Boletim Mineiro de História

Boletim atualizado todas as quartas-feiras, objetiva trazer temas para discussão, informar sobre concursos, publicações de livros e revistas. Aceita-se contribuições, desde que versem sobre temas históricos. É um espaço plural, aberto a todas as opiniões desde que não contenham discriminações, racismo ou incitamentos ilegais. Os artigos assinados são de responsabilidade única de seus autores e não refletem o pensamento do autor do Boletim.

19.12.07

Número 118




EDITORIAL
Como este é o último número do Boletim antes do Natal, quero aproveitar para agradecer a paciência de todos e desejar que tenham um Bom Natal, sem muito consumismo, se for possível...

1. Dia 15 o notável arquiteto Oscar Niemeyer completou 100 anos. Um século de obras marcantes, que revolucionaram a arquitetura. Um século de idéias nobres, desse que não abjurou de suas idéias como tantos fizeram depois da queda do Muro de Berlim.
Nossa homenagem a ele.

http://www.youtube.com/watch?v=TG_oSxb7i6o

http://www.youtube.com/watch?v=Cb8rPbt1vW8

http://www.youtube.com/watch?v=fyQb-iW7wNI

E no Conversa Afiada, uma entrevista dele ao Paulo Henrique Amorim, com uma frase destinada a ficar na história:
Paulo Henrique Amorim – O senhor não gosta do Bush?
Oscar Niemayer – Eu acho que ele é um merda, sabe.
Leia a íntegra em
http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/470501-471000/470610/470610_1.html

2. Muito estranho: a noticia dá a entender que as teses de Lombroso, já caducas, estariam sendo reavivadas... Leiam a notícia e a nota de repúdio:

Cientistas da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) e da UFRGS (Universidade Federal do RS) querem saber se o que determina o comportamento de um menor infrator é sua história de vida e se há algo físico no cérebro levando-o à agressividade.
Para isso, mais de 50 adolescentes homicidas vão ter seus cérebros mapeados por um aparelho de ressonância magnética num estudo em Porto Alegre, no ano que vem, como informa matéria da Folha de S.Paulo de hoje (conteúdo exclusivo para assinantes da Folha e do UOL).
Serão avaliados também aspectos genéticos, neurológicos, psicológicos e sociais de cada pesquisado.
O estudo examinará dois grupos: um de internos da Fase (Fundação de Atendimento Socio-Educativo, antiga Febem gaúcha) e outro de meninos sem passado de crime, para efeito de comparação. O projeto vai olhar para questões sociais, mas o foco é mesmo o fundo biológico da questão.
O projeto ainda está sendo analisado por um comitê de ética da PUC-RS, e os cientistas se dizem confiantes de que a aprovação sairá para início dos trabalhos em março de 2008.
PUC e UFRGS estudam a base biológica para a violência em menores infratores
Nota de Repúdio
Estudos sobre a "base biológica para a violência em menores infratores": novas máscaras para velhas práticas de extermínio e exclusão.
É com tristeza e preocupação que recebemos a notícia de que Universidades de grande visibilidade na vida acadêmica brasileira estão destinando recursos e investimentos para velhas práticas de exclusão e de extermínio. A notícia de que a PUC-RS e a UFRGS vão realizar estudos e mapeamentos de ressonância magnética no cérebro de 50 adolescentes infratores para analisar aspectos neurológicos que seriam causadores de suas práticas de infração nos remete às mais arcaicas e retrógradas práticas eugenistas do início do século XX.
Privilegiar aspectos biológicos para a compreensão dos atos infracionais dos adolescentes em detrimento de análises que levem em conta os jogos de poder-saber que se constituem na complexa realidade brasileira e que provocam tais fenômenos, é ratificar sob o agasalho da ciência que os adolescentes são o princípio, o meio e o fim do problema, identificando-os seja como "inimigo interno" seja como "perigo biológico", desconhecendo toda a luta pelos direitos das crianças e dos adolescentes, que culminou na aprovação da legislação em vigor - o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Pensar o fenômeno da violência no Brasil de hoje é construir um pensamento complexo, que leve em consideração as Redes que são cada vez mais fragmentadas, o medo do futuro cada vez mais concreto e a ausência de instituições que de fato construam alianças com as populações mais excluídas. É falar da corrupção que produz morte e isolamento e da precariedade das políticas públicas, sejam elas as políticas sociais básicas como educação e saúde, sejam elas as medidas sócio-educativas ou de proteção especial.
Enquanto a Universidade se colocar como um ente externo que apenas fragmenta, analisa e estuda este real, sem entender e analisar suas reais implicações na produção desta realidade, a porta continuará aberta para a disseminação de práticas excludentes, de realidades genocidas, de estudos que mantêm as coisas como estão.
Violência não é apenas o cometimento do ato infracional do adolescente, mas também todas aquelas ações que disseminam perspectivas e práticas que reforçam a exclusão, o medo, a morte.
Triste universidade esta que ainda se mobiliza para este tipo de estudo, esquecendo-se que a Proteção Integral que embasa o ECA compreende a criança e o adolescente não apenas como "sujeito de direitos" mas também como "pessoa em desenvolvimento" - o que por si já é suficiente para não engessar o adolescente em uma identidade qualquer, seja ela de "violento" ou "incorrigível".
A universidade brasileira pode desejar um outro futuro: o de estar à altura de nossas crianças e adolescentes.
Assinam a Nota: 1. Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância - CIESPI;
2. Programa Cidadania e Direitos Humanos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - PCDH/UERJ;
3. Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia - CNDH/CFP;
4. Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro - CDH/CRP-05;
5. Cristina Rauter - Professora da Universidade Federal Fluminense / UFF;
6. Programa Pró-adolescente - Universidade do Estado do Rio de Janeiro/ UERJ;
7. Márcia Badaró - Conselheira do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-05); 8. Anna Paula Uziel - Professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro/ UERJ.
9. Maria Helena Zamora - Professora da Puc-Rio
10. Marcelo Dalla Vecchia - Professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)


