Boletim Mineiro de História

Boletim atualizado todas as quartas-feiras, objetiva trazer temas para discussão, informar sobre concursos, publicações de livros e revistas. Aceita-se contribuições, desde que versem sobre temas históricos. É um espaço plural, aberto a todas as opiniões desde que não contenham discriminações, racismo ou incitamentos ilegais. Os artigos assinados são de responsabilidade única de seus autores e não refletem o pensamento do autor do Boletim.

31.3.09



A falta de tempo me leva a apresentar a vocês, leitores e leitoras, um Boletim pequeno, nesta semana. Lamento!
Uso como matéria principal um artigo do Chomsky, transcrita do site da revista NovaE.
Nas leituras indicadas, o novo livro de Emir Sader e o número 58 da Revista Clio Historia.
Nos sites e blogues, alguns artigos do Blog do Mello e do Observatório da Imprensa. Há também indicação para um artigo do Terra Magazine, a respeito do neofascismo.



A cara antidemocrática do capitalismo
NOAM CHOMSKY, Carta Clacso, Buenos Aires, mar./2009http://www.clacso.org.ar/clacso/debates/debates-2009/a-cara-antidemocratica-do-capitalismo - (transcrito do site da NovaE)

A liberalização financeira teve efeitos para muito além da economia. Há muito que se compreendeu que era uma arma poderosa contra a democracia. O movimento livre dos capitais cria o que alguns chamaram um "parlamento virtual" de investidores e credores que controlam de perto os programas governamentais e "votam" contra eles, se os consideram "irracionais", quer dizer, se são em benefício do povo e não do poder privado concentrado. (NC, Sin Permiso)
O desenvolvimento de uma campanha presidencial norte-americana simultaneamente ao desenlace da crise dos mercados financeiros oferece uma dessas ocasiões em que os sistemas político e econômico revelam vigorosamente sua natureza.
Pode ser que a paixão pela campanha não seja uma coisa universalmente compartilhada, mas quase todo mundo pode perceber a ansiedade desencadeada pela execução hipotecária de um milhão de residências, assim como a preocupação com os riscos que correm os postos de trabalho, as poupanças e os serviços de saúde.
As propostas iniciais de Bush para lidar com a crise fediam a tal ponto a totalitarismo que não tardaram a ser modificadas. Sob intensa pressão dos lobbies, foram reformuladas "para o claro benefício das maiores instituições do sistema...uma forma de desfazer-se dos ativos sem necessidade de fracassar ou quase", segundo descreveu James Rickards, que negociou o resgate federal por parte do fundo de cobertura de derivativos financeiros Long Term Capital Management em 1998, lembrando-nos de que estamos caminhando em terreno conhecido.
As origens imediatas do desmoronamento atual estão no colapso da bolha imobiliária supervisionada pelo presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, que foi quem sustentou a coitada da economia dos anos Bush, misturando o gasto de consumo fundado na dívida com a tomada de empréstimos do exterior. Mas as razões são mais profundas. Em parte, fala-se no triunfo da liberalização financeira dos últimos 30 anos, quer dizer, nas políticas consistentes em liberar o máximo possível os mercados da regulação estatal.
Como era previsível, as medidas tomadas a esse respeito incrementaram a frequência e a profundidade dos grandes reveses econômicos, e agora estamos diante da ameaça de que se desencadeie a pior crise desde a Grande Depressão.
Também era previsível que os poucos setores que cresceram com os enormes lucros oriundos da liberalização demandariam uma intervenção maciça do Estado, a fim de resgatar as instituições financeiras colapsadas.
Esse tipo de intervencionismo é um traço característico do capitalismo de Estado, ainda que na escala atual seja inesperado. Um estudo dos pesquisadores em economia internacional Winfried Ruigrok e Rob van Tulder descobriu, há 15 anos, que pelo menos 20 companhias entre as 100 primeiras do ranking da revista Fortune, não teriam sobrevivido se não tivessem sido salvas por seus respectivos governos, e que muitas, entre as 80 restantes, obtiveram ganhos substanciais através das demandas aos governos para que "socializassem suas perdas", como hoje o é o resgate financiado pelo contribuinte. Tal intervenção pública "foi a regra, mais que a exceção, nos dois últimos séculos", concluíram.
Numa sociedade democrática efetiva, uma campanha política teria de abordar esses assuntos fundamentais, observar as causas e os remédios para essas causas, e propor os meios através dos quais o povo que sofre as conseqüências pudesse chegar a exercer um controle efetivo.
O mercado financeiro "despreza o risco" e é "sistematicamente ineficiente", como escreveram há uma década os economistas John Eatwell e Lance Taylor, alertando sobre os gravísimos perigos que a liberalização financeira engendrava, e mostrando os custos em que já se tinha incorrido.
Ademais, propuseram soluções que, deve-se dizer, foram ignoradas. Um fator de peso é a incapacidade de calcular os custos por parte daqueles que não participam dessas transações. Essas "externalidades" podem ser enormes. A ignorância do risco sistêmico leva a uma maior aceitação de riscos do que se daria numa economia eficiente, e isso adotando, inclusive, os critérios menos exigentes.
