Boletim Mineiro de História

Boletim atualizado todas as quartas-feiras, objetiva trazer temas para discussão, informar sobre concursos, publicações de livros e revistas. Aceita-se contribuições, desde que versem sobre temas históricos. É um espaço plural, aberto a todas as opiniões desde que não contenham discriminações, racismo ou incitamentos ilegais. Os artigos assinados são de responsabilidade única de seus autores e não refletem o pensamento do autor do Boletim.

7.5.08

Numero 138






EDITORIAL

Bem, leitores e leitoras, infelizmente hoje o Boletim sai sem editorial. Muita coisa aconteceu na semana e ainda está acontecendo, o que me impossibilitou pensar em algum tema interessante. Lamento...Mas há matérias muito interessantes publicadas ou sugeridas. Bom proveito!


COLABORADORES

O que o papa buscou nos EUA?

Antonio de Paiva Moura

Giannotti em crítica ao discurso do papa na ONU, em abril de 2008 diz que Bento 16 transformou uma instituição essencialmente política em um bloco moral, cujas partes deveriam se integrar segundo os modelos de uma família cristã. Diz ainda, que Bento 16 não levou em conta que a política é sempre um jogo instável de interesses e que a moralidade contemporânea gira em torno de conveniência de diferentes pontos de vista. O papa foi à ONU como político representando o Estado do Vaticano e a comunidade católica, mas a tônica de seu discurso tinha que ser moral, isto é, conclamar as nações a um comportamento que pressupunha um ideal de família cristã. O modelo de família ocidental contemporâneo não pode de servir de paradigma para as nações, porque foi corrompido ao máximo pelo modelo neoliberal de capitalismo. Quando a Igreja se empenhou no desmonte do Segundo Mundo, ela colocou em prática uma ação política que ia desaguar no fortalecimento do capitalismo e do liberalismo e, portanto, do mais agudo materialismo.
Desde a Idade Média a Igreja não lida apenas com o sagrado. No tempo de Carlos Magno o ocidente era governado pelo Sacro Império Romano. Em 1073 o papa Gregório VII conquistou o direito de legitimar e depor os imperadores. Como as cruzadas dos séculos 13 e 15 terminaram em fiasco, o poder do papa declinou. A importância política do cargo de papa era tão grande que para ser eleito, Alexandre VI comprou os votos dos cardeais a peso de ouro. .Segundo Botelho (2007) foram quatro mulas carregadas de ouro em pagamento aos votantes. Com a unificação da Itália em 1870, a Igreja perdeu suas terras para o Estado. A partir daí sofreu uma grande crise política e econômica. Para sobreviver, o capitalismo precisava do cristianismo inteiro e não somente do protestantismo. Por isso procurou a Igreja Católica para um pacto. Em momento de apertura financeira (1929) Pio XI firmou com Mussolini o controvertido Tratado de Latrão, com o qual a Igreja ganhou um território soberano e uma doação de cerca de 90 milhões de dólares. Com isso o papa Pio XII silenciou-se diante da monstruosidade do nazismo e do massacre de seis milhões de judeus.
Palavras são palavras [...] O papa diz uma coisa e faz outra. O Opus Dei é dono de uma fortuna de 400 bilhões de dólares. Essa riqueza teria sido usada para, entre outros objetivos, financiar o sindicato Solidariedade, na Polônia, nos anos 80, tudo feito em completo sigilo. No patrimônio do Opus Dei inclui uma sede de 60 milhões de dólares em Manhattan. Na rua K de Washington, onde se concentram os lobistas que atuam no Congresso americano, o Opus Dei mantém uma sala. O jornalista espanhol Jesus Infante chegou a chamar o grupo Opus Dei de máfia santa. (Botelho, 2006: 57). Portanto, nem a família cristã de hoje e nem a própria Igreja católica não poderiam ser paradigmas para as nações.
O papa chegou aos EUA dizendo estar envergonhado com o fato de clérigos católicos, seus subordinados abusarem sexualmente de crianças naquele país. Mas atrás de suas palavras repousa o fato de que a Igreja não abre mão de só ela julgar os crimes cometidos pelos padres. A Igreja, com seu poder político encobre e inocenta seus membros dos crimes de pedofilia e de todos os outros. João Paulo II era favorável à destruição de documentos acusatórios de clérigos católicos e o atual papa o segue, através da carta Sacramentorum Sanetitatis Tutela. (Horta, 2007: 73)
Giannotti diz ainda que a negação da política no discurso do papa tem conseqüências radicais. Tudo se passa como se os conflitos internacionais se moldassem pelos conflitos familiares, que poderiam ser resolvidos graças à clarividência de um pai protetor e à boa vontade das partes. Segundo Durkheim não tem como a Igreja não ser política porque ela se reverte de uma força social que se estrutura em termos de obediência às regras vigentes na sociedade, buscando a solidariedade e a fidelidade entre seus adeptos. Na verdade o papa não se importou com o mundo em ebulição, mas com a coesão da comunidade católica e é nesse ponto que seu discurso foi político e foi ideológico. Tudo deve ficar como está. Quanto mais vigorar o ideal de João Paulo II, o pai milagroso e carismático, maior será a certeza de garantia das finanças do Vaticano
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Referências bibliográficas
BOTELHO, José Francisco. A história secreta da Igreja. Superinteressante. São Paulo, n. 239, mai. 2007.
BOTELHO, José Francisco. Por dentro da Opus Daí. Superinteressante. São Paulo, n. 227, jun. 2006.
GIANNOTTI, José Artur. Pérola do pensamento conservador, discurso do papa na ONU [...] submete o jogo político a um critério moral. Folha de São Paulo. São Paulo, 27 abr. 2008.
HORTA, Maurício. Sexo na Igreja. Superinteressante. São Paulo, n. 246, dez. 2007.
Antonio de Paiva Moura é professor de História do UNI-BH


FALANDO DE HISTORIA

Artigo e entrevista da Folha de São Paulo, que a Cristina Castro gentilmente em encaminhou. Não se assustem com o título...