FALAM AMIGOS E AMIGAS


Guilherme Souto enviou:
do site http://diplo.uol.com.br/2007-12,a2069

Pela Educação, Pedagogia e Cultura

"Não somos imorais nem amorais: somos anti-morais, naquilo que a Moral do Dia impede o florescer de uma Ética da Solidariedade. Moral refere-se ao passado que sobrevive no presente. Ética, ao presente que se projeta no futuro". Mais um grande pensador brasileiro estréia no Diplô Brasil
Augusto Boal

Na Sorbonne em 1981, durante o primeiro governo Mitterrand, Jack Lang inaugurou um seminário de 200 intelectuais do mundo inteiro para que discutissem como seria a Cultura em um governo socialista. Afirmou que todos os ministérios deveriam chamar-se "da Cultura": ministério da Cultura das Finanças, da Cultura da Economia, da Defesa, da Seguridade Social, enfim, todos. Tudo é Cultura. Tinha razão o Ministro francês.

Quando o Presidente Lula, em Belo Horizonte, inaugurou a TEIA, reunião de 700 Pontos de Cultura de todo Brasil e, em Brasília, inaugurou o Projeto Cultural em que o Ministro Gilberto Gil assinou convênios com dez Ministérios, com a Caixa Econômica, o Banco de Desenvolvimento, além de outras organizações sociais, para que incluíssem a Nova Cultura em seus programas, vimos que o belo sonho francês estava se tornando uma concreta realidade brasileira.

Por que nova, se já existia? Porque existia desprezada e mal-amada... mas fecunda. Palavras como Educação, Pedagogia e Cultura eram pétreas imposições com seus significados coercitivos, invasores, não democráticos, nem criativos. Educar, do latim educare, significa conduzir. Educar é a transmissão de conhecimentos inquestionados, dados como certos e necessários. Pedagogia vem do grego paidagógós que era o indivíduo, geralmente escravo, que caminhava ao lado do aluno e o ajudava a encontrar a escola e o saber.

Não aceitamos um saber não-investigativo, nem encontraremos novos saberes sem conhecer os antigos

Nenhum conhecimento é inquestionável e cada nova descoberta da História, ou invenção da Ciência, re-instaura a dúvida sobre todos os saberes. Educação significa a transmissão do saber existente. Pedagogia, a busca de novos saberes. Essas duas palavras não podem ser dissociadas, porque não podemos aceitar um saber não-investigativo, nem descobriremos novos saberes sem conhecer os antigos.
Educação e Pedagogia são duas irmãs que são, ao mesmo tempo, mães e filhas da Cultura. Filhas, porque a Cultura existe em cada sociedade em que vivemos e se manifesta através do saber que ensina e do saber que busca. Mães, porque através delas nasce uma nova Cultura, sempre em trânsito.
Trânsito para que futuro? Surgem então os conceitos de Ética e Moral. Esta vem do latim mores — costumes. Mesmo os mais odiosos podem fazer parte da Moral de um lugar e de uma época. A escravidão já foi Moral em muitos paises e épocas, e os escravos que lutavam por sua liberdade eram chamados de fujões e rebeldes — hoje, sabemos que foram heróis e eram sábios.
Nenhuma Moral social deve ser aceita só porque faz parte dos costumes de um infeliz momento. Não podemos aceitar o latifúndio e a corrupção, nem a fartura vizinha da fome. O Brasil ainda está cheio desses infelizes momentos, como toda a América Latina, explorada pelo imperialismo colonialista e pelo neo-liberalismo.
"Uma Cultura plural, que tenha a cara do nosso país mestiço e cafuzo, mameluco, zambo e cariboca"
Moral refere-se ao passado que sobrevive no presente. Ética, do grego ethos — segundo Aristóteles em sua Poética, tendência de perfeição ou, para ela, o caminho — refere-se ao presente que se projeta no futuro.

Não queremos o Brasil como foi nem como é, mas como queremos que seja? Queremos que todos os brasileiros sejam plenos cidadãos, e não se pode ser pleno sem os fundamentos da Educação, sem as audácias criativas da Pedagogia, sem uma Cultura plural que tenha a cara do nosso país mestiço e cafuzo, mameluco, zambo e cariboca — filhos de gente branca, negra, índia: europeus, africanos, aborígenes.

Não somos imorais nem amorais, somos anti-morais naquilo que a Moral do Dia impede o florescer de uma Ética da Solidariedade.

A Terceira Guerra Mundial já começou: essa guerra subliminal não se manifesta apenas em formas espetaculares e teatrais, com invasões e genocídios exibidos pela TV e pelos jornais, mas também através desses meios autoritários de comunicação.

Só poderemos nos defender dessa Invasão dos Cérebros usando armas de igual poder, com sinal trocado. Temos que criar condições materiais para que a população possa desenvolver a sua própria Cultura e criatividade, e deixar de ser vítima passiva da Comunicação. Em junho de 2007, 80% dos cinemas brasileiros estavam ocupados por filmes tipo homens-aranhas, homens-carrapatos, super-homens e mulheres-maravilhas, todos bem armados explodindo bombas e disparando rajadas de metralhadoras: lixo cinematográfico.

