Boletim Mineiro de História

Boletim atualizado todas as quartas-feiras, objetiva trazer temas para discussão, informar sobre concursos, publicações de livros e revistas. Aceita-se contribuições, desde que versem sobre temas históricos. É um espaço plural, aberto a todas as opiniões desde que não contenham discriminações, racismo ou incitamentos ilegais. Os artigos assinados são de responsabilidade única de seus autores e não refletem o pensamento do autor do Boletim.

4.11.07

Número 112





EDITORIAL

Estou enviando este Boletim de São Paulo, onde me encontro participando do Simpósio Internacional Livro Didático e História.
Na segunda feira, na abertura, o prof. Alain Choppin fez um balanço das mudanças de enfoque na análise dos livros didáticos em todo o mundo. E como o livro didático se tornou um objeto de estudo.

Nas comunicações, a que não foi possível assistir todas, a professora Isaide Timbó apresentou "As escolhas do livro didático de História: uma reflexão sobre o PNLD e a formação docente" e Marco Antônio Silva trabalhou o processo de escolha dos livros didáticos de História em Belo Horizonte e Pedro Leopoldo.

A noite, um debate reuniu editores, autores e deveria contar também com representantes do MEC, que não compareceram. A temática era o PNLD e muitas críticas foram apresentadas, mas ficaram sem resposta devido à ausencia do MEC.
Ontem assisti a mais 6 apresentações. O colega Eliezer apresentou o atual estado de suas pesquisas sobre as obras didáticas de Souza Reis e Jonatas Serrano. Fabio Franzini pesquisa uma obra didática pouco conhecida: a História do Brasil escrita por Octavio Tarquinio de Sousa e Sérgio Buarque de Holanda; Elaine Lourenço trabalha a coleção História Nova do Brasil, proibida logo em 1965, antes que estivesse toda publicada. José Cássio Másculo analisa duas obras publicadas pela Editora Nacional: a de Borges Hermida e a de Sérgio Buarque de Holanda, na década de 1970. Tânia Mara Muller discutiu as imagens do negro no livro didático de ensino fundamental e Arnaldo Pinto Jr analisou a questão nacional nos livros didáticos de Joaquim Silva.
Os trabalhos apresentados hoje e que serão apresentados na quinta feira, eu abordarei no Boletim 113.




Mais algumas fotos de Biribiri, onde estive no início da semana passada:























Bizarrices no programa do Jô Soares.
No blog da minha amiga Conceição Oliveira, pode-se ver uma indignada – com toda a razão – denúncia de um programa verdadeiramente racista exibido em junho deste ano. Eu já tinha visto o vídeo no Blog do Rovai e pensava em abordar o assunto aqui, mas creio que a Conceição o fez com muita propriedade. Lá, além de ver o vídeo, há links para se denunciar ao Ministério Público e à Comissão de Ética na TV, além de comentários de eminentes autoridades, que desmentem as palhaçadas ditas por um pseudo-intelectual a respeito do povo de Angola.
O endereço do site da Conceição é este aqui
: http://mariafro.blogspot.com/
A matéria em questão foi postada no dia 23 de outubro.

FALAM AMIGOS E AMIGAS
1. Olá, professor Ricardo.

O Boletim se supera a cada publicação.
Que bom que você esteve em Diamantina e conheceu Biribiri, gostaria de ressaltar que o complexo industrial da Fábrica, era em Biribiri, Gouveia, Diamantina e Belo Horizonte.
E os empresários utilizavam bastante a ferrovia, existem fotos muito interessantes no acervo da fábrica.
No mais um abraço, que bom que você está viajando bastante e levando os seus conhecimentos e divulgando o seu trabalho.
Até,
Patrícia Porto de Oliveira

Mais fotos do bate papo com a turma de Turismo da UFVJM






















Ricardo.
Vi na última edição do Boletim que você esteve em Diamantina. Fui membro da Comissão de avaliação do Curso de História da FAFIDIA, Fiquei contente pois o curso obteve grau "A".
Segue comentário da fala de Kenneth Maxwell.
Cordialmente.
Antonio de Paiva Moura.


