Boletim Mineiro de História

Boletim atualizado todas as quartas-feiras, objetiva trazer temas para discussão, informar sobre concursos, publicações de livros e revistas. Aceita-se contribuições, desde que versem sobre temas históricos. É um espaço plural, aberto a todas as opiniões desde que não contenham discriminações, racismo ou incitamentos ilegais. Os artigos assinados são de responsabilidade única de seus autores e não refletem o pensamento do autor do Boletim.

17.3.09

Número 180



O Boletim de hoje traz dois artigos que considero extremamente relevantes. O primeiro aborda a questão da laicidade. Sabemos que desde o século XVIII se fala na separação entre Igreja e Estado, mas continuamos ainda vivendo sob grande influência das diversas religiões existentes. Desde feriados de cunho religioso (mas que ninguém reclama, afinal, feriado é feriado...)até interferências políticas, claras algumas, outras nem tanto, podemos notar como essa influência é marcante. O professor Luis Carlos Lopes discute o tema com profundidade.
O segundo artigo é do jornalista Altamiro Borges, o Miro, que reforça nosso entendimento de que a crise ainda não se manifestou de forma plena. E, lamentavelmente, ainda devemos passar por muitos momentos de aperto nos próximos anos.
Temos, ainda, uma colaboração, em que o tema é uma proposta de um Plano decenal de Educação em Minas Gerais. Mal chegou ao conhecimento dos interessados, já despertou uma onda de criticas e oposição.
No Vale a pena ler, a Revista de Historia da Biblioteca Nacional e o terceiro fascículo do livro Segunda guerra Mundial: campanhas dia a dia.
Em Navegar é preciso, várias indicações de sites interessantes, para se ler com calma.
As notícias são poucas, mas boas: A programação anual do Movimento de Preservação Ferroviaria – Um curso de pós-graduação na área de MBE em Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e Mercados Emergentes – Nova direção e novos projetos no Arquivo Público Mineiro.
Bom proveito!


Laicidade e poder

A liberdade religiosa não deveria ser confundida com a difusão, por exemplo, pela televisão (uma concessão pública) de charlatanismos que misturam religião à medicina e outras irracionalidades. Não se pode aceitar que, em nome de uma religião, não se ensine a teoria da evolução.
Luís Carlos Lopes (da Agência Carta Maior)

A idéia de um Estado laico, completamente separado da Igreja, é um dos tributos quiméricos da Revolução Francesa de 1789. Os mesmos princípios foram usados e adaptados em inúmeros contextos históricos dos últimos dois séculos, resultando em situações muitas vezes paradoxais. O ato de separar as atividades de governo das de natureza religiosa sempre esbarrou no fato de que as crenças organizadas e institucionalizadas consistem em estruturas de poder que serão levadas, inexoravelmente, a disputar espaço com as demais, buscando algum tipo de influência, mesmo quando a hegemonia não é mais possível. O latifúndio espiritual da sociedade foi e continua sendo disputado pelas ideologias laicas e sacras, que agem no mesmo território da formação e desenvolvimento das consciências. Encontrar um equilíbrio nesta matéria consiste em um desafio.


No Brasil colonial (1532-1822) e no Império (1822-1889), seguiu-se o modelo confessional. Estado e Igreja se fundiram em uma quase única unidade. O poder político e administrativo era compartilhado por ambos. O catolicismo era a religião oficial de Estado e obrigatória para todos, ou quase. Houve os que podiam ser mais católicos do que os outros. As relações entre a Igreja e os escravos foram problemáticas e inspiradas na ordem social hegemônica do país. Houve, no período colonial, problemas com os setores da Igreja – os jesuítas – que ousaram discordar da política escravista em relação aos índios. Isto foi resolvido com a intervenção direta e violenta dos colonos escravistas do Brasil, de Roma e do governo absolutista de Portugal (Pombal). No Segundo Império, a chamada questão religiosa indicou que o estatuto confessional do Estado brasileiro já dava sinais de esgotamento.

Grande parte das culturas brasileiras foi organizada pela Igreja, que dominou por séculos o modo de pensar e de agir do país. Em nome do catolicismo, organizou-se a escravidão dos índios e dos africanos chegados aqui por meio do tráfico. O poder político e social usou e abusou dos signos da cristandade durante muito tempo. Eles foram mesclados a um terrível sistema de exploração do homem pelo homem. Jamais por aqui o catolicismo romano foi combatido tenazmente e colocado na ilegalidade. Ao contrário, a Igreja soube se adaptar muito bem aos novos tempos e às necessidades políticas locais e internacionais. De alguma forma, as idéias trazidas pelo catolicismo continuam a sedimentar a opinião comum hegemônica do Brasil.