"Ativam nossos Neurônios Estéticos. Promover a ampla percepção do mundo e a abertura de caminhos"

Segundo a Teoria dos Neurônios Estéticos, quando um ser humano é bombardeado diariamente com as mesmas informações dogmáticas repetitivas — sejam de cunho religioso ou esportivo, belicista, sexista, racista, imperialista ou de qualquer outra ordem — essas informações, por mais absurdas que sejam, cravam-se em nossos cérebros e formam impenetráveis e agressivas Coroas de Neurônios Fundamentalistas, que rejeitam qualquer pensamento contraditório e transformam suas vítimas em seres sectários da religião e do futebol, da arte e da política. Transformam seres humanos em estações repetidoras de conceitos que não entendem, e de valores vazios.

A Cultura, a Educação e a Pedagogia, através do diálogo e do escambo, ativam nossos Neurônios Estéticos — aqueles que são capazes de processar idéias abstratas e emoções concretas, como faz a Arte — e promovem a mais ampla percepção do mundo e a abertura de veredas e caminhos. Como disse o poeta espanhol Antonio Machado: o caminho não existe, o caminho quem o faz é o caminhante ao caminhar.
Uma verdadeira Educação Pedagógica que contribua para a criação de uma autêntica Cultura Popular Brasileira deve, necessariamente, incluir todas as formas estéticas de percepção da realidade e de invenção — Arte — como parte da luta contra a Invasão dos Cérebros que há tantas décadas estamos sofrendo.

Temos que combater aliens em todas as frentes: na escola, no campo e na cidade, no trabalho e no lazer; no cinema, no teatro, na rádio e na TV, nos CDs e DVDs. Cultura e invenção em toda parte!.

Temos que criar defesas contra a escravidão estética que há tantas décadas nos estão impondo. Temos que descobrir nosso rosto, escrever nossa palavra, dançar com nosso corpo, e ouvir a nossa voz.
Esta é a nova acepção da palavra Cultura, neste belo momento que estamos vivendo no Brasil.
Arte é o Caminho.

FALANDO DE HISTORIA

Do site da Revista ciência Hoje:

Guerras frias Mudanças climáticas no passado motivaram conflitos pela escassez de recursos, mostra estudo

As mudanças climáticas escasseiam a produção agrícola, provocam conflitos por recursos naturais e levam ao declínio populacional. O cenário lhe soa como uma previsão dos impactos do aquecimento global? Na verdade, esta foi a conclusão de um estudo histórico sobre como as variações do clima global afetaram a incidência de guerras ao longo dos últimos séculos.
A pesquisa buscou identificar uma associação entre as variações no clima do planeta entre os anos 1400 e 1900 e as flutuações no tamanho da população e na freqüência com que ocorriam conflitos, sobretudo na Europa, na Ásia e nas regiões áridas do hemisfério Norte. Os resultados, publicados no fim de novembro na revista PNAS, sugerem que a ocorrência de guerras e a diminuição da população podem de fato ter sido influenciadas pelos ciclos de temperatura do planeta.
A sutileza é que, nos últimos séculos, a ocorrência de conflitos aumentou nos períodos em que o clima do planeta se resfriou, motivando a redução da produção agrícola. Mas o aquecimento global recente pode ter o mesmo impacto, segundo os autores do estudo. “O relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas afirma que o aumento de temperatura pode ter efeito sobre a produção agrícola igual ou similar ao provocado pela queda de temperatura, como ocorreu no passado”, conta à CH On-line Peter Brecke, pesquisador do Instituto de Tecnologia da Geórgia (EUA) e co-autor do estudo.
Segundo ele, os resultados oferecem um panorama do que nos aguarda caso não sejam tomadas medidas de mitigação das mudanças climáticas. “A menos que os países tenham um excedente na capacidade de produção ou a possibilidade de pagar por alimentos importados, é provável que aumente a probabilidade de ocorrer um conflito violento”, avalia o pesquisador.
Pequena idade do gelo
O período estudado foi caracterizado pela ocorrência da chamada Pequena Idade do Gelo, em que a temperatura média no hemisfério Norte foi menor do que a verificada durante a Idade Média. A ocorrência de ciclos na temperatura global entre os anos de 1400 e 1900 ocasionou perdas na produção agrícola e a escassez de alimentos. As conclusões do estudo indicam que, em uma época de poucos recursos tecnológicos e sanitários, essa escassez aumentou a probabilidade de ocorrência de conflitos, fome e epidemias, que motivaram por sua vez o declínio populacional.
A relação entre os padrões cíclicos de ocorrência de guerras e as variações de temperatura ficou clara quando os pesquisadores compararam os séculos mais frios do intervalo considerado e o mais ameno, o 18. Durante os períodos mais gelados, o número de conflitos no mundo foi 1,93 vezes maior do que no século de temperatura mais branda. Se a Europa for considerada isoladamente, a ocorrência de guerras foi 2,24 vezes mais freqüente nos períodos mais frios.
O estudo analisou de perto os casos da Europa e da China, para os quais há registros históricos detalhados de fatores como o tamanho populacional, a produção agrícola e o preço de alimentos ao longo dos séculos considerados. Nesse período, ambas tinham juntas aproximadamente 60% da população mundial. Nos dois casos, os ciclos de guerra e paz puderam ser notados de forma mais nítida durante a chamada Grande Crise do Século 17, quando houve uma forte redução na produção agrícola e o preço do trigo disparou no mercado, o que fez aumentar a incidência de guerras no período.
"É improvável que seja acidental a coincidência entre os múltiplos ciclos de guerra e paz e os episódios de declínio populacional em várias escalas temporais", avaliam os autores no artigo publicado na PNAS. "Os casos da Europa e da China ilustram que a ligação entre a variação da temperatura, os ciclos de guerras e o declínio populacional tem origem em grande parte nas mudanças climáticas."
Resta agora esperar que o passado não se repita. "Vivemos agora a fase climática mais quente dos últimos dois milênios, um extremo climático como o século 17 na Pequena Idade do Gelo, que foi o período mais frio dos últimos dois milênios", comparam os pesquisadores. "O impacto direto mais importante do resfriamento do clima foi sobre a produção agrícola", lembram eles. "A maior parte da população atual continua a depender da agricultura em pequena escala, que permanece tão vulnerável às flutuações climáticas quanto estava no período histórico contemplado no estudo."
Diana Dantas Ciência Hoje On-line - 13/12/2007