O Gulag tropical foi feito por Bush

Muito importante o que o historiador brasilianista, Kenneth Maxwell escreveu sobre a decisão da Assembléia Geral da ONU de condenar o bloqueio econômico dos EUA a Cuba. Ele diz que somente os EUA, Israel e as Ilhas Marshall votaram contra. Se há uma política que merece ser definida como fracasso é o embargo econômico que os EUA impuseram a Cuba há cinco décadas. Os 700 mil exilados cubanos, inimigos de Fidel Castro instalados em Miami e no condado de Dade, na Flórida, não foram capazes de promover uma mudança de regime na ilha de Cuba. Nos EUA, contudo, eles conseguiram, pois garantiram a eleição de Bush e a ascensão do conservantismo ao poder. Na última fala de Bush ele propôs um fundo para ajudar o governo cubano pós-Castro e rejeitou a idéia de qualquer diálogo com Raul e classificou a ilha como “Gulag Tropical”. Maxwelll, ironicamente diz que o Gulag tropical que existe na ilha foi criado por Bush e não por Fidel Castro. Bush nega proteção constitucional aos presos da baia de Guantanamo e os procedimentos normais de justiça. O confinamento de presos políticos no forte de Gitmo, em Guantanamo, não é um bom exemplo de democracia para os cubanos.


FALANDO DE HISTORIA

Ao ensejo do lançamento do livro “Relatório da CIA – Che Guevara – documentos inéditos dos arquivos secretos”, organizado por Maurício Dias, que é diretor-adjunto da revista Carta Capital, o autor foi entrevistado por Paulo Henrique Amorim, do portal IG. Há revelações bem interessantes!


Paulo Henrique Amorim – Maurício, a primeira dúvida que se extrai da leitura desse teu livro, especialmente do posfácio onde você faz um balanço dos documentos apresentados, é sobre a dúvida a respeito da participação da CIA na morte de Che Guevara. Você diria, em resumo, o que? Foi a CIA que localizou e matou o Che Guevara?



Maurício Dias – Não, não, a CIA não localizou, a questão é se a CIA tramou, quer dizer, deu a ordem para a execução do Che Guevara, esse é o problema. O Castañheda, que tem uma biografia do Che, diz que esse é o enigma dos enigmas da questão. E acho que esses documentos desse livro agora eles apontam mais diretamente para a CIA. É cedo, ainda é cedo, seria leviano afirmar que a ordem foi da CIA, mas cada vez a seta aponta na direção da CIA. Que inclusive agiu, agiu mais uma vez com freqüência lá na Bolívia, à margem da Casa Branca



Paulo Henrique Amorim – Você cita, e a participação é freqüente, aparece várias vezes no livro, o agente da CIA Félix Rodríguez, um cubano que se instalou em Miami e logo começou a trabalhar para a CIA, não é isso?



Maurício Dias – O Félix Rodríguez, que recebeu naquele momento a patente de capitão e adotou o codinome de Ramos, capitão do exército boliviano, ele era o homem da comunicação. Naquele momento ele estava na província de La Higueta, na Bolívia, e ele dominava o sistema de comunicação daquele local. Ele recebeu, ele diz no livro dele que ele recebeu, a ordem para a execução e vai ao comandante militar da região, o coronel Zenteno e diz que havia recebido ordem para a execução do Che. Ele conta que tentou demover o coronel para não matar, seria bom que eles entregassem o Che para a CIA, que levariam o Che lá para o Panamá e iria usar como instrumento de troca com Fidel Castro. Agora, há um documento, e esse é um documento importantíssimo desse livro, um relatório secreto do exército americano, que desmente e disse que o coronel Zenteno deixou o Che em La Higueta voltou para tentar capturar mais guerrilheiros e antes de sair disse, mantenha os prisioneiros vivos. De forma que o livro do Félix Rodríguez, que de certa forma é abençoado pela CIA, mente nesse episódio, se tiver certo o relatório do exército americano.


Paulo Henrique Amorim – Agora, quem deu a ordem para executar os prisioneiros vivos?


