcia de Paula
Ricardo dos Santos Gonçalves
Tradição Planalto Editora
Fone: (31) 3226-2829
http://www.tradicaoplanalto.com.br/
O e-mail de indicação deve ser enviado para aloeducacao@pbh.gov.br.


FALANDO DE HISTORIA

1. O cidadão que cheirava a rei
Perfis mostram Pedro II interessado mais na essência do que na aparência do poder
Leia em: http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=3235&bd=1&pg=1&lg=

2. Ensaio fotográfico mostra os Estados Unidos após a grande depressão de 1929:
Revelando a América, fotografias da FSA
Uma reforma mais radical e abrangente, que abranja o conjunto do Poder e do Sistema Judiciário brasileiro, adquire enorme urgência diante da revelação do envolvimento de quadros do Judiciário e do Ministério Público com o crime organizado e com a máfia do jogo. (Agência Carta Maior)

3. A polícia na USP – Coisa que há muito tempo não se via, estudantes ocupando a reitoria de uma universidade e a polícia em volta, pronta a atacar... muito estranho... o que teria provocado a atitude dos estudantes da USP?
Olgária Matos esclarece, e Dalmo Dallari mostra as inconstitucionalidades de Serra.


a) ENTREVISTA – OLGÁRIA MATOS
A renomada filósofa Olgária Matos e outros 300 intelectuais firmam abaixo-assinado no qual rejeitam a 'ação violenta de desocupação do prédio [da Reitoria]' da USP. Para ela, os estudantes deram 'uma aula de democracia ao poder instituído na universidade'. > LEIA MAIS Educação

b) Encaminhado pelo prof. James Goodwin a uma colega e repassado para este boletim:
O professor Dalmo Dallari (FD-USP) encaminhou aos estudantes um texto sobre a indiscutível inconstitucionalidade dos decretos do Serra:

AUTONOMIA AGREDIDA
Dalmo de Abreu Dallari
O novo Governador do Estado de São Paulo, José Serra, iniciando o exercício de seu mandato no começo de 2007, editou um conjunto de decretos queparecem ter sido preparados de afogadilho e sem avaliação de suas conseqüências, tendo já acarretado algumas conseqüências negativas, estando neles a raiz da invasão da Reitoria da Universidade de São Paulo por estudantes daquela universidade. Seja qual for a opinião quanto à conveniência e oportunidade da invasão, o fato é que os decretos do Governador estão diretamente ligados àquele acontecimento.
Talvez se diga que se os estudantes estivessem mais bem informados quanto ao exato conteúdo dos decretos e ao seu alcance poderiam manifestar desacordo, mas sem chegar àquela medida drástica, mas isso também revela a afoiteza e imprudência do governo na apresentação do fato consumado, sem maiores esclarecimentos. Na realidade, a análise jurídica dos referidos decretos leva à conclusão de que existem ali algumas evidentes inconstitucionalidades, havendo mesmo, em alguns pontos, uma tentativa de mascarar a realidade, por meio de uma espécie de ilusionismo jurídico, que, no entanto, não resiste a um exame mais atento, mesmo que baseado apenas no bom senso e na lógica. Bastaria observar que no dia 1º de janeiro de 2007 o novo Governador já emitiu extensos decretos, eliminando e criando Secretarias na organização administrativa superior do Estado, para tanto exercendo atribuições que não são do Executivo, mas da Assembléia Legislativa do Estado. É oportuno lembrar que o decreto é ato administrativo, que o Chefe doExecutivo pode praticar para fixar regras de caráter regulamentar, mas que só têm validade e força jurídica se não contrariarem qualquer dispositivo da Constituição ou de alguma lei. E isso não foi observado.
Um desses decretos, o de número 51.460, de 1º de janeiro de 2007, pode ser considerado extremamente audacioso, pois expressa uma tentativa de alterar pontos substanciais da ordem pública, criando e extinguindo órgãos de grande relevância na organização administrativa fundamental do Estado, fingindo que só estão sendo mudados os nomes de alguns desses órgãos, sem nenhuma consideração pelos objetivos que inspiraram a criação desses órgãos e pelas características de suas organização, bem como pela especialização de seus quadros. A par desse absurdo, ocorrem ainda agressões a normas constitucionais expressas e já tradicionais no sistema constitucional brasileiro, como as que consagram a autonomia das Universidades públicas. A mais absurda dessas investidas contra a Constituição e o bom senso é a que consta do artigo 1º, inciso III, desse decreto, cuja redação é mais do que eloqüente na denúncia do absurdo:
"Artigo 1º. A denominação das Secretarias de Estado a seguir relacionadas fica alterada na seguinte conformidade:..............................................................................................................................
III. de Secretaria de Turismo para Secretaria de Ensino Superior."
Essa pretensa mudança de nome é uma aberração mais do que óbvia, pois o nome identifica toda uma estrutura, criada para atingir objetivos determinados e organizada para atingir essa finalidade. É do mais elementar bom senso que tendo sido criada para fomentar o turismo aquela Secretaria foi organizada de modo a poder atuar na área do turismo, com órgãos adaptados às características dessa área e, obviamente, com um funcionalismo especializado nesse setor de atividades. Se o Governador alegar que vai aproveitar a mesma organização e os mesmos funcionários estará afirmando um absurdo, poisninguém será tão tolo a ponto de admitir que o mesmo dispositivo criado para atuar no turismo será competente e eficiente para desempenhar atividades de apoio e fomento à Educação Superior. E se disser que haverá completa alteração da estrutura organizacional e substituição do funcionalismo por outro capacitado para agir na área da Educação Superior, criando-se os cargos indispensáveis para tanto, estará confessando a fraude, a extinção de uma Secretaria e a criação de outra sob o simulacro de mudança de nome. Isso, além de tudo, configura uma inconstitucionalidade em face da Constituição do Estado de São Paulo.
Na realidade, a Constituição paulista dispõe, no artigo 24, parágrafo 2º, que "compete exclusivamente ao Governador do Estado a iniciativa das leis que disponham sobre:...2) criação e extinção de Secretarias de Estado e órgãos da administração pública, observado o disposto no artigo 47, XIX". Segundo este último dispositivo, enxertado na Constituição do Estado pela Emenda Constitucional nº 21, de 2006, o Governador poderá dispor, mediante decreto, sobre organização e funcionamento da administração estadual, quando não implicar aumento de despesa, nem criação ou extinção de órgãos públicos. Ora, para que a Secretaria de Educação Superior possa agir com a mínima eficiência no âmbito da Educação é indispensável a existência de órgãos e servidores adequados e capacitados para esse objetivo, o que, evidentemente, não foi feito quando se criou a Secretaria de Turismo. A prova disso é que por meio de outro decreto, o de número 51461, também de 1º de Janeiro de 2007, o Governador do Estado definiu a organização da Secretaria de Educação Superior, ali incluindo muitos órgãos que, por motivos óbvios, não existiam nem existem na Secretaria de Turismo.Em sentido oposto à necessidade de criação de órgãos e de cargos para especialistas em educação, é evidente que muitos órgãos, ligados ao turismo, ficarão inúteis, por absoluta inadequação, com a simulação da simples mudança de objetivos, impondo-se a extinção de tais órgãos, pela exigência óbvia de eliminação de despesas inúteis. Acrescente-se que com a simulação de simples mudança de nome da Secretaria, tentando ocultar a extinção de uma e a criação de outra, o Governador ofendeu a Constituição do Estado de São Paulo. De fato, pelo artigo 19, inciso VI, da Constituição, compete à Assembléia Legislação, com a sanção do Governador do Estado, dispor sobre a criação e extinção de Secretarias do Estado. Ou seja, esses atos exigem a aprovação de uma lei pela Assembléia Legislativa, não podendo ser praticados por decreto.
Outro ponto fundamental, relacionado com os decretos pelo atual Governador do Estado, é a ofensa à autonomia das Universidades Públicas, que tem apoio na Constituição da República e já constitui uma tradição no sistema público de educação superior no Brasil. Para que isso fique evidente, é oportuno lembrar o que dispõe a Constituição brasileira de 1988 sobre a autonomia das Universidades:
"Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão."
Autonomia é expressão de origem grega, que indica o direito de agir independentemente, com suas próprias leis, tendo-se consagrado na linguagem política, jurídica e administrativa brasileira como sinônimo de auto-governo e auto-determinação. A autonomia das universidades foi uma conquista que atravessou várias etapas, incluindo a luta pela libertação de limitações à busca de conhecimentos e à afirmação de novas verdades científicas impostas por motivos religiosos. Em séculos mais recentes, a luta pela autonomia na busca e aquisição e transmissão de conhecimentos teve por meta a eliminação das limitações e dos condicionamentos impostos por motivos de conveniência política ou por intolerância e ignorância de governantes. Como parte da luta pela autonomia, colocou-se a exigência de apoio financeiro e de plena liberdade nas decisões sobre os objetivos e o modo de utilização dos recursos recebidos, para que prepondere sempre o interesse da humanidade, que deve ser o parâmetro superior da comunidade universitária.
Quanto ao sentido e à importância da autonomia, vem a propósito lembrar as observações feitas por dois notáveis juristas brasileiros que se detiveram no estudo do assunto e que com palavras claras e incisivas registraram suas conclusões. Um deles é Hely Lopes Meirelles, uma das mais importantes figuras do Direito Administrativo brasileiro, que, em estudo elaborado no ano de 1989, tendo em conta ameaças feitas à autonomia da Universidade Federal Fluminense, assim se expressou: "Na atual conjuntura, em face do artigo 207 da Constituição da República, "as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão". É a carta de alforria dessa instituições educacionais, que, ao longo do tempo, estiveram, muitas vezes, jungidas aos interesses eleitoreiros e imediatistas de quantos se arvoraram "tutores" da universidade."
Outro notável mestre do Direito Público brasileiro, Caio Tácito, que foi professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, em estudo publicado na Revista de Direito Administrativo, também no ano de 1989, discorreu, com clareza didática, sobre o significado e o alcance da autonomia universitária. Eis as palavras do mestre:"A universidade deve nascer, viver e conviver sob o signo da autonomia, que é um conceito multilateral. Primordialmente, autonomia científico-pedagógica, porque é da essência da instituição universitária criar, pesquisar, ordenar e transmitir o conhecimento, como elemento fundamental para difundir a educação e fomentar a cultura. Essa missão básica da universidade pressupõe, no entanto, a disponibilidade de meios flexíveis e satisfatórios à plenitude da concreção de seus fins. Daí a necessidade de estender-se o princípio da autonomia aos meios de operação, consistentes na autonomia patrimonial, autonomia orçamentária e financeira, autonomia administrativa e autonomia disciplinar."
A Constituição do Estado de São Paulo reproduz a garantia de autonomia das universidades, coerente com o disposto na Constituição da República, adicionando alguns pontos que é oportuno conhecer. Dispõe a Constituição paulista, no artigo 154, que "a autonomia da universidade será exercida respeitando, nos termos do seu estatuto, a necessária democratização do ensino e a responsabilidade pública da instituição, observados os seguintes princípios: I. utilização dos recursos de forma a ampliar o atendimento da demanda social, tanto mediante cursos regulares quanto atividades de extensão; II. representação e participação de todos os segmentos da comunidade interna nos órgãos decisórios e na escolha dos dirigentes, na forma de seus estatutos."
Um ponto muito evidente, é que pelo próprio conceito de autonomia, como foi consagrado no sistema Constitucional brasileiro, assim como pelas disposições expressas das Constituições da República e do Estado de São Paulo, cabe à Universidade, exclusivamente e sem qualquer interferência externa, definir suas prioridades e suas diretrizes. Isso implica, também, acompetência exclusiva da universidade para definir suas atividades de estudo e pesquisa, sem nenhuma interferência, a qualquer título, de órgãos da administração pública estadual. Por esse ponto fica evidenciada a inconstitucionalidade do decreto estadual nº 51.461, de 1º de janeiro de 2007, que pretendeu dar à Secretaria de Ensino Superior uma série de atribuições que são exclusivas da universidade, porque inseridas no âmbito de sua autonomia. Com efeito, o artigo 2º do decreto diz que constitui o campo funcional da Secretaria de Ensino Superior "a proposição de políticas e diretrizes para o ensino superior em todos os seus níveis". Como já foi demonstrado, a própria criação da Secretaria de Ensino Superior configura uma inconstitucionalidade, que é agravada pela atribuição àquela Secretaria de funções exclusivas da universidade e que esta tem o direito de exercer com autonomia.
Muitos outros pontos, que significam agressões à autonomia universitária, poderão ser apontados nos infelizes decretos editados pelo Governador do Estado no ano de 2007. Uma referência final deve ser feita a agressões à autonomia financeira da Universidade. Como já foi amplamente demonstrado, a autonomia compreende, necessariamente, a autonomia financeira, que, por sua vez, compreende o direito de receber recursos financeiros do Estado e de lhes dar destinação, pelo modo e no momento que a Universidade, por seus órgãos internos próprios, julgar adequados. Constitui agressão à autonomia da Universidade a sonegação desses recursos que lhe são legalmente assegurados, sendo inadmissível que por conveniência política ou administrativa o governo do Estado retenha esses recursos, mediante o artifício que se convencionou chamar "contingenciamento", tentando ocultar a realidade da sonegação. A Universidade tem direito constitucional à autonomia e deve posicionar-se firmemente contra todos os artifícios tendentes a diminuição ou negação dessa autonomia.

