Boletim Mineiro de História

Boletim atualizado todas as quartas-feiras, objetiva trazer temas para discussão, informar sobre concursos, publicações de livros e revistas. Aceita-se contribuições, desde que versem sobre temas históricos. É um espaço plural, aberto a todas as opiniões desde que não contenham discriminações, racismo ou incitamentos ilegais. Os artigos assinados são de responsabilidade única de seus autores e não refletem o pensamento do autor do Boletim.

3.3.09

Numero 178


As matérias principais do Boletim desta semana são:
1. Um pequeno texto para reflexão
2. Um convite de minha amiga Conceição Oliveira para a manifestação contra a ditabranda da Folha, sábado, dia 7 de março
3. Uma colaboração de minha amiga Maria José Speglich, sobre a participação dos Terena na Guerra do Paraguai (que terminou em 1/3/1870)
4. Um artigo da Correio Caros Amigos sobre a morte do repórter.
5. Vários links para se refletir sobre o Dia Internacional da Mulher, domingo, dia 8 de março.
6. Revistas e livros garantem boa leitura
7. Notícias e comentários variados nos links para navegação.


Para refletir:
Que sociedade e que planeta nos aguardam num breve futuro? Não sabemos. Até o final do século, a sociedade e o planeta serão completamente diferentes do modo como hoje os conhecemos. O pior dos cenários é projetado por James Lovelock – 4 bilhões de pessoas morrerão por conta do aquecimento global e o planeta será tórrido, com vida apenas nos pólos. Impossível prever o que sobrará da atual sociedade humana. Mas ele mesmo admite que Gaia é maior que nossa compreensão e que o melhor agora seria uma "retirada sustentável", enquanto Gaia nos permite diálogo. Um cenário menos dantesco a FAO nos ofereceu esses dias: a população do mundo vai chegar a nove bilhões em 2050 e a produção de alimentos vai cair 25%.
(Roberto Malvezzi, em http://www3.brasildefato.com.br/v01/agencia/analise/a-crise-e-do-modelo-civilizatorio)


"Você corta um verso/ Eu escrevo outro.
Você me prende vivo/ Eu escapo morto.
De repente, olha eu de novo/ Perturbando a paz
Exigindo o troco."
(Pesadelo - Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro)
Caros,
Como sabem o editorial da Folha de São Paulo do dia 17/02 tripudiou sobre a memória de todos que foram torturados, abatidos, perseguidos no Brasil, durante o regime militar.
A Folha criou um ditatômetro para afirmar em um revisionismo insidioso que nossa ditadura foi branda. Diante dos protestos de inúmeros sobreviventes e, particularmente, após as cartas em repúdio remetidas pela professora Maria Victória Benevides e Fábio Konder Comparato contra este neologismo absurdo, a Folha, de maneira cínica e desrespeitosa, publicou uma nota que não só reafirmava o seu revisionismo como buscou fazer chacota aos respeitáveis professores e a suas histórias de vida.
A Folha não apenas desrespeitou os professores em questão e todas as vítimas da ditadura militar, ela desrespeitou os brasileiros, nossa história e memória.
Na esteira do jornal colaboracionista que emprestava suas peruas para transportar presos políticos para serem torturados no Doi-codi, artigos do que há de pior na imprensa brasileira foram escritos: Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo, Gravataí Merengue e Cia, chamaram o professor Antonio Cândido e todos os acadêmicos signatários da petition online em repúdio à Folha de 'caducos' de 'doutrinadores dos estudantes'; 'intelectuais' do PT (com uma conotação para lá de negativa), "uma gente tacanha, uma gente cabotina, que pretende ser eternamente recompensada por seus gestos durante o regime militar."
Diante dos neocons que dominam a grande imprensa, resta-nos mobilizarmos contra a barbárie.
É importantíssimo que ALÉM DE ASSINAR A PETIÇÃO DE REPÚDIO À FOLHA E SOLIDARIEDADE AOS PROFESSORES DESRESPEITADOS POR ELA (http://www.ipetitions.com/petition/solidariedadeabenevidesecomparat/index.html ) saiamos de nosso conformismo e PASSEMOS A EXPRESSAR nossa indignação, não apenas nos pequenos círculos de amigos, nos corredores da Universidade, precisamos dizer em clara e sonora voz que basta de tanto absurdo, precisamos CANCELAR EM MASSA A ASSINATURA DESTE JORNAL SEM NOÇÃO DO RIDÍCULO, PRECISAMOS DIZER QUE NÃO ACEITAMOS MAIS UM REGIME DE EXCEÇÃO, TORTURA NUNCA MAIS!
PRECISAMOS SOMAR ESFORÇOS E NOS AGREGARMOS.
O presidente do movimento dos sem mídia Eduardo Guimarães (www.edu.guim.blog. uol.com. br), jornalistas decentes que não cederam à barbárie, estudantes e professores fazem um apelo a todos que compareçam na manifestação do dia 07/03 E que tragam seus filhos, companheiros/as, amigos, que convoquem seus vizinhos, independente de que partido se filiem ou simpatizem, este é um movimento de CIDADANIA.
Leve seu cartaz para expressar o seu repúdio e sua solidariedade às vítimas da ditadura militar, leve seu celular 3G para ligar convocando os amigos, informar sobre o que está acontecendo, subir fotos do ato para a rede ajudar a compor a rede de blogueiros que estarão por lá para que possamos mostrar ao Brasil que estamos descontentes com este REVISIONISMO INSIDIOSO DA FOLHA E SEUS NEOCONS.
Repassem o convite deste protesto DEMOCRÁTICO para seus contatos, esta é uma corrente que vale a pena.
Grande abraço
Conceição Oliveira