Veio a República (1889) e instaurou-se a separação entre Estado e Igreja, retirando-se desta, funções típicas de governo, tais como o registro civil (nascimentos, óbitos e casamentos) e impedindo-se a influência clerical nos negócios de governo, bem como a influência do Estado nos negócios religiosos. Começou a vigorar o Estado laico formal, não sem inúmeras contradições e omissões. Pouco a pouco, a Igreja foi se reaproximando dos governos, fazendo alianças e participando na ordem política e social do país. Até anos depois da Segunda Guerra, as demais religiões organizadas e em funcionamento no Brasil tinham importância reduzida ou eram muito combatidas (principalmente as de origem africana – Candomblé –, mesmo as mais sincréticas, como a Umbanda).

A laicidade brasileira foi e continua sendo, do ponto de vista social, relativa até porque as classes mais ricas sempre gostaram da ostentação católica demonstrada, por exemplo, no domínio das cerimônias de casamento, de batismo e no controle de grande parte dos cemitérios. Nas classes pobres, a pregação sistemática dos padres e a existência de uma estrutura física e humana impressionante mantiveram, até bem recentemente, a hegemonia católica inconteste.

Do ponto de vista político, as relações entre Estado e Igreja oscilaram ao longo do século XX. Durante a era Vargas (1930-1964), os interesses da segunda se coadunaram com o primeiro, com poucos conflitos, prevalecendo a colaboração e o entendimento. O formalismo da laicidade brasileira chegou ao seu apogeu. A Igreja pôde participar do pacto político nacional, defendendo os seus interesses específicos, bem como sua postura ideológica internacional.

Tudo isto resultou em uma laicidade nominal, onde, até a década de 1960, era necessário se declarar em inúmeras situações a religião em que se acreditava. Na verdade, a resposta a ser dada só podia ser uma. Quase todos se diziam católicos, mesmo que não o fossem. Não era aceitável, mesmo na burocracia de Estado, se afirmar o pertencimento à outra religião ou, simplesmente, a condição de ateu ou de agnóstico.

O poder político central se aliava com o clero para ter votos e apoios de diversos setores da vida social. Durante décadas republicanas, bispos e cardeais palpitaram na vida política e foram considerados aliados ao poder de plantão. Participaram na campanha anticomunista internacional do pós-guerra e na pregação sistemática da defesa da ordem, da família tradicional e da sacrossanta propriedade. Durante muito tempo, os padres eram os guardiões do pensamento conservador e da idéia de que o mundo não podia mudar, mesmo que seus problemas incomodassem e fossem por demais evidentes. Guardavam a moral, os costumes e o ponto de vista conservador.

A tradição internacional da Igreja de Roma foi, sem nuances e até a ruptura do Concílio do Vaticano II (1962), a de estar do lado dos ricos e poderosos daqui e de toda parte. São bem conhecidas as antigas e profundas relações entre o Vaticano e o nazifascismo. No Brasil, as autoridades religiosas apoiaram o elitismo reacionário da república cafeeira, a ditadura Vargas e inúmeros governos de direita do século XX. O clero daqui seguia os ditames papais e os derivados da ordem política internacional. Os religiosos que não os aceitavam, só tinham como alternativa emudecer ou deixar a Igreja.

Houve os que encontravam outras visões nos livros sagrados. Estes viam no amor cristão, com origem na filosofia de Platão, algo diverso e próximo da humanidade e longe do que se ruminava em Roma. Estas idéias foram fermentando, acompanhadas pelo fervor político das décadas de 1950 e 1960. Algo pairava no ar. Eram necessárias novas respostas e se tornava imperioso acreditar em uma nova utopia. Leigos e clérigos trouxeram os evangelhos para a Terra e o praticaram na luta por mudanças. Pela primeira vez, muitos crentes e não-crentes tinham objetivos comuns em andamento. Sem sombra de dúvida, um grupo influenciou o outro, mesmo acreditando que eram completamente diferentes. Na verdade, todos pertenciam à mesma cultura derivada da colonização.