A tortura se justifica quando pode evitar a morte de inocentes
General francês, que ensinou tortura a militares brasileiros, confirma atuação do país em golpe contra Salvador Allende
LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE PARIS O GENERAL francês Paul Aussaresses, 89, é a memória viva dos atropelos aos direitos humanos praticados durante a ditadura brasileira (1964-1985). Ex-agente do serviço secreto da França, veterano das guerras do Vietnã e da Argélia, Aussaresses colaborou com o regime militar no Brasil, ensinando aos oficiais técnicas de tortura e também de combate à guerrilha.
"No curso, os estagiários representavam o papel dos torturadores e dos torturados", afirmou o militar reformado, no livro "Je N'ai Pas Tout Dit - Ultimes Révélations au Service de la France" (Eu não contei tudo - últimas revelações a serviço da França), que acaba de ser lançado em Paris.
A obra é uma série de entrevistas concedidas ao jornalista Jean-Charles Deniau. Em suas revelações, Aussaresses revelou que o governo Médici forneceu armas e aviões para o golpe militar que derrubou o presidente chileno Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973. E vai além, ao relatar que o ex-presidente João Baptista Figueiredo, então chefe do SNI (Serviço Nacional de Informações), o telefonou para dizer que seus homens haviam torturado e matado um "francês subversivo", em referência a Laurent Schwartz.
Aussaresses recebeu a Folha para uma longa entrevista na casa que tem na Alsácia. Não se furtou a reiterar tudo o que disse no livro e acrescentou que não se arrepende de nada, mesmo que seu livro anterior o tenha levado a responder a um processo por "apologia de crimes de guerra". "Acho que Figueiredo apreciou minha conduta em relação aos brasileiros. Minha colaboração foi frutuosa para eles e para nós", disse.