Publicado originalmente no site da Revista Fórum



Os Índios Terena e a Guerra contra o Paraguai (1864-1870)

A construção do território Terena (1870-1966): uma sociedade entre a imposição e a opção.
Nele evidencia-se a participação dos índios Terena, na Guerra contra o Paraguai (1864-1870) e a sua apropriação dessa participação como uma forma de reivindicarem os territórios que, tradicionalmente, ocupavam antes desse conflito, na região do então sul de Mato Grosso – atualmente Mato Grosso do Sul.

Alfredo d’Escragnolle Taunay, um dos principais cronistas dessa guerra, afirmou que no distrito de Miranda havia mais de dez aldeias, constatando que os Terena formavam a maior população indígena da região. Em suas obras referentes à Guerra contra o Paraguai, esse cronista destacou a importância que os povos indígenas representaram para o exército brasileiro na luta contra os paraguaios, como soldados e conhecedores da região, tornando-se, assim, ótimos guias, responsáveis pelo abastecimento dos gêneros alimentícios para os soldados brasileiros, tanto nos acampamentos da região, quanto em suas próprias aldeias. Essas também servindo como refúgios para os não índios, como, por exemplo, Pirainha, aldeia Terena próxima a serra de Maracaju.
Constituída provavelmente durante esse conflito, e que abrigou os brasileiros não índios durante a guerra, conforme os registros de Taunay que mencionou a chegada de parte do exército brasileiro em uma das aldeias Terena, demonstrando a relação que havia entre o exército brasileiro e esses índios, afirmando que: “Na realidade numa volta além, achava-se a aldeia, cujos ruídos cada vez mais intensos, denunciavam a vida e a animação do trabalho. (...) Significava o final de todos os nossos sofrimentos! Alegrava-nos o espírito e o corpo, abrindo largos horizontes ao nosso direito de compensações, após tão longos dias de tamanho penar e tamanhas privações... (...) Foi a reação estrepitosa [dos índios]. Explicamos a razão de nossa chegada, e quase andando aos braços, no meio daquela boa gente [os Terena], fomos a ter a casa do capitão José Pedro, que nos acolheu, não como um chefe de índios [Terena] mais como um filho da civilização. (...) Passou-se a noite em narrar a José Pedro os fatos que haviam precedido a guerra com o Paraguai e os nossos triunfos do sul que muito o entusiasmaram. Falou-nos, com verdadeiro respeito do Imperador e de suas altas atribuições. Mostrou-se reconhecido á benevolência, que o monarca brasileiro nutria pelos índios. Narrou-nos, com cores vivas, a invasão em suas diversas fases. Elogiou o comportamento de vários indivíduos de sua tribo (...) deu-nos provas de inteligência clara e capaz de desenvolvimento. Sabia ler e escrever este capitão; (...) organizara uma escola de meninos, em que figuravam os seus dois filhos e sempre se mostrara afeiçoado aos brasileiros, a eles se achegando nas horas de infortúnio”.
Os índios Terena foram incorporados à Guarda Nacional, assim como os demais índios. No entanto, eram eles, os Terena que compunham o maior número. Na liderança desses índios, encontrava-se José Pedro, capitão dos Terena título concedido a ele pelo Frei Mariano de Bagnaia, e confirmado oficialmente pelo Império brasileiro em 1867, devido ao respeito e obediência que os indígenas tinham com ele, um filho da civilização, qualidade que também pode ser atribuída como reflexo da educação recebida do Frei Mariano de Bagnaia, na aldeia dos Kinikináo em Bom Conselho.
Destaca-se ainda que segundo as afirmações de Taunay: ”Estes índios mostram a melhor disposição, oferecendo-se com espontaneidade e servindo com toda a dedicação, como verificamos nos nossos últimos reconhecimentos. No entanto, esta disposição em servir à Guarda Nacional, neste contexto, consistia também em resolver uma outra preocupação desses índios, que era as ameaças a que estavam sendo submetidos por parte dos fazendeiros, devido às rezes que eles são obrigados a matar para a sua alimentação, tem incutido temor de que as forças virão escravizá-los e tratá-los com todo o rigor da guerra. Esta ação dos Terena em entrar para a Guarda Nacional era uma escolha dos próprios índios, como uma possível solução para os problemas entre eles e os fazendeiros; além de representar a defesa dos territórios que tradicionalmente ocupavam antes desse conflito”.