Maurício Dias - A ordem chega no ponto de vista boliviano para um capitão chamado Gueri Prado, que passa para um tenente chamado Perez, que tinha muita admiração pelo Che Guevara. E o tenente repassa para um sargento chamado Mário Terán. O sargento entra uma primeira vez numa salinha de uma pequena escola pública em La Higueta, onde o Che estava


sentado. O Che se levanta e troca, inclusive, algumas palavras com ele. Inclusive, com muita ironia, o Che. Ele pergunta ao Che como o Che gostaria de morrer. O Che disse assim: ‘de barriga cheia’. Ele pergunta se o Che era materialista e o Che disse: ‘talvez’. Aí ele sai toma mais cervejas – e isso o relatório do Exército americano confirma – aí volta uma segunda vez. O Che levanta. Ele manda o Che sentar. O Che disse que não. Ele manda, não. E o Che disse: ‘você vai matar um homem’. E aí ele desfere nove tiros no Che Guevara, esse sargento chamado Mário Terán.


Paulo Henrique Amorim – Essa seria então a maneira pela qual o Che morreu, com nove tiros...


Maurício Dias – Nove tiros de uma N-2.


Paulo Henrique Amorim – ...e não N-1 como existe uma divergência entre o texto do Castañheda e do Henderson.


Maurício Dias – Do Henderson, exatamente.


Paulo Henrique Amorim – Agora, outra coisa Maurício, como é que é a participação do Lyndon Johnson na história?


Maurício Dias – Esse é um documento do Walter Oston que é o assessor de segurança e que mandou um memorando para ele, às seis horas da tarde dizendo: “prenderam o Che Guevara, é 90% certo, falta uma confirmação”. Quando ele avisa isso ao presidente Lyndon Johnson, o Che já tinha sido executado na Bolívia. São esses documentos importantes. Aliás, Paulo, não há documento que fale que o Che não tomava banho.


Paulo Henrique Amorim – Mas isso apareceu aqui na Veja.


Maurício Dias – Pois é, mas isso é uma coisa que a Veja copiou de um documentário preparado pelos cubanos de Miami. E aí, um cidadão fala isso, sustentado na própria voz. A Veja cita isso e não cita o local, a origem, de onde tirou certamente envergonhada pela fonte.


Paulo Henrique Amorim – Os cubanos de Miami.


Maurício Dias – Os cubanos de Miami.


Paulo Henrique Amorim – Agora, voltando a esse ponto da participação do presidente americano, o Lyndon Johnson, quando ele recebe a notícia de que o Che tinha sido preso, na verdade o Che já estava morto?


Maurício Dias – Já estava morto. E você percebe no livro que o embaixador em La Paz, o Douglas Henderson, fica freqüentemente à margem do que estava ocorrendo, uma explicação possível para isso é que o Henderson era um homem ligado ao presidente Kennedy, essa é uma das possibilidades e era um homem de viés mais liberal. Ele, em freqüentes embates com o governo boliviano, o presidente Barrientos, naquela ocasião, dizendo que os guerrilheiros teriam que ser presos e o Barrientos dizia que tinham que ser executados. Então fica esse embate, a posição dele fica uma posição melhor, nesse episódio, o Henderson. Agora, uma outra coisa curiosa também, Paulo, é que a questão que se refere ao Régis Debray e o Ciro Bustos. O Debray é um francês e o Ciro Bustos um argentino, é uma coisa curiosa. Os dois foram presos no mesmo momento, em abril de 67, e os dois confirmam, falam que o Che estava na Bolívia. O Ciro Bustos, que era um artista plástico...


Paulo Henrique Amorim – Eles foram presos onde?


Maurício Dias – Foram presos quando saíam de um acampamento guerrilheiro ao encontro do Che Guevara, na selva, foram presos na selva, na mata boliviana. O Bustos era artista plástico e teria feito desenho do rosto de alguns guerrilheiros. O fato curioso é o seguinte, o Debray depois se tornou o assessor do presidente Mitterrand, na França, e o Bustos desapareceu, ele vive na Noruega, mas nunca mais se falou nada. Agora, o Debray foi anistiado pelo Fidel Castro, no prefácio que o Fidel Castro fez para o diário do Che ele ressalva e elogia a posição do Debray, mas não faz menção ao Ciro Bustos, que é um argentino. De forma que eu fiquei intrigado, e aí eu não tenho a resposta, para o fato de ele ter anistiado o Debray, que falou, e o Ciro Bustos, que também falou, por que não foi anistiado? Essa é uma coisa que fica, essa dúvida que sobra.