Quando veio o Golpe Militar de 1964, a Igreja dividiu-se em duas alas: uma crítica e militante contra o novo governo, tendo alguns dos seus membros levado isto às últimas conseqüências; outra conservadora e aliada do poder. O primeiro grupo, minoritário, que depois veio a se chamar Teologia da Libertação, fez a opção pelos pobres, retomando e se baseando em uma leitura revolucionária que misturava Marx aos evangelhos e se aplicava aos imensos problemas sociopolíticos brasileiros. O segundo, majoritário e estático, fez o jogo do poder, colaborando com as ignomínias dos governos militares. Este processo se repetiu em toda a América Latina.

Tudo isto foi possível porque Roma aceitou, pelo menos parcialmente e em tese, os argumentos dos novos teólogos e protegeu tacitamente seus filhos que ousaram enfrentar o demônio do poder. É bem verdade, que jamais as estruturas reais e profundas do poder da Igreja foram entregues integralmente aos partidários das novas idéias religiosas. Os tradicionalistas puderam continuar a fazer seu trabalho que, em muitos casos, era principalmente o de colaborar com o regime e ajudar na repressão, inclusive a dos religiosos dissidentes. Ao mesmo tempo, como nos casos de Helder Câmara e Evaristo Arns e bem ilustram, foi permitido que a púrpura cardinalícia fosse usada contra os que queriam o silêncio complacente da Igreja, antes conhecido e considerado dentro da normalidade.

Os setores progressistas da Igreja católica e de outras igrejas não aceitaram a tortura e a repressão sistemática como forma de governar e de existir do Brasil e dos demais países latino-americanos. Não concordaram com a forte pressão para aceitar-se o nacionalismo autoritário paradoxal e entreguista daqueles dias. Fizeram o que podiam para deter o processo e colaborar com sua superação. Transformaram-se em uma âncora de esperança em um continente que sangrava e pedia por liberdade.

Ao mesmo tempo, no mundo urbano, a sociedade brasileira se modernizava e deixava de acreditar nas verdades das gerações anteriores. A partir dos anos sessenta, a santidade do casamento e a interdição do sexo antes das núpcias passaram, pouco a pouco, a serem coisas do passado, bem como a visão tradicionalista em relação à contracepção e à liberdade de escolha dos parceiros. Pouco a pouco, alguns mitos católicos foram sendo derrubados em nome das profundas alterações das relações sociais, como um resultado do próprio desenvolvimento do capitalismo. A revolução sexual de 1968 encontrou-se com um mundo diverso, urbano e aberto às novas experiências. O adultério, em um exemplo, perdia seu caráter pecaminoso, sendo integrado às possibilidades vivenciais dos casais em situações difíceis.

Aceitava-se nas consciências o que já existia na prática real da vida. As mudanças citadas não alcançaram a todos e não abrangeram o conjunto dos problemas. Foram mais fortes entre as classes médias e ricas. Em muitas situações e, principalmente, entre os mais pobres, a tradição continuou forte, pelo menos no plano das crenças. O latifúndio espiritual continuou a ser hegemonizado por idéias do passado. Houve abalos e mudanças de orientação, mais derivadas de novos problemas sócio-econômicos do que de uma inflexão da cultura religiosa.

Nas últimas décadas, o mesmo latifúndio se tornou mais complexo com o imenso desenvolvimento alcançado pelas igrejas evangélicas que, no mundo urbano, tomaram grande parte do lugar da antiga Igreja. O materialismo pragmático das mesmas, que alia a fé ao sucesso e ao consumo, pôde preencher espaços deixados pela rigidez católica. A resposta da velha Igreja vem sendo o movimento carismático que, grosso modo, copia algumas das técnicas e do estilo do movimento pentecostal.

O movimento conhecido como Teologia da Libertação perdeu fôlego progressivamente devido a forte pressão desarticuladora de Roma, bem como o refluxo dos movimentos sociais urbanos das últimas duas décadas. O fim das ditaduras, o eclipse do socialismo realmente existente, a vitória da penetração do consumismo e de perspectivas individualistas das classes médias aos mais pobres, a derrota das experiências revolucionárias latino-americanas, com exceção de Cuba, dentre outros, ajudam explicar a montagem conservadora das novas ondas religiosas.

Neste contexto, o problema da laicidade se coloca como importante e bastante grave. As forças sociais progressistas devem pressionar o Estado para que mantenha seu compromisso laico, de não aceitar, em nenhuma instância, qualquer interferência nas questões públicas. Não se pode aceitar que, em nome de uma religião, não se ensine a teoria da evolução. O mesmo se aplica ao que se refere à história do Brasil que deve ser vista de modo crítico e com todas suas mazelas. Não se pode permitir que se impeça a difusão de modos de pensar racionais e libertos de uma ossatura eivada de preconceitos religiosos. A liberdade religiosa não deveria ser confundida com a difusão, por exemplo, pela televisão (uma concessão pública) de charlatanismos que misturam religião à medicina e outras irracionalidades.