4. Ana Cláudia Vargas encaminha Carta O Berro, com reportagem do jornal Estado de Minas, denunciando os problemas sociais provocados pelo exagerado crescimento da lavoura açucareira em Minas Gerais:
ESTADO DE MINAS
● S E G U N DA - F E I RA , 1 4 D E M A I O D E 2 0 0 7
● E D I T O R : A r n a l d o V i a n a
● E D I TOR- A S S I S T ENT E : A n í b a l P e n n a
● E - M A I L : g e ra i s . e m @ u a i . c o m . b r
● T E L E F O N E ( 3 1 ) 3 2 6 3 - 5 2 4 4
USINAS DA MISÉRIA
Proliferação desenfreada da cana-de-açúcar está levando a fome, a criminalidade e o tráfico de crianças a localidades do Triângulo Mineiro
TERRA DE NINGUÉM
AMAURYRIBEIRO JR.
Delta (MG) - A febre da cana-de-açúcar está transformando alguns municípios do Triângulo Mineiro, uma das regiões mais tradicionais de Minas Gerais, em abrigos de bandidos e miseráveis. Uma verdadeira terra de ninguém. Impulsionados pelo interesses do governo dos EUA no etanol brasileiro, usineiros alagoanos e paulistas passaram a disputar, palmo a palmo, cada pedaço de terra da região. Em menos de quatro anos, 300 mil hectares de cana-de-açúcar foram plantados em antigas áreas de pastagens e de agricultura. A instalação de uma dezena de usinas novas, próximas ao município de Uberaba, gerou a criação de 10 mil empregos e contribuiu para que a produção de álcool no estado saltasse de 630 milhões de litros em 2003 para 1,7 bilhão este ano.
Mas os problemas das grandes metrópoles também não demoraram a chegar. Assaltos à mão armada, assassinatos em série, tráfico de drogas e até mesmo o comércio de crianças e adolescentes passaram a fazer parte da rotina de vários municípios, que até há pouco tempo viviam em paz e harmonia. Moradores e autoridades locais são unânime em dizer que a ocupação desordenada é responsável pela onda de miséria e de violência que passou a assombrar esses rincões mineiros. Iludidos por uma rede “gatos” (intermediadores de trabalhadores rurais), com a promessa de emprego digno, todos os anos mais de 20 mil bóias-frias do Maranhão, de Alagoas e de outros estados nordestinos se deslocam ao Triangulo Mineiro e ao Alto Paranaíba para trabalhar no corte de cana. Esses novos moradores da região, em sua maioria, são trabalhadores honestos, maltratados pela vida, que tentam fugir da seca e da fome do Nordeste. Só que, infiltrados em meio a esses bóias-frias, uma legião de traficantes, assaltantes, gigolôs aliciadores de menores passou também a ocupar de forma desordenada os municípios próximos às usinas.
Localizado às margens do Rio Grande, na divisa com o estado de São Paulo, o município de Delta, que na época da safra dobra sua população de 5 mil para 10 mil habitantes, é o exemplo da desordem e do caos urbano causados pelo corte de cana. Apelidados de “maranhenses”, os forasteiros, amontoados em barracas e favelas, transformaram o município num verdadeiro “formigueiro humano”, nos moldes do garimpo de Serra Pelada, que atraiu, na década de 1980, milhares de forasteiros ao Sul do Pará. A exemplo de áreas de garimpo, Delta não tem nenhum hotel e em mesmo um delegado residente. Em compensação, passou abrigar centenas de prostitutas, espalhadas por 27 boates e casas de prostituição.
“O município está em colapso. Os postos de saúde, hospitais e escolas estão abarrotados. E o pior é que junto com os trabalhadores vem toda espécie de gente e bandido”, desabafa o prefeito de Delta, José Eustáquio da Silva (PMN). De acordo com o prefeito, nos últimos três anos, quando a usina do grupo Delta de Alagoas praticamente duplicou a produção de cana-de-çúcar e álcool, a onda de crime passou a assombrar a cidade. Somente este ano, a sede dos Correios na cidade foi invadida por bandidos quatro vezes e três pessoas morreram, assassinadas com requintes de crueldade. Os constantes assassinatos alimentam a crença de moradores supersticiosos de que a cana é “coisa do diabo”. A superstição surgiu no ano passado, quando o cortador de cana baiano Marcos Antônio de Jesus Martins, de 24 anos, o Marquinhos, matou, a golpes de faca, o padre da cidade José Carlos Cearense e os indigentes Wanderson Luiz Cunha e Josimar Nunes. Interrogado pela polícia, ele disse que tinha feito um pacto com o diabo: em troca de ficar rico, mataria sete pessoas. Aconselhado por um pastor, o cortador de cana, para alívio dos moradores, resolveu se entregar às autoridades antes que pudesse liquidar as outras quatro vítimas.
AUMENTO DE HOMÍCÍDIOS
“Municípios como Delta e Conquista passaram a ter, em média, oito assassinatos por ano. Se levarmos em conta que algumas cidades ficavam até 10 anos sem ter um crime dessa natureza, o crescimento da violência depois da proliferação da cana é incalculável”, afirma o delegado de homicídios de Uberaba, Heli Andrade, conhecido como Grilo. De acordo com as estatísticas do policial, o número de homicídios em Uberaba cresceu de 34, em 2005, para 60 no ano passado. Somente na semana passada houve quatro assassinatos no município.
O tráfico de crianças e adolescentes também começou a vir à tona. Em março, a polícia do Rio Grande do Sul desmantelou uma rede de aliciadores e de traficantes de meninas e meninos que agia em Delta. Raptada no Rio Grande do Sul, a menor A.S., de 12 anos, foi resgatada pela polícia das mãos da cozinheira Sandra Campos, que, nas horas vagas, fazia bico como garota de programa. A seqüestradora foi presa quando tentava arrumar documentação falsa para a menor. Segundo Sandra, a garota seria vendida a boates do Nordeste.
Por sugestão da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, os jornalistas do Estado de Minas investigaram, durante duas semanas, as conexões da quadrilha de traficantes de menores e os problemas causados pelo impacto da cana-de-açúcar na região.
Depois de seguir pistas deixadas pela quadrilha em Uberaba, os jornalistas encontraram nos canaviais de Delta dois suspeitos de pertencer à rede de traficantes.
Os repórteres acabaram se deparando também com várias personalidades do município, acusadas de aliciamento de menores e de pedofilia. O alvo desses figurões são meninas e meninos filhos dos pobres cortadores de cana-de-açúcar nordestinos. Entregues muitas vezes pelos próprios pais a oportunistas, em troca de comida, algumas das meninas tiveram a infância interrompida pela gravidez precoce. Segundo estatísticas do Conselho Tutelar e da Prefeitura de Delta há, atualmente no município 61 meninas grávidas ou mães de recém-nascidos. A mesma realidade é vivenciada pelo município de Conquista, no qual a atividade canavieira continua em expansão.
No Eldorado da cana não podia faltar denúncia de trabalho escravo. Retirantes famintos do Nordeste cada vez mais vêm se tornando alvos fáceis dos inescrupulosos “gatos”. No ano passado, a Polícia Federal prendeu Juarez César Carvalho, acusado de apreender os cartões e as senhas das contas bancárias de bóias-frias que trabalham nos canaviais do município. O confisco dos cartões dos trabalhadores foi a forma que Juarez encontrou para receber dívidas contraídas pelos trabalhadores em seu armazém, conhecido por vender alimentos superfaturados. Solto por decisão da Justiça, Juarez, que responde a processo na Justiça Federal, a exemplo de outros “gatos” do Triângulo, continua sendo acusado de explorar os retirantes nordestinos.
Usineiros da região prometem reverter esse quadro com a mecanização dos canaviais e com um programa de fixação de nordestinos na região. “Estamos tentando segurar os trabalhadores do Nordeste e suas famílias fora da época da safra, aproveitando-os em outros serviços, como o plantio de cana. Isso vai ajudar a interromper a vinda de forasteiros”, afirma Luiz André Barbosa de Melo, gerente de Marketing do Grupo Lira, que tem duas usinas nos município de Delta e de Conceição de Alagoas.
Mas enquanto esses programas não são totalmente implantados, os canaviais continuam aterrorizando os moradores da região.

