Boletim Mineiro de História

Boletim atualizado todas as quartas-feiras, objetiva trazer temas para discussão, informar sobre concursos, publicações de livros e revistas. Aceita-se contribuições, desde que versem sobre temas históricos. É um espaço plural, aberto a todas as opiniões desde que não contenham discriminações, racismo ou incitamentos ilegais. Os artigos assinados são de responsabilidade única de seus autores e não refletem o pensamento do autor do Boletim.

5.2.08

Número 125



EDITORIAL

Neste número temos duas importantes colaborações. Um artigo que está sendo publicado em primeira mão, enviado pelo meu amigo e ex-colega Marcos Lopes. Fomos colegas no UNIBH, depois ele terminou seu mestrado e doutorado e preferiu os ares do sul. Lá tem publicado diversos livros e artigos e atualmente faz parte do Conselho Editorial da revista Leituras da História. O artigo com o qual ele nos brindou está na seção Falando de História.

Na seção Brasil, temos um artigo enviado pelo historiador e editor Jaime Pinsky, em que ele faz interessante indagação a respeito de como estará o Brasil em 2030. Não, ele não virou futurólogo, continua um historiador...leiam!

Usarei hoje, no Editorial, uma matéria que me foi enviada pelo meu ex-aluno Guilherme Souto, leitor assíduo e colaborador constante deste boletim.
Trata-se de um comentário que ele extraiu do blog do Luis Nassif, em que fica claro, mais uma vez, o caráter deletério de publicações da Abril, notadamente a revista Veja. Os veículos da Abril tem-se pautado, no plano político, pelo denuncismo fácil e gratuito, enlameando a vida de muitas pessoas. Agora, também empresas estão na mira deles. Vejam o que Luis Nassif publicou, a respeito de denúncias contra o sistema COC de ensino. Sinto-me à vontade para publicar isso, porque sou contrário a esses materiais didáticos – geralmente anônimos – produzidos pelos sistemas, sejam eles o COC, o Pitágoras, o Objetivo, o Anglo e agora o Ser, que, como se verá na matéria, pertence nada mais nada menos, do que à Abril.

O caso COC
De como o macartismo fica a serviço de disputas comerciais

Não foi a única vez que a Abril se utilizou da metralhadora da Veja para batalhas comerciais. Só que o "prego sobre vinil" era tão evidente que, à primeira leitura, se percebiam as intenções da reportagem.

No dia 13 de junho de 2007, a revista investiu contra o curso apostilado da COC – sistema privado de ensino. A matéria era sobre a mãe de um aluno que denunciava "conteúdo subversivo " no material do COC.

O trecho de maior impacto era uma lição sobre "como conjugar um empresário", efetivamente de baixo nível.
"Como se conjuga um empresário: vendeu, ganhou, lucrou,
lesou, explorou, burlou... convocou, elogiou, bolinou,
estimulou, beijou, convidou... despiu-se...deitou-se, mexeu,
gemeu, fungou, babou, antecipou, frustrou..."
(Pág. 14 da apostila do Pentágono)
Comentário: tolice ideológica que, além de ser sem graça,
predispõe os alunos contra o sistema de produção e geração
de riqueza que é a base da democracia, a economia de mercado.

Quando li a matéria, percebi que o tom não era de uma reportagem convencional. Estava mais no campo das disputas comerciais. Nela, se estimulava os pais de alunos a exigirem o fim do convênio. O "prego sobre vinil" de Sabino era muito evidente para qualquer jornalista com um mínimo de experiência.

No dia 13 de junho publiquei uma nota no Blog estranhando o tom da matéria (clique aqui).

"Segue-se uma longa catilinária, com uma conclamação para que colégios deixem de utilizar o material do COC. "O colégio onde estuda a filha reagiu com coragem e correção. Não renovou o contrato com o COC e mandou tirar de sua própria apostila o texto em questão". Depois, críticas genéricas de especialistas contra a má qualidade dos livros didáticos, mas sem deixar claro se são críticas genéricas ou específicas.
Faltou à matéria informar que a Editora Abril, através de duas editoras que adquiriu nos últimos anos, é concorrente direta do COC no fornecimento de material didático às escolas, que a matéria favorece a Abril nessa disputa, que a defesa do COC aparece em apenas uma frase do proprietário.

Eis aí uma das facetas mais perigosas dessa concentração de poder na mídia. Pode-se utilizar a notícia como ferramenta empresarial para sufocar concorrentes, sem o risco desse tipo de posição ser questionada por outros veículos.

Estimulado pela nota, um leitor sugeriu que comprasse a última edição da revista Cláudia. Nela, uma reportagem com Cláudia Costin, então vice-presidente da Fundação Victor Civita, anunciando a entrada da Abril no sistema de cursos apostilados (clique aqui):

"Cresce o número de escolas privadas e redes municipais que firmam convênios com grandes sistemas de ensino. De acordo com Claudia Costin, vice-presidente da Fundação Victor Civita, quem comprou um método saiu-se melhor na Prova Brasil: "Bem ou mal, essas instituições passaram a contar com um material que diz claramente o que fazer em cada aula. O plano de aula, embora pareça um pouco totalitário, garante a aprendizagem". (...)

O grupo Abril, que engloba as editoras Ática e Scipione, tam bém colocou no mercado o próprio sistema de ensino, o Ser, que poderá ser adotado a partir de 2008 e põe à disposição dos professores o conteúdo das publicações da editora (incluindo a revista CLAUDIA)".