BRASIL

Uma análise penetrante dos interesses por trás da não-aprovação da prorrogação da CPMF. E, como sempre, sabemos que ela não foi aprovada porque o Governo “não ofereceu nada em troca”, como disse o líder do PSDB. Que oposição é esta!!!

1. A noite dos longos punhais

Na noite de 12 para 13 de dezembro houve um festival de punhaladas no Senado Federal. Ninguém morreu com a CPMF, é verdade. Mas houve muitos feridos. Alguns destes nem sabem ainda que foram apunhalados. Vão descobrir quando bailarem na curva, como se diz no sul.
Flávio Aguiar – da Agência Carta Maior
Foi uma noite de punhaladas. O debate sobre a CPMF começou ao fim da tarde do dia 12 e terminou na madrugada do dia 13 – dia simbólico, foi o da assinatura do Ato-5, que criou a ditadura dentro da ditadura.
Houve punhaladas grosseiras, houve outras sutis, houve algumas muito, muito sutis. Houve também perplexidades. O senador Mão Santa, por exemplo, na tribuna, não conseguiu dizer coisa com coisa. A perplexidade mais eloqüente ficou por conta da expressão de surpresa, desalento e decepção do senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, quando na madrugada chegaram as cartas assinadas, uma pelos ministros da Fazenda e das Relações Institucionais, e a outra pelo próprio presidente Lula, se comprometendo a destinar todos os 40 bilhões anuais do imposto para a saúde. O senador Guerra sempre foi pela negociação, acabou derrotado pela intransigência do senador Artur Virgílio e também a do senador Álvaro Dias no interior do próprio partido.
Apunhalado o governo pela oposição no seu orçamento, as suas cartas tardias não deixaram também de dar uma facada, ainda que menor do que a que levou, na oposição, agora mais claramente dividida em oposições. Foi isso que o senador Guerra sentiu, e provocou-lhe a expressão facial que suas palavras não conseguiram ocultar. “Agora?”, foi o que se leu na face do senador.
Ao longo de todo o debate, coadjuvado pelas cartas, os senadores oposicionistas, mais os da base aliada que se insurgiram contra o governo, coadjuvados pelo do PSOL, não conseguiram criar uma retórica convincente, e acabaram ficando com a tintura, senão a pecha, de estarem apunhalando o Sistema Único de Saúde e o povão, em favor das empresas e dos mais ricos. A CPMF é dos poucos impostos no Brasil que não é regressivo, porque de fato progressivo nenhum é. Quem movimenta mais paga mais, ainda que a alíquota seja a mesma para todos, exceto os isentos. Não é à toa que as pessoas jurídicas – sobretudo as grandes empresas – fossem responsáveis por 72% dos 40 bilhòes anuais.
Quem saiu ganhando ou perdendo, nessa noite de punhaladas abruptas ou prolongadas?
O povão saiu perdendo, apunhalado pelos opositores do imposto. Junto com ele o SUS, o governo, que terá de recompor as verbas para a saúde e outros programas sociais. Saiu perdendo a Constituição brasileira e o próprio Senado federal, pois no afã de derrotar o governo os senadores anti-CPMF apunhalaram sua função institucional precípua, que é a de defender os estados que representam, mais os seus municípios.
Saíram ganhando as grandes empresas que, através da FIESP, se mobilizaram contra o imposto que lhes retira do aprisco quase 30 bilhões anuais, fora os gastos adicionais para pagarem a peso de ouro caríssimos tributaristas que lhes mostrem o caminho das pedras para driblar este e outros impostos.
Os grandes jornais e a mídia conservadora ficaram no empate técnico. Comemoram com discrição mais uma “trapalhada” do governo que o levou, ao apagar (ou acender, pensando-se no Natal) das luzes de 2007 sofreu uma derrota em plenário, e televisiva. Mas ficaram na defensiva, pois essa derrota do governo federal terá repercussão ainda imprevisível nos estados e nos municípios que seus favoritos governam, inclusive em São Paulo e Minas.
Comenta-se que os Democratas mais a ala dura do PSDB saíram ganhando. Aqui vêem-se, talvez, as punhaladas mais sutis da noite.
Saiu ganhando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cujos cordéis desde os bastidores sempre dirigiram os gestos e as falas do senador Artur Virgílio. O ex-presidente voltou a colocar-se como uma espécie de fiel da balança do seu partido, em detrimento de Serra, de Aécio, do próprio Alckmin e de Sérgio Guerra, que viu seu poder interno abalado. Este tinha a seu favor a maioria dos senadores do PSDB, pressionados pelos governadores. Apesar disso, em nome da unidade do partido, teve de ceder diante da dureza de Virgílio e Dias, que preferiram apunhalar de leve o próprio partido, acaudilhando-o aos Democratas.