A contribuição desses índios estava além de sua presença física: eram eles também os responsáveis pelas informações que chegavam até o exército brasileiro. Sua habilidade em reconhecer localidades e de espionar foi preciosa para o sucesso desse exército contra os paraguaios. Contudo, os índios não eram armados, não tinham adquirido o direito de possuírem armas como os demais soldados brasileiros. Não concordando com esta situação, passaram a reivindicar armas às autoridades, o que não estava nos planos destas, uma vez que havia um certo temor em conceder armas aos indígenas, com receio que esses se rebelassem contra o exército brasileiro. Entretanto essa situação não foi aceita pelos povos indígenas: “A quantidade de índios de raça Chané, guaicurus e até cadiuéus e beakiéus que são, contudo, pérfidos aliados, mal vistos dos brancos, era considerável, todos a pedirem, em altos brandos, armas e munições de que estava repleto o deposito de artigos bélicos, para correrem a preparar as tocaias”.
A atitude descrita evidencia o comportamento dos povos indígenas frente às imposições vividas naquele contexto, haja vista a atitude do índio Kinikinau Pacalalá, também descrita por Taunay, quando este índio, juntamente com outros, foi até a Vila de Miranda, em busca de armas para se defenderem dos paraguaios.
As autoridades negaram-se a lhes entregar; no entanto, os índios Terena, Kinikinau, Laiana, apossaram-se do arsenal de armas daquela vila, logo após esta ter sido abandonada pelos não índios, que fugiram para a Serra de Maracaju, a fim de escapar dos paraguaios.
Nesse local, índios e não índios encontraram-se e passaram a ter uma longa convivência. Nessa situação, os índios foram os grandes responsáveis pela sobrevivência de todos, pois como conhecedores da região evitavam os paraguaios e também, como povos agricultores, eram responsáveis pelos alimentos, conforme evidencia uma passagem descrita por Taunay8 quando parte dos soldados do exército chegam à aldeia Naxe Daxe e recebem arroz, milho e mandioca, bem como mel e rapadura como presentes.
O fim da Guerra contra o Paraguai representou, para os Terena, o começo de uma outra batalha pela sua sobrevivência, pois, além de muitos índios terem sido dizimados, muitos outros, ficaram doentes e miseráveis. Como se isto não bastasse, não possuíam mais a posse sobre os antigos territórios que ocupavam, tomados agora pelas fazendas que se proliferavam pela região indicando assim a sua desterritorialização.
Rohde, alemão que durante os anos de 1883-84 foi responsável por uma missão científica realizada pelo Museu de Berlim na região de Mato Grosso, também evidenciou em seus escritos à importância que os índios Terena tiveram durante o conflito platino; segundo suas informações os Terena, prestaram bons serviços para o exército brasileiro e como recompensa desse trabalho, alguns caciques receberam patentes como alferes.
“(...) Na guerra do Paraguai ofereceram aos brasileiros bons serviços e, em conseqüência disso, alguns caciques do Brasil receberam patentes como alferes, que me mostraram com muito orgulho e me pediram para lhes ler. (...)“.
“(...) Na guerra do Paraguai ofereceram aos brasileiros bons serviços e, em conseqüência disso, alguns caciques do Brasil receberam patentes como alferes, que me mostraram com muito orgulho e me pediram para lhes ler. (...)“.
Cada aldeia tem um comandante (subchefe) e sobre a tribo toda está um cacique, que recebeu da nação brasileira uma patente de capitão. Este chefe de todos os Terenos recebeu-me amigavelmente, mostrou-me imediatamente a sua patente depois a fotografia do imperador D Pedro II, que ele chamou de seu amigo.
Essa também foi uma tentativa de desarticulação da sociedade indígena. A política utilizada pelo governo brasileiro para envolver os índios, segundo seus interesses, era evidente. Transformar o cacique, chefe indígena, em capitão representava a desestruturação de sua organização social, pelo menos esta pode-se dizer que era uma das intenções do governo. Mas, por outro lado, definir o imperador D. Pedro II como amigo, pode-se dizer também que era uma forma dos índios se igualarem aos brasileiros – não índios – apropriando-se desse direito de igualdade que a sua participação na Guerra contra o Paraguai iria lhes proporcionar; e, era revestido desse direito que eles, os Terena, lutariam pela posse de seus antigos territórios.