A tarefa das instituições financeiras é arriscar-se e, se são bem gestionadas, assegurar que as potenciais perdas em que elas mesmas podem incorrer serão cobertas. A ênfase há que pôr-se "nelas mesmas". Segundo as regras do capitalismo de estado, levar em conta os custos que para os outros possam ter – as "externalidades" de uma sobrevivência decente – umas práticas que levem, como espectro, a crises financeiras é algo que não lhes diz respeito.
A liberalização financeira teve efeitos para muito além da economia. Há muito que se compreendeu que era uma arma poderosa contra a democracia. O movimento livre dos capitais cria o que alguns chamaram um "parlamento virtual" de investidores e credores que controlam de perto os programas governamentais e "votam" contra eles, se os consideram "irracionais", quer dizer, se são em benefício do povo e não do poder privado concentrado.
Os investidores e credores podem "votar" com a fuga de capitais, com ataques às divisas e com outros instrumentos que a liberalização financeira lhes serve de bandeja. Essa é uma das razões pelas quais o sistema de Bretton Woods, estabelecido pelos EUA e pela Grã Bretanha depois da II Guerra Mundial, instituiu controle de capitais e regulou o mercado de divisas (1).
A Grande Depressão e a Guerra puseram em marcha poderosas correntes democráticas radicais que iam desde a resistência antifascita até as organizações da classe trabalhadora.
Essas pressões tornaram possível que se tolerassem políticas sociais democráticas. O sistema Bretton Woods foi, em parte, concebido para criar um espaço no qual a ação governamental pudesse responder à vontade pública cidadã, quer dizer, para permitir certa democracia.
John Maynard Keynes, o negociador britânico, considerou o direito dos governos a restringir os movimentos de capitais a mais importante conquista estabelecida em Bretton Woods.
Num contraste espetacular, na fase neoliberal que se seguiu ao desmonte do sistema de Bretton Woods nos anos 70, o Tesouro norte-americano passa a considerar a livre circulalação de capitais um "direito fundamental". À diferença, nem precisa dizer, dos pretensos "direitos" garantidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos: direito à saúde, à educação, ao emprego decente, à segurança e outros direitos que as administrações de Reagan e de Bush chamaram com desprezo de "cartas a Papai Noel", "ridículos" ou meros "mitos".
Nos primeiros anos, as pessoas não tiveram maiores problemas com o assunto. As razões disso Barry Eichengreen estudou em sua história, impecavelmente acadêmica, do sistema monetário. Nessa obra se explica que, no século XIX, os governos "ainda não estavam politizados pelo sufrágio universal masculino, o sindicalismo e os partidos trabalhistas parlamentares. Por conseguinte, os graves custos impostos pelo parlamento virtual podiam se transferidos para toda a população.
Porém, com a radicalização da população e da opinião pública que se seguiu à Grande Depressão e à guerra antifascista, o poder e a riqueza privados privaram-se desse luxo.
Daí que no sistema Bretton Woods "os limites da democracia como fonte de resistência às pressões do mercado foram substituídos por limites à circulação de capitais."
O corolário óbvio é que no rastro do desmantelamento do sistema do pós-guerra a democracia tenha sido restringida. Fez-se necessário controlar e marginalizar de algum modo a população e a opinião pública, processos particularmente evidentes nas sociedades mais avançadas no mundo dos negócios, como os EUA. A gestão das extravagâncias eleitorais por parte da indústria de relações públicas constitui uma boa ilustração.
"A política é a sombra da grande empresa sobre a sociedade", concluiu em seus dias o maior filósofo norte-americano do século XX, John Dewey, e assim seguirá sendo, enquanto o poder consista "nos negócios para benefício privado através do controle da banca, do território e da indústria que agora se vê reforçada pelo controle da imprensa, dos jornalistas e sobretudo dos meios de publicidade e propaganda."
Os EUA tem efetivamente um sistema de um só partido, o partido dos negócios, com duas facções, republicanos e democratas. Há diferenças entre eles. Em seu estudo sobre A Democracia Desigual: a economia política da nova Era da Cobiça, Larry Bartels mostra que durante as últimas seis décadas "a renda real das famílias de classe média cresceu duas vezes mais rápido sob administração democrata que republicana, enquanto a renda real das famílias pobres da classe trabalhadora cresceu seis vezes mais rápido sob os democratas que sob os republicanos".
Essas diferenças também podem ser vistas nestas eleições. Os eleitores deveriam tê-las em conta, mas sem ter ilusões sobre os partidos políticos, e reconhecendo o padrão regular que, nos últimos séculos, vem revelando que a legislação progressista e de bem-estar social sempre foram conquistas das lutas populares, nunca presentes dos de cima.
Essas lutas seguem ciclos de êxitos e de retrocessos. Hão de ser travadas a cada dia, não só a cada quatro anos, e sempre visando à criação de uma sociedade genuinamente democrática, capaz de resposta em toda parte, nas urnas não menos do que no posto de trabalho.
Só para enfeitar: Catedral de Brasilia, em foto de minha filha Raquel


