Boletim atualizado todas as quartas-feiras, objetiva trazer temas para discussão, informar sobre concursos, publicações de livros e revistas. Aceita-se contribuições, desde que versem sobre temas históricos. É um espaço plural, aberto a todas as opiniões desde que não contenham discriminações, racismo ou incitamentos ilegais. Os artigos assinados são de responsabilidade única de seus autores e não refletem o pensamento do autor do Boletim.
19.8.10
O passado e o presente da imprensa brasileira A revista Época fez o que se espera da Globo, um dos pilares de sustentação da ditadura militar: resgatou a agenda da Guerra Fria e destacou na capa o “passado de Dilma”. O ovo da serpente permanece presente na sociedade brasileira. O que deveria ser tema de orgulho para uma sociedade democrática é apresentado por uma das principais revistas do país com ares de suspeita. Os editores de Época honram assim o passado autoritário e anti-democrático de sua empresa e nos mostram que ele está vivo e atuante. No RS, jornal Zero Hora aplaude suspensão de indenizações às vítimas da ditadura e fala do risco de instituir uma "bolsa anistia".
A guerra no Afeganistão: ecos do Vietnã Os fuzileiros estão enfrentando um problema que sempre espreitou os conquistadores, e que é muito familiar para os Estados Unidos, desde o Vietnã. Em 1969, Douglas Pike, o mais importante acadêmico governamental nos assuntos do Vietnã lamentou que o inimigo – a Frente de Libertação Nacional (FLN) – era o único partido político verdadeiramente baseado nas massas no Vietnã do Sul”. Qualquer esforço para competir politicamente com esse inimigo seria como um conflito entre uma sardinha e uma baleia, reconheceu Pike. O artigo é de Noam Chomsky.
New York Herald Tribune! New York Herald Tribune! O movimento cinematográfico da Nouvelle Vague completa cinqüenta anos e continua sendo o símbolo de uma das mudanças mais radicais na história do cinema
CAFÉ EXPRESSO NOTICIAS
Livro de Peter Burke mostra Gilberto Freire nos debates de sua época
FÓRUNS EM DESTAQUE
A historiografia é composta apenas por obras escritas ou o não-escrito também pode ser visto como uma obra de história?
O livro Bullying - Mentes Perigosas nas Escolas: Como Identificar e Combater, de Ana Beatriz Barbosa Silva, foi lançado em 2010, mas já se tornou um clássico para se compreender esse antigo problema do universo escolar. Visite Cafe Historia em: http://cafehistoria.ning.com/?xg_source=msg_mes_network
O livro é voltado para estudantes que estejam prestes a entrar no mercado de trabalho e cheios de dúvidas práticas: como montar um currículo, como participar de uma entrevista, quais características um editor busca para a equipe etc.
É mais voltado para o mundo do jornalismo (tem inclusive questões como "sou formado em outra área e quero virar jornalista, o que fazer?"), mas também pode ajudar em outras profissões, porque as dúvidas são muito parecidas. Quem escreveu foi Cristina Castro e a editora de Treinamento da Folha, Ana Estela de Sousa Pinto. A gente tem um blog, chamado "Novo em Folha", também voltado para esse público, e o que mais chega é esse tipo de dúvida. Por isso achamos que poderá ser útil a muita gente.
Objetivo Irã: os riscos de uma Terceira Guerra Mundial As consequências de um ataque mais amplo por parte dos EUA, da OTAN e de Israel contra o Irã são de grande alcance. A guerra e a crise econômica estão intimamente relacionadas. A economia de guerra é financiada por Wall Street que, por sua vez, se ergue como credor da administração dos EUA. Por sua vez, “a luta pelo petróleo” no Oriente Médio e Ásia Central serve diretamente aos interesses dos gigantes do petróleo anglo-estadunidense. Os EUA e seus aliados estão “batendo os tambores da guerra” na altura de uma depressão econômica mundial, para não mencionar a catástrofe ambiental mais grave na história da humanidade. O artigo é de Michel Chossudovsky, diretor do Centro para Investigação sobre a Globalização.
O economista das revoluções pós-modernas Christian Marazzi desvia-se do marxismo ortodoxo para enxergar quais são as novas estratégias do capital -- e como a multidão, em rede, pode vencê-las Política também é Cultura? A coordenadora da Conferência Nacional de Cultura apresenta as leis que podem -- se aprovadas no Congresso -- estimular milhões de produtores brasileiros Reportagem em Gaza Uma pesquisadora norte-americana narra como vive (e resiste) o território que os governantes de Israel querem isolar do mundo
O IV Seminário História das Doençasocorrerá nos dias 1, 2 e 3 de setembro de 2010no Auditório do Museu da Vida /Fiocruz (Av. Brasil, 4365), Rio de Janeiro.Contamos com a presença de todos esolicitamos a divulgação do evento através do encaminhamento doconvite em anexo.Além de conferências e mesas-redondas,o evento prevê a inscrição para apresentação de trabalhos em sessõesorais e de pôsteres,que serão selecionados por uma comissão científica:Prazo 20 de agosto de 2010Informações(21) 34429904 (Luciana Kanhan)eventofiocruz@terra.com.br
Ando com dificuldades para fazer o Boletim, já que não estou em casa. Semana passada, perdi todo o material já pronto para ser postado...
Vamos tentar de novo, ja pedindo desculpas pelo amadorismo...Nao vamos nos esquecer: de 12 a 22 de agosto, temos a Bienal Internacional do Livro, em Sao Paulo. O evento acontece no Ahembi.
Noticia muito seria, do Boletim da Anpuh. Nao deixe de ler e participar!
NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL: AVISO AOS REFORMADORES
por Silvia Hunold Lara (Depto. História - UNICAMP)
No início de junho desse ano, o Anteprojeto de Código de Processo Civil, elaborado por uma Comissão de Juristas que se reúne desde 2009, foi apresentado ao Senado. Na semana passada, uma comissão foi criada para examinar as 261 páginas do documento, com vários assuntos polêmicos. Certamente, deve haver muita discussão. Mas há algo que precisa ser esclarecido desde já: a comissão de juristas que elaborou o anteprojeto e o senador José Sarney, que o encaminhou ao Senado, cometem um duplo atentado à cidadania, ao autorizarem a destruição completa da memória do judiciário brasileiro e ignorarem demandas sociais reivindicadas há décadas.
Sim, é disso que se trata. O artigo 967 do atual anteprojeto repete as mesmas palavras do antigo artigo 1.215 do Código, promulgado em 1973, que autorizava a eliminação completa dos autos findos e arquivados há mais de cinco anos, "por incineração, destruição mecânica ou por outro meio adequado". Em total desrespeito ao direito cidadão de preservação da história e às regras arquivísticas mais elementares, a determinação reforça a moda burocrática de limpar o passado. Certamente, os processos findos há cinqüenta, cem anos não servem mais para as partes envolvidas - mas servem, e muito, para se conhecer a história do judiciário, dos movimentos e das relações sociais no Brasil... A determinação decreta a amnésia social e espezinha o direito que todos temos à memória e à história.