Para Altenfelder Silva (1949), os Terena, logo após o fim da guerra, encontravam-se nas seguintes localidades:
Ipegue (em área compreendida entre as atuais aldeias de Ipegue e Bananal); Imokovookoti (nas imediações da atual aldeia de Cachoeirinha); Tuminiku (nas proximidades da atual aldeia de Bananal); Coxi (próxima ao córrego de Taquarí); Naxe-Daxe (nas proximidades do córrego do mesmo nome); Kamakuê (próxima à atual aldeia de Duque Estrada); Brejão; Limão Verde (próxima a Aquidauana); Cerradinho (na área do atual Município de Campo Grande). Nessa época estimavam-se os Terena entre 3 e 4 mil.
Os antigos territórios que os Terena ocupavam, na região de Miranda foram invadidos e muitos foram totalmente perdidos para a posse de particulares, sendo esta a situação da aldeia de Naxe Daxe, uma das mais antigas segundo os registros de Taunay. Estabelecendo-se, como foi dito anteriormente, uma situação de desterritorialização para esse povo. Muitos dos índios quando retornaram para esses territórios, não mais os encontraram, devido à implantação das fazendas, na região Assim, estes voltaram para os lugares que habitaram durante o período da guerra, e que formam atualmente as aldeias de Brejão, em Nioaque; Limão Verde, em Aquidauana e Cerradinho (Buriti), na região de Dois irmãos do Buriti. Lá possuíam lavouras formadas e algumas criações de animais, que também já se encontravam em processo semelhante aos das demais localidades da região: os fazendeiros, ou seja, os novos proprietários não mais os queriam por perto. Os amigos que foram durante a guerra deixaram de existir e tornaram-se os empecilhos para a concretização da política indigenista brasileira.
A situação das terras que os Terena ocupavam foi denunciada por eles mesmos, para o Diretor Geral dos índios: Antônio Luis Brandão em 1871, de acordo com a correspondência deste diretor, emitida para o Presidente de Província Francisco José Cardoso Júnior neste mesmo ano:
“A cerca do índio da tribo Terena, de nome José Caetano, de quem trata o oficio de VExª. Do corrente, cujo recebimento tenho a honra de acusar, o que sei e posso informar a VEXª é que o dito índio com mais alguns da sua tribo, em numero de 17, procurou-me para representar que era filho do falecido Pedro Tavares, capitão da aldeia do Ipegue, no distrito de Miranda, e seu substituto, que por ocasião da invasão paraguaia não só a sua tribo, como todas as outras, e mais habitantes do distrito abandonarão os seus lares e retiraram-se para os montes e bosques, onde permanecem por 6 anos; que ultimamente, voltando os moradores a reocuparem os seus domicílios, eles Terenas encontraram a sua aldeia do Ipegue ocupada por Simplicio Tavares, por Antonio Maria Piche, o qual lhes obsta a repovoarem e lavrarem suas antigas terras e de seus antepassados; pelo que vinham pedir providencias para não serem esbulhados de suas propriedades das quais não podiam desprender-se um outro índio da mesma tribo de nome Vitorino, que farda-se como Alferes, e pertence a aldeia da Nachedache, distante da Ipegue uma légua, fez-me igual reclamação”.
É após a guerra que se intensificou a formação e o desenvolvimento das fazendas na região e a construção das cercas que separavam e demarcavam as recém-criadas propriedades particulares. O que eram terras indígenas tornavam-se propriedades particulares, constituindo-se os índios Terena a sua principal mão-de-obra, utilizada para a manutenção e desenvolvimento das mesmas, inserindo-os, assim, na economia regional. Esta situação não foi aceita por eles que reivindicaram, junto ao governo brasileiro, o direto de permanecer nos antigos territórios que ocupavam antes dessa guerra, conforme citação acima.
Essas reivindicações foram motivadas em função de sua participação ativa no conflito ao lado dos brasileiros, defendendo os territórios que ocupavam, bem como os interesses do governo, acreditando que esta razão lhes conferiria e garantiria o seu direito de posse sobre essas terras. A partir deste princípio, os índios Terena passaram a reivindicar, do governo brasileiro, a posse sobre esses mesmos territórios.
Adaptação livre do segundo capítulo da dissertação de mestrado intitulada: A construção do território Terena (1870-1966): uma sociedade entre a imposição e a opção, de Vera Lúcia Ferreira Vargas.