FOLHA - O senhor viveu no Brasil entre 1973 e 1975. Qual sua missão junto à embaixada francesa?
PAUL AUSSARESSES - Eu era adido militar.
FOLHA - O sr. fazia trabalho de informação?
AUSSARESSES - É isso que os adidos militares fazem. Todos eles se informam sobre o que pode interessar a seus países e sobretudo as necessidades do país no qual servem, do ponto de vista do que podemos vender a eles.
FOLHA - Naquela época, a França já vendia armas ao Brasil?
AUSSARESSES - Claro. Havia muito tempo existiam adidos militares no Brasil. O chefe era do Exército, mas havia um da Aeronáutica e um oficial de Marinha. O Brasil tinha se interessado pelos aviões franceses fabricados pela Société Dassault. O Mirage.
FOLHA - Em seu livro, há um capítulo em que o senhor narra os cursos de interrogatório e informação a oficiais no Centro de Instrução de Guerra na Selva, em Manaus. Quais eram suas atribuições?
AUSSARESSES - Eu dava aulas nessa escola militar porque tinha sido instrutor das Forças Especiais do Exército Americano no Fort Bragg. Fui nomeado instrutor dos pára-quedistas da infantaria americana em Fort Benning, na Geórgia, e me pediram para ser também instrutor em Fort Bragg, na Carolina do Norte. Isso foi nos anos 60. Nessa escola, encontrei oficiais estagiários das forças especiais de vários países da América do Sul.
FOLHA - Inclusive do Brasil?
AUSSARESSES - Exatamente.
FOLHA - Quem eram esses oficiais?
AUSSARESSES - Não me lembro de seus nomes. Lembro de Umberto Gordon, que se tornou chefe das Forças Especiais do Chile, a DINA, o serviço secreto de Pinochet. Éramos muito amigos.
FOLHA - O senhor chegou ao Brasil em outubro de 1973, pouco depois do golpe militar do Chile. O Brasil participou ativamente no golpe contra Allende?
AUSSARESSES - Que pergunta! Você pensaria que sou um idiota se não estivesse a par. Claro que o Brasil participou!
FOLHA - O senhor conta no livro. Gostaria que repetisse. O Brasil enviou aviões e armas? AUSSARESSES - Mas claro, armas e aviões.
FOLHA - E enviou oficiais também?
AUSSARESSES - Sim, claro. As armas não sei dizer exatamente quais. Mas os brasileiros enviaram aviões franceses com projéteis fabricados na França pela sociedade Thomson-Brandtà
FOLHA - Para a qual trabalhou depois, quando saiu do Exército.
AUSSARESSES - Exatamente.
FOLHA - O senhor foi muito amigo de João Baptista Figueiredo, chefe do SNI e último presidente militar. Ele e o delegado Sérgio Fleury eram os responsáveis pelos esquadrões da morte brasileiros, como o senhor escreveu?
AUSSARESSES - É uma maneira de falar. Nós não chamávamos assim. Sérgio Fleury era o responsável pelos esquadrões da morte e Figueiredo, pelo SNI. O embaixador Michel Legendre não podia ouvir falar de esquadrões da morte.
FOLHA - O sr. diz que o embaixador não suportava Sérgio Fleury. E de Figueiredo, tinha melhor impressão?
AUSSARESSES - Um dia o embaixador me disse: "Você tem amigos estranhos". Eu respondi: "São eles que me permitem manter o senhor bem informado". Ele não disse mais nada.
FOLHA - Como seu trabalho era importante para a França?
AUSSARESSES - Todas as informações são importantes. Mas era sobretudo para mostrar que a França era um país amigo. Os brasileiros tinham a necessidade de tal material, estávamos dispostos a vender. Tinham necessidade de fabricar.
FOLHA - De quais materiais?
AUSSARESSES - Materiais de aviação. Tínhamos conhecimentos técnicos, mas o que era importante é que podíamos ir aos nossos superiores pedir informação para os brasileiros.
FOLHA - No livro o sr. narra o episódio de tortura de uma mulher que veio ao Brasil para, segundo o general Figueiredo, espionar o senhor. Figueiredo o fez vir de Manaus às pressas para mostrar a moça, já irreconhecível depois das sessões. Ele depois o informou que ela morrera no hospital. Nunca questionou o método bárbaro usado para obter informações daquela mulher?
AUSSARESSES - De jeito algum! A morte dessa mulher era um ato de defesa.
FOLHA - Qual é sua impressão sobre os presidentes militares: Ernesto Geisel, João Figueiredo e Garrastazu Médici?
AUSSARESSES - Ernesto Geisel era um homem racional, de uma profunda moralidade. Era um homem que tinha uma fé religiosa e respeitava as regras da moral cristã que considera que os homens merecem viver numa atmosfera de ordem que lhes permite trabalhar, cuidar da família. De Emilio Garrastazu Medici tenho boas lembranças. Conheci-o na embaixada da França, conversamos em português. João Figueiredo era adorável, sedutor. Era o chefe do SNI quando eu cheguei como adido. O representante francês dos serviços especiais no Brasil me disse: "Todo mundo sabe que você fez parte do serviço de inteligência francês, principalmente do "Action", logo, não deve esconder. Você vai encontrar Figueiredo, chefe do SNI, não esconda que você pertenceu ao serviço equivalente na França".