A medida tem antecedentes históricos. Em 1890, Rui Barbosa mandou queimar os documentos referentes aos escravos existentes na Tesouraria da Fazenda, na tentativa de eliminar a "nódoa da escravidão" e impedir que ex-senhores insatisfeitos com a Abolição tivessem provas para abrir processos de indenização. A medida era meramente prática, mas rende muitos transtornos para quem quer conhecer os números da demografia escrava no final do século XIX. Seu ato, mesmo aparentemente justificável para um ministro da Fazenda preocupado em proteger o Tesouro nacional, rende-lhe até hoje a pecha de ter mandado queimar todos os arquivos da escravidão. Há algum tempo, os historiadores conseguiram contornar parcialmente o ato lesivo de Rui Barbosa graças ao acesso a outros documentos - em especial os guardados pelo judiciário brasileiro. Há muitos exemplos: as ações cíveis do século XIX incluíam freqüentemente entre suas provas os registros de propriedade sobre os escravos, com dados importantes como idade, condição matrimonial, ofício, etc; os litígios sobre inventários traziam documentos que permitem aos historiadores conhecer a vida cotidiana das fazendas e engenhos daquele período; diversos autos cíveis trataram de negociações sobre a alforria de cativos e libertos, revelando aspectos importantes da história da liberdade em nosso país. O uso dessa documentação, nas últimas décadas, permitiu redimensionar a história da escravidão e tem sido utilizada cada vez mais para conhecer a história dos trabalhadores livres e da vida cotidiana no Brasil dos séculos XIX e XX. Valor documental similar têm os processos criminais e os da Justiça do Trabalho - fontes preciosas que voltam a ser ameaçadas.
Sim, voltam a ser ameaçadas. Promulgado o Código de Processo Civil em 1973, a comunidade nacional e internacional de historiadores, juristas e arquivistas, depois de muita gritaria e vários artigos em jornais e revistas especializadas, conseguiu, em plena ditadura, suspender a vigência do tal artigo 1.215 (lei 6.246, de 7/10/1975). O que terá levado a Comissão de juristas a ignorar toda essa movimentação e a lei 6.246? Talvez sejam adeptos da mencionada moda de limpeza burocrática, talvez concordem com os argumentos aparentemente singelos (mas facilmente contestáveis) da necessidade de economia com a redução de custos de armazenamento de papéis velhos, ou confortem-se com cláusula que prosaicamente manda recolher aos arquivos públicos os "documentos de valor histórico" existentes nos autos a serem eliminados. Talvez ainda se sintam à vontade para tal ato de soberania, diante das dificuldades muitas vezes enfrentadas por historiadores e magistrados para suspender autorização análoga existente no âmbito da Justiça do Trabalho. Apesar das vitórias conseguidas com a criação de memoriais e centros de documentação em vários Estados e de numerosas resoluções aprovadas consensualmente em encontros nacionais sobre a preservação da memória da Justiça do Trabalho, com participação expressiva de pesquisadores, arquivistas e, principalmente, dos magistrados, milhares de autos trabalhistas findos há mais de cinco anos têm sido destruídos, sob a proteção da Lei 7.627, de novembro de 1987.
Rui Barbosa pelo menos lidava com questões mais concretas. No caso do atual projeto de lei, nada justifica tal barbaridade.
Restaurar a autorização para eliminar os processos cíveis findos, além de atentar contra o direito constitucional de acesso à informação (nele incluída a informação histórica, tenha ela 200, 100, 20 ou 10 anos), é também ignorar que o atual Código de Processo Civil foi modificado em função de reivindicações de entidades culturais e daqueles que são profissionalmente responsáveis pela preservação da memória e da história do Brasil. O Senado tem agora o dever de corrigir esse duplo atentado à cidadania - ou será cúmplice desse crime? Por que não aproveitar a ocasião para mudar, inscrevendo em lei a necessidade de proteger de fato o patrimônio público nacional, do qual fazem parte os processos judiciais (cíveis, criminais e trabalhistas)? Isso, sim, seria um bom modo de entrar para a história! Com a palavra os Senadores.
Guilherme Souto enviou
Para refletirmos um pouco sobre a nossa prática...
Em sabatina realizada com candidatos ao governo de São Paulo, o tema da promoção automática de alunos se confundiu com um conceito distinto, o de progressão continuada. Desta confusão nasce um dos debates mais equivocados a respeito da educação em nosso país: aquele em que identifica a progressão continuada como omissão pedagógica da escola e a repetência como rigor.
A confusão é generalizada e envolve pais e até mesmo professores. A repetência é uma face da mesma moeda em que se situa a promoção automática. Ambas simplesmente negam o acompanhamento efetivo do aluno que se encontra em dificuldades. Ambas são omissas. A repetência nasce de uma concepção taylorista educacional que se forjou na última década do século XIX nos EUA, formulada por Joseph Mayer Rice. Rice vinculou os objetivos da educação à formação para a indústria. A partir desta escolha, criou um ranking de conteúdos, tendo a matemática e a física como principais, seguidas pela biologia, química e comportamento social.
O tempo de aula foi decomposto em módulos-aula em que o ranking de conteúdos era distribuído. E nasceu a seriação, onde um ano era base (pré-requisito) para o seguinte, criando uma escala linear de ensino. O problema é que esta concepção tem muito de administração racional do trabalho mas muito pouco de educação e desenvolvimento humano. Os seres humanos, para desespero dos educadores tayloristas, não saltam de patamar cognitivo ou afetivo a cada mês ou a cada ano. O “calendário humano” é outro.
Este peculiar calendário do desenvolvimento humano foi tema de muitos pesquisadores muito citados, mas pouco compreendidos como Jean Piaget, Henri Wallon, reafirmados por outros pesquisadores contemporâneos, como o neurologista Antonio Damasio, para citar alguns. A repetência é um elemento do sistema de verificação da seriação, não de avaliação do processo de desenvolvimento.
Explico: a seriação define um patamar ideal que o aluno deve atingir. Este patamar deve ser atingido indistintamente, sem que se tenha muita preocupação com as dificuldades peculiares de aprendizagem. A partir do patamar ideal, cria-se um ranking de classificação. E aqueles que não atingem um determinado índice deste ranking devem repetir. A repetência, por sua vez, repete (a redundância é inevitável) o que o aluno que não atingiu o patamar mínimo já assistiu em muitas aulas. As aulas de reforço incorrem no mesmo erro: acreditam que pela repetição o aluno passa a se condicionar à resposta certa. Contudo, num mundo em que uma novidade tecnológica ocorre a cada seis meses, por segmento produtivo, esta crença na memorização como carro-chefe do processo educacional cai por terra. Repetir um aluno, portanto, é anacrônico e um ato pouco profissional do ponto de vista educacional. A promoção automática também incorre neste erro porque tampouco leva em consideração o processo de aprendizagem. Entre repetir e promover automaticamente está justamente a educação. Interessante que o primeiro artigo sobre sistema de ciclos escrito por um brasileiro foi publicado na década de 1950, no Rio Grande do Sul. O título do artigo era "Promoção automática ou progessão continuada?". Mais de meio século depois, continuamos não compreendendo a diferença entre as duas propostas. São Paulo apresenta ainda mais dificuldade porque em 1921, Oscar Thompson, diretor geral do Ensino do Estado, propôs, na Conferência Interestadual de Ensino Primário, a promoção em massa. Sampaio Dória também sugeriu algo semelhante, a promoção automática. Em 1956, durante a Conferência Regional Latino-Americana sobre Educação Primária Gratuita e Obrigatória, promovida pela UNESCO foi amplamente discutido um estudo sobre reprovações na escola primária na América Latina. Dentre as medidas sugeridas estava a promoção automática. O sistema de ciclos não propõe a promoção automática, mas na adoção de enturmações múltiplas (além das turmas de referência) para alunos que apresentarem dificuldades específicas. Digamos que uma vez por semana as escolas se dedicam a estas enturmações diferentes. A promoção, naquela área em que se apresenta dificuldade de aprendizagem, ocorre quando o professor definir e considerar adequado. Naquilo em que está bem, o aluno é promovido. Naquilo em que está apresentando dificuldades, continua numa turma intermediária. O método adotado nesta enturmação específica é diferente do aplicado anteriormente. Não se trata de repetência.