Esta liberdade é um direito de cada pessoa de acreditar no que quiser e de cada religião poder expor o que pensa livremente, sem constranger a outrem. Sabe-se, todavia, que as religiões não saem do ar. São ensinadas e aprendidas em contextos sociais muitos específicos, que podem incluir, por exemplo, inexistência de acesso ao ensino ou precariedade do mesmo. As crenças preenchem vazios políticos e culturais que, não raro, reduzem o saber a meia dúzia de informações e a respostas manipuladoras. Acredita-se sem duvidar, porque não se foi exposto a outras formas de pensar. Portanto, a verdadeira liberdade religiosa existe, se é possível acessar ao saber e se fazer escolhas. Se isto não é possível, o que há é a escravidão ideológica, a dominação da mente por forças capazes de manipular.

O verdadeiro sentido da laicidade seria o de proteger também qualquer religião, desde que ela não se intrometa e queira impor suas concepções conservadoras para além dos seus templos, usando para isto técnicas manipuladoras. Estas, baseadas na publicidade comercial e na propaganda política, servem, apenas, para iludir. Do ponto de vista laico, os serviços estatais e suas concessões não deveriam deixar ser penetrados e, por vezes, controlados por religião A ou B. Quem opta por não ter ou praticar qualquer rito religioso deve ser igualmente protegido, em nome da mesma liberdade de pensamento de quem acredita em seus deuses e santos. Juízes, parlamentares, médicos, professores e outros funcionários públicos podem ter a religião que quiserem, só não deveriam usar de seus cargos para tentar favorecer os partidários de suas crenças. Caso contrário, a laicidade é uma burla.

Outro sentido correlato da laicidade é o de esperar que as religiões não sejam instrumentos políticos das elites e dos interessados na manutenção da ignorância. Deveriam observar as necessidades de seus crentes e não manipulá-los. As religiões deveriam participar no debate político para além dos domínios estritos de seus templos, isto porque o mundo não termina nas paredes de suas instituições. Não se deseja uma laicidade usada para inibir ou reprimir qualquer sentimento religioso. Ao contrário, a laicidade desejada é a que convida a todos - leigos e crédulos - a refletir sobre suas vidas e suas crenças.
Luís Carlos Lopes é professor
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Guilherme Souto, fã do blog do Rudá Ricci, envia mais uma matéria de lá:


Plano Decenal da Educação Mineira

Ontem foi aberto o período de debates públicos a respeito do Plano Decenal da Educação Mineira. Duas mesas debateram vários aspectos do plano enviado pelo governo Aécio à Assembléia Legislativa. Estive presente na primeira mesa. O governo cometeu vários erros, que reputo à falta de experiência com debates públicos, em especial, na área de educação. O mais grosseiro foi colocar o secretário adjunto da educação sozinho, nas duas mesas (cada mesa teve 8 expositores, o que totalizou algo ao redor de 2 horas de falas iniciais). O resultado já era esperado desde o início: o secretário adjunto perdeu o auto-controle. E revelou a face intolerante do governo estadual.
O Plano Decenal do governo sofreu duras críticas, do começo ao fim (veja site da Assembléia Legislativa: www.almg.gov.br ). Vários de nós, na primeira mesa, apontamos que o plano não possui estratégia e unificação e amontoa metas genéricas, não factíveis. O pior: voltamos à financeirização das metas (o foco é o orçamento e não a melhoria da educação) e não se adota indicador de impacto, mas apenas esforço (ou seja, foco nas atividades de governo e não na mudança real que este esforço causa). Não tenho dúvidas que a equipe que montou a proposta da secretaria de educação não soube elaborar o plano. Não teve competência técnica para produzi-lo.
O fato é que o governo Aécio se tornou uma ilha durante anos. Criou uma blindagem que já foi noticiada pela grande imprensa. O problema é que desaprendeu a ouvir críticas, a pensar sobre elas. Como todo raciocínio autoritário, considera toda crítica uma provocação partidária. Um raciocínio simplista: amigos ou inimigos.
Não por outro motivo, o IDEB indica que Minas Gerais parou desde 2005, na educação, enquanto todos os outros Estados que mantém a liderança em relação a este indicador revelaram melhorias significativas. Mas a propaganda desesperada da Secretaria de Educação procura encobrir tais dados. Acredito que os 8 fóruns que ocorrerão no interior de MG para discutir o Plano Decenal (de março a final de abril) elucidarão a real face do que reputo ser a pior gestão educacional de Minas Gerais dos últimos dez anos.