A nota provocou um comentário, colocado no meu Blog pela vereadora Soninha:

"Bingo! E, como mostrou o www.imprensamarrom.com.br, a MESMA repórter que fez a matéria detonando o COC assinou, meses atrás, um texto que exaltava o sistema como modelo de educação que dá certo! Na própria Veja! Êta, nóis".

Fui atrás. Era uma matéria altamente laudatória ao COC, publicada pouco tempo antes.
A matéria elogiava a eficiência dos cursos apostilados, oferecidos pelo setor privado. E apresentava como modelo maior o próprio COC.

O que teria levado a uma mudança tão brusca de opinião, a ponto da segunda matéria sequer fazer menção aos elogios contidos na primeira?

No dia 19 de junho, conversei com Chaim Zaher, dono do COC, que me deu o seguinte depoimento:

"Pouco tempo atrás fui procurado por uma repórter de "Veja", que resolveu fazer uma matéria sobre o material didático do COC, pelo fato de termos sido premiados pela qualidade do material. A matéria saiu com muitos elogios.

Pelo que me parece, a revista não estava informada sobre a entrada da Abril nesse mercado. Não sei o que aconteceu internamente, mas na edição seguinte da revista Cláudia, a Abril anunciava sua entrada no mercado, mencionava o Anglo e o Objetivo, e não fazia nenhuma menção ao COC, que, segundo a matéria da "Veja", era o mais premiado. Aí, a denúncia da jornalista, mãe de uma aluna, caiu em seu colo e fizeram aquele carnaval.

Jamais declarei à repórter que o COC errou nos trechos mencionados, como saiu publicado. O que lhe disse é que todo material didático está sujeito a erros, e isso acontece com o nosso material e com os de todos nossos concorrentes. E que nosso trabalho é ir corrigindo os erros, quando identificados. Ela colocou que eu teria admitido os erros.

O material "Conjugando o Empresário" não consta das apostilas do COC. Foi um professor do "Pentágono" que copiou esse texto do vestibular da UFMG e distribuiu para seus alunos, na sua classe. Tanto que nenhuma outra escola tem esse material. Expliquei para a repórter, mas colocaram na reportagem de tal maneira que ficou parecendo que o material era do COC.

Mandei uma carta para a revista, pedindo que retificassem o que me foi atribuído. Não publicaram a carta. Muitos pais de alunos do COC mandaram cartas à revista com cópia para mim. Nenhuma saiu, só as cartas contrárias, e que se basearam na matéria da "Veja".
Recebi muitos telefonemas de solidariedade, mas ninguém quer dar a cara para bater, temendo retaliação da revista".

Só depois de publicado todo esse dossiê no Blog, no dia 27 de junho, a revista resolveu retificar a menção incorreta ao COC, certamente pressionanda pela direção da Abril, dado o histórico de quase nunca publicar cartas de retificação sobre seus erros.

Nesses episódios, o interesse mais evidente era da Abril. Em outros episódios, o jogo se torna mais enrolado. O prego passa a arranhar cada vez mais o vinil, com uma falta de técnica jornalística, uma confiança chocante no próprio taco.


FALAM AMIGOS E AMIGAS

Gente,
está se configurando, nos bastidores, um negócio para lá de esquisito.
E o seguinte, a Brasil Telecom e a Oi estão a um passo para realizar uma fusão, que colocará a empresa que surgir como uma "mega" no ramo das telecomunicações. Isso tudo com as bênçãos, e a GRANA, do BNDES e de fundos de pensão das estatais. É o capitalismo a brasileira, geennnte!
O negócio tem a chancela do governo federal, sob a alegação de que, assim procedendo, irá proteger a nação contra as grandes, Embratel e Telefónica, que tem como controladores empresários espanhóis e mexicanos.
Outro controlador destas empresas é o Citibank, que pode, segundo algumas análises, ter aqui no Brasil uma amortização no computo da soma astronômica que é o rombo das suas contas, lá na América do Norte. Troço esquisito, não?!

Então, escrevo isso para tentar entender uma coisa, não o negócio em si, que isso faz parte do mundo dos negócios, que sempre terá os que defendem que o governo entre nesse tipo de empreitada, enquanto outros pensam que não deve. O que me leva a escrever-lhes foi o fato de que tenho visto o assunto em algumas páginas, como: Conversa Afiada, Carta Maior, e também saiu na Carta Capital, cobrando do governo maiores explicações quanto ao negócio.
Já que no meio disso tudo tem o indefectível Daniel Dantas, e sua briga com o Citibank, o caso de usar dinheiro de fundos de pensão para ajudar um negócio para lá de suspeito, bem como grana do banco nacional de desenvolvimento, sendo usado assim...

Bom, estou lendo aqui agora, a coluna do jornalista Elio Gaspari, no O Globo de domingo último, alegando que está sendo preparado hoje um dos pratos principais para a oposição usar no jogo eleitoral de 2010.

A pergunta que não quer calar na minha cabeça é a seguinte:
- Quais motivos fazem com que os grandes veículos de comunicação de massa não aventem o assunto enquanto este está para ocorrer?
Agradeço a quem puder me ajudar a pensar nisso!

Abraço fraterno,
Guilherme.
ps: Onde está a epidemia de febre amarela? Ah, outra pergunta que não sai da minha cabeça: Por que não noticiam a grande quantidade de casos de reações adversas provocadas por re-vacinações sem necessidade?
Pois é, em 2000 e 2002, quando o Serra era candidato, e ministro da saúde, os casos de febre amarela mataram mais de 40 pessoas, e a grande mídia - arautos da moralidade - levou a coisa de outra maneira. Vocês se lembram?!

Fiquemos atentos, pois temos uma nação a construir!