FOLHA - E vocês ficaram amigos?
AUSSARESSES - Muito amigos. Acho que Figueiredo apreciou minha conduta em relação aos brasileiros. Minha contribuição foi apreciada. Minha colaboração foi frutuosa para eles e para nós.
FOLHA - Quais são os fundamentos que justificam o uso da tortura numa guerra ou como no caso do Brasil, nos anos 60 e 70?
AUSSARESSES - Acho que, se podemos evitá-la, nada a justifica.
FOLHA - E quando é que não se pode evitá-la?
AUSSARESSES - Quando a ação terrorista adversa quer ter efeitos de propaganda e tem por vítimas sobretudo mulheres e crianças. Penso que, se a tortura pode evitar a morte de inocentes, ela se justifica. É meu ponto de vista. Não a aprecio, não a aprecio, não a aprecio.
FOLHA - Na Argélia, o sr. e o general Jacques Massu estavam de acordo com todos os métodos de informação, inclusive a tortura?
AUSSARESSES - Totalmente de acordo. Mas quando houve o ataque de Philipeville, Massu ainda não estava comandando os pára-quedistas. Descobri que ia haver um ataque porque havia compras diárias de uma enorme quantidade de farinha de cuscuz num armazém. E tudo era comprado em dinheiro. E as notas de dinheiro vinham da França, do salário dos operários argelinos. Foi meu serviço de informação que descobriu tudo.
FOLHA - Parece que foi por causa de compras em uma aldeia que Che Guevara e seu grupo de guerrilheiros foram descobertos na Bolívia.
AUSSARESSES - Penso que Che Guevara era um homem brilhante, muito inteligente mas ambicioso. Ele queria substituir Fidel Castro, mas Fidel não estava apressado em deixar o posto de chefe de Estado de seu país e enviou-o em missão à Bolívia com outro homem muito brilhante que ainda está vivo, Régis Debray. Então, Fidel Castro quis dar uma ocupação a esses homens brilhantes e enviou-os em missão à Bolívia.
FOLHA - O sr. pensa que Fidel Castro armou uma cilada?
AUSSARESSES - Eles eram brilhantes, mas bebiam muito e os espiões de Fidel Castro ouviam o que eles diziam. E eles escreviam também, escreviam demais e quando foram para a Bolívia as forças de segurança bolivianas sabiam de todos os detalhes dos deslocamentos deles. Debray foi capturado rapidamente e depois encontraram sua agenda, uma bela agenda Hermès, de couro.
FOLHA - E quem os denunciou?
AUSSARESSES - A tagarelice deles.
FOLHA - Mas a CIA [serviço de inteligência dos EUA] estava na Bolívia. AUSSARESSES - Claro, que dúvida!
FOLHA - O senhor foi sempre anticomunista?
AUSSARESSES - Sempre. Não me vanglorio disso, mas também não nego.
FOLHA - Hoje, após a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, qual seria o grande perigo para um país como a França?
AUSSARESSES - A organização terrorista maometana, árabe, os islâmicos.
FOLHA - A maioria dos militares pensa que o dever é manter o silêncio. Por que o sr. resolveu falar?
AUSSARESSES - Porque penso que era meu dever falar.
FOLHA - Mesmo arriscando a sua reputação?
AUSSARESSES - Há regras de vida e da carreira militar que tratam do dever. Eu fiz o que era meu dever.
FOLHA - No livro anterior, "Services Spéciaux - Algérie 1955-1957" (Serviços especiais - Argélia 1955-1957), o sr. contou a participação na guerra da Argélia, inclusive o uso da tortura. Em 2003, foi processado por apologia a crimes de guerra, mas não houve condenação. Os crimes estavam prescritos e anistiados. Por que agora esse livro de entrevistas?
AUSSARESSES - Fui levado à Justiça por apologia à tortura. Disse que não era verdade e que escreveria outros livros para me justificar de tudo o que tinha feito em missões fora da França. Escrevi um outro livro depois, que era uma resposta aos ataques injustos contra mim. O livro é "Pour la France, Services Spéciaux, 1942-1954" (Pela França, serviços especiais)
FOLHA - O senhor se arrepende de algo que fez?
AUSSARESSES - Não me arrependo de nada. E recusei uma proposta que me foi feita no tribunal, quando fui acusado de fazer a apologia da tortura, o que não é verdade. Meu advogado e meu editor me propuseram declarar que eu me arrependia do que fizera e do que escrevera.Não posso, não me arrependo, eu seria desprezado por minha mulher. Minha falecida esposa era uma heroína da Resistência Francesa antinazista, foi ferida em combate. Fomos casados por mais de 50 anos. Ela morreu e depois me casei novamente. E, se eu escrever que me arrependo, merecerei o desprezo de minha atual esposa. Recusei o arrependimento que me propunham e fui condenado.