Já estes desferiram uma série de punhaladas, a torto e a direito, ainda que algumas delas possam voltar-se contra eles próprios. A primeira punhalada, além da derrota em plenário imposta ao governo, foi dada nos programas sociais deste. Os ex-tudo na política conservadora brasileira, agora auto-proclamados “Democratas”, sabem que essas políticas sociais roubaram-lhes seus grandes apriscos eleitorais, que estavam sobretudo no Nordeste, visto como a fonte do “atraso” nacional. Os Democratas precisam esfarelar essas políticas sociais, reduzir novamente seu eleitorado potencial, antes que se autonomize demais e de vez, ao miserê das políticas de favor dos potentados e potentadozinhos paroquiais. Mas isso é uma tarefa de longo prazo, e duvidosa, porque passa pelas eleições municipais de 2008 e ninguém sabe se essas tentativas darão certo, num país cuja economia cresce a olhos vistos, ainda que devagar, o poder aquisitivo da população mais pobre cresce junto, os empresários investem mais, a popularidade do presidente continua nos píncaros, enfim, tudo isso de que a nossa direita não gosta nem de ouvir falar.
No mais curto prazo, então, os desassistidos de povo do DEM precisam... conquistar votos no aprisco ao lado, o dos seus aliados/concorrentes do PSDB, passando o punhal pelo menos numa grossa fatia do seu eleitorado preferencial, o da parte conservadora das classes médias, ilustradas ou não. A fatia mais à esquerda, que vota no PT, no PSOL, ou têm outras preferências, não vai aderir ao DEM, nem que o rebanho vacum de todo o Brasil morra de bronquite, de tanto tossir. O alvo dos Democratas é mesmo parte do eleitorado de seus vizinhos na votação de ontem, os tucanos, e para isso eles precisavam se demonstrar, mesmo rasgando suas funções constitucionais, os campeões contra a CPMF.
De quebra, os Democratas assestaram os punhais para as certeiras facadas que darão nas burras das grandes empresas. Como o DEM é um partido senatorial, uma vez que sua representação na Câmara não tem a importância nem a visibilidade da das velhas raposas da Câmara alta, e sua presença nos executivos estaduais se esvaziou, a manutenção deste cacife depende da eleição de 2010, quando estarão em jogo duas cadeiras por estado. E eleger um senador é muito, muito caro. Ainda mais para quem viu, em 2002 e em 2006, sobretudo, um crescente esvaziamento de seu eleitorado tradicional. Não tem jeito: além de afrontar o governo e o PT e outros partidos à esquerda, o DEM, se quiser sobreviver, terá de comer pelas bordas ou pelo núcleo, o “povo” de seus aliados. Começou a fazer isso, na votação de ontem.
Por fim, mas não menos importante, é preciso registrar que sobraram auto-facadas do governo e do PT. O governo agiu tardiamente. Não conseguiu produzir uma defesa mais conceitual da CPMF. O PT também não conseguiu. Não conseguiram uns e outros escapar também do comentário de que antes eram contra o imposto porque o governo não era deles, enquanto agora eram a favor porque estavam no Planalto, o que repete, de modo invertido, a falha que também apunhala as oposições. É verdade que se pode alegar que a CPMF fora criada, por inspiração do ex-ministro Adib Jatene, com função social precipuamente na área da saúde, e que o atual governo vinha devolvendo-lhe tal condição. Ao longo do tempo ela fora desvirtuada para ajudar a formação de superávit primário e recompensar o capital rentista, e agora ela vinha voltando a seu leito natural.
Uma última punhalada, no momento ainda virtual. Um dos possíveis roteiros das oposições seria o de transferir a pecha de “criador da CPMF”, do governo tucano de FHC para o de Lula. Isto se concretizará, numa punhalada sutil, se o atual governo reapresentar a proposta de emenda constitucional que criou o imposto, tal qual fez FHC. Mas ainda não se sabe o que fará o governo. O ministro de Relações Institucionais disse que o governo não faria isso. Se não fizer, e se conseguir dar a volta por cima ou por baixo, ou pelo lado, na manutenção dos programas sociais, o governo estará não só devolvendo a punhalada, como também puxando o tapete com que as oposições pretendem voar em direção a 2008 e 2010, mesmo que tenham que distribuir cotoveladas e punhaladas uns nos outros, como está fazendo o DEM com o PSDB.

2. O Jornal Brasil de Fato traz um dossiê importante sobre a questão da transposição do rio São Francisco. Vale a pena ler. Se não conseguir acessar clicando nos títulos, vá ao site http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia
Todos os artigos estão lá e também o vídeo gravado pela artista Letícia Sabatella defendendo a greve de fome do frei Cappio.
No fechamento desta edição do Boletim, vejo nos sites noticiosos que o Governo resolveu atender ao Frei e suspendeu a transposição, pelo menos por enquanto...Vamos acompanhar...