FALANDO DE HISTORIA

1. O Monroe e o Garrincha
A América Latina está sendo obrigada a mudar sua inserção internacional, e deixar para trás a sua longa “adolescência assistida”, dentro da geopolítica e da economia do sistema mundial. Nesta nova situação, vale refletir sobre uma velha anedota futebolística.
José Luís Fiori

Em agosto de 1823, o ministro de relações exteriores da Inglaterra, George Canning, propôs ao embaixador americano em Londres, Richard Rush, uma declaração conjunta, contra qualquer “intervenção externa”, na América Latina. O presidente James Monroe, apoiado no seu secretário de estado, John Quincy Adams, declinou o convite inglês. Mas três meses depois, o próprio Monroe propôs ao Congresso Americano, uma doutrina estratégica nacional quase idêntica à da proposta inglesa. Foi assim que nasceu a “Doutrina Monroe”, no dia 2 de dezembro de 1823. Como era de se esperar, os europeus consideraram a proposta de Monroe impertinente e sem importância, partindo de um estado que ainda era irrelevante no contexto internacional. E tinham razão: basta registrar que os Estados Unidos só reconheceram as primeiras independências latino-americanas, depois de receber o aval da Inglaterra, França e Rússia. E mesmo depois do discurso de Monroe, se recusaram a atender o pedido de intervenção dos governos independentes da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México.
Por isto, muito cedo, os europeus e os próprios latino-americanos compreenderam que a Doutrina Monroe havia sido concebida, e seria sustentada durante quase todo o século XIX, pela força da Marinha e dos capitais ingleses. E só passou de fato para as mãos norte-americanas, no início do século XX. Até lá, a América Latina foi uma espécie de “protetorado” inglês, e os Estados Unidos restringiram sua ação militar ao seu território mais próximo, e mesmo assim, quando contaram com o apoio ou com a neutralidade inglesa. Pelo menos até a Guerra Hispano-Americana, em 1898, quando os Estados Unidos conquistaram Cuba e as Filipinas, logo antes do presidente republicano, Theodore Roosevelt, propor uma mudança essencial na Doutrina Monroe, em dezembro de 1904.
O “Corolário Roosevelt da Doutrina Monroe”, ficou conhecido por sua defesa do direito de intervenção dos Estados Unidos nos estados americanos “incapazes” de manter sua ordem interna, e de cumprir com seus compromissos financeiros internacionais. Já não se tratava, portanto, de uma estratégia defesa contra inimigos externos, como se pode ver, numa carta enviada por Roosevelt ao seu secretário de estado, em maio de 1904: “Qualquer país ou povo que se comporte bem, pode contar com nossa amizade cordial. Se a nação demonstra que ela sabe agir com razoável eficiência e decência nos assuntos sociais e políticos, se ela sabe manter a ordem e paga suas dívidas, ela não precisa ter medo da interferência dos Estados Unidos. Um mau comportamento crônico, ou uma impotência que resulte no afrouxamento dos laços de civilidade social podem requerer, na América ou em qualquer outro lugar do mundo, a intervenção de alguma nação civilizada, e no caso do Hemisfério Ocidental, a adesão dos Estados Unidos à Doutrina Monroe, pode forçar os Estados Unidos a exercer um poder policial internacional.” (Pratt, 1955: 417).
Entre 1900 e 1914, a nova doutrina legitimou a intervenção externa dos Estados Unidos e a criação de uma série de protetorados militares e financeiros, dos Estados Unidos, na República Dominicana, Haiti, Nicarágua, Panamá e Cuba. Na sua nova condição, estes países mantinham sua administração interna, mas não controlavam sua política externa, nem sua política econômica. E os Estados Unidos mantinham o direito de “reentrada” em caso de desordens sociais ou políticas. Foi neste momento, aliás, que os Estados Unidos assumiram , pela primeira vez, o papel de polícia internacional, transformando o Caribe num “mar interior”.
Alguns anos depois, em 1914, no início da administração de Woodrow Wilson, o novo presidente democrata agregou um novo item à política latino-americana dos Estados Unidos, com uma simples frase de efeito, dita para um interlocutor inglês: “Eu vou ensinar estas republicas sul-americanas a eleger homens bons” (idem, p:423). Com este objetivo, Woodrow Wilson completou o desenho da estratégia continental dos Estados Unidos no século XX, baseada em três direitos de intervenção – auto-atribuídos - em qualquer território do “hemisfério ocidental”:
i) em caso de “ameaça externa”;
ii) em caso de “desordem econômica”; e,
iii) em caso de “ameaça à boa democracia”.
No período da Guerra Fria, os Estados Unidos patrocinaram em todo continente, guerras civis, intervenções militares e regimes ditatoriais contra um suposto “inimigo externo”. Depois do fim da Guerra Fria, patrocinaram nos mesmos países, intervenções financeiras e reformas econômicas neoliberais, para combater uma suposta “desordem econômica interna” e garantir o cumprimento dos compromissos financeiros internacionais da América Latina. E, finalmente, a partir de 2001, os Estados Unidos incentivam forças e opinião publica, contra os governos “populistas autoritários” latino-americanos que seriam –para eles - uma ameaça à democracia.
Agora bem: as eleições presidenciais de 2008, já fazem parte de um processo de realinhamento da estratégia internacional dos Estados Unidos. Este processo deverá tomar alguns anos, mas é muito pouco provável que os Estados Unidos abram mão dos três “direitos de intervenção” que orientaram sua política hemisférica, durante o século XX. Assim mesmo, neste início do século XXI, a “globalização” do sistema inter-estatal, e a acelerada expansão política-econômica da Ásia, criaram uma pressão competitiva global que já envolve quase todos os “estados-economias nacionais” do mundo. Por isto, a América Latina está sendo obrigada a mudar sua inserção internacional, e deixar para trás a sua longa “adolescência assistida”, dentro da geopolítica e da economia do sistema mundial. Nesta nova situação, vale refletir sobre uma velha anedota futebolística, e seu ensinamento universal: a célebre indagação de Garrincha, após ouvir as orientações do técnico Vicente Feola, antes do jogo com a União Soviética, na Copa de 1958, na Suécia: "o senhor já combinou com o adversário para deixar a gente fazer tudo isso?" Garrincha sabia que no futebol não há como “combinar com o adversário”. Da mesma forma que na luta pelo poder e pela riqueza internacionais, onde só existe um jeito de ganhar o “jogo”: antecipando-se às intenções e impondo sua própria estratégia, aos concorrentes e adversários.
José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
2. Preciosa colaboração do prof. Marcos Antônio Lopes. Lá do Sul ele nos envia este artigo, comemorativo dos 400 anos do Padre Vieira, completados exatamente no dia de hoje. Que seja a primeira de uma série de colaborações, caro Marcos!