BRASIL

Modelos para o Brasil: Tigres asiáticos?
por João Fábio Bertonha

Escrever a respeito dos chamados “tigres asiáticos” é bastante complicado, pois o próprio termo é sujeito a interpretações diversas. Alguns economistas, por exemplo, acreditam que Japão, China e até a Índia poderiam ser incluídos nesta rubrica. Para outros, poderíamos falar dos tigres “clássicos”, como Hong Kong, Coréia do Sul, Taiwan e Cingapura e dos neo-tigres, como Tailândia, Malásia, Indonésia e Filipinas. Tal amplitude do termo pode dar margem a confusões, pois, se é verdade que a experiência asiática tem muitos pontos em comum, não é possível associar países em estágios de desenvolvimento diversos numa análise única.
Assim, os comentários neste artigo se centrarão nos tigres “clássicos”, sendo os outros países mencionados apenas quando for conveniente em termos de comparação. Não obstante, mesmo os quatro países englobados neste termo - Hong Kong, Coréia do Sul, Taiwan e Cingapura – também não são iguais entre si. Pelo contrário, em várias questões eles estão em campos opostos, como na questão da democracia, na intervenção estatal na economia, etc. No entanto, eles têm semelhanças suficientes para que sejamos capazes de, ao menos, extrair algumas conclusões gerais da experiência deles.
E é uma experiência que merece realmente ser conhecida e analisada. Entre 1960 e 1995, estes países multiplicaram sua renda per capita por oito, enquanto os da América Latina apenas a duplicaram. Todos os índices sociais cresceram junto com o aumento da produção e das exportações e estes países estão, hoje, no rol dos desenvolvidos ou, no mínimo, chegando perto.
A receita para este crescimento não foi nada excepcional. As lideranças desses países, ameaçadas pelo espectro do comunismo e decididas a modernizar e transformar seus países e sociedades, fizeram uma avaliação realista das suas possibilidades de crescimento. Focar na exportação de minérios ou produtos agrícolas era inviável para nações com escassa área agricultável e quase nenhum produto mineral relevante. A saída era entrar no mercado internacional de manufaturados, mas simplesmente competir livremente neste mercado era inviável, já que não havia, inicialmente, mercado consumidor interno, empresas, base tecnológica, etc. Os trunfos dos tigres asiáticos eram a proteção dos Estados Unidos e o acesso fornecido por eles ao mercado internacional, a mão-de-obra barata, a máquina do Estado e uma ética de trabalho, além da vontade de modernização.
Montou-se, portanto, um modelo voltado para as exportações. Havia a certeza do mercado consumidor externo e procurou-se atrair capitais internacionais que se interessassem em utilizar a mão-de-obra barata local para criar plataformas de exportação de brinquedos, têxteis, etc.
O Estado, neste contexto, interveio em peso para promover as exportações. As nascentes empresas receberam incentivos fiscais, crédito barato, subsídios, proteção cambial e outras benesses. O Estado também procurou investir na infra-estrutura e na formação de capital humano, com maciça inversão de recursos na educação superior e na ciência e tecnologia, mas, acima de tudo, na educação básica e média. Ao mesmo tempo, o Estado manteve disciplina fiscal, inflação baixa e práticas de livre mercado, como preços livres e a concorrência. O próprio foco no mercado internacional, além disso, obrigou as empresas nacionais a ser competitivas.
Com isto, podemos caracterizar a economia dos tigres asiáticos como uma combinação entre o livre mercado e um Estado desenvolvimentista. Nem uma economia liberal, que deixaria tudo nas mãos do mercado, nem uma economia centralizada. Uma economia capitalista, de livre iniciativa, mas com um projeto nacional e um direcionamento por parte do Estado, numa combinação que deu certo. A única possível exceção foi Hong Kong, mais liberal, mas que tinha, contudo, a imensa vantagem de servir de porto franco para toda a China.
Nesse ponto, vale uma comparação com o Brasil. Durante alguns anos, por exemplo, tivemos uma reserva de mercado para a informática. As empresas nacionais que surgiram à época se acomodaram e, mesmo que tivessem tentado sofisticar seus produtos e exportar, esbarrariam em dificuldades de financiamento, escassa mão-de-obra qualificada, etc. O resultado foi uma indústria de computadores tímida, acomodada e que entrou em crise logo que as barreiras alfandegárias caíram.
Já na Coréia ou em Taiwan, por exemplo, as empresas tiveram a proteção das barreiras alfandegárias, mas a clareza de que essa situação não duraria para sempre e que elas logo teriam que competir no mercado mundial. O Estado, além disso, forneceu condições para a competitividade e cobrou intensamente que esta se desse. Diferença significativa, que explica porque estes dois países se tornaram potências na área tecnológica enquanto os brasileiros, durante o período da reserva de mercado, se esforçavam para contrabandear seus micros do Paraguai.
Em 1997/1998, uma severa crise atingiu os tigres asiáticos. Para os liberais, uma prova de que intervencionismo estatal não funciona e que as leis de mercado finalmente trabalhavam para colocar os asiáticos no seu devido lugar. Os liberais tinham razão quando ressaltavam que o sistema financeiro dos tigres asiáticos estava cheio de problemas e defeitos, como pouco rigor em empréstimos, uma relação quase incestuosa com as empresas, etc. Também tinham razão ao indicar que uma economia moderna demanda um sistema bancário menos concentrado, com critérios mais sérios para concessão de empréstimos, etc.
No entanto, a crise nestes anos não indicou o fim do modelo asiático, mas a necessidade de reformá-lo. Afinal, mesmo com tantos defeitos, ele funcionou bem por décadas e, mesmo após 1998, a recuperação desses países foi rápida. Afinal, havia uma base produtiva de última geração abaixo das crises políticas e financeiras. Os governos asiáticos, além disso, não seguiram todo o receituário do FMI e, após um primeiro momento de crise intensa por causa da desvalorização cambial, a situação começou a melhorar.
O enfraquecimento da moeda permitiu uma rápida expansão das exportações e os governos asiáticos reduziram os juros e começaram a gastar dinheiro público para sanear o sistema financeiro e estimular a economia. A própria disciplina fiscal desses países permitiu, aliás, que eles se permitissem um momento de liberalização das finanças públicas num momento crítico. Isso apenas revela como seguir o receituário liberal ao pé da letra nem sempre produz resultado, mas como segui-lo em parte pode ser muito produtivo em alguns casos.
O futuro dos tigres asiáticos, hoje, me parece promissor. Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong superaram a fase de exportadores de produtos de uso intensivo de mão-de-obra e já estão no mundo da indústria de ponta e de alta tecnologia. Agora, eles podem se dar ao luxo de abrir um pouco seu mercado (o que é louvável, no atual estágio do seu desenvolvimento, para ampliar ainda mais a sua competitividade e melhorar o nível de vida), confiar mais no consumo interno como motor do crescimento (mas sem esquecer as exportações), enquanto suas sociedades, mais sofisticadas, começam a demandar por um sistema político menos corrupto e mais democracia.
Um ciclo, assim, se fecha. De exportadores que só tinham a mão-de-obra barata para economias e sociedades mais sofisticadas, que transferem indústrias menos competitivas e capitais para seus vizinhos pobres. Um processo que começou no Japão, seguiu para os tigres e agora segue para os neo-tigres e a China. No futuro, possivelmente, Vietnã, Birmânia e outros entrarão no processo.
O que podemos aprender da experiência dos tigres asiáticos? Em primeiro lugar, a necessidade de uma sinergia entre um Estado minimamente eficiente (o que não significa esquecer o caráter corrupto e autoritário da maioria desses países nas últimas décadas) e capaz de conduzir um projeto nacional com um setor privado forte e competitivo. Em segundo, como não se constrói um país moderno sem ciência, tecnologia e educação, mas como estas precisam estar inseridas no sistema produtivo, sob risco de desperdício de potencial humano. Por fim, que valores como os dos asiáticos (trabalho, disciplina, visão de futuro) são fundamentais para o desenvolvimento, mas que o desenvolvimento é possível em qualquer lugar. Isso, claro, desde que as elites que tomam as decisões não se contentem com a sua riqueza e poder, mas desde tenham vontade de ver o país como um todo crescer, adotando as políticas adequadas para tanto.

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NUESTRA AMERICA

TENSÃO NA BOLÍVIA
O muro de Berlim caiu em novembro de 1989, catalizando uma mudança na paisagem da geopolítica mundial que vem se desdobrando até hoje. Aparentemente o mundo do passado teria desaparecido de todo. Mas não é bem assim. O muro está de volta. Ou pelo menos a sua assombracäo. > LEIA MAIS Internacional