Paulo Henrique Amorim – Você acha que o Debray e o Bustos... Você está dizendo que o Debray e o Bustos deram informações sobre o Che?


Maurício Dias – Deram, foram presos e falaram. Confirmaram a presença do Che lá.


Paulo Henrique Amorim - Agora, outra coisa que fica da leitura de qualquer trabalho do Che, especialmente desse teu trabalho, do trabalho do Castañheda e do Henderson é a seguinte, o Fidel Castro deixou o Che morrer a própria sorte no exterior, lá na mata boliviana, ou o Che iria ser localizado e assassinado mais cedo ou mais tarde?


Maurício Dias – Paulo, a gente vê hoje que foi um equívoco a opção do Che pela Bolívia. Ele contava, quando ele escolheu a Bolívia, que a Bolívia seria um caminho de passagem para a Argentina, tanto que a região fica muito próxima à Argentina. E não era a melhor região para você iniciar, os especialistas dizem isso, para iniciar um movimento guerrilheiro. Ele escolheu porque o governo era uma ditadura militar e um governo com muitos problemas políticos, havia muita pobreza na Bolívia, como há até hoje, e ele achava que aquilo era suficiente para mobilizar os camponeses, os campesinos, a exemplo do que fizeram em Cuba. Acontece que aí há alguns equívocos, por exemplo, os camponeses na Bolívia, na verdade, eram pequenos proprietários. Em 1952, o presidente fez uma meia reforma agrária e isso... além de tudo tem um problema de nacionalismo na Bolívia, o Che era um estrangeiro. Isso também dificultou e ele, Che, reclama muito freqüentemente no diário da falta de adesão dos camponeses. No máximo, no apogeu da guerrilha, ela teve 60 pessoas, combatida por um exército de três mil homens, treinados pelos americanos, um exército boliviano treinado pelos americanos. Agora, quanto ao fato do Che ter sido deixado à própria sorte pelo Fidel Castro eu acho isso mais intriga do que realidade. Eu acho que quem deixou o Che à própria sorte foi o Partido Comunista boliviano. Na época que prometeu apoio e não manteve a palavra. Alguns militantes do Partido Comunista boliviano aderiram, contra a vontade do comando do Partido, à guerrilha. Agora, com isso, a guerrilha ficou sem apoio na cidade, que era fundamental. Assim como foi fundamental em Cuba. E eles ficaram, então, isolados na mata.


Paulo Henrique Amorim – Agora, não há nada que evidencie essa posição que se atribuiria ao Castro de lavar as mãos e deixar o Che morrer?


Maurício Dias – Não, não. A suposição parte do fato de ele ter retirado o Che Guevara do Congo, quando frustrou-se a guerrilha no Congo. O Che ficou isolado e certamente seria morto. E aí foi uma equipe cubana e resgatou o Che lá. E se pergunta por que isso não foi feito na Bolívia. Dessa situação é que se especula e também por que o Che saiu de Cuba visivelmente com a visão diferente de confronto econômico com o Fidel Castro. Mas isso não significa que eles se tornaram... eu acho que ele saiu para fazer a guerrilha para criar aquilo que o Napoleão criou para a Revolução Francesa, criar ambiência. Se o Napoleão não derruba a Monarquia francesa, as Monarquias européias, a Revolução Francesa teria muito mais dificuldade de se consolidar. O isolamento de Cuba facilitou o fracasso do regime. E o Che, certamente, teve a missão de criar uma ambiência revolucionária para facilitar Cuba... o prosseguimento do Regime Comunista em Cuba.


Paulo Henrique Amorim – O que ainda pode surgir de documento aí? De onde está faltando vir documentos que lançaria as luzes finais e definitivas sobre esse episódio, ou como você diz no encerramento do livro, “Clio, a deusa grega, nunca se mostra inteiramente para ninguém”?