O Brasil tenta criar atalhos na educação. E não percebe que, por aí, banalizamos o caminho do desenvolvimento sustentável.
Anna Karenina enviou:
Jorge Furtado e as eleições 2010
Dez falsos motivos para não votar na Dilma
por Jorge Furtado em 25 de julho de 2010, em seu blog
Tenho alguns amigos que não pretendem votar na Dilma, um ou outro até diz que vai votar no Serra. Espero que sigam sendo meus amigos. Política, como ensina André Comte-Sponville, supõe conflitos: “A política nos reúne nos opondo: ela nos opõe sobre a melhor maneira de nos reunir”.
Leio diariamente o noticiário político e ainda não encontrei bons argumentos para votar no Serra, uma candidatura que cada vez mais assume seu caráter conservador. Serra representa o grupo político que governou o Brasil antes do Lula, com desempenho, sob qualquer critério, muito inferior ao do governo petista, a comparação chega a ser enfadonha, vai lá para o pé da página, quem quiser que leia. (1)
Ouvi alguns argumentos razoáveis para votar em Marina, como incluir a sustentabilidade na agenda do desenvolvimento. Marina foi ministra do Lula por sete anos e parece ser uma boa pessoa, uma batalhadora das causas ambientalistas. Tem, no entanto (na minha opinião) o inconveniente de fazer parte de uma igreja bastante rígida, o que me faz temer sobre a capacidade que teria um eventual governo comandado por ela de avançar em questões fundamentais como os direitos dos homossexuais, a descriminalização do aborto ou as pesquisas envolvendo as células tronco.
Ouço e leio alguns argumentos para não votar em Dilma, argumentos que me parecem inconsistentes, distorcidos, precários ou simplesmente falsos. Passo a analisar os dez mais freqüentes.
1. “Alternância no poder é bom”.
Falso. O sentido da democracia não é a alternância no poder e sim a escolha, pela maioria, da melhor proposta de governo, levando-se em conta o conhecimento que o eleitor tem dos candidatos e seus grupo políticos, o que dizem pretender fazer e, principalmente, o que fizeram quando exerceram o poder. Ninguém pode defender seriamente a idéia de que seria boa a alternância entre a recessão e o desenvolvimento, entre o desemprego e a geração de empregos, entre o arrocho salarial e o aumento do poder aquisitivo da população, entre a distribuição e a concentração da riqueza. Se a alternância no poder fosse um valor em si não precisaria haver eleição e muito menos deveria haver a possibilidade de reeleição.
2. “Não há mais diferença entre direita e esquerda”.
Falso. Esquerda e direita são posições relativas, não absolutas. A esquerda é, desde a sua origem, a posição política que tem por objetivo a diminuição das desigualdades sociais, a distribuição da riqueza, a inserção social dos desfavorecidos. As conquistas necessárias para se atingir estes objetivos mudam com o tempo. Hoje, ser de esquerda significa defender o fortalecimento do estado como garantidor do bem-estar social, regulador do mercado, promotor do desenvolvimento e da distribuição de riqueza, tudo isso numa sociedade democrática com plena liberdade de expressão e ampla defesa das minorias. O complexo (e confuso) sistema político brasileiro exige que os vários partidos se reúnam em coligações que lhes garantam maioria parlamentar, sem a qual o país se torna ingovernável. A candidatura de Dilma tem o apoio de políticos que jamais poderiam ser chamados de “esquerdistas”, como Sarney, Collor ou Renan Calheiros, lideranças regionais que se abrigam principalmente no PMDB, partido de espectro ideológico muito amplo. José Serra tem o apoio majoritário da direita e da extrema-direita reunida no DEM (2), da “direita” do PMDB, além do PTB, PPS e outros pequenos partidos de direita: Roberto Jefferson, Jorge Borhausen, ACM Netto, Orestes Quércia, Heráclito Fortes, Roberto Freire, Demóstenes Torres, Álvaro Dias, Arthur Virgílio, Agripino Maia, Joaquim Roriz, Marconi Pirilo, Ronaldo Caiado, Katia Abreu, André Pucinelli, são todos de direita e todos serristas, isso para não falar no folclórico Índio da Costa, vice de Serra. Comparado com Agripino Maia ou Jorge Borhausen, José Sarney é Che Guevara.
3. “Dilma não é simpática”.
Argumento precário e totalmente subjetivo. Precário porque a simpatia não é, ou não deveria ser, um atributo fundamental para o bom governante. Subjetivo, porque o quesito “simpatia” depende totalmente do gosto do freguês. Na minha opinião, por exemplo, é difícil encontrar alguém na vida pública que seja mais antipático que José Serra, embora ele talvez tenha sido um bom governante de seu estado. Sua arrogância com quem lhe faz críticas, seu destempero e prepotência com jornalistas, especialmente com as mulheres, chega a ser revoltante.
4. “Dilma não tem experiência”.
Argumento inconsistente. Dilma foi secretária de estado, foi ministra de Minas e Energia e da Casa Civil, fez parte do conselho da Petrobras, gerenciou com eficiência os gigantescos investimentos do PAC, dos programas de habitação popular e eletrificação rural. Dilma tem muito mais experiência administrativa, por exemplo, do que tinha o Lula, que só tinha sido parlamentar, nunca tinha administrado um orçamento, e está fazendo um bom governo.
5. “Dilma foi terrorista”.
Argumento em parte falso, em parte distorcido. Falso, porque não há qualquer prova de que Dilma tenha tomado parte de ações “terroristas”. Distorcido, porque é fato que Dilma fez parte de grupos de resistência à ditadura militar, do que deve se orgulhar, e que este grupo praticou ações armadas, o que pode (ou não) ser condenável. José Serra também fez parte de um grupo de resistência à ditadura, a AP (Ação Popular), que também praticou ações armadas, das quais Serra não tomou parte. Muitos jovens que participaram de grupos de resistência à ditadura hoje participam da vida democrática como candidatos. Alguns, como Fernando Gabeira, participaram ativamente de seqüestros, assaltos a banco e ações armadas. A luta daqueles jovens, mesmo que por meios discutíveis, ajudou a restabelecer a democracia no país e deveria ser motivo de orgulho, não de vergonha.