Para quebrar a aridez, nada como esta belíssima foto tirada pela minha amiga Cinthia Serva, nas ruínas de Macchu Picchu.


3. do blog do Miro


A crise mundial está só no começo


Os últimos dados econômicos indicam que a crise capitalista será mais destrutiva do que muitos imaginavam. Ela está mais para tsunami do que para “marolinha”. Não dá ainda para prever sua dimensão ou duração, mas ninguém mais duvida dos enormes estragos que causará e muitos se recordam do desastre do crash de 1929, que só atingiu o seu pico quatro anos depois – em 1933. Os países capitalistas centrais estão derretendo. A economia dos EUA, apesar do socorro dos cofres públicos, não dá qualquer sinal de recuperação. Como descreve uma excelente reportagem do jornal Avante, do Partido Comunista Português, o cenário é dramático, desesperador.


“Com a economia e o desemprego a baterem todos os recordes negativos, os trabalhadores dos EUA enfrentam a fome e a degradação das condições de vida. Somente em fevereiro, segundo dados oficiais, registrou-se a perda de cerca de 700 mil empregos, cifra idêntica às apuradas em dezembro de 2008 e janeiro deste ano. Estes números elevam a taxa de desemprego para 8,1%, a mais alta dos últimos 25 anos... Desde dezembro de 2007, a economia norte-americana já perdeu quase 4,5 milhões de empregos, a maior perda desde a II Guerra”. O jornal cita a queda de 6,2% do PIB no último trimestre de 2008, a retração de 21,1% nos investimentos privados, a redução de 23,6% nas exportações e o abrupto aumento dos dependentes de cupons alimentares, já usados por 31 milhões de pessoas que passam fome e privações – um em cada dez estadunidenses.


O descolamento dos “emergentes”


As potências capitalistas da Europa vivem um quadro semelhante. O Financial Times divulgou nesta semana dados sobre a indústria no Reino Unido, França e Suécia, que comprovam a brutal retração econômica. Tecnicamente, a Europa já está em recessão. O PIB recuou 1,5% no último trimestre do ano passado, marcando o pior período desde a criação da zona do euro, em 1999. A recessão impulsiona o Banco Central Europeu (BCE) a cortar novamente a taxa básica de juros – que já se encontra no seu nível histórico mais baixo, de 2% - e aumenta a pressão pela estatização integral do sistema financeiro, que está totalmente apodrecido e contagia o restante da economia.


Mesmo nos chamados países emergentes, o cenário é preocupante e questiona a complicada tese sobre o “descolamento”. Na China, com uma economia altamente dependente das exportações, as vendas externas tiveram em fevereiro a maior retração desde 1998, com queda de 25,7% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Foi o quarto recuo consecutivo das exportações chinesas. No Brasil, a forte retração de 3,6% no PIB no último trimestre de 2008 ascendeu a luz vermelha e forçou o Banco Central a recuar na sua política criminosa de juros estratosféricos. A produção industrial tem encolhido e o desemprego se torna rapidamente uma dura realidade.


Limites imanentes do capitalismo


Estes dados, entre outros, parecem confirmar as previsões mais pessimistas sobre a gravidade da crise. Em recente palestra em Buenos Aires, o intelectual francês François Chesnais afirmou que a economia capitalista vive “uma verdadeira ruptura, num processo de crise com características comparáveis à crise de 1929, ainda que se desenvolva num contexto diferente. É preciso recordar que aquela crise se desenvolveu como processo: começou em 1929, mas seu ponto culminante se deu depois, em 1933, e abriu caminho para uma longa fase de recessão. Digo isto para sublinhar que vivemos as primeiríssimas etapas de um processo de amplitude e temporalidade. Estamos diante de um desses momentos em que a crise exprime os limites históricos do capitalismo”.


Citando uma passagem do livro O Capital, de Karl Marx, ele lembra que “o verdadeiro limite da produção capitalista é o próprio capital... O meio empregado – desenvolvimento incondicional das forças produtivas – choca-se constantemente com o fim perseguido, que é um fim limitado: a valorização do capital existente. Por conseguinte, se o regime capitalista de produção constitui um meio histórico para desenvolver a capacidade produtiva material e criar o mercado mundial correspondente, envolve ao mesmo tempo uma contradição constante entre essa missão histórica e as condições sociais de produção próprias deste regime”.