Maurício Dias – É verdade, ela nunca se desnuda inteiramente. Até porque pode vir... eu acho que há mais documentos americanos. Documentos terminam em... esses que eu publiquei, termina em 1968, no começo de 1968. Há mais documentos. Há documentos ainda embargados. E acho que documentação cubana também. Você sabe que quem mandou o diário do Che para Cuba e as mãos do Che, que foram cortadas, foi um boliviano chamado Antonio Arguedas. É curioso porque era um homem de ideologia cambiante. Ele foi de esquerda, passou para a direita, voltou para a esquerda. E aí era Ministro do Interior do Governo da ditadura militar boliviana. E, depois de tudo, ele mandou entregar ao Fidel Castro o diário do Che. E aí foi viver em Cuba, viveu um tempo e depois voltou para La Paz, onde morreu. Explodiu uma bomba na mão dele. E essa história é descrita por jornalista argentino de uma forma magistral, porque é uma metáfora dessa ideologia cambiante do Arguedas. A polícia boliviana diz que foi um acidente. E, na hipótese de um acidente e não atentado, o erro foi que o Arguedas – e você veja que metáfora curiosa – em vez de acionar o mecanismo da granada para a direita, onde ele... a direita era o tempo de explosão, ele errou e acionou para a esquerda e aí explodiu.


Paulo Henrique Amorim – Detonou...


Maurício Dias – Exatamente, detonou.

BRASIL

Desmatamento volta a crescer na Floresta Amazônica





A eleição da primeira mulher para a presidência da Argentina é um acontecimento inédito na história do país. Mas o fato de Cristina Fernández de Kirchner ser a atual primeira-dama e vencer logo no primeiro turno é, no mínimo, curioso. Imaginem, por exemplo, que ela já mora na Quinta de Olivos desde maio de 2003 e, nos próximos quatro anos, continuará lá. O marido, Néstor Kirchner, passará a faixa presidencial para a mulher e, também, seguirá morando na residência oficial até dezembro de 2011, mesmo sem ter sido reeleito.


Candidata pelo Partido Justicialista – que se mantém no poder há sete décadas, salvo durante os governos militares e algumas experiências do Partido Radical – esta advogada de 54 anos, senadora da República, é a nona mulher a presidir uma nação na América Latina. Companheira de Néstor desde o movimento estudantil na universidade, os dois se formaram juntos e acumularam um patrimônio de 3,1 milhões de reais.

Foi ela quem mudou seu gabinete do Congresso Nacional para o palácio presidencial para participar e opinar nas decisões do governo, que defendeu as Mães da Praça de Maio, esteve ao lado do marido na renovação da Corte de Justiça argentina e pediu pelo julgamento dos militares e cúmplices nas torturas da última ditadura (1976-1983).

Foi ela também quem disse que a América Latina precisa de Hugo Chávez, afirmou ao ser eleita que sabe da sua responsabilidade pelas mulheres argentinas e prometeu lutar contra o desemprego, que é de 7,5% atualmente. Mas também foi Cristina quem subiu no mesmo palanque de Menem quando o marido era governador da província de Santa Cruz e preferiu viajar pelo exterior com a comitiva presidencial durante a campanha em vez de percorrer as mazelas do país.
A análise da chegada de Cristina à Casa Rosada pode ser feita através de três vertentes fundamentais para o futuro do país. A primeira delas, a de que os hermanos aprovam o governo desenvolvido por Néstor Kirchner desde maio de 2003 e apostam em sua continuidade através da mulher.

A gestão do atual presidente foi responsável por um crescimento acumulado de 49% do PIB, pela redução da indigência de 24,1% para 10% e da pobreza de 50,9% para 29,2%. Com o discurso de que a população não pode absorver aumento de tarifas e liberação de subsídios às empresas para segurar a defasagem, as tarifas de transportes, água, luz, telefone e gás estão em sua maioria congeladas desde que Kirchner assumiu. Para frear o aumento da carne no mercado interno, o governo chegou a limitar as exportações de um dos setores mais fortes do país.

Os catadores de lixo e papelão continuam na rua, é verdade, mas é bem menos do que quando estive aqui em Buenos Aires para cobrir as eleições passadas. Naquele ano, não se podia comer em um restaurante sem que uma criança entrasse para pedir. Era impossível continuar a refeição sem se sensibilizar com tamanha miséria. As placas de aluga-se e vende-se nos apartamentos nas principais avenidas fazia parte da paisagem da capital. Eram muitos os comércios de porta fechada e as frases pessimistas escutadas quando ao caminhar pelas ruas.