VALE A PENA LER

1. Emir Sader apresenta seu novo livro:
Publico este mês um livro com esse título: A Nova Toupeira, pela Boitempo. Valho-me da coluna para somar forças no combate ao boicote da grande mídia privada ao que não lhe agrada. Condenam ao silêncio que, segundo acreditam, possam impor aos livros críticos. As editorias culturais vieram se somar às de polícia e de economia, como as mais promíscuas da imprensa, em que editores dos órgãos da mídia agradam a diretores de editoras privadas, conseguindo espaços para publicar seus livros. Mas em geral o bloqueio é ideológico mesmo.
Marx e, antes dele, Hegel e até mesmo Shakespeare, usaram o simpático bichinho para falar das turbulências que se prolongam na surdina, embaixo da terra, até reaparecer surpreendentemente na superfície. Da expressão “velha toupeira”, tirei o título do livro, para designar a América Latina de hoje.No livro ele serve para designar a esquerda latinoamericana, que tem, de novo – tal qual os dois anteriores – um novo século surpreendente. A América Latina passou de “paraíso neoliberal” a “elo mais fraco da cadeia neoliberal”, de uma década a outra. Justamente por ter sido o berço do neoliberalismo e a região onde ele mais se alastrou, vivemos uma ressaca do neoliberalismo,em que convive a maior quantidade de governos progressistas na história do continente.
Mas qual a natureza do período que vivemos? De que maneira se combinam fatores tão negativos, em escala global, como a passagem de um mundo bipolar a um mundo unipolar, e de um modelo hegemônico regulador a um modelo neoliberal e as forças antineoliberais, concentradas na América Latina?São essas as condições que o livro analisa, pretendendo ajudar a compreender o Brasil de hoje, a América Latina de hoje, o mundo de hoje, na perspectiva da sua transformação em um mundo mais humano, solidário, democrático nos planos social, econômico, cultural e político.
Publicar um livro não é apenas definir um tema, desenvolver as análises, encontrar a melhor forma de expor as idéias, encontrar um editor etc. É também batalhar pelo que se escreve, por aquilo em que acreditamos, pelas ideias e propostas contidas no livro. É parte integrante do livro fazê-lo chegar aos que se interessam pelos problemas abordados, buscar resenhas, participar de lançamentos, de debates. Em suma, superar o bloqueio do silêncio com que se tenta afogar o pensamento crítico e as ideias que buscam “outro mundo possível”.Espero que todos os que trilham este mesmo caminho – como se refere Galeano na apresentação do livro – o leiam, para incorporar o que possa vir a ter de bom, criticar, debater – a fim de que a nossa nova toupeira irrompa em cada vez mais territórios e de forma cada vez definitiva.