Outros Quatrocentos
(o quarto centenário do Padre Vieira)
Marcos Antônio Lopes*

Antônio Vieira nasceu em Lisboa, no dia 6 de fevereiro de 1608. Veio para o Brasil com sua família em 1614, com destino à Bahia. Entre a Bahia, Pernambuco e o Maranhão, Vieira passou mais da metade de sua vida no Brasil. Em 1623, à revelia dos pais, entrou para o noviciado da Companhia de Jesus. Em seus primeiros tempos na Ordem dos Jesuítas, o noviço se destacou de tal maneira — pela agudeza de espírito, pelo talento literário e conhecimento do latim — que seus superiores o encarregaram de escrever, em 1626, o conjunto dos sucessos relativos à ordem religiosa — a Carta Ânua —, relatório endereçado ao Geral da Companhia, em Roma. Depois de passar oito anos no Colégio dos Jesuítas de Olinda, recebeu as ordens sacerdotais, em 1634.

Sua estréia como pregador deu-se na Igreja da Conceição, em 6 de março de 1633. Nessa altura, tinha vinte e cinco anos. No início de 1641 ele foi enviado a Portugal, na comitiva organizada para demonstrar o apoio dos brasileiros à recém-restaurada monarquia lusitana. Quando chegou em Lisboa, para adentrar a corte do rei D. João, quarto do nome, já possuía reconhecidos os seus talentos de pregador. Com efeito, na Bahia, tornara-se respeitado como hábil artífice na arte de engendrar boas idéias com belas palavras. Vieira foi recebido na corte no mês de abril de 1641. Em breve tempo tornou-se valido do monarca. A sua escalada foi realmente muito rápida. Para além do virtuosismo da oratória sagrada, não demorou quase nada o reconhecimento de suas demais qualidades, dentre as quais se destacaram as de analista econômico, conselheiro político e diplomata. Em questão de meses, ele se tornara homem de confiança de D. João IV, que o fez pregador régio, confessor da rainha, além de preceptor do príncipe, D. Teodósio. Entre o rei e o clérigo nascia uma amizade sincera e duradoura que terminou apenas com a morte de D. João, em 1656. Durante quase vinte anos, nos tempos de D. João IV e da regência de Dona Luísa de Gusmão — que governou Portugal na fase da menoridade de D. Afonso VI —, Vieira gozou de elevado prestígio. Voltou à Bahia em 1681, após quarenta anos de ausência. Morreu aos 89 anos, em 18 de julho de 1697.

Foi na Bahia que ele descobriu o poder da expressão oratória, ou melhor, o poder da força persuasiva das palavras, principalmente quando pronunciadas do púlpito. Em sua prosa rica e vigorosa, as palavras eram trabalhadas, arranjadas e metaforizadas com tanto engenho, ao ponto de servirem como instrumentos de transformação da realidade. Com Vieira, o sermão passou a possuir a força cortante de uma espada, cuja função era abrir caminho diante das mais difíceis circunstâncias. Os sermões de Vieira pretendem convencer pela energia das idéias, por sua vez expressas por meio de frases sonoras e cheias de efeitos. E ele soube, em mais de sessenta anos de quase incessante atividade intelectual, utilizar a erudição clássica e bíblica ao bom serviço da criação literária. Com Vieira, a eloqüência sagrada atingiu a máxima expressão em língua portuguesa.

Quando jovem, na Bahia, Vieira testemunhou os assaltos dos holandeses ao litoral brasileiro. Acerca das invasões holandesas ele escreveu o Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as da Holanda, texto muito apropriado para ilustrar o poder persuasivo da eloqüência sagrada por ele desenvolvida. Este sermão foi pregado na igreja de Nossa Senhora da Ajuda, em Salvador, em maio de 1640, no tempo em que o povo baiano — frágil e desarmado diante da potência inimiga —, esperava a interferência de Deus contra os invasores holandeses. O Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal foi o último de uma série de quinze pronunciados nas igrejas da cidade. Em foco, estava a necessidade de uma ação rápida e eficaz da Providência, para a salvação do rebanho de Cristo. Por Providência, o autor concebia aquela Potência que tudo vê com antecipação para, segundo o merecimento, desencadear favoravelmente os sucessos, ou seja, “pró” gênero humano.
No Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal, Vieira revela os ardis típicos que caracterizaram o seu talento para a construção das mais complexas peças de retórica religiosa. No referido sermão, ele se dirige a Deus de forma extremada. Utiliza-se do tom próprio de quem possui plena convicção do mérito de sua diligência. De forma destemida, ele clama a Deus proteção para a cidade do Salvador que, só pelo nome já deveria ser objeto preferencial e, portanto, merecedora de auxílio eficaz contra a invasão das heresias.

No Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal, o autor discorre sobre a legitimidade do desesperado pleito. A intervenção divina não poderia tardar. Do contrário, a obra civilizadora que os católicos promoveram a duras penas nessas terras poderia perder-se facilmente. Ora, muitas e graves conseqüências colocariam abaixo todo o esforço realizado em nome de Deus. A derrota para os holandeses faria com que os indígenas e negros recém-catequizados formassem uma imagem pouco positiva acerca do poder divino. Assim, tais povos poderiam ser levados a se bandearem para as tradições heréticas dos holandeses. Acerca do tema, vejamos o tom de gravidade utilizado por Vieira em seu texto: “Olhai, Senhor, que vivemos entre gentios, uns que o são, outros que o foram ontem; e estes que dirão? Que dirá o Tapuia bárbaro sem conhecimento de Deus? Que dirá o Índio inconstante, a quem falta a pia afeição da nossa Fé? Que dirá o Etíope boçal que, apenas foi molhado com a água do batismo sem mais doutrina? Não há dúvida que todos estes, como não têm capacidade para sondar o profundo de vossos juízos, beberão o erro pelos olhos. Dirão, pelos efeitos que vêem, que a nossa Fé é falsa, e a dos holandeses a verdadeira, e crerão que são mais cristãos, sendo como eles...”.

Para além da lógica interna do texto, pode-se observar que numerosos sermões de Vieira foram concebidos como instrumento de intervenção na história real. Sob uma realidade tão desfavorável, não bastaria apenas persuadir os homens. Por isso, o autor não se intimida em buscar os recursos necessários para atuar junto a outras esferas. E não se pode perder de vista que se trata de um homem de fé, que pertenceu a um sistema de crenças no qual o milagre estava perfeitamente integrado como um componente natural da cultura vigente naquele tempo. Homem de elevada cultura, nem por isso Vieira deixou de comungar de crenças populares muito difundidas em sua época. Para ele, estava fora de dúvida, por exemplo, a veracidade das trovas do sapateiro Bandarra. Mas, leitor engenhoso, produziu um sentido original para a mensagem do poeta-sapateiro. Na análise de Sérgio Buarque de Holanda, “Antônio Vieira, com sua lucidez e dialética, admiráveis às vezes, mesmo para os nossos dias, não entendia, como os antigos entendiam os oráculos, aquela algaravia das trovas do Bandarra? E assim como acreditava firmemente, lendo-as a seu gosto, que as rimas do poeta sapateiro profetizavam a ressurreição de el-rei D. João IV e o Quinto Império, em vez da volta de D. Sebastião esperada pelos menos esclarecidos ...”.

O historiador norte-americano Stuart Schwartz considera que o século XVII europeu produziu grandes figuras literárias, mas por toda parte que se olhe, seja na França, na Alemanha, na Inglaterra, na Espanha, nenhum grande vulto das letras poderia ser situado acima de Vieira. Entre outros motivos porque o conjunto de sua obra constitui um dos maiores e mais notáveis legados da época. Com efeito, ele fez das imagens vivas de sua literatura um instrumento de combate contra os males de seu tempo. Em questão, sempre os infortúnios vividos pelo reino de Portugal, que ele desejava ver numa posição de destaque no concerto das grandes monarquias européias, anseio que o levou a conceber a imaginativa História do Futuro. Num momento avançado de sua vida, pela própria natureza movediça da vida política — da qual ele participou ativamente desde a sua chegada à corte, em 1641 —, os ideais corajosamente defendidos passaram a encontrar considerável resistência nos mais altos círculos da corte portuguesa.

O orador brilhante, verdadeira usina ambulante de idéias — que tanto atuava no plano das idéias como por meio de ações concretas —, teve de se render à realidade desfavorável. Tardiamente, ele percebeu que os tempos heróicos da restauração haviam chegado ao fim, que perdera os seus interlocutores, que os seus adversários estavam mais fores e numerosos. Sem audiência para suas propostas de estratego econômico e conselheiro político, convenceu-se de que era chegada a hora de bater em retirada. Retornou à Bahia em 1681, não sem deixar o seu rastro de idealista polêmico. Neste mesmo ano de 1681, o defensor da tolerância religiosa e do abrandamento dos métodos inquisitoriais, foi queimado em efígie na cidade de Coimbra, com os estudantes da Universidade à frente. A multidão fanática comemorava o retorno dos autos-de-fé, até então suspensos por Roma.

Dito isso, cabe lembrar que no ano de 2005 o mundo das letras foi marcado pelas comemorações em torno dos quatrocentos anos do fantástico Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. Nos anos anteriores e, sobretudo, em 2005, os espanhóis fomentaram eventos e edições comemorativas, e a cultura ocidental como um todo vibrou de orgulho por possuir um patrimônio intelectual de tal envergadura. Neste 2008 será a vez de outros quatrocentos. O ilustre escritor luso-brasileiro completará os seus quatrocentos anos de nascimento e, ainda que não se possa falar em um legado de alcance tão universal como a obra ficcional de Cervantes, o conjunto dos textos de Vieira possui, para portugueses e brasileiros, valor a que se compara apenas uma gama muito reduzida de obras em nossa língua. Sem dúvida, foram quatro longos séculos de densa história, mas ele continuou vivíssimo. Defensor da tolerância religiosa, ativista em prol da causa indígena, a atualidade de muitos aspectos da obra de Vieira fazem dele um homem para todas as estações. Com as suas concepções ousadas, com os seus exemplos de ação, ele se mantém na crista da onda da cultura histórica e literária.
*Marcos Antônio Lopes é doutor em História pela USP e professor do Depto. de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina. Pesquisador do CNPq (Produtividade em Pesquisa). Autor de Voltaire Político: espelhos para príncipes de um novo tempo (Editora Unesp), co-autor de A peste das almas: histórias de fanatismo (Editora FGV) e organizador de Idéias de História: tradição e inovação de Maquiavel a Herder (Eduel). A íntegra deste artigo será publicada no número 6 da revista Leituras da História.