Uma amiga brasileira, que chegou aqui ainda no governo de Carlos Menem, acompanhou toda a crise e lembra: “Podíamos atravessar a avenida 9 de Julho, a mais larga do mundo mesmo com sinal aberto. Não havia trânsito porque as pessoas não saíam de casa. Não sabiam o que ia acontecer”.
A realidade de hoje nem de longe lembra aquela queda livre do país em direção ao abismo social, econômico e político. Dá gosto ver os argentinos indo trabalhar, brincando com os filhos nas praças no final de semana, comprando seu jornal e levando para ler no café mais próximo e programando as férias. Além do dinheiro no bolso, a população recuperou a auto-estima, e isso não é pouco. É por esse motivo que Cristina deitou sobre os louros da gestão de Kirchner, prometeu a continuidade e chegou ao poder.
A segunda análise é a de que, ao elegê-la, o país possa cometer os mesmos erros, concentre o poder na mão de uma família e “piore os vícios”, como disse o adversário Ricardo López Murphy (partido Pro-Recrear, de direita) durante a campanha. Assim como o marido, a primeira-dama não deu entrevistas à imprensa argentina (salvo uma, a quatro dias das eleições a um canal de televisão), negou-se a participar de debates e fez parte da sua campanha em viagens aos Estados Unidos, Europa e América Latina, angariando apoio dos presidentes e prometendo a estabilidade aos empresários que quisessem investir no país.

Ainda entre os erros, podemos citar a falta de acesso e clareza dos dados oficiais do país, como a metodologia para calcular a inflação. Este, aliás, é um tema polêmico há alguns meses entre o governo e a população, já que os números oficiais não batem nem com o que o povo sente no bolso nem com as pesquisas de economistas e associações de consumidores.
A Casa Rosada diz que a inflação deve fechar o ano com até 12%, seguindo as previsões do FMI, enquanto economistas e donas de casa apontam até mais de 20%. Ao ser contestado pelos funcionários do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec, o IBGE argentino), que até armaram protestos nas ruas para denunciar a manipulação das informações, o presidente mandou demiti-los.

E a terceira, e não menos importante, é a de que, com o fortalecimento do poder executivo com esta “reeleição encoberta”, como disseram os adversários, o Congresso Nacional fique ainda mais debilitado do que já é hoje. O Partido Justicialista do “Casal K” tem a imensa maioria na Câmara e no Senado.
Uma série de medidas tomadas durante o atual governo aumentou a autonomia da Casa Rosada em muitas matérias declaradas de urgência, formando os chamados superpoderes, enquanto tirava do legislativo a possibilidade de discutir, propor e derrubar medidas vindas do executivo. E este caminho, que ao que tudo indica continuará sendo trilhado, ameaça rachar uma das bases da democracia: o poder da sua representatividade na casa do povo.
Mariana Camarotti é correspondente da Caros Amigos em Buenos Aires

NOTICIAS


1. O Atlântico Ibero-Americano (sécs. XVI-XVIII)
Perspectivas historiográficas recentes
2º Ciclo de Conferências - 2007

Pedro Puntoni
(Universidade de São Paulo)

O Estado do Brasil: estruturas políticas e colonização

6 de Novembro - 17h30 - Sala Polivalente
Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
Av. Prof. Aníbal de Bettencourt, nº 9 - 1600-189 LISBOA

Organização:

Nuno Gonçalo Monteiro, Instituto de Ciências Sociais – Universidade de Lisboa
Mafalda Soares da Cunha , Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades – Universidade de Évora
Pedro Cardim , Centro de História de Além-Mar – Universidade Nova de Lisboa
José Damião Rodrigues , Departamento de História, Filosofia e Ciências Sociais – Universidade dos Açores

2. Colóquio Internacional PORTUGAL, BRASIL E A EUROPA NAPOLEÓNICA

Lisboa (Instituto de Ciências Sociais), 4 a 6 de Dezembro de 2008

APELO A COMUNICAÇÕES
Nos anos de 1807 e 1808 ocorreram diversos acontecimentos particularmente marcantes para a História portuguesa. O rastilho começara antes e conheceu episódio decisivo após a recusa de aceitação do Bloqueio Continental decretado por Napoleão Bonaparte em Novembro de 1806. Um ano depois, perante a iminência de invasão do território do reino pelas tropas francesas e o risco de um bombardeamento dos navios portugueses no porto de Lisboa pela frota inglesa, a corte portuguesa embarca para o Brasil transportando para porto seguro a capital de um império sob ameaça.