300 MIL HECTARES
ESSE É O TAMANHO DA ÁREA PLANTADA DE CANA-DE-AÇUCAR EM MINAS GERAIS, QUE PRODUZIU 1,7 BILHÃO DE LITROS DE ÁLCOOL NA SAFRA DESTE ANO. A MAIOR PARTE DO CANAVIAL ESTÁ CONCENTRADA NA REGIÃO DO TRIÂNGULO, ONDE HÁ UMA DEZENA DE USINAS
20 MIL
TRABALHADORES NORDESTINOS, MALTRATADOS PELA FOME E PELA SECA, SE DESLOCAM TODOS OS ANOS PARA O TRIÂNGULO, A FIM DE TRABALHAR NO CORTE DE CANA. A FEBRE DO ÁLCOOL ESTÁ LEVANDO TAMBÉM PARA A REGIÃO UMA LEGIÃO DE ASSALTANTES E DE TRAFICANTES DE DROGAS E DE CRIANÇAS
27
CASAS DE PROSTITUIÇÃO FORAM ABERTAS EM DELTA, NA DIVISA DE MINAS COM O ESTADO DE SÃO PAULO. ATRAÍDAS PELA MASSA DE CORTADORES DE CANA, 200 PROSTITUTAS SE DESLOCAM PARA O MUNICÍPIO TODOS OS ANOS, NO PERÍODO DE SAFRA
USINAS DA MISÉRIA
Caravana de parlamentares vai ao Triângulo Mineiro nos próximos dias investigar denúncias de aliciamento de meninos e meninas.
19
USINAS ESTÃO INSTALADAS NO TRIÂNGULO MINEIRO E NO ALTO PARANAÍBA, ONDE OS TRAFICANTES DE MENORES ESTÃO INFILTRADOS ENTRE TRABALHADORES NORDESTINOS

2,4 MILHÕES
DE TONELADAS DE AÇUCAR SERÃO PRODUZIDAS PELAS USINAS DE MINAS NA SAFRA DE 2008. ESTE ANO, A PRODUÇÃO FOI DE 1,9 MILHÃO. MAS ATRÁS DESSE CRESCIMENTO HÁ A MISÉRIA E, CONSEQÜENTEMENTE, O AUMENTO DA PROSTITUIÇÃO INFANTIL