ARTE&CULTURA


Terry Eagleton: A idéia de cultura


Filosofia e Questões Teóricas


Terry Eagleton
Neste livro, Terry Eagleton propõe a superação das definições antropológica e estética do conceito de cultura, cujo amplo uso nos prende a uma noção de cultura “debilitantemente ampla, e outra desconfortavelmente rígida”. Antes, mostra-nos a transição histórica da palavra, de sua denotação inicial de um processo material para as “questões do espírito”, e como o termo codifica “questões filosóficas fundamentais”.
Para Eagleton, a idéia de cultura significa uma rejeição “tanto do naturalismo quanto do idealismo”, ressaltando a tensão “entre fazer e ser feito, racionalidade e espontaneidade, que censura o intelecto desencarnado do Iluminismo, Tanto quanto desafia o reducionismo cultural de grande parte do pensamento contemporâneo”. Também ressalta sua função de extrair da diversidade a identidade unitária que permite o estabelecimento do Estado moderno, destacando a relação dos termos cultura e civilização, que de sinônimos passam a ter significados antagônicos. O autor aborda o problema da crise contemporânea da idéia de cultura, que difere das crises anteriores por sua afirmação de uma identidade específica no lugar da sua transcendência, já que estas identidades “todas vêem a si mesmas como oprimidas, aquilo que era antes concebido como um reino de consenso foi transformado em um terreno de conflito”. Ou seja, “cultura” deixou de significar um espaço de valores no qual podíamos encontrar outro ser humano, um meio para resolver rivalidades políticas, para se transformar no “próprio léxico do conflito político”.A obra discute também os choques culturais como “parte da forma que assume a política mundial do novo milênio”. Chamando a atenção para o fato de que não é o conteúdo da alta cultura o que está em jogo, mas os significados de seu uso, Eagleton lembra que é “uma leitura obtusa da Cultura Ocidental tratá-la simplesmente como o registro de uma experiência específica, culturalmente limitada”. Igualmente, parte para uma leitura do problema da identidade, salientando que a “disputa entre alta cultura, cultura como identidade e cultura pós-moderna não é uma questão do cosmopolita versus o local”, mas uma questão geopolítica, o confronto “entre a civilidade ocidental e tudo aquilo com que ela defronta em outros lugares”.No contexto desse amplo panorama conceitual, Eagleton debate a dialética da natureza e da cultura, além de estabelecer um diálogo profícuo com Marx, Nietzsche e Freud sobre as forças que com ela interagem. Resgatando o conceito das vulgatas que permeiam muitos dos discursos sobre o problema da cultura, ele possibilita umas nova e aprofundada visão sobre questões centrais do mundo contemporâneo, como a homogeneização da cultura de massas, a função da cultura na estruturação do Estado-Nação, a construção de identidades e sistemas doutrinários. A ênfase no significado de cultura torna-se vital para entendermos sua nova função política.[Texto de orelha do livro]EAGLETON, Terry. A idéia de cultura. Tradução de Sandra Castello Branco. São Paulo: Editora UNESP, 2005, 205 p.Terry Eagleton é o pseudônimo de Thomas Warton, 65, teórico marxista inglês e professor da Universidade de Oxford.
Outras obras de Terry Eagleton publicadas no Brasil:
A ideologia da estética, Jorge Zahar Ed., 1993.
Ideologia: uma introdução, UNESP, Boitempo, 1997.
As ilusões do pós-modernismo, Jorge Zahar Ed., 1998
Marx e a liberdade, UNESP, 1999.
Teoria da literatura: uma introdução, Martins Fontes, 2003


LIVROS E REVISTAS

1. FERNAND BRAUDEL Tempo e História

Marcos Antônio Lopes
Este lançamento da Editora FGV tem por objetivo ressaltar a relevância de Fernand Braudel, um dos mais importantes historiadores do Século XX.

O livro traz um conjunto de artigos de especialistas brasileiros e estrangeiros que analisam criticamente a obra histórica de Braudel. Entre eles estão François Dosse, Immanuel Wallerstein e Maurice Aymard, que discutem aspectos fundamentais das contribuições de Fernand Braudel como, por exemplo, a aproximação da história em relação às ciências sociais. A visão inovadora dos tempos múltiplos da história, incluindo-se a idéia da longa duração, é outro aspecto abordado pelos pesquisadores reunidos neste volume.

Nascido em 1902, no interior da França, as pesquisas de Fernand Braudel enfocam grandes objetos de análise apreendidos a partir de uma ampla percepção temporal que revela, em densos textos, as várias dimensões do tempo histórico. Braudel é autor de clássicos como Civilização material, economia e capitalismo, obra na qual traça uma visão panorâmica da história do mundo entre os séculos XV e XIX. Dentre seus numerosos livros, O Mediterrâneo e o mundo mediterrâneo na época de Felipe II permanece como a sua maior obra. Escrita num campo de concentração nazista, tornou-se sua tese de doutorado e a obra mais conhecida da chamada Escola de Annales.
A importância do pensamento histórico de Fernand Braudel remodelou o conceito da história, com profundas conseqüências para os rumos da disciplina na segunda metade do século XX.
R$ 32,00 / 184p.

2. De Verdade
Sándor Márai
Neste livro, conflitos amorosos e de classe se combinam para revelar um amplo painel da burguesia européia do século XX. Do autor de As brasas.
Escrito ao longo de quatro décadas, e na voz de quatro narradores, De verdade - que alguns críticos reputam como a obra máxima do húngaro Sándor Márai, autor de As brasas - disseca os conflitos do amor e do casamento, além de revelar os bastidores da burguesia decadente da Europa Central entre as duas grandes guerras. Demarcando com agudeza a fronteira intransponível que separa as classes sociais, o romance reabre as cicatrizes de uma capital agonizante, sitiada pelas tropas comunistas. Numa confeitaria de Budapeste, Ilonka conta a uma amiga a história de seu casamento desfeito, e relembra a inutilidade do esforço para conquistar a alma do ex-marido, encantado desde a juventude por Judit, uma simples criada. Depois, na atmosfera carregada de um café, Péter, o ex-marido de Ilonka, narra a um amigo a sua versão sobre a separação. Trinta anos mais tarde, na cama de um quarto de hotel em Roma, Judit fala ao novo namorado, músico, sobre a união fracassada com Péter, condenada de início pelo abismo existente entre seu ressentimento indissolúvel e as amarras impostas a seu parceiro, nobre por herança e filiação. Finalmente, em Nova York, o baterista de cabaré, o último confidente de Judit, faz uma crítica áspera da ditadura da sociedade de consumo, responsável pelo fim do sonho americano
Cia. das Letras, R$ 54,50