"Espero que o STF coloque a soberania popular acima dos interesses do governo", diz Fabio Konder Comparato
Para jurista, segundo a Constituição, o projeto da transposição das águas do São Francisco não pode ser implementado por um decreto presidencial; na quarta-feira, STF decide o futuro das ações que questionam a legalidade do megaempreendimento do governo Lula.
Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulga novas imagens com frei Luiz Cappio, gravadas no sábado (15).Assista o vídeo
Em diversas capitais brasileiras, manifestações de solidariedade ao protesto de frei Cappio que, nesta terça-feira (18), entra em seu 22º dia de greve de fome >> Saúde de frei Cappio está mais frágil; semana terá julgamento decisivo
Debate
Os argumentos contrários e a favor do megaempreendimento encampado pelo governo Lula
Histórico
Os primeiros documentos sobre a transposição do rio São Francisco remontam à época que a então família de Dom João VI veio ao Brasil, durante o período colonial.


NUESTRA AMERICA

1. O índio "insolente"

Sem foco desde que Chávez, “surpreendentemente”, acatou a derrota sofrida em referendo, o discurso dominante propalado pela mídia volta seus canhões para Evo Morales e sua tentativa de promulgar uma nova Constituição.
Maurício Thuswohl - Carta Maior

O ódio e o menosprezo que as elites econômicas sul-americanas devotam aos pobres, mestiços, negros e índios do continente encontram agora seu maior canal de expressão na Bolívia. Sem foco desde que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, “surpreendentemente” acatou a derrota sofrida no referendo sobre a reforma constitucional em seu país, o discurso dominante, propalado pela mídia amestrada dos Andes à Patagônia, volta seus canhões para Evo Morales e a tentativa do governo boliviano de promulgar uma nova Constituição.
A resistência às propostas de mudança apresentadas pelo governo federal está concentrada nos grupos políticos que ocupam o governo dos quatro departamentos mais ricos da Bolívia: Santa Cruz de la Sierra, Pando, Beni e Tarija, todos reunidos na região conhecida no país como Meia-Lua. Desde o primeiro dia do mandato de Morales, esses quatro governadores, eventualmente alinhados com o governo do departamento de Cochabamba, se esforçam em inviabilizar as reformas propostas pelo atual presidente, ora incitando à população à desobediência civil, ora ameaçando até mesmo com a cisão da Bolívia.
Do ponto de vista de sua constituição política, podemos definir os setores que detém o poder nos quatro departamentos da Meia-Lua como a direita tradicional boliviana, a massa política que herdou o espólio do país após duas décadas de golpes e contragolpes militares que chegaram a ser motivo de anedotas até mesmo entre os vizinhos sul-americanos. Essa direita, com roupagem mais ou menos moderna, saiu derrotada nas últimas eleições presidenciais, realizadas em 2005, por um candidato de origem indígena, com amplo apoio da massa de pobres e excluídos do país e com uma clara proposta de reforma.
Do ponto de vista de sua constituição moral, essa direita boliviana que agora ameaça com a guerra civil e a independência dos departamentos da Meia-Lua, é composta pelos mesmos setores que, desde sempre, subjugaram o povo e os legítimos interesses nacionais da Bolívia em troca de uma subserviência abjeta aos Estados Unidos, à Espanha e a outros “senhores” menos cotados. Quem esteve em La Paz ou Santa Cruz na Bolívia pré-Morales sabe o quanto os indígenas, apesar de ampla maioria, eram tratados como gente de segunda categoria nas ruas das cidades. Sabe da ridícula mania da “elite branca” do país de ressaltar parentescos europeus, como se a cidadania boliviana fosse de segunda classe.
Com essa mentalidade, mesmo sentada sobre imensas riquezas naturais, a Bolívia sempre viu seu petróleo, seu gás, suas pedras preciosas, etc, fugirem para o exterior a preço de banana enquanto a maioria de seu povo permanecia doente e humilhado. Evo Morales veio para tentar mudar essa realidade, e isso a direita boliviana não aceita. Jamais aceitou a derrota eleitoral, e agora parece aceitar menos ainda que um índio tenha sucesso na gigantesca tarefa de botar o país nos trilhos e dar cidadania verdadeira a seu povo. A direita boliviana tem ódio e menosprezo pelos “outros” que, desaforadamente, tentam governar o país como se fossem gente.
Buscado desde que Morales venceu as eleições, o objetivo de sabotar o governo fez com que a direita levasse a Bolívia ao cenário de crise dos últimos dias. Depois de se retirar das discussões da Assembléia Constituinte por não aceitar as reformas (o motivo alegado, sobre o quorum necessário às aprovações, era mero pretexto), agora a oposição não aceita a legitimidade da Constituição aprovada no começo de dezembro e ameaça responder com violência se o governo levar a cabo o referendo que deve ratificá-la.
Tio Sam
Os movimentos da oposição boliviana contam com a benção do governo de George W. Bush. Na semana passada, os governadores dos departamentos da Meia-Lua foram a Washington para denunciar na Organização dos Estados Americanos (OEA) “o caráter ditatorial do governo de Evo Morales”. Além da programação oficial, os governadores e membros dos Comitês Cívicos (entidades criadas para articular a oposição boliviana junto à população) mantiveram contatos sobre a conjuntura da Bolívia com membros do Departamento de Estado dos Estados Unidos.
O encontro com o Tio Sam parece ter anabolizado as idéias da direita boliviana. De volta dos EUA e já envolvido na organização do que ele mesmo classificou como “uma passeata anti-Morales”, o presidente da Central dos Trabalhadores de Santa Cruz, Edwin Fernández, pegou pesado durante uma entrevista coletiva: “Essa será a nossa última manifestação pacífica contra a Constituição. Pedimos aos colegas que estão em greve de fome para suspendê-la, pois em breve precisaremos de pessoas com boa saúde e bom estado mental para nos manifestarmos contra o governo de forma mais contundente”. É mesmo uma lição de democracia...
O “ditador” Morales, por sua vez, teve uma sacada política que pode apagar o fogo golpista da oposição com jatos de democracia. Conclamando a oposição a “apaziguar a Bolívia”, ele propôs submeter o próprio mandato, assim como os mandatos dos governadores, a referendo popular no início do ano que vem. De acordo com a proposta, que seria encaminhada como Projeto de Lei, se a votação popular pela saída do atual presidente for superior aos 53,7% obtidos nas urnas por Morales em 2005, novas eleições presidenciais serão convocadas.
Surpresa
Pega de surpresa, a oposição está dividida. O governador de Santa Cruz aceitou a proposta do governo federal, mas parte de seus colegas afirma que Morales quer “cobrir com uma cortina de fumaça” a aprovação da Constituição e prefere partir para o confronto político e, pelo visto, armado. Outros setores ainda afirmam (santa cara-de-pau, Batman!) que só aceitarão o resultado do referendo se Morales for derrotado. O presidente, por sua vez, está ciente do apoio popular que tem e, apesar dos riscos, sabe que uma nova vitória nas urnas o fortaleceria de maneira decisiva.