1
POLICIAL CIVIL, O ESCRIVÃO NILTON DE SOUZA, É TODO O EFETIVO DA
DELEGACIA DE DELTA, CIDADE TRANSFORMADA EM UM DOS
REDUTOS DAS QUADRILHAS DE ALICIADORES DE MENORES
AMAURYRIBEIRO JR.
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados vai enviar uma caravana de parlamentares ao Triângulo Mineiro e ao Alto Paranaíba, duas das regiões mais ricas de Minas, para apurar denúncias de tráfico de menores e de exploração de cortadores de cana. O presidente da comissão, deputado José Couto (PT-PB), pediu que o ministro da Justiça, Tasso Genro, determine abertura de inquérito na Polícia Federal para investigar a rede de aliciadores.
Segundo apurou o Estado de Minas, o aumento desenfreado da produção de cana-de-açúcar nas duas regiões atraiu não somente milhares de bóias-frias, a maioria do Nordeste do país, mas também uma legião de ladrões e traficantes de menores.
O Estado de Minas localizou em Delta, no Triângulo, os trabalhadores rurais Josildo Ferreira da Costa e Givaldo José Cordeiro, acusados de integrar uma das quadrilhas de aliciadores.
O envolvimento dos trabalhadores com a rede de aliciadores foi denunciado à polícia do Rio Grande do Sul pela garota de programa Sandra Campos e pelo seu ex-marido Adão Rribeiro. Eles foram presos no Triângulo sob a acusação de terem seqüestrado a menina A.S., de 12 anos, no município de Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Em depoimento à polícia, Sandra e Adão disseram que Josildo e Givaldo eram os encarregados de levar a menor ao Nordeste, onde ela seria vendida a donos de boates.
Os agricultores negam participação no tráfico de menores. “Se eu fosse traficante, não teria de acordar todos os dias às 5h para trabalhar no canavial”, disse Givaldo. A denúncia de tráfico levou, em março, deputados da Comissão de Direitos Humanos às regiões mineiras e a Gravataí. Depois de tomar o depoimento de Sandra e Adão, a comitiva participou de uma audiência pública, com autoridades do Rio Grande do Sul, em busca informações. Os deputados querem, agora, promover audiências públicas também nos municípios de Delta e Uberaba.
“Temos informações extra-oficiais de que meninas, ainda virgens, são leiloadas como bois em boates do Triângulo”, disse o deputado Couto, que é também padre. A preferência dos aliciadores por meninas virgens foi contada à polícia por Adão e Sandra, que declaram ser “mulas” da rede de aliciadores. “A quadrilha tem preferência por meninas e meninos virgens, porque agregam maior valor em leilões”, afirma o chefe de Investigação da Delegacia de Gravataí, Adilson Silva. Segundo o policial, outras 10 meninas, que estão desaparecidas no município desde fevereiro, podem ter sido seqüestradas pelo mesmo bando. Nos próximos dias, policiais do Rio Grande do Sul devem ir ao Triângulo tentar localizar as garotas e descobrir tentáculos da quadrilha de aliciadores no estado. O chefe de Investigação da delegacia de Gravataí acredita que o Triângulo se transformou em entreposto de menores raptados no Rio Grande do Sul. “Meninas e meninos gaúchos passam por São Paulo antes de chegar a Minas, onde são vendidos a donos de boates do Nordeste do país ou da própria região mineira”, afirma.
Recrutados no Nordeste, cortadores de cana que trabalham em Minas são obrigados a entregar seus cartões bancários e senhas aos “gatos”