“Uma catástrofe para a humanidade”


Sem cair numa visão fatalista, Chesnais prevê que o sistema terá dificuldades para superar a crise e retorna a Marx com outra brilhante citação: “A produção capitalista aspira constantemente a superar os limites imanentes a ela, mas só pode superá-los recorrendo a meios que voltam a levantar diante dela os mesmos limites, e ainda com mais força”. A ofensiva neoliberal, com a desregulação financeira e o desmonte do keynesianismo, foi a resposta do capital à crise capitalista já presente nos anos 70. Mas ela não superou os limites imanentes do sistema e, ainda, agravou-os. “Um dos métodos escolhidos pelo capital para superar seus limites se tornou fonte de novas tensões, conflitos e contradições”.


Os outros dois meios usados pelo capital para enfrentar sua crise foram: a criação descontrolada de capital fictício e a ampliação do mercado mundial, com a incorporação da China. O primeiro já teria sucumbido. “Toda a etapa de liberalização e de globalização financeira dos anos 80/90 foi baseada na acumulação de capital fictício, sobretudo em mãos dos fundos de investimento e de pensão”. Este mecanismo entrou em colapso nos EUA. “Agora, eles estão desmontando este processo. Mas dentro dessa desmontagem, há processos de concentração do capital financeiro... Há uma fuga para frente que não resolve nada [...] e isso é um fator de perturbação ainda maior”.


Quanto à China, ele não arrisca a prever sua capacidade de resistência. Mas, numa abordagem polêmica, avalia que ela não se manterá imune. “A China é realmente um lugar decisivo, porque até as pequenas variações na sua economia determinam a conjuntura de muitos outros países do mundo”. Com base nesta análise, Chesnais prevê que a crise mundial será mais grave do que se previa há alguns meses. Diante das críticas ao seu “catastrofismo”, enfatiza: “Na realidade, creio que estamos diante do risco de uma catástrofe, mas não do capitalismo e sim da humanidade”.


A “tempestade global” e o Brasil


No mesmo rumo, a economista Maria Conceição Tavares também teme que a crise só esteja no início. “Estamos diante de uma tempestade global. Não é apenas a violência que assusta; é o fato de que sua origem financeira torna tudo absolutamente opaco no horizonte da economia mundial. Mente quem disser que sabe o que virá e quanto tempo vai durar. Minha percepção é que será uma guerra de resistência”. Para ela, a atual crise “é dramaticamente mais séria que a de 29. Ela ainda não alcançou a proporção daquela, mas o núcleo financeiro dos EUA está carcomido. Os maiores bancos praticamente agonizam. Baixas dessa magnitude não ocorreram nem em 29”.


Quanto ao Brasil, motivo maior de preocupação da brasileiríssima Conceição Tavares, ela se diz preocupada, mas sempre otimista. “O Brasil tem condições de segurar o manche e agüentar... A luta será dura. Mas, pela primeira vez na história, o país enfrenta uma crise mundial sem ter que carregar o setor público nas costas. E isso é inédito. Nesta crise, o Estado não está afundado em dívida externa, para não dizer totalmente quebrado, como ocorreu nos anos 90. Significa mais do que não ter um peso morto. Significa um Estado em condições de amparar o investimento, o emprego e o capital de giro da economia... Basta ter determinação política”. A questão é: será que o governo Lula está disposto a enfrentar a tempestade com ousadia e determinação política?


VALE A PENA LER


1. Revista de Historia da Biblioteca Nacional, n.42

Dossiê: Corrupção
Artigos: As lagostas da discórdia – Soldados de pé descalço – Escravos e pobres: dieta de fome – Museu Castro Maya: arte em 360º - Brizola: nasce um líder das esquerdas – Azulejos-piloto em Brasilia .
Entrevista: Sula Mavrudis fala sobre os circos.




2. Nas bancas o terceiro e ultimo numero do livro II Guerra Mundial – Campanhas dia a dia.
Este volume tem como temática a Guerra no Pacífico, de 1942 a 1945.
Pearl Harbor – Midway – Guadalcanal – Ilhas Salomão – Ilhas Marianas – Iwo Jima – Okinawa: o fim de um império.



NAVEGAR É PRECISO...