6. “As coisas boas do governo petista começaram no governo tucano”.
Falso. Todo governo herda políticas e programas do governo anterior, políticas que pode manter, transformar, ampliar, reduzir ou encerrar. O governo FHC herdou do governo Itamar o real, o programa dos genéricos, o FAT, o programa de combate a AIDS. Teve o mérito de manter e aperfeiçoá-los, desenvolvê-los, ampliá-los. O governo Lula herdou do governo FHC, por exemplo, vários programas de assistência social. Teve o mérito de unificá-los e ampliá-los, criando o Bolsa Família. De qualquer maneira, os resultados do governo Lula são tão superiores aos do governo FHC que o debate “quem começou o quê” torna-se irrelevante.
7. “Serra vai moralizar a política”.
Argumento inconsistente. Nos oito anos de governo tucano-pefelista – no qual José Serra ocupou papel de destaque, sendo escolhido para suceder FHC – foram inúmeros os casos de corrupção, um deles no próprio Ministério da Saúde, comandado por Serra, o superfaturamento de ambulâncias investigado pela “Operação Sanguessuga”. Se considerarmos o volume de dinheiro público desviado para destinos nebulosos e paraísos fiscais nas privatizações e o auxílio luxuoso aos banqueiros falidos, o governo tucano talvez tenha sido o mais corrupto da história do país. Ao contrário do que aconteceu no governo Lula, a corrupção no governo FHC não foi investigada por nenhuma CPI, todas sepultadas pela maioria parlamentar da coligação PSDB-PFL. O procurador da república ficou conhecido com “engavetador da república”, tal a quantidade de investigações criminais que morreram em suas mãos. O esquema de financiamento eleitoral batizado de “mensalão” foi criado pelo presidente nacional do PSDB, senador Eduardo Azeredo, hoje réu em processo criminal. O governador José Roberto Arruda, do DEM, era o principal candidato ao posto de vice-presidente na chapa de Serra, até ser preso por corrupção no “mensalão do DEM”. Roberto Jefferson, réu confesso do mensalão petista, hoje apóia José Serra. Todos estes fatos, incontestáveis, não indicam que um eventual governo Serra poderia ser mais eficiente no combate à corrupção do que seria um governo Dilma, ao contrário.
8. “O PT apóia as FARC”.
Argumento falso. É fato que, no passado, as FARC ensaiaram uma tentativa de institucionalização e buscaram aproximação com o PT, então na oposição, e também com o governo brasileiro, através de contatos com o líder do governo tucano, Arthur Virgílio. Estes contatos foram rompidos com a radicalização da guerrilha na Colômbia e nunca foram retomados, a não ser nos delírios da imprensa de extrema-direita. A relação entre o governo brasileiro e os governos estabelecidos de vários países deve estar acima de divergências ideológicas, num princípio básico da diplomacia, o da auto-determinação dos povos. Não há notícias, por exemplo, de capitalistas brasileiros que defendam o rompimento das relações com a China, um dos nossos maiores parceiros comerciais, por se tratar de uma ditadura. Ou alguém acha que a China é um país democrático?
9. “O PT censura a imprensa”.
Argumento falso. Em seus oito anos de governo o presidente Lula enfrentou a oposição feroz e constante dos principais veículos da antiga imprensa. Esta oposição foi explicitada pela presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) que declarou que seus filiados assumiram “a posição oposicionista (sic) deste país”. Não há registro de um único caso de censura à imprensa por parte do governo Lula. O que há, frequentemente, é a queixa dos órgãos de imprensa sobre tentativas da sociedade e do governo, a exemplo do que acontece em todos os países democráticos do mundo, de regulamentar a atividade da mídia.
10. “Os jornais, a televisão e as revistas falam muito mal da Dilma e muito bem do Serra”.
Isso é verdade. E mais um bom motivo para votar nela e não nele.
*****
(1) Alguns dados comparativos dos governos FHC e Lula.
Geração de empregos:
FHC/Serra = 780 mil x Lula/Dilma = 12 milhões
Salário mínimo:
FHC/Serra = 64 dólares x Lula/Dilma = 290 dólares
Mobilidade social (brasileiros que deixaram a linha da pobreza):
FHC/Serra = 2 milhões x Lula/Dilma = 27 milhões
Risco Brasil:
FHC/Serra = 2.700 pontos x Lula/Dilma = 200 pontos
Dólar:
FHC/Serra = R$ 3,00 x Lula/Dilma = R$ 1,78
Reservas cambiais:
FHC/Serra = 185 bilhões de dólares negativos x Lula/Dilma = 239 bilhões de dólares positivos.
Relação crédito/PIB:
FHC/Serra = 14% x Lula/Dilma = 34%
Produção de automóveis:
FHC/Serra = queda de 20% x Lula/Dilma = aumento de 30%
Taxa de juros:
FHC/Serra = 27% x Lula/Dilma = 10,75%
(2) Elio Gaspari, na Folha de S.Paulo de 25.07.10:
José Serra começou sua campanha dizendo: “Não aceito o raciocínio do nós contra eles”, e em apenas dois meses viu-se lançado pelo seu colega de chapa numa discussão em torno das ligações do PT com as Farc e o narcotráfico. Caso típico de rabo que abanou o cachorro. O destempero de Indio da Costa tem método. Se Tupã ajudar Serra a vencer a eleição, o DEM volta ao poder. Se prejudicar, ajudando Dilma Rousseff, o PSDB sairá da campanha com a identidade estilhaçada. Já o DEM, que entrou na disputa com o cocar do seu mensalão, sairá brandindo o tacape do conservadorismo feroz que renasceu em diversos países, sobretudo nos Estados Unidos.
Jorge Furtado é um cineasta e roteirista brasileiro, diretor de Ilha das Flores (1987) e Saneamento Básico (2007).
Vania me enviou este comentário publicado na Folha de Sao Paulo
CLAUDIO WEBER ABRAMO
Presente fictício, futuro estático
Os candidatos são reacionariamente situacionistas; tanto faz quem seja eleito
ELEIÇÕES TÊM a ver com o futuro. Plataformas eleitorais formulam-se em torno de visões sobre como a comunidade deve orientar-se na projeção do tempo. Para que alguém possa propor algo a respeito do futuro, é imprescindível que se baseie em alguma espécie de apreciação sobre o presente.
Qual é o presente que os candidatos "mainstream" à Presidência da República e aos governos estaduais têm em mente?
Seja porque acreditem, seja porque tenham receio de exprimir claramente o que pensam, para esses candidatos o Brasil seria mesmo aquele país pujante e cheio de gente otimista dos reclames publicitários oficiais e das grandes empresas.
Todos, ou quase todos, parecem entregues ao simbolismo fictício dos Brics, como se realmente fizesse algum sentido mencionar o Brasil na mesma frase em que aparecem China, Rússia ou Índia. Todos acham que sediar a Copa do Mundo de futebol em 2014 seja algo sensato. Ninguém tem alguma palavra crítica ao Bolsa Família.