170
CORTADORES DE CANA ERAM MANTIDOS EM REGIME DE ESCRAVIDÃO PELO “GATO” JUAREZ DE CARVALHO, PRESO PELA POLÍCIA FEDERAL EM 2004. OS TRABALHADORES DENUNCIAM QUE CONTINUAM SENDO EXPLORADOS POR ELE
70
TRABALHADORES RURAIS ENTRARAM EM GREVE NO MUNICÍPIO DE PERDIZES, NO MÊS PASSADO, EM PROTESTO AO TRABALHO ESCRAVO.
INDENIZADOS, OS BÓIAS-FRIAS VOLTARAM PARA A BAHIA
22
NOVAS USINAS DE ÁLCOOL E AÇÚCAR SERÃO IMPLANTADAS ATÉ 2013 EM MINAS GERAIS, O QUE DEIXARÁ O ESTADO COM 51 UNIDADES EM FRANCA PRODUÇÃO
Perdizes (MG) - Em janeiro, um grupo de 70 trabalhadores do município de Ibiassuce, na Bahia, recebeu uma proposta tentadora de um “gato”(agenciador de bóias-frias), para trabalhar nos canaviais da Fazenda Lagoa da Prata, em Perdizes, na região mineira do Alto Paranaíba. O “gato”, que se identifica apenas como Zoinho, garante aos cortadores de cana, além de um salário de R$ 400, direito a uma remuneração extra por produção e ajuda de custo para alimentação.
Os trabalhadores começaram a perceber que haviam sido enganados logo na viagem para Minas. Espremidos, em pé, em um ônibus velho, eles não receberam dinheiro nem mesmo para comer durante o percurso. O sofrimento dos bóias-frias só acabou três meses depois. Trabalhando sem receber praticamente nada, em abril eles entraram em greve. Em protesto à exploração, decidiram também sair em passeata pela ruas de Perdizes. “Vivíamos praticamente em regime de escravidão. Não tínhamos carteira assinada e funcionários da fazenda, além de roubar na pesagem da cana, descontavam R$ 170 por um mês como pagamento de cesta básica que só tinha feijão e salsicha. No fim do mês, a gente sempre estava devendo para os patrões”, conta o trabalhador rural Raimundo da Silva.
Por solicitação do procurador do Trabalho Elias Queiroz, os donos da fazenda tiveram de assinar acordo com os trabalhadores. Eles foram indenizados com um salário de R$ 380 e receberam ainda uma ajuda de custo de R$ 100 para que pudessem retornar à Bahia.
ESCRAVIDÃO
Mas não é sempre que a aventura dos retirantes nordestinos nos canaviais de Minas têm um final feliz. Trabalhando há cinco meses para o “gato” Juarez César de Carvalho, dono do Armazém Carvalho, o cortador de cana alagoano Jaílton Lopes diz que não recebe salário há cinco meses. “E o pior é que não posso ir embora porque o Juarez apreendeu os meus documentos”, afirma. A denúncia de Jaíton é reforçada pelo depoimento do cortador de cana alagoano Leandro dos Santos da Costa, que trabalhou até abril na empresa Mitsvo Naga, de propriedade do “gato”. O cortador de cana afirma que ainda não recebeu a indenização trabalhista. “Nem mesmo o Fundo de Garantia foi depositado. Os trabalhadores rurais explorados raramente reclamam, porque são ameaçados por Juarez, que anda armado”, afirma o lavrador.
Esta não é a primeira vez que Juarez é acusado de explorar cortadores de cana nordestino. Em 2005, quando trabalhava para a Usina Delta, ele foi preso pela Polícia Federal sob a acusação de manter em regime de escravidão 170 cortadores de cana. Foi preso também o sócio de Juarez no armazém, Lélio Zanuto. Recrutados por Jaurez em Alagoas, os trabalhadores rurais eram obrigados a fazer compras no supermercado do “gato”, que vendia alimentos a preços aviltados.
Como garantia, os bóias-frias eram obrigados a deixar cartões bancários e senhas. Juarez e Zanuto engordam suas contas também emprestando dinheiro a juros altos aos trabalhadores.
“Ao fim de cada mês, os comerciantes reuniam todos os 170 cartões, sacavam o dinheiro, abatiam o débito e entregavam uns trocados aos bóias-frias, que contraíam cada um, em média, R$ 700 em dívidas no armazém”, diz o delegado da Polícia Federal Davdson Chagas, que indiciou Zanuto e Juarez por aliciamento de trabalhadores e crime contra a Organização do Trabalho.
Demitido da Usina Delta, Juarez montou a própria empresa, que recruta trabalhadores para vários usineiros do Alto Paranaíba e do Triângulo Mineiro. Respondendo a processo em liberdade, ele comprou a parte de Zanuto no armazém Trabalhadores e moradores da região garantem que Juarez continua se apossando de cartões bancários. Segundo eles, o mesmo esquema é seguido por outros estabelecimentos comerciais da cidade. “Em dia de pagamento, o banco fica cheio de pessoas com dezenas de cartões. Isso é no mínimo estranho”, afirma o prefeito de Delta, no Triângulo Mineiro, José Estáquio da Silva (PMN).horas por dia no município de Conceição
O COMBUSTÍVEL ESCRAVO SALÁRIO
Lavradores do município Santa Juliana também temem ser demitidos com a expansão das usinas no Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro
70
CARRETAS SAEM DIARIAMENTE DE SANTA JULIANA CARREGADAS DE BATATAS PARA SÃO PAULO, BELO HORIZONTE E RIO. OS AGRICULTORES TEMEM QUE A PROLIFERAÇÃO DOS CANAVIAIS ACABE COM A RIQUEZA DO MUNICÍPIO
27
MIL HECTARES DE SOJA, CAFÉ E OUTROS PRODUTOS AGRÍCOLAS AINDA OCUPAM TERRAS DO MUNICÍPIO DE IRAÍ, MAS OS CANAVIAIS AVANÇAM E JÁ CHEGARAM AO PERÍMETRO URBANO
10
DENÚNCIAS CONTRA EMPREITEIROS CHEGARAM NOS ÚLTIMOS DOIS MESES AOS PROCURADORES DO TRABALHO NO TRIÂNGULO.
AS ACUSAÇÕES MAIS COMUNS SÃO ALICIAMENTO DE TRABALHADORES E FALTA DE REGISTRO EM CARTEIRA