O repórter está morto
(Correio Caros Amigos)
Claudio Julio Tognolli

O jornalismo investigativo está morto. Sobrevive, tão somente, em salas de aula. Apenas porque lá repórteres engravatados vão dar palestras. Diante do silêncio maravilhado dos alunos, mostram o que é deter o júbilo de ser um ungido pelos deuses pagãos do jornalismo. Mas esta farsa luminosa, lacunarmente encenada, logo se dissipa como água na água: o aluno logo aprende que o jornalismo investigativo é um defunto tresnoitado. O que sobrou para os jornalistas investigativos, agora, é copiar grampos degravados por peritos policiais sonolentos. Ou copiar boletins de ocorrência. Tanto faz: o que era para ser ponto de partida (os dados oficiais), virou ponto de chegada.
O curativo arrepio de delícia, que percorre a espinha do repórter, sempre que pega um furo, passou a ter um preço. E este tem deixado diretores de redação numa rarefação de causar rodopios. Levantamento feito pelo jornalista Márcio Chaer, do site Consultor Jurídico, mostra que há no Brasil quase 2,8 mil jornalistas processados. Um recorde mundial. Os dados são de dois anos atrás. Tudo porque, mesmo defendendo publicamente a tão aclamada “transparência”, diretores de jornais sucumbiram, ano passado, à assoprada dada pela entidade patronal que congrega os donos de jornal. A saber: não revelem novamente os dados dos processos sofridos por jornalistas. Isso custa caro ao preço das ações das empresas.
Sabe-se que esse número de processos contra jornalistas dobrou. Ninguém é mais processado pela Lei de Imprensa. Desde a Constituição de 1988, advogados preferem processar jornalistas pelo artigo quinto, inciso décimo, da Carta Magna, que prevê a inviolabilidade de imagem. Ações cíveis contra empresas de jornalismo viraram um bom investimento. Estima-se que, no Brasil, pelo menos RS$ 70 milhões estejam sendo postulados na Justiça contra jornalistas.
O número total de ordens judiciais de interceptação telefônica no país em 2008 ultrapassou 400 mil, segundo levantamento feito pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) junto às operadoras, entre 1º de janeiro e 5 de dezembro do ano passado, da CPI e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Segundo o relatório da Anatel, foram determinados 398.024 grampos em celulares e 11.905 em telefones fixos, totalizando 409.929 pedidos de interceptações.
Numa sondagem feita com 8 repórteres investigativos, referiram-me que, de tudo o que publicaram ano passado, em seus jornais e revistas, mais de 90% “veio pronto”. Ou seja: essa produção industrial de grampos acabou escoando nas páginas da mídia. Agora entendemos porque o jornalismo investigativo dá sinais alusivos de agonia, e uma inervação indissolúvel toma conta dos advogados contratados para escangalhar o couro de repórteres.
A filosofia que preside um inquérito, naturalmente, é aquela chamada, em lógica, de princípio do terceiro excluído, ou, em latim, “tertio non datur”. Ou lidamos com culpados, ou com inocentes. Ou com o bem, ou com o mal. Jamais se pensaria em absurdidades logicamente possíveis, como, digamos “bondade que mata”. O ministério público, titular da ação penal, está aí para isso. A defesa dos acusados que se vire: a princípio todos são culpados. Esse mecanismo veio funcionando bem, com seus excessos, é claro, até que vieram os grampos. E até que vieram as “bolachas” (CD’s) com todas as gravações e grampos e o escambal a quatro. Esse escarmento, levado aos repórteres, criou uma enxurrada de “jornalistas investigativos”, cujo único papel tem sido reproduzir o que se recebeu da polícia ou das procuradorias.