2. Nas bancas a edição 85 da revista Clio Historia, em espanhol.
Artigos principais:
Románico: uma ruta por el Pirineo de Llleida – El asesinato de Lorca – El motin de la “Bounty” – Darfur, la guerra olvidada de Africa – Lady Jane – El Greco, retrato de um iluminado – La caída (inmobiliaria) del Imperio romano.


NAVEGAR É PRECISO

1. Blog do Mello
Gilmar Mendes é o plano B da direita brasileira
O que ficou claro, límpido e cristalino, como os seis copos de água que Gilmar Mendes bebeu durante a sabatina na Folha, é que o segundo habeas corpus a Dantas foi uma resposta ao novo pedido de prisão do banqueiro bandido (condenado, por enquanto, a dez anos de cadeia e a uma multa de R$ 14 milhões), que Mendes viu não como uma necessidade, diante da tentativa flagrante de suborno feita por emissários de Dantas, mas como uma afronta a sua autoridade. Como ele se acha não apenas presidente do STF mas o Senhor Judiciário, a afronta foi então ao Poder Judiciário, que ele julga personificar.

Globo volta a atacar Brizola
Nem depois de morto, as Organizações Globo deixam Leonel Brizola em paz. Neste domingo, o jornal O Globo vem com a seguinte manchete: “SNI: Brizola e César recebiam propina de empresa de ônibus”.
É uma reportagem tão sem substância, um autêntico pastel de vento, que se desfaz no quarto parágrafo, onde está escrito:
Nenhuma das acusações foi provada nem originou investigação policial.
Entenderam? Eles pegam relatórios de arapongas do SNI, órgão àquela época ainda sobrevivente da ditadura, com acusações contra Brizola, publicam, e depois dizem que Nenhuma das acusações foi provada nem originou investigação policial.

A Guerra do Vietnam como você nunca viu. Documentário completo
Imagens Desconhecidas, a guerra do Vietnam
Há um tempo, postei uma das três parte desse documentário aqui no blog. Tempos depois foi retirado do ar. Ontem, uma comentarista perguntou por ele. Consegui encontrá-lo, agora na íntegra, nas três partes originais.
Durante a guerra do Vietnam, soldados americanos filmaram detalhes do conflito, de dentro do campo de batalha. Foram 20 mil bobinas de filmes. Imagens que ficaram guardadas e só foram liberadas 20 anos depois.


2. Site do Observatório da Imprensa - http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br

Vida pública na privada
Diante de escândalos que revelam a necessidade de correções na vida institucional, os jornais demonstram que não querem uma reforma, mas preservar sua fatia de poder.
Luciano Martins Costa

MARCHA DO TEMPO: 1º DE ABRIL
O dia da mentira na hora da verdade
Alberto Dines

LEITURA DE JORNAIS
A terceira pergunta sobre a crise
Verbo Solto

ESTADO DE DIREITO
Liberdade de imprensa, ao gosto
Venício A. de Lima

3. A morte (política) dos neo-fascistas
Leia em


NOTICIAS

1. "80 anos dos Annales: contribuições historiográficas"
O evento, promovido pelo Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal da Paraíba, ocorrerá entre os dias 20 e 23 de abril de 2009, no Campus I da UFPB, em João Pessoa. Entre os conferencistas estão os professores Angela de Castro Gomes (CPDOC-FGV), Eduardo França Paiva (PPGH-UFMG), Carlos Antonio Aguirre-Rojas (UNAM-México) e Carlos Barros (Santiago de Compostela - Espanha).Maiores informações (EM BREVE), no site: http://www.cchla.ufpb.br/ppgh/

2. GEAALC - Ciclo de Palestras, será dias 14 e 15/4/
14- Tema - O mundo Yoruba: Tradição e Lingua
Dr. Olasope Oyelaran
16h
15 - Tema - Os Caminhos de Ifá
Dr. Vitor Manfred
16h
Local: UNEB - AUDITORIO IVETE SACRAMENTO , SALVADOR BA