CANAVIAIS AMEAÇAM PRODUÇÃO DE GRÃOS
Santa Juliana (MG) - Contratada com um salário fixo de R$ 800 para trabalhar na colheita de batatas, a lavradora Maria Guia Pereira perdeu o sono depois que uma usina alagoana de açúcar e álcool, a Triunfo, foi instalada nos arredores do município de Santa Juliana, no Alto Paranaíba. A exemplo dos demais trabalhadores rurais da região, ela tem medo de perder o emprego. “O pessoal daqui de Minas não sabe cortar cana não, seu moço. Isso é trabalho para maranhense e alagoano. Meu marido, que ganha em torno de R$ 900, também não entende de cana. Então, vai começar a faltar emprego”, prevê Maria Guia.
O patrão da lavradora, o fazendeiro Antônio Ferreira Guimarães, também anda preocupado com a febre do álcool que passou a contagiar a região. Segundo ele, toda a riqueza do município, que tem batido recordes consecutivos na produção de batata, cenoura e alho, está ameaçada. Antônio lembra que a agricultura e a pecuária são responsáveis por 80% da arrecadação de Santa Juliana. “Saem daqui, por dia, 70 caminhões lotados de batata para São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Então, está claro que vai faltar alimento se houver só cana-de-açúcar”, afirma Guimarães.
Com uma população de cerca de 8 mil habitantes, Santa Juliana é uma típica cidade pacata do interior de Minas, que preserva as tradições folclóricas. Organizadas pelos moradores, com o objetivo de arrecadar recursos para a paróquia, as cavalgadas aos domingos são um exemplo do apego às raízes culturais. Depois de percorrer as principais fazendas de agricultura, cavaleiros se reúnem em festas em bares e praças.
Coordenador das cavalgadas, o técnico em informática Robson Lemos Ribeiro acredita que o clima de tranqüilidade do município estará ameaçado com a vinda desordenada de trabalhadores do Nordeste do país para trabalhar no corte de cana. Segundo ele, a cidade não tem estrutura para receber tanta gente. “Nosso medo é que Santa Juliana acabe sendo afetada como foi Delta, município para o qual os canaviais levaram todos os tipos de violência”, afirma.
O impacto da cana preocupa também os moradores de Iraí, outro pólo importante na produção de grãos em Minas. Vizinho de Nova Ponte, onde em breve será construída uma usina de açúcar e álcool, o município começa a ser tomado por canaviais. As plantações já chegaram ao perímetro urbano. Colonizado por agricultores gaúchos, que introduziram a soja no seu território na década de 1980, Iraí tem 27 mil hectares de soja, café e feijão. Segundo estudo da cooperativa agrícola local, em cinco anos cerca de 10 mil hectares da área hoje destinada à agricultura no município estarão tomados pelos canaviais. “Não podemos brecar o desenvolvimento, mas o surgimento dos problemas sociais será inevitável”, diz o viceprefeito João Batista Píres.
FALTA HABITAÇÃO
O impacto social da cana já pode ser percebido em alguns municípios das duas regiões, que começam a enfrentar o problema da falta de moradia. O preço dos imóveis dispararam em cidades nas quais foram instaladas usinas. O valor do aluguel de um barracão de dois cômodos pode chegar a R$ 300. Nesses pequenos espaços moram até sete bóias-frias nordestinos. “Não sobra dinheiro nem para comer direito. Por isso, divido esse casebre com os amigos”, conta o cortador de cana Geraldo Alves. Natural do Ceará, ele mora em um barraco de dois cômodos com sete companheiros, em Conceição das Alagoas, no Triângulo.
Problemas como esse são denunciados cada vez com mais freqüência aos procuradores do Trabalho. De acordo com o procurador Eliaquim Queiroz, de Uberlândia, no Triângulo, nos últimos dois meses foram registradas cerca de 10 queixas contra empreiteiros, acusados de explorar cortadores de cana.
“Os problemas mais comuns são aliciamento de trabalhadores, falta de registro em carteira, preços abusivos cobrados dos lavradores nos armazéns e péssimas condições de moradia em locais nos quais falta até mesmo água potável”, revela.
AMAURY RIBEIRO JR


INTERNACIONAL

José Luís Fiori
A turma do ‘deixa disso’ (Agência Carta Maior)

Em julho tem o Festival de inverno da UFMG, em Diamantina. Vale a pena ir!
Listagem de oficinas divididas por área.
O Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro abre duas vagas para estagiários na área de Historia, com o objetivo de realizar pesquisas em documentos manuscritos, iconográficos e sonoros, de forma a subsidiar projetos desenvolvidos na instituição. Exigências: os estudantes deverão estar cursando a partir do quinto período em diante, apresentar currículo e histórico escolar e ter disponibilidade de estagiar na parte da manha. Carga horária de 4 horas/dia, 5 dias na semana.Remuneração: de R$ 400,00 a 450,00 mensais. Mais informações pelo e-mail: shorta@pcrj.rj.gov.br
3. Concurso de Monografia Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro
Com o objetivo de difundir o seu acervo, o Arquivo da Geral Cidade do Rio de Janeiro promove, pelo segundo ano consecutivo, o Concurso de Monografia Arquivo da Cidade/2007, de carater nacional, que confere ao vencedor o Premio Professor Afonso Carlos Marques dos Santos. As inscrições estão abertas ate' 29/6/2007. Mais informações em www.rio.rj.gov.br/arquivo.
4. V Seminário Internacional de Arquivos de Tradição Ibérica
O V Seminário Internacional de Arquivos de Tradição Ibérica terá como tema: "Os arquivos a serviço da sociedade", e ocorrera' entre 2 e 5/7/2007. O seminário será realizado em San Jose', capital da Costa Rica. Mais informações em www.aaerj.org.br ou pelo e-mail: aaerj@aaerj.org.br
5. Seminário Internacional de Bibliotecas Digitais/USP
Entre os dias 18 e 20/9/2007 ocorrera' o Seminário Internacional de Bibliotecas Digitais Brasil. O evento acontecera' em São Paulo, e o prazo para a submissão de artigos estará aberto ate' 15/6/2007. Mais informações em www.usp.br/sibi/sibdb
6. Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação
Entre os dias 8 e 11/7/2007 será realizado o Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação, o tema escolhido e': "Igualdade e diversidade no acesso 'a informação: da biblioteca tradicional 'a biblioteca digital". O evento será realizado no Centro de Convenções Ulysses Guimaraes, Brasília. Mais informações em www.idealiza.com.br ou pelo e-mail: idealiza@idealiza.com.br
7. Se você mora em São Paulo, ou pretende passar alguns dias lá, não pode perder a exposição Darwin – Descubra o homem e a revolucionária teoria que mudou o mundo . Em cartaz no Masp até 15 de julho, a mostra recria a trajetória desse grande cientista, que realizou, quando jovem, uma viagem pelo mundo a bordo de um navio chamado Beagle. Essa aventura – que incluiu uma parada no Brasil! – contribuiu para que Darwin desenvolvesse a teoria da evolução e transformasse a maneira como o ser humano pensava a origem das espécies. Clique aqui para saber mais sobre essa exposição.

O Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino de História (Labepeh), vinculado à Escola Fundamental do Centro Pedagógico da Faculdade de Educação (FaE) promove, no próximo dia 31, evento da série Diálogos sobre Novos materiais didáticos de história da África e de culturas afro-brasileiras.Os debates terão como expositora convidada a professora Lorene dos Santos, da PUC-Minas. Graduada em história e mestre em educação pela UFMG, Lorene é co-autora da coleção didática História no dia-a-dia, destinada às primeiras séries do ensino fundamental. O evento contará, ainda, com a participação do professor da Escola Municipal Eleonora Pierucetti, Herbert de Oliveira Timóteo, como debatedor.Diálogos acontecerá a partir das 19h, no auditório Luiz Pompeu da FaE, no campus Pampulha, à avenida Antônio Carlos, 6627. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas no local do evento.De acordo com os organizadores, serão emitidos certificados de participação.Informações adicionais pelo telefone (31) 3499-5303 ou e-mail labepeh.ufmg@gmail.com.
9. Está terminando o prazo de inscrições para concorrer a Bolsa ICAM-USIMINAS.