Roda nas redações do Brasil, a boca pequena, um documento de onze páginas, sobre a chamada Operação Satiagraha, que levou Daniel Dantas à cadeia. Nele alguns jornalistas são citados como partícipes do movimento que teria levado à privatização da Satiagraha, daí o afastamento do delegado Protógenes Queiróz. O documento tem servido como “mea culpa” para todo o repórter que o lê. A concorrência para dar o furo tem feito o repórter surfar os limites do impossível. Tem nos aproximado do velho alpendre filosófico de Nietszche quando alertou que, toda vez que nos aproximamos por demais do monstro que queremos combater, corremos o risco de nos tornarmos iguais a ele. A indústria dos grampos, e a cobrança no esquema da concorrência pelo furo, deixou o repórter pairando no intermédio de ambos: hoje é juiz. Amanhã será carrasco. O populacho que consome shows aplaude a transmutação. Os advogados de redações coçam os rubis dos anéis
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Claudio Tognolli é repórter especial do site Consultor Jurídico, professor da ECA-USP, e co-roteirista do filme sobre a vida do policial Francisco Garisto, ora filmado pelo diretor Mauro Lima (Meu nome não é Johnny). tognolli@uol.com.br



VALE A PENA LER


1. A Editora Escala está lançando uma coleção em 3 volumes, da obra II Guerra Mundial – Campanhas dia a dia, de Chris Bishop e Chris McNab.


É um trabalho interessante, bem ilustrado, mas nem um pouco analítico. É bem factual, pelo menos o volume 1, que já está nas bancas, demonstra isso.

Creio, no entanto, que para os professores será um bom instrumento de trabalho, associado ao Atlas da II Guerra Mundial que a mesma editora lançou recentemente.





2. Guerra também é o tema do número especial temático da História Viva nº 24, já nas bancas.

Mas aqui trata-se da Primeira Guerra Mundial, com artigos de historiadores brasileiros e estrangeiros.

Em destaque, o fim dos impérios.





3. Também da História Viva, já nas bancas o último volume da coleção Caminhos do Trem.

O tema deste número é Expresso para o futuro, abordando as perspectivas do transporte ferroviário.






4. Foi lançado pela editora Fundação Perseu Abramo o Dicionário do movimento operário - Rio de Janeiro do século XIX aos anos 1920 - militantes e organizações. A obra apresenta verbetes com informações biográficas de militantes e históricos de organizações da cidade do Rio. O período abordado vai desde 1830, aproximadamente, até 1920. O dicionário contém informações sobre organizações de cunho sindical, beneficente, educacional ou político.
Nas 839 entradas nominais estão registros como nome e sobrenome, cor, profissão, orientação política, obras escritas, dados sobre a vida e atuação e outras informações. São nomes de trabalhadores de diferentes ocupações e categorias, muitos deles participantes de diferentes agremiações sindicais e políticas. São militantes nem sempre reconhecidos nos registros da história do país, mas pessoas que tiveram participação no movimento operário do Rio de Janeiro.