Nessa, a direita sul-americana e seus “formadores de opinião” na grande mídia ficaram numa enrascada. Se até o ditador-mor Hugo Chávez acatou o resultado das urnas na Venezuela, como reagir diante da proposta de Morales? Para a direita boliviana, trata-se de um verdadeiro dilema: a recusa significaria admitir seu desapreço pelas práticas democráticas, mas, se aceitar o referendo e perder, estará legitimando o governo dos “outros”, que pretende derrubar. Ao que tudo indica, vai prevalecer a tática de renegar a Constituição e desestabilizar o governo federal nas ruas.
Para finalizar, é bom que se esclareça que, ao contrário do que a líder de audiência adora repetir em seus telejornais, a nova Constituição da Bolívia não permite a “reeleição permanente” de Morales, mas sim uma única reeleição, coisa não permitida pelas leia atuais do país. Outros artigos da nova Carta Magna que estão sendo rejeitados pela oposição determinam, entre outras coisas, eleições diretas para juízes, a constituição de conselhos populares para administrar os recursos públicos nas cidades e a ampliação da autonomia das áreas indígenas. Como se vê, são absurdos que só poderiam ter saído da cabeça de um índio insolente.
George Bush imagina atacar o Irã à custa de sacrifícios sem tamanho e sem medida em termos de vidas humanas. A denúncia é do professor Michel Salla, especialista em assuntos militares, geopolíticos e está disponível no site http://www.voltairenet.org/article153012.html.
Os sacrifícios a que me refiro são de soldados norte-americanos. Nem falo em iranianos. A Quinta Frota dos EUA seria afundada num ataque contra o Irã, na análise do professor Salla. O porta aviões Enterprise que faz parte da frota está, como toda ela, estacionado na região do Golfo Pérsico.
O sacrifício da frota norte-americana serviria de justificativa para uma retaliação com armas nucleares. Para afundar a Quinta Frota o Irão dispõe de mísseis terra/mar, de alto poder de precisão e colocados em regiões estratégicas no seu território, mas nenhum deles com ogivas nucleares.
O plano de Bush está desencadeando uma reação entre militares do seu país, alguns dos quais acham que o presidente perdeu completamente o controle e está inteiramente sob domínio dos fabricantes de armas e da indústria petrolífera. No caso de uma vitória do presidente Chávez no referendo de domingo, Bush teria mais um argumento para seu ato de insanidade.
O almirante William Fallon já anunciou que se for dada a ordem de ataque ao Irã apresentará sua demissão e não cumprirá a tarefa. Os ataques aéreos e bombardeios a partir das bases norte-americanas na região só não aconteceram ainda por resistência de militares da marinha e do exército.
Consideram o plano de Bush uma temeridade, pior ainda, uma loucura rematada. Bush quer bombardear e ocupar o Irã forçando a mudança de regime antes do término do seu governo, ano que vem.
Toda a estratégia do presidente foi montada a partir de conselheiros como o vice-presidente Dick Chaney e o ex-secretário de Defesa Donald Rumsfeld, ambos ligados a grupos empresariais do petróleo e da indústria de armas.
Pelo menos, num primeiro calculo, cerca de 10 mil soldados dos EUA seriam mortos e a intenção de Bush é usá-los como fator de indignação do povo norte-americano e assim justificar o ataque e o uso de armas nucleares.
Três "plataformas", na concepção de Bush, seriam utilizadas para atacar Irã. A primeira, tal e qual fizeram no Iraque, alertar para o "perigo" de armas nucleares naquele país e uma terceira guerra mundial. A segunda usar a opinião pública mundial temerosa de um conflito atômico e a terceira, o ataque militar propriamente dito com armas nucleares já que as armas convencionais, mesmo as chamadas bombas de profundidade não alcançam as instalações subterrâneas do Irã, onde são feitas as pesquisas nucleares.
O grosso do Estado Maior inter forças (junta as três forças aeronáutica, exército e marinha) se mostra contrário e considera o projeto um ato de loucura para defender interesses de grupos privados que controlam o governo Bush. Uma série de outros aspectos é abordada no trabalho do professor Salla. Ali está descrito o poder militar do Irã para defender-se, o alto custo em vidas humanas de ambos os lados, mas pela primeira vez aparece publicamente a decisão de Bush de não se preocupar com vidas de norte-americanos em função dos objetivos de seu grupo.
E pela primeira vez se afirma também publicamente que ordens para bombardeios aéreos contra o Irã já foram dadas pela Casa Branca, e a Força Aérea recusou-se a cumpri-las.
Quando o plano começou a ser formulado um abaixo assinado de generais dos EUA foi encaminhado ao presidente pedindo o afastamento de Rumsfeld do cargo de Secretária de Defesa. Todas as simulações usadas para uma eventual guerra entre Irã e Estados Unidos mostram o sacrifício da Quinta Frota. Jogos semelhantes aos jogos de guerra para computadores, com alta tecnologia e usados pelos militares dos Estados Unidos mostraram essa realidade.
Salla fala ainda na reação de potências como a Rússia e China que, certamente, não aceitariam o delírio do presidente George Bush.
Nunca é demais lembrar que ao final da IIª Grande Guerra, quando o Japão já estava batido e sem condições de resistir, os norte-americanos lançaram duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagazaki, respectivamente, com características de testes, à medida que lhes foi possível avaliar o efeito devastador dessas armas. E aprimorar esse poder de destruição, do qual querem o monopólio.
País nenhum ousou tanto em termos de violência e barbárie.
Breve nas telinhas, se Bush conseguir impor seus planos, o governo iraniano sendo vendido como terrorista, como responsável pelo risco de destruição do mundo, das liberdades, da vida, enquanto os "bravos" soldados dos EUA vão lá e libertam o mundo desse pesadelo. O pesadelo é Bush.
O pesadelo é o governo dos EUA. O terror começa em Washington e é de lá que sai a boçalidade que permeia os dias atuais.
Coma sanduíche do McDonalds, beba coca-cola, contrate um personal trainer, trabalhe dentro das linhas demarcadas pelos donos e espere o futuro cheio de glórias e mais de seis mil suicídios de veteranos de guerra como revelados por organizações em favor da vida e da paz.
Esse tipo de ação eliminaria toda e qualquer chance de diálogo com os Estados Unidos, em qualquer campo e iniciaria uma guerra sem tréguas, aí sim, em todo o mundo, contra o terrorismo nazista dos EUA.
Iria estender-se à América Latina onde controlam quase toda a América Central (exceto Cuba e Nicarágua) e a países como a Colômbia na América do Sul, de onde partem tentativas de golpe contra Chávez, Evo Morales, tudo no mesmo esquema de imputar-lhes acusações que na verdade encobrem o terrorismo de Estado dos norte-americanos.
É lícito o direito do Irã, pois é ato de defesa de sua independência e soberania, buscar o desenvolvimento de armas nucleares. Enquanto existirem países com esse tipo de arma qualquer tratado será hipocrisia. É como você entregar sua vida a um maníaco armado trancado dentro de um quarto e achar que vai sair vivo.
O Brasil deveria fazer o mesmo, por mais insano que possa parecer. Na verdade a insanidade está em Washington .
Laerte Braga é jornalista e analista político, trabalhou no jornal Estado de Minas e no Diário Mercantil.
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Orquestra Sinfônica e Coro Madrigale
A Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e o Coro Madrigale, um dos melhores do Estado, interpretam a obra O Messias, de Haendel.19 e 20 de dezembro. Quarta e quinta-feira, às 20h30.Grande Teatro. Palácio das Artes, Belo Horizonte