BRASIL

O Brasil em 2030
Jaime Pinsky
Publicado originalmente no Correio Braziliense de 11 de novembro de 2007

Imaginar o Brasil de 2030 pode ser um simples exercício de futurologia, mas também uma tentativa de perceber tendências, caminhos e, mais que isso, uma forma de apontar possibilidades e perigos. Como, de resto, a grande maioria dos meus supostos leitores estará viva daqui a meros 23 anos não se trata de algo inócuo. Como a História não é positivista, a narrativa dos historiadores de 2030 teria a ver com a forma como nós encaminharíamos este país do ano em que vivemos até lá. E, a meu ver, dois panoramas muito distintos se nos apresentam.
Panorama 1: Talvez, para surpresa de muitos contemporâneos, o historiador perceba os presidentes do período pós ditadura militar como fazendo parte de um conjunto coerente e quase necessário. Sarney teria sido aquele que, bem ou mal, mostrou a possibilidade de uma presidência civil, acompanhada de instituições políticas e jurídicas em pleno funcionamento. Collor, o homem da modernização, da tentativa de colocar o Brasil no mundo globalizado, embora restringido em seus movimentos por um provincianismo e uma confusão entre o público e o privado que lhe custaram o mandato. Fernando Henrique, como ministro, antes e depois como presidente, teria sido o homem que viabilizou a globalização, menos por seu empenho diplomático e mais por dotar o país de uma moeda estável e por seu movimento a favor de privatizações, tanto na área de infra-estrutura como na de comunicações, principalmente. Lula, sensível para com os miseráveis e os muito pobres, teria conseguido incorporar no mercado de consumo milhões de brasileiros, aumentando a demanda em áreas previsíveis (como a de alimentos, vestuário e habitação, energia), assim como em outras não tão previsíveis (veículos, celulares, computadores).
Dentro desta lógica qual deveria ser o perfil de um próximo presidente e qual deveria ser sua mensagem? Pela seqüência apresentada não teria cabimento um líder anti-globalização do tipo de alguns neo-caudilhos que estão pululando nas vizinhanças do Brasil, por mais que eles possam ser úteis a projetos nacionais diferentes do nosso. Não teria cabimento, tampouco, uma liderança que abandonasse novamente aqueles que, por séculos, ficaram à margem do desenvolvimento nacional.
Por outro lado não é possível eternizar um programa de ajuda direta, o famoso “fornecimento de peixes”, embora esta seja a solução mais fácil. Deve se ensinar a pescar, e isto implica em qualificar melhor as pessoas, integrá-las inteiramente na sociedade, não apenas como consumidores. Faria sentido, portanto, alguém com um perfil moderno, mas sensível, preocupado com a população como um todo, mas sem a intenção de destruir elites produtivas (e elas existem, o que não é nenhum defeito, mas virtude do país). E disposto, ainda, a modernizar o Estado naquilo que implica no cumprimento dos papéis mais fundamentais de um Estado de cidadãos. É o caso de educação pública universal de qualidade; saúde eficiente para todos; segurança razoável; estradas, portos e aeroportos funcionando a contento; e, não menos importante, separação total entre Estado e Igreja.
Panorama 2: Dependendo dos rumos que o país tome a história poderá ser muito diferente, e com ela a leitura da História. O pesquisador constatará que, mais de vinte anos após a redemocratização, o Brasil ainda não aprendeu a separar o público e o privado, numa salada promíscua de corruptos e corruptores passeando de mãos dadas para tristeza de muitos e destruição do tecido moral da nação. Constatará ainda que as escolas continuaram sendo um espaço de reprodução ampliada das desigualdades sociais e não fator democratizante e unificador; que as ruas das cidades ficaram cada vez mais vazias de cidadãos, que em vez de espaços públicos passaram a se refugiar cada vez mais em espaços privados (casas trancada, condomínios fechados, prédios gradeados) ou de grupos “homogêneos” (shoppings classificados por classe social, clubes, bares, restaurantes); que as diferenças regionais e a pobreza pessoal ainda são combatidas na base de esmolas explícitas ou disfarçadas; que a idéia do trabalho produtivo como caminho para o sucesso profissional não tem como se firmar como ideal num país em que esperteza vale mais do que o mérito e os salários de base são mais insignificantes do que as miseráveis ajudas do poder público.
Nossa história, repito, será contada de maneira diferente em 2030 em função de como ela for construída agora.