As invasões napoleónicas, a abertura dos portos brasileiros ao tráfego de navios estrangeiros (acompanhada por outras medidas de abertura económica), o apoio militar inglês e os acordos de amizade e comércio de 1810, as novas relações entre a corte e a regência a partir dessa data, o envolvimento e acompanhamento das convulsões da guerra e da paz entre Waterloo e Viena, os novos ambientes políticos e mentais que preparam, consolidam ou anunciam o triunfo liberal: todos estes foram momentos e sinais de um período de vertigem e ruptura com consequências decisivas para o futuro da Europa e, naturalmente, para o rumo histórico de Portugal.
O Colóquio que agora se anuncia procura contribuir para uma discussão aprofundada dos temas acima alinhados, através de uma variedade de abordagens historiográficas que se espera possam enriquecer o conhecimento adquirido sobre a época em estudo. Entre os temas a merecer destaque, refiram-se as relações e negociações diplomáticas no difícil balanceamento dos equilíbrios europeus, as operações logísticas e militares nos teatros de guerra, os descontentamentos, sublevações e protestos populares, as quebras e mudanças nas relações comerciais entre a metrópole e o império brasileirocujo estatuto se altera, as formas de relacionamento político e administrativo entre a regência de um país ocupado e a corte governando dos trópicos, as transferências e circulação de ideias e práticas que modificam formas de pensar os problemas de uma sociedade em mutação. Para todas estas questões, aqui referidas a título exemplificativo, existirão certamente respostas novas que resultem do tratamento de fontes inexploradas ou de formas de abordagem metodológica pouco desenvolvidas.

Os interessados em participar neste Colóquio deverão enviar uma proposta de comunicação com cerca de 500 palavras, indicando e explicando a originalidade e inovação da abordagem que propõem fazer. As propostas, acompanhadas de um CV abreviado, deverão ser enviadas para euronapoleon@ics.ul.pt até ao dia 31 de Outubro de 2007.

A decisão sobre a aceitação das propostas será comunicada até 15 de Dezembro de 2007. Os textos das comunicações aprovadas deverão ser entregues até 30 de Setembro de 2008, a fim de permitir a sua prévia distribuição por todos os participantes e comentadores a designar.Para mais informações contactar a Comissão Organizadora em euronapoleon@ics.ul.pt.


A Comissão Organizadora: Ana Cristina Araújo (FL U. Coimbra - Dpt. História), José Luís Cardoso (U. Técnica de Lisboa - ISEG), Fernando Dores Costa (ISCTE - Dpt. História), Nuno Gonçalo Monteiro (U. Lisboa - ICS) e José Vicente Serrão (ISCTE - Dpt. História).

3. Selecao para professor


- O Departamento de Sociologia da USP esta' com incricoes abertas ate' 13/11/2007 para o processo de selecao que visa o prenchimento de duas vagas de professor, na area de Sociologia da Educacao e de Teoria Social com habilitacao em metodos e tecnicas de pesquisa. Mais informacoes pelo e-mail: fsl@usp.br.-


A Universidade Federal do Norte Fluminense (UENF) esta' com incricoes abertas ate' 19/11/2007 para o processo de selecao que visa o prenchimento de uma vaga de professor, na area de Educacao. Mais informacoes em http://www.uenf.br/.


4. Selecao para Mestrado e Doutorado

- As inscricoes para as provas de selecao para o Mestrado e Doutorado em Politicas Sociais da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) estao abertas ate' 14/11/2007. Mais informacoes pelo e-mail: pgps-cch@uenf.br.