NAVEGAR É PRECISO

1. Site da Agência Carta Maior – WWW.cartamaior.com.br
Intelectuais lançam manifesto de repúdio à Folha de S.PauloManifesto protesta contra um editorial publicado quatro dias antes pelo jornal, que minimiza os crimes da ditadura militar e classifica o período como "ditabranda". O texto também presta solidariedade aos professores Fábio Konder Comparato e Maria Victória de Mesquita Benevides, cuja indignação ao editorial foi classificada como "cínica" e "mentirosa" pela Folha. > LEIA MAIS

• Alípio Freire: De rabo preso com quem?
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Luís Carlos Lopes

A ordem fascista e o cinema

Vêm sendo lançados vários filmes sobre o nazifascismo. Alguns poucos mantêm a perspectiva crítica e chegam a denunciar a presença destas ideologias como um fenômeno contemporâneo. Vários vêm operando no sentido contrário. Revisam a história e a crítica e as relativizam. > LEIA MAIS
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As cicatrizes de Guantanamo
Quando perguntado por quê faziam isso (tortura), um dos guardas, em Guantanamo, respondeu: “Isso é feito exatamente para degradar você. Assim, quando você sair daqui, você terá cicatrizes, e você nunca vai esquecer”.
Flávio Aguiar
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2.Site do jornal Brasil de Fato – WWW.brasildefato.com.br

O golpe de 1964, por Otávio Frias Filho
Carlos Eduardo Carvalho
A cumplicidade da Folha com a ditadura é uma página vergonhosa de sua história, sobre a qual procura tergiversar e apresentar versões engenhosas

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3. Site da revista Ciência Hoje - http://cienciahoje.uol.com.br/138572

Ciência e arte unidas contra o racismo Cordel utiliza ideias do geneticista Sérgio Pena para combater noção de raças na espécie humana
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4. Sobre o dia 8 de março, dia internacional da mulher, vale a pena ver:
Dia Internacional da Mulher: Em busca da memória perdida
SOF – Sempreviva Organização Feminista
http://www3.brasildefato.com.br/v01/agencia/analise/dia-internacional-da-mulher-em-busca-da-memoria-perdida
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Exploração
A cada segundo, oito mulheres são submetidas ao tráfico sexual internacional
http://www3.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/a-cada-segundo-oito-mulheres-sao-submetidas-ao-trafico-sexual-internacional
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Mulheres pagam caro pela crise
Além de bandeiras históricas como igualdade de direitos e autonomia, o Dia Internacional de Luta das Mulheres em São Paulo denunciará as consequencias do colapso econômico na vida das mulheres
-> Campanha articula enfrentamento da violência contra mulheres do campo
http://www3.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/mulheres-pagam-caro-pela-crise

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5. No blog do Nassif - http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/03/03/gilmar-e-a-lei-organica-da-magistratura/

Gilmar e a Lei Orgânica da Magistratura
Vale a pena ler alguns trechos da Lei Orgânica da Magistratura (Loman), lei à qual se submetem desde a primeira instância até o STF, e que demonstram o espírito daquilo que se quer em um juiz



NOTICIAS

1. ETEV - Escola Técnica de Viçosa foi, novamente, credenciada para oferecer os cursos técnicos - Informática e Meio Ambiente, gratuitamente, para a nossa cidade e região. Houve algumas mudanças importantes nas exigências que, agora, permitem que mais pessoas possam concorrer às vagas - Foi retirado o limite de idade e também, agora, os alunos do ensino de Jovens e Adultos, isto é, do CESEC, podem concorrer às vagas. As matrículas estão abertas desde o dia 29/01/2009 até o dia 01/03/2009 no site da secretaria de educação do estado, www.educacao.mg.gov.br. O número de vagas para Viçosa é o seguinte: 160 para Informática, uma turma de 40 alunos pela manhã, uma turma de 40 alunos à tarde e duas turmas de 40 alunos cada, à noite e, ainda, uma turma de 40 alunos para o curso de meio Ambiente à noite. Todas as informações sobre o processo seletivo estão disponíveis no link do PEP 2009.