NUESTRA AMERICA

DA Folha de São Paulo de 31/01
KENNETH MAXWELL
Sobrevivendo a Bush

A CARREIRA governamental de George W. Bush está chegando ao fim, e ele agora é um "lame duck" (um "pato manco"), um político em final de mandato. Boa parte de seu poder político se esvaiu, e os norte-americanos estão à espera de uma nova Presidência, no ano que vem. Mas é importante lembrar que Bush ainda tem quase um ano a cumprir no mais poderoso posto do planeta.
Ele continua a exercer os poderes de comando supremo das Forças Armadas dos EUA. E ainda pode causar problemas.
Tudo isso garante que, caso Bush tenha chance de agir unilateralmente uma vez mais para reafirmar seu poder, ele indubitavelmente o fará. Quanto a questões de política interna, ele precisaria da colaboração do Congresso, como o pacote de estímulo econômico para combater a ameaça de recessão, negociado com a liderança democrata da Câmara dos Deputados, deixou claro na semana passada.
Mas a Constituição dos EUA impõe restrições muito menores às ações do presidente quanto a assuntos de política externa. Intrinsecamente, portanto, é muito mais provável que uma crise internacional sirva como catalisador às ações do presidente "pato manco".
Assim, onde ocorrerá a próxima crise internacional? Ainda que as atenções dos especialistas estejam agora concentradas no "fundamentalismo islâmico", definido pelo líder entre os pré-candidatos republicanos à Presidência, senador John McCain, como o maior desafio do século 21, suspeito que não será essa a origem de uma nova crise. Afinal, os parâmetros do assunto inacabado estão bem definidos: a ameaça continuada da Al Qaeda; a insurgência no Iraque; a crise sem fim na Palestina; o confronto com o Irã; a instabilidade no Paquistão e no Afeganistão.
Mas existe uma crise previsível fervilhando mais perto de casa, que terá grande impacto sobre a América Latina e com relação à qual os Estados Unidos estão presos a uma política inflexível e sujeitos à ação de poderosos grupos de interesses internos prontos a intervir, especialmente em um ano eleitoral; e o detonador dessa bomba-relógio já começou sua contagem regressiva.
A "oportunidade" de Bush pode surgir em Cuba.
Há dois fatores inevitáveis nisso. Um é a certeza de que Bush deixará o cargo em janeiro de 2009. O outro é que Castro morrerá. A incerteza envolve determinar se Castro morrerá antes de janeiro do ano que vem ou sobreviverá à Presidência de Bush. Castro sobreviveu a todos os presidentes norte-americanos desde 1959, e com sorte é possível que o faça de novo. Mas, caso ele venha a morrer enquanto Bush continuar presidente, e em meio a um ano de eleição presidencial nos Estados Unidos, podemos esperar por uma infinidade de problemas.


INTERNACIONAL

Sirenes de alarme na Europa
LIVROS E REVISTAS

1. Leia o livro Uma Eterna Aprendiz no PT, de Sandra Starling, clicando sobre sua miniatura na seção de livros do Tamos com Raiva, à esquerda. Você também pode salvá-lo e imprimir para ler mais tarde. http://www.tamoscomraiva.blogger.com.br/

2. 26 séculos em três volumes .Referência em sua área, dicionário biográfico de cientistas ganha edição em português
Pesquisadores e interessados em história da ciência dispõem finalmente de uma versão em português para uma das mais importantes obras de referência dessa área – o Dicionário de biografias científicas. Do matemático grego Pitágoras, que viveu no século 6 a.C., ao físico japonês Hideki Yukawa (1907-1981), o dicionário registra a trajetória dos mais importantes nomes na consolidação das ciências exatas e naturais ao longo de 26 séculos.
A obra chama a atenção pelo caráter superlativo: são 329 ensaios que se estendem por quase 2.700 páginas, distribuídas em três volumes. Os verbetes foram escritos por pesquisadores de 151 instituições de 27 países. O lançamento da edição brasileira envolveu o trabalho de 15 tradutores e quatro revisores técnicos, além de dezenas de colaboradores de diferentes áreas.
Embora os números impressionem, a edição brasileira corresponde a apenas um quarto da original norte-americana. Para que seu lançamento fosse comercialmente viável, foi preciso fazer uma seleção dos verbetes mais importantes, que foram traduzidos na íntegra, sem qualquer corte.
A seleção dos verbetes para a edição brasileira inclui, obviamente, todos os gigantes da história da ciência, além de nomes menos conhecidos do público leigo, como os diversos matemáticos e astrônomos árabes que levaram adiante os fundamentos da ciência estabelecidos na Grécia antiga – eles respondem por quase 10% dos verbetes da edição em português. A ciência brasileira aparece representada por dois nomes – Carlos Chagas e Oswaldo Cruz.
A biografia do médico francês Louis Pasteur (1822-1895) é citada pelo economista César Benjamin, editor da Contraponto e idealizador da edição brasileira do Dicionário, como uma de suas preferidas. “Esse ensaio é brilhante, por ter densidade científica, mas também grande tensão psicológica e humana.” O trecho do verbete de Albert Einstein (1879-1955) dedicado à relatividade também está entre seus prediletos. “Esse ensaio não repete o que se sabe sobre relatividade, mas discute como foi possível a Einstein chegar aonde chegou, com elegância e precisão, sem sair do essencial. É uma obra-prima: cada vez que o releio, vejo algo que não tinha visto antes.”
Rigor na apuração
O Dicionário é editado nos Estados Unidos desde 1970 pelo American Council of Learned Societies, entidade que reúne 45 associações culturais e científicas daquele país. Desde sua primeira edição a obra se firmou como uma referência nos estudos da história da ciência, pelo quilate dos autores de cada artigo – especialistas na área de cada biografado – e pelo rigor da apuração das informações.
O lançamento no Brasil do Dicionário coroa a realização de um projeto de quase quinze anos de Cesar Benjamin, ex-editor de Ciência Hoje. “Comecei a desenhar a idéia de uma edição brasileira quando consultava regularmente o original na biblioteca do Instituto de Matemática Pura e Aplicada”, conta ele.
A viabilização da iniciativa dependeu de recursos públicos, graças à aprovação do projeto do Dicionário na Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. Após a captação de recursos e uma longa negociação com o American Council, que precisou aprovar a seleção de verbetes e a estrutura da edição brasileira, Benjamin vê enfim sua idéia concretizada: “Foi um trabalho cansativo e cuidadoso”, resume.
Os três volumes coroam um longo envolvimento da Contraponto com a história da ciência – a editora tem no catálogo títulos de nomes do porte de Isaac Newton, Charles Darwin, Michael Faraday, Louis Pasteur, Henri Poincaré, Albert Einstein, Niels Bohr e Werner Heisenberg.
Com o Dicionário de biografias científicas, a editora traz uma contribuição definitiva para o estudo dessa área que, na opinião de César Benjamin, tem a vocação de resgatar a paixão pela ciência, conforme ele escreve na apresentação da obra: “A história é que contém boa parte da beleza da ciência, que deve ser considerada uma parte da grande aventura da existência humana, uma das vias necessárias para compreendermos o mundo e nós mesmos.”
Dicionário de biografias científicas César Benjamin (Editor) Rio de Janeiro, 2007, Contraponto Tel.: (21) 2544-0206 3 volumes – 2.696 páginas – R$ 600,00 R$ 360,00 com desconto no site da editora
Bernardo Esteves Ciência Hoje On-line 29/01/2008