Direito à memória e à verdade: a ditadura no Brasil (1964-1985)
A exposição apresenta registros fotográficos do período da Ditadura Militar, um dos mais turbulentos da história do Brasil.Até 21 de dezembro. Terça a sábado, de 9h30 às 21h e domingo de 16h às 21h.Galeria Genesco Murta. Palácio das Artes, Belo Horizonte


LIVROS E REVISTAS

1.A Revista Cult completa 10 anos. Em seu numero de dezembro, traz um dossiê sobre Estética e uma entrevista com o filósofo Gilles Lipovestky, que fala sobre o bom o mau uso da indústria do luxo e avisa: “As marcas se tornaram o sentido da vida das pessoas”.

2.


Nas bancas a revista Historia Viva de dezembro. Traz um dossiê sobre O Natal através dos tempos. Artigos principais: Biografia de Pagu – Os reis africanos que ditaram as regras do tráfico negreiro – Um trono para dois faraós -


3.

SITES E BLOGUES

1.A professora Conceição Oliveira me recomenda um novo blog criado por ela e que é voltado tão somente para os interesses do professor, um espaço pensado para dar voz e vez à categoria http://www.falemprofessores.blogspot.com/

2. No site da revista Escola:

Existe preconceito na escola
Segundo consulta étnico-racial realizada em Salvador, Belo Horizonte e São Paulo, profissionais da Educação e alunos reconhem o racismo na escola. Já as mães das crianças não identificam o problema.
http://revistaescola.abril.com.br/online/reportagem/repsemanal_262731.shtml

3. O site da Revista de Historia da Biblioteca Nacional reuniu um dossiê com muitos artigos a respeito da mudança da Família Real para o Brasil em 1808.
Vale a pena dar uma olhada, afinal, ano que vem comemoraremos 200 anos...

http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1273