3.
Estado Novo em dobro
Rodrigo Patto Sá Motta, da UFMG, comenta a coletânea O Corporativismo em Português: Estado, Política e Sociedade no Salazarismo e no Varguismo
Rodrigo Patto Sá Motta
A década de 1930 constituiu momento ímpar na história das relações entre os governos de Brasil e Portugal. Desde a independência obtida em 1822 aquele foi, provavelmente, o período em que os laços unindo os dois países estiveram mais fortes. Um dado corriqueiro indica a proximidade existente entre os regimes autoritários de Vargas e Salazar, então em vigor nos dois lados do Atlântico: ambos designavam-se com a mesma expressão, Estado Novo. Tal aproximação é explicada por afinidades de natureza ideológica e também pelo lugar que cada país ocupava na imaginação política do outro.
Os dois regimes tinham base de sustentação semelhante, a aliança entre republicanos autoritários, católicos conservadores e fascistas (integralistas). Embora tivessem perspectivas diferentes, que geravam choques e disputas, tais grupos reuniram-se em torno de projeto de manutenção da ordem social e valores tradicionais ameaçados pelos mesmos inimigos: liberalismo e comunismo (mas, ressalve-se, isso não implicou repulsa total ao mundo moderno, sobretudo aos imperativos da modernização).
As duas ditaduras lançaram mão de recursos semelhantes para fortalecer a ordem e debelar ameaças de desagregação social e nacional, em especial a construção de estruturas corporativas, repressivas e propagandísticas. Naturalmente, havia peculiaridades e diferenças, por exemplo, as origens diversas de Vargas e Salazar, o brasileiro proveniente do republicanismo positivista e o líder português egresso do catolicismo conservador. Mas ambos tiveram de fazer concessões aos aliados, Salazar aos republicanos autoritários e fascistas, que não desejavam submissão total à Igreja, e Vargas aos católicos, de maneira que ao fim e ao cabo os resultados de suas ações assemelharam-se. Ainda na lista das diferenças, o Estado Novo brasileiro foi mais tolerante e flexível em seus compromissos ideológicos, pois no quadro dos intelectuais incorporados aos seus projetos culturais figuravam alguns perfis não condizentes com o universo da direita.
Do ponto de vista da imaginação política, para o salazarismo o Brasil ocupava papel importante, pois representava o sucesso do projeto colonial português, e o Estado Novo lusitano agarrava-se desesperadamente às colônias que ainda restaram da antiga grandeza Imperial. Para o varguismo, Portugal era uma das pedras angulares da nacionalidade brasileira que desejava construir, baseada na identidade católica e na língua portuguesa, enquanto os modelos desviantes eram devidamente reprimidos.
É a este perído fundamental da história dos dois países que se dedicam os textos da coletânea O Corporativismo em Português: Estado, Política e Sociedade no Salazarismo e no Varguismo, organizada pelos professores Francisco Palomanes Martinho (Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ) e António Costa Pinto (Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, ICS-UL). O livro é resultado de seminário realizado em Lisboa no ano de 2006, que reuniu pesquisadores portugueses e brasileiros para refletir sobre diferentes aspectos dos experimentos varguista e salazarista.
Como seria inevitável, dentre o amplo leque de possibilidades aberto pelo tema os autores privilegiaram determinadas questões. Destaque-se, em primeiro lugar, o corporativismo, que figura no título do livro e foi abordado por Francisco Martinho e Nuno Estevão Ferreira. Já Angela de Castro Gomes e Goffredo Adinolfi colocaram em foco os intelectuais, atores com papel chave na construção e disseminação dos discursos políticos de ambas ditaduras. Angela de Castro Gomes analisa o pensamento dos intelectuais que pavimentaram o caminho da ditadura brasileira, com ênfase nas formulações sobre o corporativismo, enquanto Adinolfi aborda a trajetória de Antonio Ferro, um dos principais intelectuais a serviço da propaganda do salazarismo.
As estruturas repressivas são o objeto dos textos de Francisco Carlos Teixeira da Silva e Irene Pimentel; o primeiro discute a atuação do famigerado Tribunal de Segurança Nacional (TSN), enquanto a segunda disseca o funcionamento da polícia e do aparato judicial na primeira fase do regime salazarista. Há ainda textos sobre as relações entre a Igreja católica e o Estado Novo português (Maria Inácia Rezola), o integralismo brasileiro (Giselda Brito Silva) e a atuação da Secretaria da Presidência do governo Vargas (Jorge Ferreira). Merece destaque, também, o primeiro capítulo do livro, em que António Costa Pinto apresenta competente síntese da gênese e dos principais traços do regime salazarista. A propósito, para o leitor brasileiro essa é importante contribuição do livro, a oportunidade de conhecer melhor a história portuguesa e sobretudo o salazarismo, temas escassamente estudados por aqui.
Outro mérito do trabalho consiste em apostar na abordagem comparativa como método para produzir conhecimento sobre determinada realidade social, ao observá-la em contraste com outras assemelhadas ou próximas. E a historiografia brasileira tem pouca tradição no terreno das análises comparativas; apenas recentemente começaram esforços significativos nessa direção, indício de amadurecimento da pesquisa acadêmica no país. Porém, dos autores da coletânea o único a enveredar pela análise comparativa em seu texto foi Francisco Martinho. A estratégia dos organizadores foi deixar o trabalho de comparação a cargo do autor da conclusão, Didier Musiedlak, a quem coube a tarefa de fazer o balanço final. Mas é encargo difícil para ser realizado sozinho, pois demandaria conhecimento profundo dos diversos temas abordados, considerando as realidades dos dois países.
Não é coisa simples o trabalho comparativo, que implica o risco de cometer simplificações e mesmo erros factuais. Portanto, a estratégia cautelosa é compreensível e justificável. Fica a constatação de que é preciso investimento continuado em pesquisas e cooperação, assim como acumulação de esforços coletivos para amadurecimento dos estudos comparativos. Por isso, O Corporativismo em Português deve ser saudado como trabalho pioneiro, que pode (e deve) inaugurar uma série de novos estudos sobre as trajetórias de Brasil e Portugal no século XX.
* Professor do Departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais
4. Nas bancas, o número 55 da revista Historia Viva.
DOSSIÊ ARTHUR E SUA LENDA
ARTIGOS
BIOGRAFIA: INFANTE DOM HENRIQUE - ENTRE O MAR E AS ESTRELAS
ANTIGÜIDADE - FOI PÉRICLES QUE FEZ!
BÁLCÃS - DEZESSEIS SÉCULOS DE CONFLITOS
ABOLIÇÃO - A IGUALDADE QUE NÃO VEIO
DITADURA MILITAR - A “EXPORTAÇÃO” DA REVOLUÇÃO
Os 40 anos do movimento de 1968 são analisados em número especial da revista Teoria e Debate. "O que ficou de 68?"
Textos de Emir Sader, Marcelo Ridenti, Walnice Nogueira Galvão, entre outros