Regiane Augusto de Mattos

Além da importância do tema e da qualidade do livro, destacamos o apoio da Unesco à publicação, que considerou a obra muito importante.
O livro chega no estoque no dia 08/11 e em seguida poderá ser encontrado nas melhores livrarias do país e nos sites da Livraria Cultura ou da Editora Contexto.
A lei nº 10.639 tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas. Esse fato foi considerado um importante passo pelos movimentos de luta dos negros em todo o país. Guia esclarecedor e abrangente, pensado e elaborado de forma didática tanto para professores quanto para alunos, este livro vem preencher justamente essa lacuna. Com linguagem fácil, o que propicia uma leitura fluente, a obra mostra que, apesar dos obstáculos impostos pela escravidão no Brasil, os africanos e seus descendentes encontraram meios para se organizar e manifestar suas culturas e, assim, influenciaram profundamente a sociedade brasileira como um todo. Livro indicado para alunos e professores.
A autora


Regiane Augusto de Mattos é bacharel e licenciada em História pela Universidade de São Paulo (USP), onde obteve o título de mestre em História Social. É autora de artigos sobre os africanos no Brasil. Atualmente desenvolve tese de doutorado na USP sobre Moçambique e trabalha como educadora no Museu Afro-Brasil.

Preço: R$ 29,00 - Nº Págs.:224

3. 3ª Edição da Revista História Agora
Em nossa última edição do ano, a revista História Agora traz ao seu público leitor algumas novidades. Em primeiro lugar, continuamos nosso intercâmbio com intelectuais estrangeiros disponibilizando o artigo inédito em língua portuguesa do professor Immanuel Wallerstein, da Universidade de Yale, sobre os rumos das ciências sociais no século XXI. Dando continuidade à narrativa iniciada na edição anterior, o oficial submarinista Leonardo Braga Martins encerra suas reflexões sobre a Guerra das Malvinas. Já o artigo de Clarissa Barros é um exemplo de história imediata: escrito no calor dos acontecimentos, a historiadora propõe caminhos para se entender as relações entre centro e periferia na França, em uma Europa cada vez mais povoada por imigrantes. Por fim, brindamos o leitor com uma entrevista instigante com o professor titular de História Contemporânea da UFF, Daniel Aarão Filho, sobre a memória da Revolução de Russa de 1917. Seu aniversário de 90 anos é um momento oportuno para uma reflexão sobre o tema, e historiadores e cientistas sociais de todo o mundo estão rediscutindo o seu legado. Uma última palavra: encerramos nosso ano regularizando nossa revista junto ao IBICT, adquirindo o registro ISSN. reiteramos nosso convite para que nossos leitores se tornem autores, fazendo da revista História Agora um espaço privilegiado de debates entre professores, pesquisadores e alunos. Esperamos colaborações na forma de artigos ou resenhas para nosso próximo número previsto para janeiro!http://www.historiagora.com/Boa Leitura!

4. Foi lancado o n.º 13 de ArtCultura: Revista de Historia, Cultura e Arte, vinculada ao Programa de Pos-graduacao em Historia da Universidade Federal de Uberlandia. Essa edicao e' composta por dois dossies (Historia e Literatura e Historia e Musica Popular) e um minidossie (Historia & Cinema). Entre outros trabalhos, destaca-se um texto inedito de Roger Chartier que cruza literatura e a obra teatral shakespeareana. Ha' ainda a estreia da secao Polemica, na qual Sidney Chalhoub questiona certos aspectos da leitura de John Gledson sobre a fatura literaria de Machado de Assis. Mais informacoes em http://www.artcultura.inhis.ufu.br/.


5. "Arabes Y Judios en America Latina. Historia, representaciones y desafios", organizado por Ignacio Klich, editora Iberoamericana. Mais informacoes pelo e-mail: http://br.f373.mail.yahoo.com/ym/Compose?To=paularib@uol.com.br&YY=78880&y5beta=yes&y5beta=yes&order=down&sort=date&pos=0&view=a&head=b.

SITES E BLOGUES



1. A gente já sabe que existe censura nos impressos, rádios e TVs. Mas a censura na blogosfera ainda é recente. Não duvidem que, em breve, ela vai ganhar dimensões monstruosas: até os próprios jornalistas são coniventes com a censura.
Nos dois últimos capítulos de Injustiçados, Ari Portilho resolve entrar na política e some por uns tempos dos jornais. Mas a corrupção continua firme e forte no judiciário mineiro.
Leia em http://www.tamoscomraiva.blogger.com.br/