SITES E BLOGUES

1.No site da revista Escola:
Vinda da família real para o Brasil
O aniversário de 200 anos da chegada de Dom João VI e a corte portuguesa inspira um debate sobre a formação do nosso país. Além da reportagem, confira ainda um conteúdo exclusivo no site com gravuras para você imprimir do artista francês Jean Baptiste Debret.
2. No blog do Mello encontrei esta preciosidade, que recomendo:
Nassif e os bastidores da Veja
Você, meu arguto leitor, minha perspicaz leitora, está acompanhando a série que o jornalista Luis Nassif está publicando sobre a revista Veja, não está?
Se não, comece agora. Clique e leia, que é imperdível. Vou comentar em detalhes aqui. Mas, por enquanto, sugiro a leitura de um outro texto, que até já citei aqui no blog, que vai complementar a leitura da reportagem de Nassif. É Como se constroem as notícias, de Marina Amaral. Também é imperdível.
3. Está no ar a edição nº12 da Revista Tema Livre (http://www.revistatemalivre. com), que apresenta artigos acadêmicos, entrevistas inéditas, exposição virtual de fotografia e, ainda, matérias exclusivas, conforme pode-se ver a seguir:

ARTIGOS:

- “A fronteira medieval entre Galicia e Portugal” (De CARLOS BARROS, professor titular de história medieval da Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha).
- “Organização militar, poder local e autoridade nas conquistas: considerações acerca da atuação dos corpos de ordenanças no contexto do Império português” (De ANA PAULA PEREIRA DA COSTA, doutoranda em história pelo PPGHIS da UFRJ)
- “D. João VI, o general Lecor e a criação da Cisplatina” (De FÁBIO FERREIRA, Doutorando em História pelo PPGH da UFF e mestre em História Social pelo PPGHIS da UFRJ)
- “As fugas de escravos da província de São Pedro para o além-fronteira” , (De SILMEI DE SANT'ANA PETIZ, professor do curso de História do Centro Universitário Unilasalle e doutorando pela Unisinos)
- “Tortuosos caminhos da ‘invenção de si’: política, nacionalismo cultural e estrangeiros no Brasil” (De NEIDE ALMEIDA FIORI e EDUARDO BÚRIGO DE CARVALHO, professores doutores da UNISUL)
- “As referências ao comunismo no início dos anos 30 no Diário de Notícias.” (De CRISTIANO CRUZ ALVES, do mestrado em história da Universidade Federal da Bahia)

ENTREVISTAS COM OS HISTORIADORES:

Prof. Dr. Aníbal Bragança (UFF)
Profª. Dr.ª Heloísa Paulo (CEIS-20/Universida de de Coimbra)
Prof. Dr. Luís Reis Torgal (CEIS-20/Universida de de Coimbra)

MATÉRIA ESPECIAL SOBRE O BICENTENÁRIO DA CHEGADA DA CORTE PORTUGUESA AO BRASIL
Com a primeira parte da série “O Rio de Janeiro e D. João VI, Rei de Portugal, Brasil e Algarves”, que apresenta o PAÇO IMPERIAL
COBERTURA DO VII ENCONTRO INTERNACIONAL DA ANPHLAC
E a EXPOSIÇÃO VIRTUAL IMAGENS DE PORTUGAL apresentando a cidade de LISBOA (1ª parte).

Basta acessar: http://www.revistatemalivre. com

4. A revista Virtual Cadernos de Cultura, da UFOP, está no ar. Entre os muitos artigos, permitam-me chamar a atenção para o da Helena Guimarães Campos, minha ex-aluna e agora colega de escrivinhação.
Paulo Raphael Feldhues
Verônica Maria Meneses
Wellington Júnio Guimarães da Costa


INFORMATIVO ANPUH

XIX ENCONTRO DA ANPUH SÃO PAULO

PODER, EXCLUSÃO E VIOLÊNCIA

1 A 5 DE SETEMBRO DE 2008

INSCRIÇÕES DE PROPOSTAS DE SEMINÁRIOS TEMÁTICOS E MINICURSOS

1 DE FEVEREIRO A 10 DE MARÇO

Instruções (BOLETIM Nº 1) e Fichas de Inscrição no site: www.anpuhsp.org.br