Estão abertas as inscrições para o quarto Programa de Bolsas do Instituto Cultural Amilcar Martins (ICAM) em parceria com a USIMINAS, que concederá auxílio financeiro e institucional a estudantes matriculados em programas de mestrado e doutorado, cujos projetos de dissertação abordem a história de Minas Gerais. Para concorrer é preciso se inscrever entre 16 de maio e 18 de junho de 2007 através de formulário eletrônico no site www.icam.org.br.
Informações: (31) 3274-6666.
LIVROS E REVISTAS

Convite enviado pela Rosana

Hércules 56
O Filme Hércules 56 propõe reavaliação da luta armada no Brasil a partir do seqüestro do embaixador americano em 1969

HÉRCULES 56 é um documentário de longa metragem sobre a luta armada contra o regime militar, focado no seqüestro do embaixador Charles Burke Elbrick, ocorrido na Semana da Independência de 1969. Em troca do diplomata foi exigida a divulgação de uma manifesto revolucionário e a libertação de quinze presos políticos, representantes à época de todas as tendências políticas que combatiam a ditadura. Banidos do território nacional e com a nacionalidade cassada, eles foram conduzidos ao México no avião da FAB Hércules 56.
Os personagens principais do filme são os remanescentes daquele grupo: Agonalto Pacheco, Flávio Tavares, José Dirceu, José Ibrahin, Maria Augusta Carneiro Ribeiro, Mario Zanconato, Ricardo Vilas, Ricardo Zarattini e Vladimir Palmeira. Os que já faleceram estão presentes através de materiais de arquivo: Luís Travassos, Onofre Pinto, Rolando Frati, João Leonardo Rocha, Ivens Marchetti e Gregório Bezerra. Em entrevistas individuais, eles relatam as condições de atuação política no final dos anos 1960, a prisão, a libertação, a curta permanência no México e o período vivido em Cuba, terminando por avaliar a experiência da luta armada no Brasil.
Para rememorar os objetivos e detalhes do seqüestro, o seu contexto e a repercussão sobre o processo político nacional, o filme promove a reunião de Cláudio Torres, Daniel Aarão Reis e Franklin Martins, dirigentes da Dissidência da Guanabara (DI-GB), que idealizou a ação e passou então a adotar a sigla MR-8; e Manoel Cyrillo e Paulo de Tarso Venceslau, os dois únicos remanescentes da Ação Libertadora Nacional (ALN), que realizou conjuntamente a operação.
Uma terceira linha narrativa é constituída por extenso material audiovisual de época, em grande parte inédito no Brasil, pesquisado nos Estados Unidos, Cuba, França e México.


INFORME ANPUH 07/2007.

1. EVENTOS
(a) VI Encontro de História Oral do Centro-Oeste Memória, Sensibilidade e Práticas Culturais, será realizado em Cáceres/MT - de 01 a 05 de outubro de 2007. Mais informações http://www.unemat.br/historiaoral
(b) O Seminário Nacional de História da Historiografia: historiografia brasileria e modernidade será realizado entre os dias 01 e 03 de agosto deste ano no campus de Mariana da UFOP. O prazo para inscrições termina no dia 15 de junho. Mais informações ichs@yahoo.com.bre no site www.ichs.ufop.br/seminariodehistoria .
(c) I Seminário de Pesquisa Práticas Culturais e Identidades está com inscrições abertas até 4 de junho de 2007. Mais informações semlppci@unioeste.br
(d) Foi prorrogado o prazo de inscrições para do VI Graduação em Campo. Prazo final 25 próxima quinta-feira. Maiores informações graduacaoemcampo@gmail.com
2. PROCESSO SELETIVO DE DOUTORADO
Estão abertas até o dia 25 de junho de 2007 as inscrições para o processo seletivo para o cursos de doutorado do programa de Pós-graduaçãqo em História da UNISINOS, em São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Informações na página www.unisinos.br/ppg/files/edital_20072_historia.pdf
3. LANÇAMENTO DE REVISTAS
(a) Foi lançado o 3º número Revista Aulas, uma publicação multimídia do Programa de Pós-graduação em História da Unicamp, na área de História Cultural, cujo Dossiê Foucault encontra-se disponível no site www.unicamp.br/~aulas
(b) Revista de História da Biblioteca Nacional n. 20 traz oito matérias dedicadas ao debate sobre o Nazismo no Brasil. Mais informações: filipe@revistadehistoria.com.br
(c) Será lançado o n. 10 da Revista Cronos, Revista de História das Faculdades Pedro Leopoldo, dia 30 de maio às 19 horas na Câmara Municipal de Pedro Leopoldo. Mais informações: cronos@unipel.edu.br
(d) Convite para lançamento de JORNAL UMA ABERTURA PARA A EDUCAÇÃO. Autoras: CECÍLIA PAVANI / ÂNGELA JUNQUER / ELIZENA CORTEZ Sexta-feira, 25 de maio de 2007, às 19h, Local: FNAC Campinas . Mais informações: emarthi@terra.com.br
4. LANÇAMENTO DE LIVROS
(a) Foi lançado o livro: "A luta armada contraa ditadura militar: A esquerda brasileira e a influência da revolução cubana" de Jean Rodrigues Sales. Mais informações: http://www.editora.unicamp.br/
(b) Foi lançado o livro "Cidade e História" do autor José D'Assunção Barros editora: Editora Vozes. Mais informações: jose.assun@globo.com
5 . CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS
Os integrantes da revista Liber Intellectus convidam a todos para publicação de textos de Teoria da História, temática que caracteriza o primeiro número do periódico. Os interessados devem consultar as normas e enviar seus textos para revistaliber@gmail.com até 15 de junho de 2007. As informações necessárias estão disponíveis em http://www.liberintellectus.org/
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