SITES E BLOGUES

1. Muitas noticias e comentários importantes podem ser encontrados no blog da professora Maria da Conceição Oliveira. Não deixe de ver:
http://www.historiaemprojetos.blogspot.com/

2. Site sobre historia da moda e historia da arte
http://lilimachado.wordpress.com/

3. O PT mineiro resolveu engordar Aécio em sua carreir(inh) a rumo à presidência da República. Talvez conte, para isso, com a ignorância involuntária de grande parte da população mineira, que não tem acesso a informações sobre Aécio e vive num Estado sem oposição. Nesse caso, vale a pena ler o último post do Tamos com Raiva, com ampla pesquisa sobre o noticiário e as investigações policiais dos últimos cinco anos, e divulgar para os futuros eleitores de 2010.
Um post de José de Souza Castro mostra como e por que é ilegal a fusão entre Oi e Brasil Telecom, que ocorreu na semana passada.

Leia em http://www.tamoscomraiva.blogger.com.br/

NOTICIAS

1. Semana de Museus no MHN - 2008
Semana de Museus no Museu Histórico Nacional – 2008.
Museus como agentes de mudança social e desenvolvimento
Para celebrar a semana de Museus, o Museu Histórico Nacional convida o público para um final de semana histórico com os grupos História Através da Música e Morandubetá. Cantando histórias... – É desta forma que o grupo História Através da Música convidará o público a conhecer o Museu e suas exposições. Composto pelos professores de história Romney Lima, Alberto Buaiz Leite e André Mendes e pelos músicos Bruno Eschenazi, Valdir Ribeiro e o ator Rodrigo Michelli, o grupo executará sambas, que serão debatidos com público em diversas relações com a história do Brasil exposta nas galerias do Museu. Em seguida o grupo Morandubetá, composto por Benita Prieto e Lucia Fidalgo contará histórias no circuito da exposição “Um Novo Mundo, Um Novo Império – a Corte Portuguesa no Brasil” dialogando com o público e os acervos de forma dinâmica e descontraída.
Dias 17 e 18 de maio de 2008, a partir das 14:00 horas.
Entrada franca.
Mais informações: Tel: 2550-9257 ou e-mail mhncerlub@gmail.com

2. Convidamos todos para participarem da Semana Acadêmica da Faculdade de Viçosa que ocorrerá entre os dias 12 e 16 de maio com o tema "Responsabilidade Social: O elo entre o Estado, a Iniciativa Privada, o Terceiro Setor e o Cidadão.
A palestra de abertura será realizada pela prelecionista internacional do Projeto Economia de Comunhão, Doutora Graça Rocha, com o tema "Economia de Comunhão - Uma forma inovadora de gestão empresarial". Teremos diversos minicursos interessantes que atendem às demandas dos nossos cursos da FDV. No site da Faculdade existem informações detalhadas sobre cada minicurso.
http://www.faculdadevicosa.com.br/
As inscrições devem ser feitas pelo próprio site

3. Nós que amamos tanto a revolução! 1968 - 40 anos
RJ - Rio de Janeiro12/05, segunda-feira, às 10h
Palácio Gustavo Capanema
13/05, terça-feira, às 10h
Praia Vermelha / UFRJ
14/05, quarta-feira, às 10h
Gragoatá / UFF
15/05, quinta-feira, às 10hIFCS / UFRJ
4. Bienal do Livro(no Expominas):
Do dia 15 até 25 de maio;
Av. Amazonas, 6030,Gameleira.
Abertura dia 15 as 12hs.
Horários; De segunda a sexta (de 9hs as 22hs); sábado e domingo das 10hs as 22hs.
Entrada 6,00 (inteira) e 3,00 (meia). Tel;031 2355257 /5258.

5.Palácio das Artes, Belo Horizonte.