1. Site da Revista Ciência Hoje
As primeiras eleitoras do Brasil Pioneiras no exercício do direito de voto surgiram bem antes da Constituição de 1934, conta colunista - http://cienciahoje.uol.com.br/140323


2. Site da Agência Carta Maior
Os 45 anos do comício da Central do Brasil


Ao se aproximar os 45 anos do 1º de abril de 1964 e diante de tentativas recentes de revisar a história da ditadura e reconstruir o seu significado através, inclusive, da criação de um vocabulário novo, é necessário relembrar o papel - para alguns, decisivo - que a grande mídia desempenhou na preparação e sustentação do golpe militar. A análise é de Venício A. de Lima. > LEIA MAIS
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3. Há algum tempo venho trabalhando (José Silva Sambursky) na elaboração do site em português do Museu Norte-Americano Memorial do Holocausto, e tenho a enorme alegria de informar que hoje ele foi colocado no ar. Para acessá-lo, basta ir à página do Museu http://www.ushmm.org/ (o menu à esquerda mostra a lista de idiomas, basta clicar em cima do Português - ou, com acesso direto, à página http://www.ushmm.org/museum/exhibit/focus/portuguese/

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4. Site do jornal Brasil de Fatohttp://www.brasildefato.com.br/
El Salvador
Vitória de Funes rompe com 20 anos de conservadorismo
Depois de conhecer-se a vitória de Funes, do FMLN, o povo salvadorenho se reuniu nas ruas e avenidas das principais cidades e províncias de El Salvador
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Livro traz dois Paraguais e exclui Equador nas escolas de SP


NOTICIAS

1. Acervo mineiro
Sob nova gestão, o Arquivo Público de Minas Gerais prepara-se para aumentar seu acervo digitalizado. Em breve, teses médicas do século XIX poderão ser acessadas no site da instituição.
Adriano Belisário
O Arquivo Público Mineiro começa março sob nova direção. Guiado desde 2005 por Renato Venâncio, a instituição abriu as portas para a historiadora Maria Efigênia Lage no último dia 2. Porém, a mudança não afetará a continuidade de projetos como o Sistema Integrado do Arquivo Público Mineiro (SIA-APM). Atualmente, o site abriga milhares de documentos, entre textos, imagens e vídeos
Durante a gestão de Venâncio, com o apoio da Secretaria do Estado de Cultura, o Arquivo retomou a feitura de sua Revista. Criada em 1896, ela é a mais antiga publicação científica de Minas Gerais ainda em circulação. Suas edições podem ser acessadas através do site, que conta ainda com outros nove módulos.
Dentre eles, destacam-se cerca de 80 mil manuscritos da Capitania do estado durante o século XVIII e XIX, diversos jornais e centenas de imagens da época do Império e os Autos da Devassa da Inconfidência Mineira.Até o final de março, será disponibilizado ao público um novo módulo: “Theses Médicas”. Nas suas mais de 20 mil páginas, estão 251 teses sobre Medicina defendidas no século XIX por mineiros no Rio de Janeiro, Bahia ou França, já que na época não existiam faculdades do ramo em Minas. O acervo foi digitalizado e organizado com a ajuda da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).Antes dispersos, os diversos banco de dados foram reunidos em um único sistema graças à cooperação de pesquisadores da UFMG e o financiamento da FAPEMIG e do CNPq. “O custo da disponibilização on-line de grandes massas documentais é elevado e isso não decorre simplesmente do trabalho da digitalização. De nada vale digitalizar sem poder recuperar a informação. Como se trata de documentação de centenas de anos, não é possível indexar eletronicamente esse material. O projeto implica em descrever a documentação e fazer a junção entre imagem e descrição de forma manual. Isso exige um batalhão de estagiários, coordenadores, entre outros”, comenta o antigo superintendente da instituição.Porém, o trabalho foi reconhecido. Em um ano de funcionamento, o SIA-APM recebeu cerca de 120 mil acessos, número bastante superior aos 5 mil visitantes presenciais do Arquivo. A maior parte dos internautas busca informações no módulo sobre imigrantes, que conta com registros de estrangeiros que entraram em Minas entre 1887 e 1902. “Essa documentação, além de possibilitar pesquisas científicas, franqueia ao cidadão solicitar certidão probatória de nacionalidade”, explica Venâncio.