É claro que deve haver quem seja capaz de apresentar argumentos em favor da Copa de 2014, do Bolsa Família e de outros temas (embora quanto às pretensas condições de desenvolvimento brasileiras isso seja missão impossível). O que espanta é inexistência de vozes discordantes.
Enquanto os candidatos jogam o jogo do contente, o país real convive com um poder Legislativo irrelevante, com partidos com escassa ou nenhuma representatividade política, com um poder Judiciário incapaz de proporcionar justiça, com agências reguladoras capturadas pelos interesses que deveriam vigiar, com um funcionalismo público que, com raras e notáveis exceções, varia de incompetente a aproveitador, com um setor privado avesso ao risco e à inventividade, com uma academia improdutiva... a lista das disfuncionalidades brasileiras é inesgotável.
No entanto, nenhuma dessas e outras ineficiências, incompetências e picaretagens aparece nas plataformas dos candidatos com alguma chance de sucesso eleitoral. Para eles, o presente está ótimo e nada há a mudar em relação ao futuro.
Na prática, portanto, e independentemente das siglas partidárias sob as quais se apresentam ou de seus eventuais apoiadores, os candidatos são todos reacionariamente situacionistas.
O que, ao fim e ao cabo, é natural e esperado. Num país que vive de ilusões, eleições representam apenas mais uma vertente ficcional. De modo que tanto faz quem venha a ser eleito. Mudarão apenas os personagens, os grupos beneficiados por privilégios e os aventureiros entre os quais o Estado será repartido.
CLAUDIO WEBER ABRAMO é diretor-executivo da Transparência Brasil
Governo avança no modelo de universidade subordinado ao Banco Mundial
Escrito por Valéria Nader
Com exígua divulgação pela mídia, foi há alguns dias anunciado pelo governo o ‘Pacote de Autonomia Universitária’, através da MP 435/2010 e dos Decretos de nº. 7232, 7233 e 7234. Esta é mais umas das medidas do governo Lula que, a partir de um olhar raso, pode levar às tão corriqueiras críticas dos setores mais conservadores, ressaltando uma suposta maior participação do Estado na economia e o desperdício dos recursos públicos. Caminha-se, no entanto, no sentido oposto, em irrefutável rota de colisão relativamente à autonomia universitária. Roberto Leher, professor da Faculdade de Educação da UFRJ, nos fala sobre o pacote.
Alerta para quem crê na mídia: o que vendem os “especialistas”? “Elite Oculta”: Você sabe a quem interessa a pauta que lhe vendem?
31/1/2010, Janine R. Wedel, Huffington Post
Traduzido por Caia Fittipaldi
Na comunidade de menos de duas mil almas onde fui criada, os famosos seis graus de separação derretem. Em cidades muito pequenas você é obrigado a desempenhar vários papéis: cuidar dos filhos do vizinho, o qual é seu professor e amigo do seu pai, e que é casado com a professora da Escola Dominical. Há aí algum espaço para nepotismo e corrupção? Há. Mas, ao mesmo tempo, todos sabem o que todos estão fazendo, e as agendas e pautas ocultas são quase impossíveis. Em cidades muito pequenas, agendas, pautas, papéis sociais, relacionamentos e apadrinhamentos são bem visíveis.Ao contrário, entre os operadores do poder, os “flexibilizadores” [1] que operam hoje no mundo – a elite oculta –, o público jamais consegue ver com clareza todas as agendas, pautas, papéis, relacionamentos e apadrinhamentos que os ligam.Examinamos alguns desses “flexibilizadores” e vimos que mesmo quando são processados por fraudar o fisco, eles continuam dando jeito de garantir seu lugar à mesa, e sempre voltam. Onde antes havia poucos agentes de poder e as afiliações eram mais estáveis, a nova geração de atores – cujos muitos e sempre fluidos relacionamentos refletem a multiplicidades de empresas que vivem hoje muito próximas do Estado – atuam globalmente e são difíceis de rastrear.Os papéis se sobrepõem e interconectam, podem criar comunidades vibrantes e fortes – e podem ajudar a explicar por que uma pequena comunidade pode ser ao mesmo tempo insular e altamente engajada no mundo. Essa estrutura admite e dá apoio a mobilizações, seja para organizar uma festa ou um movimento de ajuda comunitária. A comunidade onde nasci, que tem raízes na tradição Menonita de serviço social, organizou-se muito rapidamente para ajudar o Haiti. Em boa parte porque lá todos têm informação de primeira mão e há sólida rede de interdependência.Em pequena escala, a interdependência de papéis e relacionamentos é benéfica. Mas se se aplica à elite oculta, o modelo cria riscos imediatos à democracia. Enquanto, numa pequena comunidade, há instalado um apparatus que impede que se constituam agendas ocultas e ajuda a discernir entre o que interessa aos muitos e o que não interessa – pode-se sempre conhecer e verificar a fonte da informação e os interesses de quem informa –, nada semelhante a isso existe na grande esfera pública, que acaba ocupada por uma elite oculta. (A elite oculpa depende, é claro, da troca de informação de primeira mão, mas esconde atentamente essa informação e a oferece já interpretada.) O grande público é deixado sem meios confiáveis para saber o que os ‘flexibilizadores’ estão interessados em obter com o que fazem – seja porque os papéis se sobrepõem, seja porque os interesses ocultam-se em tramas muito densas de interesses, seja porque jamais se conhecem os padrinhos reais de cada iniciativa. Sem acesso a essa informação básica, a opinião pública fica desarmada para construir opiniões adequadamente embasadas.Em comunidades pequenas, quando um conhecido se aproxima de você numa reunião social, sob o pretexto de apresentar condolências pela morte de um ente querido e você sabe que o tal seu conhecido vive de vender seguros de vida, você tem meios para adivinhar facilmente a agenda dele e sua pauta de interesses e assuntos. Assim, num segundo, você pode decidir se agradece mais ou menos pessoalmente, ou, mesmo, se lhe dá as costas. Assim, sob sua pessoal responsabilidade, vc pode escolher se se deixa ou não manobrar, e até que ponto. Nada disso é assim, onde opere a elite oculta: ninguém jamais consegue saber como, quando e o quanto está sendo manipulado.Considere-se, por exemplo, o ex-secretário de Segurança Nacional Michael Chertoff que, desde o Natal fala pelo rádio e televisão, sem parar. Não faz outra coisa além de defender o emprego de scanners de corpo inteiro, como remédio infalível contra todas as inseguranças e riscos e falhas de segurança nos vôos. Depois de ele muito falar, acaba-se descobrindo que o ex-secretário representa agora a única empresa fabricante de scanners já qualificada para vender equipamentos ao governo.Antes de esse fato vir à tona, como o público poderia saber que estava sendo ativamente induzido a aceitar um ponto de vista (mercantil) interessado? O público não tinha nenhum meio para descobrir a manipulação, porque o público sequer sabia que lhe faltava uma informação básica crucial. E, mesmo depois de a informação crucial afinal se