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2. MPF – MOVIMENTO DE PRESERVAÇÃO FERROVIÁRIA
CALENDÁRIO PRELIMINAR DE EVENTOS - 2 0 0 9 –
17 DE ABRIL
Seminário: Rio de Janeiro de Volta aos Trilhos
Local: Auditório Barão de Mauá / Estação Leopoldina – Rio de Janeiro – RJ
Parceria: ABOTTC, GFPF, SESEF / Ponto de Cultura Barão de Mauá
15 DE MAIO
Seminário: Preservação da Cultura Ferroviária
Local: Auditório Barão de Mauá / Estação Leopoldina – Rio de Janeiro – RJ
Parceria: ABOTTC,GFPF, SESEF / Ponto de Cultura Barão de Mauá
30 DE MAIO
Encontro Regional de Preservação Ferroviária
Local: Nova Friburgo – RJ
Parceria: ABOTTC, Fundação Raphael Jaccoud, GFPF, SESEF / Ponto de Cultura B. Mauá
19 E 20 DE JUNHO
TCF/ 2009 – Seminário sobre Turismo Cultural Ferroviário
Local: Espaço Cultural do Trem do Corcovado – Rio de Janeiro – RJ
Parceria: ABOTTC, GFPF, SESEF / Ponto de Cultura Barão de Mauá
18 DE JULHO
Encontro Regional de Preservação Ferroviária
Local: Paulo de Frontin – RJ
Parceria: ABOTTC, GFPF, Prefeitura de P. Frontin, SESEF / Ponto de Cultura B. Mauá
31 DE JULHO E 01 DE AGOSTO
TTC/2009 – Seminário sobre Implantação e Operação de Trens Turísticos e Culturais
Local: Campinas – SP
Parceria: ABPF, ABOTTC, Pref. Campinas / EMDEC, SESEF / Ponto de Cultura B. Mauá
14 DE AGOSTO
Seminário sobre Patrimônio Construído Ferroviário
Local: Auditório Barão de Mauá / Estação Leopoldina – Rio de Janeiro – RJ
Parceria: ABOTTC, GFPF, SESEF / Ponto de Cultura Barão de Mauá
18 E 19 DE SETEMBRO
Memória 2009 – Seminário sobre Museologia, História e Documentação
Local: Sesc Pousada – Juiz de Fora - MG
Parceria: ABOTTC, SESC/MG, Instituto Metodista Granbery, SESEF / Ponto de Cultura Barão de Mauá
16 E 17 DE OUTUBRO
Encontro Regional de Preservação Ferroviária
Local: Paty do Alferes – RJ
Parceria: ABOTTC, AFALA – Assoc. Ferrov. Aposentados da Linha Auxiliar, GFPF, Pref. Municipal de Paty do Alferes, SESEF / Ponto de Cultura Barão de Mauá
OBSERVAÇÕES
- Cada evento será confirmado 60 dias antes de sua data de realização.
- A programação de cada evento será, também, disponibilizada no site do MPF, 60 dias antes
de sua realização: http://www.trembrasil.org.br/
- Para informações e esclarecimentos adicionais:
Tel. (21) 3232-9524 – Cel. (21) 7119-3124
E.mail: victorjferreira@gmail.com
MPF – Movimento de Preservação Ferroviária
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3. Informamos a todos que finalmente disponibilizamos as inscrições para a 1a turma do mais abrangente curso de Pós-Graduação Latu Sensu sobre o mercado de carbono e mudanças climáticas, agora no centro do Rio de Janeiro:
MBE em Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e Mercados Emergentes
Este curso é uma parceria entre a América Latina Sustentável (ALS) e a Universidade Católica de Petrópolis - UCP
A coordenação deste curso será realizada pela consultora Denise de Mattos Gaudard em conjunto com a ALS
Para conhecer o conteúdo programático das disciplinas disponíveis no programa deste curso e outros implementados pela ALS/UCP, visite nosso site: www.alsustentavel.com.br
Duração: 17 meses
- Carga Total/Hrs: 494 Horas
- Data da Aula Magna: 14 de abril de 2009
- Data de inicio curso de MDL: 17/03/2009
- Dias e horários: às 6ª feiras, das 19h às 22h, e sábados, das 8h às 17h
- Local: Rua da Assembléia 77, 3o andar - Centro Rio de Janeiro
- Valor do investimento: taxa de inscrição de R$ 380,00 + 14 de R$ 380,00 Valor Total => R$ 5.700,00
- Tels para contatos e duvidas (ALS): (21) 2621-4587 / (21) 2613-5257 (Luciana) ç
- Email: als@alsustentavel.com.br