tornar pública, ainda assim o público sempre lembrará mais ‘as vantagens’ de usar-se aquela marca de scanner, do que dos interesses pessoais de Chertoff.Ou o embaixador Peter Galbraith. Galbraith, veterano defensor da autonomia dos curdos, gastou muita sola de sapato indo e vindo entre o Curdistão Iraquiano e os EUA. Foi secretário-conselheiro para assuntos do Curdistão do governo Bush e ajudou os curdos a preparar a constituição do Iraque. Apresentado como “especialista”, publicou inúmeras análises e opiniões na New York Review of Books, no New York Times, no Washington Post e em muitos outros veículos, sempre defendendo a independência dos curdos e o direito dos curdos sobre o petróleo que abunda na terra deles. E todo o tempo – como só agora se sabe –, trabalhava a favor de seus negócios, que hoje alcançam os 100 milhões de dólares, nos quais negocia o mesmíssimo petróleo. Os parceiros não-comerciais de Galbraith no Iraque talvez não soubessem dos seus negócios. Como disse um ex-diplomata iraquiano e advogado: “A ideia de que uma empresa estrangeira de petróleo esteve na sala na qual se preparava a Constituição do Iraque deixa-me tonto… Todo o processo parece escondido numa nuvem de ilegitimidade.”Embora os flexibilizadores não sejam necessariamente aéticos ou antiéticos, a opinião pública é induzida a crer no que digam e escrevam, porque os toma por especialistas – de política exterior a segurança nacional, tanto quando de reforma da saúde pública, sistema financeiro e quanto aos melhores modos de aplicar dinheiro. A opinião pública tente a aceitá-los pelo valor de face: são o que dizem ser. Mais ou menos como acontece nas pequenas comunidades. Mas não há como saber que aqueles personagens não são só o que dizem ser e que, portanto, não são imparciais.Menos ainda as pessoas podem fazer, para não tomar conhecimento das opiniões deles. É impossível não ouvi-los, não vê-los. Não há qualquer mecanismo em tempo real, ou próximo disso, no fluxo de informações que chega à opinião pública, que permita que as pessoas filtrem a informação que os flexibilizadores oferecem abundantemente. De fato, é praticamente impossível detectar todo o âmbito em que agem os flexibilizadores e o alcance de todos os seus atos e feitos.Uma sociedade democrática procura a imprensa – pilar da transparência – para obter informações que ajude a julgar a ação e a fala dos flexibilizadores. O problema começa, porque pode interessar à própria imprensa – e quase sempre interessa aos veículos da imprensa – manter ocultadas todas, ou algumas, das filiações dos flexibilizadores. “Especialistas” como Chertoff e Galbraith estão constantemente nos jornais, rádios e televisões, sem que se informem à opinião pública todos, nem, que fosse, os principais papéis sociais, relacionamentos e apadrinhamentos ou associações daqueles “especialistas”. Domingo passado, um dos editores do New York Times Clark Hoyt denunciou os dois flexibilizadores citados acima, além de outros dois, por não revelarem atividades e papéis e atividades que comprometeriam a imparcialidade de seus discursos e declarações públicas. Disse que seria tarefa dos repórteres que os entrevistaram recolher esse tipo de informação.Fato é que esse é remédio para paciente que já morreu. Quando essas ‘denúncias’ vêm à tona, o mal já está feito. A opinião pública já foi manipulada. Por exemplo, as revelações sobre Galbraith vieram tarde demais e não impediram qualquer efeito danoso que a duplicidade de papéis tenha tido ou ainda possa vir a ter. E ajudam a fortalecer a opinião de todos que, Iraquianos ou não, acreditem que os EUA e aliados invadiram o Oriente Médio por cobiça, pelo petróleo.Para piorar ainda mais o quando, a certeza de que o público confia neles e nos veículos pelos quais distribuem informação interessada estimula as figuras públicas e todos os especialistas a dizer o que mais lhes interesse dizer, a cada momento. Como se desaparecesse a necessidade jornalística de confirmar o que dizem ‘as fontes’.O exemplo que me ocorre a todo instante, nos últimos tempos, nos EUA, é o mantra “a economia está melhorando.” Não está. De cada seis norte-americanos que procuram emprego de período integral, só um encontra. No mundo em que vivemos, cercados de notícias 24 horas/dia, 7 dias/semana, já praticamente não há jornalismo investigativo. E dissipa-se a lembrança que o público tenha do currículo e das atividades das vozes que lhes falam pela televisão, porque é como se só o aqui e agora interessasse na sociedade da ‘credibilidade’ (se é crível, é fato).Até que encontremos um meio que nos ofereça sistema que permita verificar a informação que a imprensa oferece, capaz de neutralizar o opinionismo dos flexibilizadores e das redes de flexibilização da opinião pública, esses agentes do poder terão cada vez mais influência, enquanto vai-se criando uma nova geração de flexibilizadores do já flexibilizado, cada vez mais influente frente a uma opinião pública cada vez mais incapaz de avaliar e julgar coisa alguma. Lenta e consistentemente, os flexibilizadores estão flexibilizando todos os marcos que a sociedade criou, ao longo da história e que visavam a garantir que a democracia significasse alguma coisa.Nota de tradução[1] “Ao contrário do que o nome parece significar, os “flexibilizadores” [ing. f lexians] – objeto do estimulante trabalho da antropóloga e especialista em políticas públicas Janine Wedel, Shadow Elite [Elite Oculta] – não são alienígenas saídos de algum episódio de Star Trek. São uma constelação de atores sociais, relativamente novos, especificamente terrenos, e que estão remodelando a paisagem da governança global. Emblema da nova era das “flexibilizações”, esses atores da elite constroem a própria influência e o próprio poder indo e vindo entre vários papeis sociais, a maioria dos quais, e suas interrelações, são mantidos ocultados da opinião pública” (Global Integrity Commons). www.viomundo.com.br
Usar crianças de uma escola de São Paulo como material de propaganda, já seria repugnante. Mas não há nada que esteja tão ruim que os tucanos não consigam piorar.
O patético "diretor" corrigindo as crianças que gritavam "Lula, Lula" e as incentivando a gritar Geraldo (o Alckmin, ou picolé de chuchu) e Serra (o vampiro caçador de cabeças de jornalistas que o criticam) é, como diria o Macalé, "nojento". Vai ficar para a história das campanhas políticas como uma das mais desprezíveis manipulações de todos os tempos. Confira no Blog do Mello ou então aqui
O Programa de Pós-graduação em Geografia do Instituto de Geociências da UFMG convida para a apresentação da Defesa de Dissertação de Érika Lopes, cujo trabalho intitulado "O Projeto Linha Verde e a remoção de cinco vilas: um estudo de caso da prática do desfavelamento de novo tipo no espaço urbano de Belo Horizonte", desenvolvido sob a orientação do Prof. Geraldo Magela Costa, será apresentado no dia 26 de agosto de 2010, às 14 horas, no Auditório do IGC.
No Cafe Historia:
Vinho e História
A saga de uma das bebidas mais tradicionais do mundo envolve deuses gregos, a resistência francesa, soldados nazistas e até tratados internacionais entre poderosas nações. Confira
Historiador britânico Tony Judt morre nos EUA aos 62 anos
Qual a sua opinião sobre a obra e vida de Joaquim Nabuco?
O crescimento da História Cultural nas últimas décadas colocou na pauta dos historiadores assuntos antes renegados pela historiografia, como a cultura pop, o samba ou ainda o estudo dos símbolos modernos. Saiba mais sobre esse universo de temas da nova historiografia
As abordagens teórico-metodológicas são variadas, assim como é diverso o universo das fontes e dos temas enfocados pelos autores. No geral, entretanto, são textos nos quais se estudam a escravidão negra e a indígena; o trânsito de culturas africanas nas Américas; as dinâmicas históricas das mestiçagens biológicas e culturais; o mundo dos alforriados e os aspectos econômicos da sociedade brasileira durante o período colonial e o Império. O Brasil é, naturalmente, o foco principal dos textos, mas as comparações e as conexões estabelecidas o colocam, em vários momentos, relacionado a outras sociedades, marcadamente as da América espanhola, da Europa e da África, assim como se procedeu a comparações entre as distintas áreas internas brasileiras.
Encontro Rotas do Patrimonio Mundial America Latina
Prorrogamos o prazo de inscrição para artigos cientificos no evento ...assim, pedimos a colaboração para ampla divulgação, ok?
Este numero ira ao ar meio improvisado, porque estou fora de base. O computador que estou usando nao tem acentos...rsss... mas acho que tudo saira dentro dos conformes. Temos dois artigos bem interessantes logo no inicio. E alguns links em seguida. Um abraco
A Copa do Mundo é nossa, não há quem possa com os brasileiros! Eh, Eh, esquadrão de ouro… (Trechos da música alusiva à seleção brasileira comemorativa da conquista do Bicampeonato, 1962) É fato, em 1962 o técnico do “escrete canarinho”, talvez ninguém se lembre, mas todo mundo se recorda quem foram os “heróis” da conquista, quem nunca ouviu falar de Garrincha, Didi, Djalma Santos e, ai sim, o fabuloso Amarildo que coube a ele a incumbência de substituir o insubstituível, Pelé. Outra pergunta se coloca, qual era o esquema tático do time brasileiro? Caso existisse, provavelmente existia, não era a tônica da crônica esportiva tampouco era a preocupação do povo brasileiro, colados com seus ouvidos nos radiozinhos de pilha e não com os “amigos da Rede Globo”, torciam eufóricos com aquela conquista. O Brasil, politicamente, vivia um momento democrático, conflituoso, porque os setores conservadores faziam uma oposição crônica ao governo do presidente João Goulart que havia assumido o posto máximo de nossa nação compromissado com as “Reformas de Base”, de cunho popular e desenvolvimentista. Os representantes de uma determinada direita, principalmente aquela ligada ao capital internacional se articulava em torno e em volta dos militares um golpe contra a democracia que acabou se concretizando em 1964. O país entrou nos chamados “anos de chumbo”, foi a “Ditadura Militar” que se instalou e se consolidou até 1985. Outras copas vieram. Em 1966, foi um fiasco! Os “heróis” de 1958 e 1962 envelheceram e a geração que poderia superá-los, jogadores como Gérson, Carlos Alberto, Tostão, não foram o eixo central da seleção naquele momento. Pelé estava lá também, mas não em seus melhores dias, inclusive, fortemente “caçado” literalmente na partida contra Portugal de Eusébio (outro que mereceria uma crônica à parte) nada fez. Garrincha estava lá, mas envelhecido e sem a condição que o havia transformado no “Anjo das pernas tortas”. Enfim, 1966, me parece foi a cara de um Brasil atônico, sem saber o que estava acontecendo. Em 1970, a Copa do Tri, das “Feras do Saldanha” e depois as “Formiguinhas de Zagalo”. Parece-me que aqui se revelam as contradições da sociedade brasileira. A conjuntura era do momento áureo da ditadura militar no Brasil. Sob o ponto de vista econômico vivia-se o “Milagre Econômico” capitaneado pelo economista mor da ditadura, Delfim Neto. Aproveitando esse crescimento econômico o governo Médici prendia e torturava com a classe média respaldando. Era o “Ame ou deixe”. A pergunta central ai é essa, onde está paradoxo? O governo militar ditatorial, através da Confederação Brasileira de Desporto – CBD, com o ultra-reacionário João Havelange à frente, indica o comunista João Saldanha, crítico do governo e da estrutura do futebol brasileiro. A relação que se estabelece entre os jogadores era democrático e essa seleção montada por Saldanha se organiza para a Copa do México. Ora, será que o governo Médici admitiria um comunista à frente de uma seleção que participaria de uma Copa? Um técnico que respondia à imprensa internacional sem medo, esse era inclusive o seu apelido (João Sem Medo), que existia tortura no nosso país. Pois bem, três meses antes do início da Copa, João Saldanha foi substituído pelo Zagalo, sabidamente homem do establishment, como diria Norbert Elias. A equipe brasileira foi campeã e arrebatou definitivamente a taça Jules Rimet. O que vimos foi uma democracia na ditadura, não que o governo brasileiro promoveu uma abertura na ditadura para o caso específico da seleção brasileira. Mas o espírito daquele grupo de jogadores que por sinal se identificava com a torcida, pois viviam, jogavam e se relacionavam com seu público aqui no Brasil e penso eu, a presença, inicialmente, de uma pessoa que renegava a ditadura, no caso do Saldanha, mesmo após sua saída, permitiu essa identificação, essa idéia de pertencimento. Se os mentores da ditadura almejavam ganhar apoio junto à população a história veio demonstrar o contrário, em 1974, foi momento de maior votação para o partido de oposição consentida que era o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). A vitória do Brasil na Copa de 1970 marca o espírito da população brasileira na década, ou seja, a alegria de jogar e de se relacionar dos jogadores dizia claramente, queremos um país plenamente democrático. Foi a década que emerge as lutas sindicais do ABC paulista, o renascimento de um movimento estudantil culminando com o movimento das “Diretas Já” e o retorno à democracia com a eleição da dupla Tancredo/Sarney, inaugurando a “Nova República”, apesar da triste morte de Tancredo. O meu objetivo nesse pequeno espaço não é fazer uma análise da participação da Seleção Brasileira em todas as copas, portanto não investirei analiticamente em outras. Minha tentativa é lançar luzes sobre essa última participação de nossa seleção na Copa da África do Sul em 2010. Vejo no contexto preparativo e na participação brasileira na referida competição aquilo que estou chamando de “paradoxo da república brasileira”. Como já havia escrito anteriormente o espírito libertário e democrático da seleção de 1970, possibilitou um diálogo seleção com sua torcida e não com o governo ditatorial da época. Mas já em 2010, a idéia de disciplinar, centralizar que é contrário do que está presente na sociedade brasileira, que cada vez mais clama por democracia, agora não só representativa, mas também e, sobretudo, participativa, foi hegemônica. A figura de seu técnico, o famoso Dunga (espero que sua época tenha acabado), foi bastante emblemática para aquilo que estou dizendo: sem elegância, sem educação e autoritário. Formou-se um grupo fechado que a linguagem popular chama, acertadamente, de panela e aquelas pessoas que não comungavam com esse grupo estavam fora, é o “ame ou deixe-o” da ditadura, ai mora o paradoxo, isso já acabou, mas permanece na mentalidade principalmente dos nossos dirigentes esportivos. O espírito da seleção não estava em conformidade da população, quando isso acontece, penso eu, a “copa não é nossa” é “deles”. “Eles”, jogadores, não são “nós”, a idéia de identidade não aparece, mesmo porque “eles” não vivem mais entre “nós”. “Eles”, só aparecem em nossos lares pelas mídias, principalmente a televisa. Alguns só aparecem nas “TVs pagas”, ai que a maioria da população não vê e tampouco conhece. E não podemos esquecer que vivemos o ápice da mercantilização das relações sociais. É aquilo que o velho Marx nos apontava no capítulo I da sua grande obra, O Capital, tudo se transforma em mercadoria, inclusive a arte. * WELLINGTON DE OLIVEIRA é Professor adjunto da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Doutor em Educação pela UFMG.
A burocratização do professor universitário por WALTER PRAXEDES* Em uma carta ao professor Fernando de Azevedo, datada de 13 de novembro de 1935, o sociólogo Gilberto Freyre confessa ao amigo que jamais assumiria “deveres definitivos de professor” e se explica: “tenho medo de me burocratizar – e a burocracia pedagógica é a mais esterilizante”. Qualquer professor universitário sabe que suas obrigações rotineiras o deixam muito longe de realizar o seu projeto de vida como alguém voltado para a busca do conhecimento e para a ação educativa. Membro de comissões de inquéritos administrativos, autor de inúmeros e inúteis relatórios e participante de reuniões intermináveis, o professor universitário tem seu tempo de pesquisa e de ensino roubado. Some-se a tudo isso o tempo dedicado às articulações políticas em defesa ou ataque à sanha competitiva dos pares e encontraremos um pseudo-educador que precariamente pesquisa, escreve e leciona. Como já advertia Florestan Fernandes nos anos setenta, o professor universitário corre o risco de deixar de ser um investigador, um cientista, para tornar-se um mero funcionário com horário marcado e ponto para assinar, deixando, assim, embaixo do tapete do cumprimento das normas a sua covardia, mediocridade e falta de criatividade. Sufocado pela burocracia e corrompido pela competição por cargos e prestígio institucional, resta ao professor universitário tornar-se repetidor mecânico daqueles pensadores que conseguiram fazer de seus projetos de vida o oposto do que nós estamos fazendo com o nosso. A sentença para a nossa decadência já foi proclamada por Hegel: “Naquilo com que um espírito se satisfaz, mede-se a grandeza de sua perda”. A competição meritocrática da vida universitária pode até produzir gênios, mas todos nós sabemos como produz também neuróticos e esquizofrênicos. A concentração obsessiva facilmente se transforma em introversão narcisista. O medo de ousar na busca do novo tem nos tornado a cada dia mais conformistas. Acredito que temos que pensar em novas possibilidades de reeducação daqueles que têm como missão a educação das novas gerações. Venho tentando imaginar alternativas que apontem para a nossa reeducação. Ainda não cheguei a nenhuma conclusão que possa ser apresentada para o debate, mas não tenho dúvidas de que a responsabilidade pela passividade, evasão ou oportunismo e falta de compromisso com o conhecimento por parte de muitos dos nossos alunos pode ser atribuída aos exemplos que lhes apresentamos. * Graduado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo, mestre e doutor em Educação pela mesma instituição. Co-autor dos livros O Mercosul e a sociedade global (São Paulo, Ática, 2002, 12ª Edição) e Dom Hélder Câmara: Entre o poder e a profecia (São Paulo, Ática, 1997 / Brescia (It.), Editrice Queriniana, 1999). Professor de sociologia da Universidade Estadual de Maringá e Faculdades Nobel em Maringá, Paraná. Publicado na REA, nº 29, outubro de 2003, disponível em http://www.espacoacademico.com.br/029/29wlap.htm
Verde demagogia
Como sabemos, o capitalismo é responsável por toda a sorte de agressão à natureza. Os políticos verdes são contraditórios porque assumem compromissos com o capitalismo norte-americano e vem pousar ou desfilar com as bandeiras dos partidos verdes, em moda no Ocidente. Parece que o povo brasileiro sabe compreender essa incoerência e essa demagogia, pois as posições de Marina Silva e de Gabeira nas pesquisas eleitorais são de lanterninhas. Como é que alguém que é a favor do lucro capitalista pode falar em natureza. Segundo Gilberto Vasconcelos, Marina, quando ministra, não moveu uma palha pelo projeto das micro-destilarias a álcool, em pequenas propriedades. Agora defende a grande plantação e as grandes fábricas de óleos vegetais. Os projetos sociais de Gabeira e de Marina são iguais a manga de colete. São como uma faca sem cabo e sem lâmina também. Belo Horizonte, 23 de julho de 2010.
A América do Sul em 2022 As características da América do Sul – grande riqueza mineral e energética; grandes extensões de terras aráveis não utilizadas; população cada vez mais urbana em processo de estabilização demográfica; regimes políticos estáveis; inexistência e distância geográfica de áreas de conflitos intensos – tenderão a condicionar o papel da América do Sul em um cenário político mundial em que a disputa pelo acesso a recursos naturais e a alimentos será fundamental. em 2022, quer se queira ou não, devido a razões econômicas, políticas e sociais, o Brasil se encontrará inserido na América do Sul de forma muito mais intensa, complexa e profunda, tanto política quanto economicamente, do que se encontra hoje. A análise é de Samuel Pinheiro Guimarães. http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16822&boletim_id=736&componente_id=12288
A privatização da segurança e a democracia nos EUA Empresas privadas estão atuando em todos os setores que cuidam da segurança nacional dos serviços de inteligência dos EUA (cerca 70% do orçamento). Com o fim da Guerra Fria, as companhias militares privadas passaram a converter-se em soluções do mercado frente às novas tendências à privatização de várias funções governamentais. Crescimento do mercado privado de segurança anda de mãos dadas com a também crescente avaliação nos EUA de que as democracias não conseguem vencer as “pequenas guerras”, principalmente porque as exigências morais e políticas vão muito além do que a oposição doméstica está disposta a aceitar. O artigo é de Reginaldo Nasser. http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16820&boletim_id=736&componente_id=12291
Programa REDE de ARTE Coordenadora Paula Braga Início 03 de Agosto Dias Terças feiras, às 19hs Duração 8 encontros por bimestre Local Diversos Valor R$ 200,00 na inscrição + duas parcelas de R$ 220,00 A REDE de ARTE propiciará aos seus membros conhecer de perto o sistema da arte, por meio de visitas a galerias, ateliês de artistas e exposições guiadas, leia mais http://www.projetocultura.com.br/linksinternos/l5rededearte/rededearte.htm